Star Wars – Episódio III – A Vingança dos Sith – **** de *****
Ficha Técnica:
Sinopse: Após salvar o Senador Palpatine, que fora seqüestrado pelos exércitos rebeldes, Anakin Skywalker se torna ainda mais íntimo deste. Entretanto, o jovem aprendiz de Obi-Wan Kenobi não sabe que o Senador almeja tomar o poder absoluto e utilizá-lo como principal ferramenta para tal.
Star Wars: Episode 3 – Revenge of the Sith – Trailer:
A sensação que este “A Vingança dos Sith” deixou nos fãs da saga “Star Wars” durante o seu lançamento nos cinemas foi provavelmente a mesma sensação de angústia que “O Retorno do Rei” deixou nos fãs da saga “O Senhor dos Anéis” ou “A Última Cruzada” deixou nos fãs da trilogia “Indiana Jones” (que recentemente fora estendida com um interessante quarto episódio). Afinal de contas, os milhões de fãs que a mesma possui já não poderiam mais lotar as salas de cinema do mundo todo a fim de se reencontrar com o mundo mágico criado por George Lucas em uma aventura inédita. Mas ao menos serve de consolo o fato destes fãs saberem que a saga, a partir do momento que este terceiro episódio estreasse nos cinemas do mundo todo, estaria completa e que, agora, todas as pontas existentes entre a antiga e a atual trilogia encontravam-se, finalmente, completamente amarradas.
É uma tarefa muito árdua, no entanto, amarrar todas as pontas de ambas as trilogias de um modo realmente convincente e satisfatório. Pode-se confirmar isto neste “A Vingança dos Sith” onde, ironicamente, as maiores falhas e os maiores acertos do mesmo residem, justamente, na tentativa do roteiro criar elos entre uma trilogia e outra. Vide o maior erro do roteiro, por exemplo, que consiste em mostrar o principal motivo que teria levado Anakin Skywalker a abraçar o lado escuro da Força. Após ter uma visão, durante um sonho seu, onde sua esposa Padmé Amidala (que agora encontra-se grávida) perde a vida após dar a luz a um filho seu, o jovem Padawan passa a buscar medidas desesperadas a fim de evitar que tal fato seja concretizado. Ao saber da situação em que o jovem se encontra, o Senador Palpatine, Chanceler Supremo da Federação e Mestre dos Lords Sith (uma espécie de Jedi que utiliza a Força apenas para benefício próprio), propõe a Skywalker que este se una a ele no combate contra os Jedi e em troca, o político ensinará ao jovem os poderes do lado escuro da Força que poderão salvar a vida de Padmé. Francamente, uma lastimável e artificial solução que o roteiro encontrou para fazer com que o jovem muda-se completamente de posição ideológica.
Por outro lado, o mesmo roteiro que apresenta uma solução tão simplória e artificial para a mudança de caráter repentina de Skywalker, se revela extremamente satisfatório ao trabalhar os demais pontos que fizeram com que o aprendiz de Obi-Wan Kenobi sofresse tal mutação ideológica. Uma vez que o episódio anterior já cumprira a excelente tarefa de desenvolver Anakin de maneira bastante convincente, este terceiro episódio opta inteligentemente por não tentar desenvolver o personagem ainda mais. Ao invés disso, o roteiro toma a brilhante decisão de desenvolver o Senador Palpatine e o jogo psicológico que este realiza em Anakin, fazendo-o mudar completamente de lado (e sinceramente, se o roteiro não tivesse tomado tal atitude, a mudança de lado do protagonista soaria extremamente artificial e o filme se revelaria extremamente falho).
Conforme pudemos testemunhar em “Ataque dos Clones”, Anakin Skywalker era um jovem talentoso, mas extremamente arrogante e precipitado. Neste “A Vingança dos Sith” a sua impaciência aumenta cada vez mais levando em conta a insistência do Conselho Jedi em não conferir a ele o título de Cavaleiro Jedi (os membros do Conselho têm dúvidas quanto a Anakin em virtude à arrogância do rapaz e aos fortes laços que este tem com o Chanceler Palpatine, algo que, indiretamente, quebra a independência dos Jedi para com os políticos) e designar-lhe missões que realmente ponham em teste as suas inúmeras habilidades. Aproveitando-se da impaciência do aprendiz de Obi-Wan Kenobi e do gênio vaidoso deste, Palpatine trabalha, através de argumentos convincentes, a mente do jovem rapaz e o incentiva a auxiliá-lo a tomar o poder absoluto. A maneira como o roteiro desenvolve Palpatine, suas táticas de persuasão (salvo as que envolvem Padmé que, conforme fora citado, soam artificiais) e seus diálogos é, não menos, do que excelente. Tudo foi cuidadosamente arquitetado pelo roteiro, para que a maior parte das alterações de caráter de Anakin não soassem artificiais.
O grande trunfo do roteiro, no entanto, consiste na virada espetacular que este dá na estória, a partir do início de seu segundo ato. A sensação que temos quando Palpatine põe em prática a sua “Ordem 66” (cuja descrição não irei fazer a fim de não estragar algumas surpresas) é a de que Lucas utilizou magistralmente os dois episódios anteriores (e, francamente, as pessoas que afirmam que este terceiro episódio tornou os outros dois desnecessários, simplesmente não sabem o que estão falando) a fim de mover estrategicamente todas as suas peças pelo tabuleiro e, quando chegasse o momento oportuno, utilizaria este terceiro episódio para dar o xeque-mate. E é justamente isto o que ocorre, cada peça movida nos longas anteriores teve importância vital para a conclusão desta trama, para o clássico desfecho da mesma. Simplesmente fascinante. Tão fascinante quanto à tristeza que nos assola ao ver a Ordem Jedi sendo completamente destruída.
As seqüências de aventura também são outra característica do filme que alternam entre altos e baixos. Logo no início somos apresentados à dupla de Jedis de “Ataque dos Clones”, Anakin e Obi-Wan, em uma missão de extrema importância: libertar o Senador Palpatine, que fora raptado pelo temível Conde Dookan. É exatamente nesta cena que podemos, pela primeira vez em toda a trilogia, notar a habilidade de Lucas na movimentação de câmeras. Pela primeira vez nesta trilogia vemos o “padrinho de todos os nerds” (como é conhecido o diretor) acompanhando as seqüências de ação de uma maneira realmente incrível. Note o modo como Lucas acompanha as naves espaciais durante a batalha, a movimentação com a câmera é perfeita e dá muita credibilidade à cena em si. Outro aspecto que conta muitos pontos a favor desta cena é a direção de arte que constrói, de maneira estupenda, uma nave espacial gigantesca fantástica. Tal seqüência parece ter sido sublimemente montada por Lucas a fim de homenagear as antigas batalhas intergalácticas contra um dos símbolos máximos da série, a Estrela-da-Morte, ocorridas na trilogia anterior.
Contudo, nem todas as cenas envolvendo aventura são tão magistrais quanto a seqüência acima citada (milagre eu não ter escrito “supracitada”, não?). Vide o duelo de sabres de luz travado entre Anakin Skywalker e Conde Dookan, apenas para citar um exemplo. Em virtude do que vimos no filme anterior, esperava-se uma luta bem mais consistente, empolgante, e isso acaba não ocorrendo. Temos aqui uma luta interessante, bem coreografada, mas que deveria ter sido mais bem trabalhada, principalmente do ponto de vista emocional, do que acabou sendo. Outra luta decepcionante é a ocorrida entre Obi-Wan Kenobi e o General Grievous, principalmente se levarmos em conta o interesse que a mesma nos desperta ao ficarmos sabendo que o segundo combatente, por possuir quatro braços, irá utilizar quatro sabres de luz simultaneamente, tornando a tarefa de derrotá-lo praticamente impossível ao destemido Jedi. No entanto, Kenobi derrota-o muito facilmente, o que torna a seqüência pouco emocionante. Por outro lado, as demais seqüências de ação envolvendo sabres de luz são fantásticas, em especial a mirabolante e empolgante luta entre Obi-Wan Kenobi e Anakin Skywalker, agora Lord Darth Vader. Simplesmente um dos mais empolgantes duelos já proporcionados pelo Cinema e que, infelizmente, devido à baixa tecnologia da época e orçamento nem tão estrondoso quanto o utilizado nos filmes atuais, viria a se repetir de um modo bem menos interessante durante o quarto episódio da saga. Devo destacar também a luta entre Mace Windu e Lord Darth Sidious cujos cuidados com o resultado final foram tantos que acabaram envolvendo 102 movimentos e três grandes salas para ser filmada.
A direção de arte, como já era de se esperar (uma vez que esta se revela o ponto alto de toda a trilogia), é, não menos, do que estupenda, e mais: é empregada aqui de maneira ainda mais eficiente do que havia sido empregada nos filmes anteriores. Repare na beleza plástica que é Coruscant à noite, ou no salão de ópera onde Anakin tem uma das conversas mais importantes do filme com o Senador Palpatine, ou no verde natural estonteante do Planeta Utapau e ainda na beleza vulcânica do Planeta Mustafar (a propósito, a direção de arte majestosa do cenário aqui engrandece ainda mais a magnífica e dramática luta de sabres entre Obi-Wan Kenobi e Darth Vader).
Os demais aspectos técnicos do longa também não decepcionam. A fotografia, como sempre, é belíssima e dá ainda mais realce aos fabulosos cenários criados pela estupenda direção de arte, a trilha-sonora engrandece ainda mais as seqüências de aventura, suspense e drama do filme e o figurino também é sensacional, bastante diversificado e riquíssimo em detalhes, algo que fertiliza ainda mais a magia por trás do longa.
As atuações, no entanto, decepcionam e, se comparadas a “O Ataque dos Clones”, empalidecem consideravelmente. Se por um lado Ian McDiarmid realiza um trabalho supremo ao assumir a pele do Senador Palpatine e do Lord Darth Sidious (sinceramente, não vejo melhor ator para cumprir tal função), por outro lado o excelente Christopher Lee aparece muito pouco e os demais atores, nem de longe, conseguem criar uma atuação tão marcante quanto a que ele realizou no longa anterior. Ewan McGregor, se revela um bom ator neste longa, mas falha em algumas cenas onde precisaria fazer uma entonação de voz mais dramática. Natalie Portman só atua de maneira definitivamente convincente ao final do filme, que é justamente quando o roteiro confere uma carga dramática muito mais forte a sua personagem. Nas demais cenas, a atriz jerusalense não adota uma carga dramática forte o bastante para fazer com que a sua personagem se aproxime do público.
E quanto à atuação de Hayden Christensen? Bem, digamos que esta merece um parágrafo único para ser comentada de forma mais aprofundada. Christensen realiza uma atuação bastante irregular no longa e, assim como as cenas de aventura e as artimanhas utilizadas pelo roteiro a fim de amarrar a trama, seu trabalho aqui alterna constantemente entra altos e baixos (só que, neste caso ao menos, devo dar mais ênfase à palavra “baixos” que à palavra “altos”). Note, por exemplo, a maneira artificial como ele emprega um tom de voz ridiculamente grave e sombrio quando diz: “___ Eu lhe ofereço o meu empenho em troca de vossos ensinamentos!”. Por outro lado, o ator canadense emprega, durante muitas cenas, a expressão de uma pessoa realmente frustrada, cujas esperanças naquilo que julgava ser o certo a se fazer se revelam cada vez mais nulas, escassas e minguantes. Contudo, faltou a Christensen mais talento, mais expressividade, mais dramatização em sua composição, faltou algo que realmente convencesse o público de que ele é Darth Vader, ele é a alma de toda a trilogia.
Preparando a finalização deste texto, comentarei sobre outro ponto que também alterna entre altos e baixos (sim, mais um, este filme definitivamente se revelou uma montanha russa artística): os diálogos. Ao mesmo tempo em que temos diálogos extremamente inteligentes do tipo “O Bem é apenas um ponto de vista” (algo que Lucas, voluntaria ou involuntariamente, extraiu de filosofia nieztschiana) e “Era para você trazer equilíbrio à Força, não jogá-la na escuridão”, Lucas quase joga seu roteiro no lixo com absurdos do tipo: “Não, você vai tentar me matar!” (resposta de Skywalker a Kenobi quando o segundo diz que irá matá-lo). Para piorar a situação, o tom de voz empregado por Christensen a fim de declamar tal oração é tão artificial que torna a cena ainda mais ridícula do que ela já seria por si só. Ah, e é claro que não poderíamos ficar sem o clássico e clichê “Nããããããããããão!” proferido da maneira mais piegas o possível pelo protagonista.
Resumindo, “A Vingança dos Sith” é um filme que alterna entre altos e baixos, mas o saldo final acaba sendo incontestavelmente positivo. Utilizando algumas táticas incríveis a fim de preencher as lacunas deixadas em aberto na unificação da trilogia antiga com esta nova, Lucas se revela um roteirista de mão cheia, mas que erra gravemente algumas vezes, quando tenta, por exemplo, criar um motivo para que Anakin Skywalker opta-se por pender ao lado escuro da Força envolvendo a sua amada esposa. As seqüências de aventura são, em sua maioria, muito boas, mas decepcionam completamente o público em alguns casos. As atuações em sua maioria são boas (e nada além de boas), salvo Hayden Christensen que se mostra completamente irregular durante o filme inteiro. A parte técnica deste terceiro episódio é irretocável e o longa encerra a saga com maestria, servindo como uma perfeita ponte que dá liga as duas trilogias.
Ah, e como não poderia deixar de ser, encerrarei definitivamente este texto realizando um rápido comentário sobre a trilogia inteira. Diria, antes de tudo, que nenhum dos três episódios se revela dispensável, desnecessário ou fraco (conforme muitas pessoas dizem), muito pelo contrário, cada um possui a sua função. O primeiro trata de oferecer ligeiras explicações sobre vários pontos que viriam a ser abordados futuramente, tais como: o que vem a ser a Força, como fora a infância de Anakin Skywalker, como Obi-Wan Kenobi passou a treiná-lo e muitas outras coisas que ficariam completamente vagas sem este primeiro episódio. “Ataque dos Clones”, por sua vez, encarregou-se de explorar os personagens principais da trilogia, amarrar algumas pontas deixadas, propositadamente, em aberto pelo primeiro filme, iniciar (ainda que de maneira artificial) o importante romance entre Anakin e Padmé, e, acima de tudo, dar início à demonstração das falhas de caráter apresentadas pelo aprendiz de Obi-Wan Kenobi, fato que o levaria ao destino que teria de traçar em um futuro não muito distante. O terceiro episódio, finalmente, se revela o ponto alto da trama e preenche todas as lacunas deixadas em aberto pelos dois longas anteriores. A trilogia nova realmente não faz jus à antiga, mas ainda assim se mostra altamente importante para uma melhor compreensão daquela, além, é claro, de se revelar uma ótima experiência cinematográfica se fizermos um balanço geral da mesma.
Avaliação Final: 8,5 na escala de 10,0.
Star Wars – Episódio II – Ataque dos Clones – **** de *****
Sinopse: Com uma crise assolada por toda a República, rebeldes separatistas ameaçam iniciar uma guerra civil intergaláctica. Para evitar que tal tragédia ocorra, a, agora, Senadora do planeta Naboo, Padmé Amidala (Natalie Portman), desembarca em Coruscant, a fim de votar a favor da criação de um exército para ajudar os valentes cavaleiros Jedi a manter a paz por toda a Federação. Entretanto, um inesperado atentado contra a Senadora ocorre na plataforma de desembarque e, após escapar ilesa, a mesma é posta aos cuidados do Jedi Obi-Wan Kenobi (Ewan McGergor) e de seu Padawan Anakin Skywalker (Hayden Christensen). O primeiro deverá investigar quem está por trás de tal atentado, ao passo que o segundo deverá escoltar a política até o seu planeta natal e protegê-la a todo custo. Contudo, um perigoso romance passa a acontecer entre Anakin e Padmé.
Star Wars – Episode II – Attack of the Clones – Trailer:
Não sei ao certo se foi George Lucas quem decidiu dar ouvido às críticas negativas direcionadas ao episódio anterior a este “Ataque dos Clones” ou se foi ele mesmo quem decidiu repensar por si próprio nos diversos erros que havia cometido em “A Ameaça Fantasma”. A única coisa que sei é que o consagrado diretor parece ter aprendido com os erros cometidos no primeiro episódio e os corrigido durante a produção deste segundo (entre tais erros corrigidos, cito ligeiramente a feliz decisão de conferir bem menos importância à irritante criatura Jar Jar Binks). O problema é que, ainda assim, Lucas não foi capaz de evitar certos erros que nem ao menos existiam no episódio antecessor e surgiram pela primeira vez aqui.
Ao contrário de “A Ameaça Fantasma”, este “Ataque dos Clones” conta com atuações ótimas e carismáticas, fazendo com que nos cativemos com a grande maioria de seus personagens, diferentemente do que acontecia no longa anterior. Ewan McGregor e Natalie Portman tiveram uma, mais do que visível, evolução em suas respectivas atuações e o estreante Hayden Christensen também não faz feio ao assumir o personagem de Anakin Skywalker. A química e o entrosamento entre as peças do elenco também tiveram uma relevante evolução, e isso acabou colaborando, e muito, para o resultado final do filme.
Mas não apenas as atuações de todo o elenco, como também o próprio roteiro, teve uma contribuição indispensável para que a relação público-personagens se saísse da melhor maneira o possível. Conseguindo criar subtramas que acabam desenvolvendo seus protagonistas de maneira bastante convincente, Lucas traça o perfil dos três personagens principais tomando por base as atitudes que estes adotam de acordo com uma determinada situação vivenciada por cada um.
Anakin Skywalker é, indubitavelmente, o personagem mais bem explorado pelo roteiro. Precipitado, arrogante (infelizmente o roteiro erra um pouco na dose de tal arrogância, tornando o personagem artificial demais durante alguns pouquíssimos minutos de projeção), irracional e de temperamento explosivo e imprevisível, o jovem aprendiz de Jedi nem de longe lembra o garoto estoicista e altruísta do longa anterior. Por outro lado, o roteiro também prima por distanciar o Anakin deste “Ataque dos Clones” do personagem que ele virá a se transformar no terceiro episódio. O Anakin Skywalker deste segundo episódio é o perfeito intermédio entre o garoto de índole inquestionável de “A Ameaça Fantasma” e o adulto frustrado com os seus sonhos que será abordado no episódio sucessor a este. Skywalker é a prova definitiva de que o ser humano, por melhor que seja, pode ser convertido e influenciado pelo meio e pelas circunstâncias que o cercam.
Obi-Wan Kenobi, que havia passado meio batido no longa anterior, também é muito bem aproveitado pelo roteiro deste longa e a atuação consistente e carismática de McGregor colabora muito para isso. Revelando-se um homem racional, sério, comprometido com o serviço, mas extremamente precipitado e involuntariamente autoritário e possessivo, o caráter do mestre Jedi é amplamente exposto neste filme e colabora muito para que percebamos o quão este personagem influencia, tanto negativamente quanto positivamente, Anakin Skywalker, colaborando imensamente para o destino cruel e sombrio reservado a este.
Padmé Amidala, muito provavelmente, é a protagonista que menos foi aproveitada pelo roteiro, apesar de ter sido muitíssimo bem empregada pelo mesmo. Antes, rainha de Naboo, agora, senadora deste mesmo planeta, a garota se mostra amável, honesta, empenhada, determinada, mas é sempre extremamente racional e faz o possível para evitar um previsível romance com Anakin Skywalker imaginando que isto causaria danos irreversíveis a ambos.
E aproveitando a menção que fiz ao romance entre Anakin e Padmé, devo dizer que o mesmo alterna entre altos e baixos constantemente. O casal não possui muita química, diga-se a verdade, mas ainda assim acaba, estranhamente, nos cativando (talvez seja pelo simples fato de sabermos a importância fundamental que tal envolvimento terá nos episódios posteriores). O relacionamento entre ambos, infelizmente, se apóia em alguns planos clichês imperdoáveis, com direito a cenas em que ambos rolam na grama de um local altamente paradisíaco e, é claro, ao primeiro beijo trocado entre ambos (também em um local de vista paradisíaca) com direito a um artificial pós-arrependimento por parte da jovem senadora que diz: “___ Não, não está certo fazermos isso!”. Ainda assim, tal envolvimento amoroso é de suma importância para a hexalogia inteira (e, provavelmente, é um dos pontos mais importantes que foram abordados por esta nova trilogia).
Outro fato importantíssimo ocorrido neste “Ataque dos Clones” e que, posteriormente, irá colaborar, e muito, para a transformação de Anakin Skywalker no temível personagem que o destina, é o falecimento de uma determinada pessoa muito querida por ele (cujo nome, obviamente, não irei revelar). Contudo, da mesma forma que o romance entre Anakin e Padmé alterna entre altos e baixos, a seqüência da morte de tal pessoa segue o mesmo caminho. Abusando de um clássico clichê hollywoodiano, Lucas dirige a cena com uma dose de pieguice, com direito a presenciarmos a pessoa morrendo nos braços de Anakin, dizendo: “Eu te amo!”. Por outro lado, o modo como o roteiro trabalha a influência que tal baque causa ao personagem é sensacional e sentimos na pele todo o ódio despertado dentro deste. Infelizmente tal seqüência se encerra com uma falha que poderia, e deveria, ter sido facilmente evitada por Lucas: o excesso na atuação de Christensen. A fim de demonstrar toda a sua ira, o jovem ator exagerou nas expressões de cólera e na tentativa de se revelar um bad ass, tornando a seqüência toda um tanto o quanto exagerada. O roteiro também não colabora muito com o desfecho da cena e cria diálogos patéticos do tipo: “___ Matei a todos eles. Não só aos homens, como também mulheres e crianças!”.
A estória, por sua vez, é ótima e é justamente ela que se revela o grande diferencial desta obra. Ao contrário do primeiro longa que não se preocupou em criar uma estória complexa e profunda (já que nem precisava disto, uma vez que a intenção do filme, conforme citei em minha crítica, era introduzir o espectador no universo “Star Wars” e isto ele se revelou capaz de fazer), este “Ataque dos Clones” conta com uma trama bem complexa e, por que não dizer, misteriosa. Logo no intróito da película somos lançados em um atentado completamente inesperado à Senadora Amidala, a fim de impedir com que esta vote na formação de um exército que irá impedir com que grupos rebeldes separatistas iniciem uma guerra civil intergaláctica. A partir daí, Obi-Wan Kenobi é designado para descobrir quem está por trás de tal tentativa de assassinato e Anakin Skywalker recebe a missão de proteger Padmé Amidala.
A sorte do roteiro, no entanto, é que a sua estória se revela suficientemente interessante para prender o público alvo e ele a desenvolve muito bem, pois se fossemos depender das cenas de ação para tal (conforme ocorreu no episódio anterior), o filme certamente teria encontrado sérios problemas em cativar o espectador. Não que as seqüências de aventura não sejam boas, muito pelo contrário, são ótimas e diria que superam facilmente todas as cenas de ação do longa anterior, mas o problema é que neste segundo episódio elas são muito más distribuídas, diferentemente de “A Ameaça Fantasma”.
Certamente cenas como a perseguição de carros ocorrida logo no início do longa, a perseguição espacial ocorrida entre Jango Fett e Obi-Wan Kenobi, as lutas na arena, o ataque que o exército de clones (cena esta que intitula o filme) realiza contra os rebeldes separatistas e, é claro, as lutas com sabres de luz (estas, inclusive, contam com uma sensacional, embora curta e, até mesmo, decepcionante, participação inesperada e inusitada de um personagem altamente surpreendente que manterei no anonimato por razões óbvias) empolgam, e muito, o espectador.
O grande problema, no entanto, é o fato de elas estarem concentradas mais no primeiro e terceiro atos do filme, tornando o segundo ato um tanto o quanto cansativo durante alguns minutos de projeção. A trama, conforme já havia mencionado, é interessante o bastante para prender o espectador, mas até mesmo ela acaba não evoluindo o bastante sem as seqüências de ação que deveriam conter no segundo ato.
Uma vez comentadas as seqüências de ação do longa, vale ressaltar também a direção de George Lucas durante estas. Não apenas o modo como o diretor conduz o seu elenco, como também a maneira que ele conduz as cenas de aventura, tiveram uma visível e agradável melhora. Se antes Lucas havia se revelado um patético diretor, aqui ele se mostrou muito mais competente ao conduzir o filme e, apesar de não realizar movimentações com a câmera acima da média, se revelou capaz de criar ângulos muito interessantes, principalmente durante o ataque dos clones, onde ele cria fantásticas tomadas aéreas, posicionando as câmeras dentro das espaçonaves, colaborando assim para um considerável aumento no clima de tensão de tais seqüências.
A parte técnica do longa também conta muitos pontos para a sua avaliação final. Os efeitos visuais, desta vez, se mostram ainda mais superiores que os do longa anterior e tornam todas as seqüências de ação ainda mais eletrizantes do que elas já seriam por si só. A direção de arte, no entanto, não se mostra capaz de criar cenários tão magníficos quanto os do longa anterior e não conta com a mesma criatividade demonstrada anteriormente, mas ainda assim nos apresenta a lugares fantásticos como o chuvoso Planeta Kamino (em especial o interior dos palacetes deste. Note como é impossível não se encher os olhos face ao excelente emprego do branco futurista como decoração interna), a arena e a fábrica de robôs do planeta Geonosis, além, é claro, de Coruscant e Naboo, que aqui contam com alguns lugares fantásticos que ainda não haviam sido explorados pelo longa anterior.
Outra agradável surpresa inserida neste filme é a fantástica atuação de Christopher Lee. Empregando um tom de voz simplesmente fabuloso, o ator faz de seu Conde Dookan um dos personagens mais marcantes desta nova trilogia. Sua atuação, como sempre, é consistente e convincente e a cada momento em que o ator aparece em cena o filme evolui consideravelmente.
Por fim, gostaria de comentar uma cena em especial do filme que foi capaz de me arrepiar inteiro, e provavelmente arrepiou, ou irá arrepiar (caso a pessoa ainda não tenha assistido ao longa) a todos os starwarsmaníacos. Refiro-me à cena onde vemos todos os principais membros do lado escuro da Força reunidos em um camarote, avistando de cima, a marcha de um gigantesco grupo de clones. O grande marco desta cena, certamente, reside nos primeiros acordes tocados da fantástica Marcha Imperial, tema composto pelo genial John Willians (que não bastasse ter composto a fantástica trilha-sonora da hexalogia “Star Wars”, compôs também a inesquecível trilha-sonora da ótima trilogia “Indiana Jones”). Cronologicamente falando, é a primeira vez que escutamos a música sendo tocada e, só isso, já basta para encher os olhos de qualquer fanzóide da série (isto inclui este que vos escreve) de lágrimas.
Optando sabiamente por corrigir os erros que havia cometido em “A Ameaça Fantasma”, George Lucas se redime aqui e extrai de seu elenco ótimas atuações (salvo Hayden Christensen que falha algumas vezes, mas nada que comprometa o seu ótimo desempenho geral), além de conduzir muito bem as seqüências de ação do longa, criando ângulos muito bons para isso. A estória é bastante interessante e o roteiro a desenvolve muito bem, tal como os seus respectivos protagonistas, mas, infelizmente, o longa inicia o romance entre Anakin Skywalker e Padmé Amidala de maneira deveras artificial, fazendo com que aja pouca química entre ambos e o relacionamento destes só nos cative por levarmos em conta a importância que o mesmo terá à hexalogia inteira. As seqüências de ação são todas excelentes, mas acabam sendo má distribuídas durante o filme, que só não deixa o espectador entediado em virtude à maneira inteligente como o roteiro trabalha a sua estória principal.
Avaliação Final: 8,3 na escala de 10,0.
Star Wars – Episódio I – A Ameaça Fantasma – *** de *****
Pois é, sei muito bem que este primeiro episódio da saga “Star Wars” está longe de ser um clássico absoluto da Sétima Arte, ao contrário dos episódios IV, V e VI que são um marco na história da mesma, mas decidi postar a crítica deste longa (e as dos outros dois episódios que acompanham esta nova trilogia filmada nos anos de 1.999, 2.002 e 2.005) na subseção de “filmes clássicos” acreditando ser interessante manter as análises de todos os seis filmes bem próximas uma da outra. Quanto à atitude que me levou a analisar todos os seis filmes, esta reflete a quatro fatores. Primeiro: adquiri recentemente a tão falada edição comemorativa de 30 anos de lançamento do quarto episódio da série e decidi, é claro, assisti-la o quanto antes, só que para isso achei que seria interessante assistir aos episódios iniciais, fazendo-o na ordem cronológica, e não na ordem de lançamento; segundo: a animação “Star Wars – Guerras Clônicas” estréia nos cinemas do Brasil muito em breve (próximo dia 15), nada mais conveniente então do que entrarmos no mágico clima “Guerra nas Estrelas”; terceiro: nunca critiquei nenhum dentre os seis filmes da saga em toda a minha vida; quarto e último: sou fã incondicional da saga e torna-se vergonhoso, na condição de crítico de Cinema, nunca ter analisado a mesma, portanto, é uma obrigação moral a minha fazê-lo agora.
Ficha Técnica:
Título Original: Star Wars – Episode 1: The Phantom Menace
Gênero: Aventura/Ficção Científica
Tempo de Duração: 131 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 1999
Site Oficial: www.starwars.com/episode-i
Estúdio: LucasFilm Ltda.
Distribuição: 20th Century Fox Film Corporation
Direção: George Lucas
Roteiro: George Lucas
Produção: Rick McCallum
Música: John Williams
Direção de Fotografia: David Tattersall
Desenho de Produção: Gavin Bocquet
Direção de Arte: Phil Harvey, Fred Hole, John King, Rod McLean e Ben Scott
Figurino: Trisha Biggar
Edição: Ben Burtt e Paul Martin Smith
Efeitos Especiais: Industrial Light & Magic
Elenco: Liam Neeson (Qui-Gon Jinn), Ewan McGregor (Obi-Wan Kenobi), Natalie Portman (Padmé), Jake Lloyd (Anakin Skywalker), Ian McDiarmid (Senador Palpatine/Darth Sidious), Pernilla August (Shmi Skywalker), Keira Knightley (Rainha Amidala), Oliver Ford Davies (Sio Bibble), Hugh Quarshie (Capitão Panaka), Ashmed Best (Jar Jar Bink) (voz), Anthony Daniels (C3PO), Kenny Bater (R2D2), Frank Oz (Yoda) (voz), Terence Stamp (Chanceler Finis Valorum), Andrew Secombe (Watto) (voz), Ray Park (Darth Maul), Samuel L. Jackson (Mace Windu), Sofia Coppola (Saché) e Dominic West.
Sinopse: Após sofrer um forte boicote econômico por parte da gananciosa Federação Comercial, o planeta Naboo solicita a ajuda do bravo cavaleiro Jedi Qui-Gon Jinn (Liam Neeson) e seu jovem aprendiz Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor) para resolver o impasse. Contudo, as negociações não saem justamente como eles esperavam e uma guerra é instaurada contra o planeta Naboo. Os dois Jedi recebem então uma outra missão, escoltar a jovem Rainha Amidala (Keira Knightley) e sua auxiliar Padmé (Natalie Portman) a Coruscant, capital da Federação, para solicitar ao Chanceler Finis Valorum (Terence Stamp) o fim de tal guerra sem propósito. Porém, após tentar trespassar o bloqueio espacial que a Federação realizou ao planeta Naboo, a nave real é atingida e o grupo se vê obrigado a realizar uma parada no planeta Tatooine, onde eles encontram o garoto Anakin Skywalker (Jake Lloyd), única pessoa capaz de conseguir as peças necessárias para que a nave seja devidamente reparada e possa seguir a viagem.
Star Wars – Episode I – The Phantom Menace – Trailer:
Crítica:
“Star Wars – Episódio I – A Ameaça Fantasma” foi um longa que teve tudo, absolutamente tudo, para se tornar um grande marco na história da Sétima Arte. Temos aqui um competente elenco, um grande orçamento (US$ 115mi), uma sensacional equipe responsável pelos efeitos visuais e, acima de tudo, um roteiro que conta com personagens para lá de interessantes de serem devidamente abordados e explorados. Sem contar, é claro, a magia contida por trás de toda a obra (ocasionada pela trilogia que teve seu início nos fins da década de 70), algo que seria capaz (e foi) de arrastar milhões de fãs para os cinemas do mundo inteiro, a fim de testemunharem como toda a saga começou. Enfim, era um longa que tinha tudo para entrar para a história do Cinema, mas não entrou. Por qual motivo? Duas palavras: George Lucas.
Sim, ele mesmo, o tão aclamado patrono de todos os nerds, o grande responsável pelo mais importante blockbuster da história do Cinema (me refiro, certamente, ao episódio de número 4 da saga: “Uma Nova Esperança”) e por uma das mais bem sucedidas e aclamadas trilogias já lançadas pela Sétima Arte. Enfim, o maior responsável pelo insucesso deste primeiro episódio (e até mesmo dos outros dois episódios posteriores, diga-se a verdade) é, justa e ironicamente, o maior responsável pelo sucesso da saga anterior, George Lucas, o pai da série.
“___ Mas onde foi que Lucas falhou?” ___ Me pergunta o leitor. “___ Naquilo que ele menos sabe fazer” ___ Respondo eu ___ “Na condução do elenco”. As falhas de Lucas como diretor de atores soavam gritantes até mesmo nos episódios anteriores da saga, mas ainda assim, não se mostravam tão visíveis como se mostram aqui. Atores talentosíssimos como Liam Neeson (este ainda se salva em algumas cenas), Ewan McGregor, Natalie Portman, Samuel L. Jackson e Keira Knightley tiveram quase toda a sua competência desperdiçada devido a atuações fracas, sem o menor carisma e expressividade.
Para citar um exemplo, repare no semblante de Natalie Portman ao (tentar) demonstrar um ar de preocupação relacionada à crise que seu planeta estava passando no presente momento. Uma hora depois, repare no mesmo semblante, da mesma Natalie Portman, ao (tentar) demonstrar satisfação total por ter resolvido tal crise que tanto a atormentava no início da projeção. Pois é, eu sei, não há mudança alguma. Mas não, a inexpressividade de todo o elenco (isso inclui tanto os atores primários, como secundários e, até mesmo terciários, para não dizer também os figurantes e extras) não é o maior defeito do longa no que diz respeito à atuações. Temos um problema ainda mais grave aqui: a entonação das vozes de todos (e eu disse todos, sem exceções) os atores.
Sempre gostei muito de assistir a um filme no idioma original do mesmo, para que pudesse, desta maneira, analisar o tom de voz que os atores empregaram a fim de compor os seus respectivos personagens e as situações pelas quais estes estão passando. Contudo, nunca imaginei que, em toda a minha vida, pudesse utilizar isto um dia a fim de defini-lo como maior qualidade, ou maior defeito (como é o caso com este longa) de uma determinada obra cinematográfica. Sinceramente, não há como não notar, e é claro, se irritar veementemente, com a falta de dicção dos atores em várias cenas do longa.
Vide, por exemplo, a seqüência onde a personagem de Pernilla August diz a seu filho Anakin Skywalker (sim, ele mesmo): “___ Any, estou tão orgulhosa de você! Você trouxe esperança a quem não mais a tinha!”. O problema é que, uma frase que deveria ter sido proferida da maneira mais vigorosa o possível, acabou soando tão insossa quanto se a mesma personagem dissesse ao filho: “___ Any, vá dormir que já é tarde e amanhã você deve acordar cedo!”. Mas antes o tom de voz mono tônico fosse apenas um defeito correspondente ao elenco secundário do filme, isso seria uma verdadeira benção. Note a cena em que a personagem de Natalie Portman (uma das peças mais importantes não só deste longa, como da trilogia inteira) diz a seguinte frase: “___ Peço, ou melhor, imploro com todas as forças que nos ajudem!”. Francamente, um pedido de ajuda com uma entonação de voz daquelas não seria capaz nem ao menos de convencer uma criança com os bolsos cheios de dinheiro a comprar um doce, quiçá incentivar seres tão orgulhosos quanto os suplicados, no caso, a oferecerem ajuda.
Não bastasse as falhas supracitadas, a direção de Lucas não falha apenas no que diz respeito à condução do elenco. Sem demonstrar a menor capacidade para criar ângulos satisfatórios com a câmera, ou acompanhar as seqüências de ação realizando travellings que as tornaria muito mais convincentes e realistas, ou ainda conduzir o filme de uma maneira que fosse capaz de fugir do convencional, George Lucas nos apresenta a uma direção verdadeiramente falha e incompetente do ponto de vista geral, merecendo, incontestavelmente, o prêmio Framboesa de Ouro® de pior diretor que concorreu em 2.000.
Além da direção patética de Lucas e das atuações nada convincentes por parte de todo o elenco (salvo Liam Neeson que salva-se em muitas cenas), o longa investe em um humor recheado de gags previsíveis e totalmente desnecessárias que, durante muitas cenas, acabam até mesmo quebrando um clima de tensão que o filme está tentando conferir ao seu público durante as suas seqüências de ação. Pior ainda é constatarmos que tais gags vêem de um personagem nem um pouco inerente à trama, refiro-me, é claro, ao insuportavelmente irritante Jar Jar Bink.
Na verdade, confesso ter exagerado ligeiramente quando mencionei que Bink é “insuportavelmente irritante”. Não creio que Bink seja um personagem tão irritante quanto a maioria esmagadora das pessoas que assistem ao filme o considera, mas que ele incomoda muito, isso incomoda. Principalmente se prestarmos atenção na falta de uma justificativa realmente convincente para que o personagem se torne inerente à trama. Parece que o único propósito de Jar Jar no longa foi realmente o de servir de subterfúgio para os produtores explicarem o alto custo gasto com os efeitos visuais deste, já que a criatura fora o primeiro personagem 100% digital que a Sétima Arte já nos apresentou (fato que foi muito ressaltado e comentado durante a época).
E aproveitando o ensejo, uma vez que mencionei os efeitos visuais do longa, talvez seja esta a melhor ocasião para listar as qualidades do mesmo que, sim, são muitas. Falemos um pouco mais sobre os efeitos visuais do filme, sobretudo os que compõem a criatura Jar Jar Binks que, sim, é perfeita, em especial se levarmos em conta a inovação que a mesma trouxe para o Cinema, possibilitando com que mais tarde outros personagens 100% digitais pudessem ser confeccionados, como é o caso de Gollum, da excelente trilogia: “O Senhor dos Anéis”.
Para se comentar sobre a criatura Jar Jar, deve-se esquecer que esta foi criada anteriormente ao Gollum e que, naturalmente, não é tão bem animada quanto o anti-herói da saga de Peter Jackson. Bink é bem animado, seus movimentos são todos naturais, mas a algo de errado com o semblante da criatura: a falta de brilho em seus olhos. Entretanto, devemos levar em conta que fora a primeira criatura 100% digital criada pelo Cinema, e só isto já basta para que o personagem seja totalmente respeitado por nós (me refiro do ponto de vista técnico, já que do ponto de vista artístico a criatura não têm nenhuma função na trama).
Os demais efeitos visuais também são muito bem empregados e, ao contrário da maioria dos filmes do gênero, eles não são utilizados apenas com o intento de cobrir os buracos no roteiro ou a falta de uma estória verdadeiramente decente. Aqui, a grande maioria dos efeitos visuais são utilizados a fim de conferir mais dinamicidade e realismo às seqüências de aventura (estas que são muito má dirigidas por Lucas, conforme consta supracitado). Vide a clássica corrida de pods, por exemplo, que apesar de perder muita tensão graças à câmera pesada de Lucas, se mostra bastante emocionante devido ao uso extremamente de efeitos visuais que a engrandece e a torna uma das cenas mais marcantes de toda a saga.
A fotografia e a direção de arte são outros aspectos que engrandecem, e muito, o filme. Não há como não se cativar com a beleza plástica que é o reino subaquático de Gunga City, ou com a suntuosidade dos palácios contidos na capital do planeta Naboo, ou as paisagens áridas de Tatooine, o saguão onde ocorre a luta entre Qui-Gon Jinn, Obi-Wan Kenobi e Darth Maul, e, principalmente, com a maravilha gráfica que é o planeta Coruscant (principalmente quando se tem a visão noturna do planeta, a capital da Federação. Aliás, a fotografia e a direção de arte que nos apresentam a Coruscant deveriam ser comentadas individualmente, já que o planeta está recheado de cenários deslumbrantes, como é o caso da pista de pouso, da sala de reuniões do Conselho Jedi e, especialmente, a sala onde ocorre a Assembléia entre os Senadores que representam os planetas ligados à Federação. Não restam duvidas de que, visualmente, “A Ameaça Fantasma” é um filme perfeito e tanto a sua direção de arte quanto a sua fotografia merecem ocupar um lugar entre as 50 melhores de todos os tempos.
George Lucas, por mais incrível que isso possa parecer, também colabora um pouco para que o filme se torne agradável. Se por um lado Lucas se mostra incompetente na condução de câmeras, por outro lado o diretor se mostra sabiamente oportunista no que diz respeito à maneira como ele utiliza os efeitos visuais do longa a fim de nos proporcionar seqüências de ação absurdamente fantásticas, dentre as quais menciono a já citada corrida de pods e a batalha final, ocorrida no planeta Naboo (esta, aliás, uma seqüência fantástica, que confere um ritmo incrível ao filme).
No entanto, é como roteirista que Lucas quase se redime de todas as suas falhas como diretor. Injustamente criticado por sua estória aparentemente fraca, o roteiro deste “A Ameaça Fantasma” cumpre muito bem o seu propósito, que nada mais é do que simplesmente iniciar a saga. Para isso, era necessário que uma estória altamente complexa e bem desenvolvida nos fosse apresentada (como a trama contida nos episódios IV, V e VI)? Certamente que não. Bastava apenas o roteiro nos introduzir ao “mundo Star Wars” completando algumas informações que acabaram ficando incompletas ou vagas com o desfecho da trilogia anterior, tais como: o que vem a ser a tão comentada Força? Qual é a origem de Anakin Skywalker? Por que um jovem tão humilde e repleto de valores morais viria a se tornar o vilão mais temido da história do Cinema (esta questão, na realidade, será melhor desenvolvida nos dois episódios posteriores a este)? Como Obi-Wan Kenobi conheceu Anakin Skywalker? Como o conselho Jedi se organizava? “___ E o roteiro concebido por Lucas consegue responder as questões supra?” ___ Me pergunta o leitor. Eu respondo que não apenas consegue as responder, como o faz de um modo bastante natural e convincente e, de quebra, conta com uma trama dinâmica que, mesmo estando longe de ser tão grandiosa como a dos demais episódios da saga, se revela suficientemente divertida.
Em suma, este primeiro episódio da saga “Star Wars” se revela uma experiência suficiente e individualmente divertida, apesar de empalidecer muito perante os demais episódios da saga. Lucas se mostra extremamente incompetente na direção do longa, sobretudo na condução do elenco, mas consegue conceber seqüências de aventura (em especial as lutas com sabres de luz, estas que, devido à falta de tecnologia na época, não eram tão empolgantes na trilogia anterior, se tornam o ponto alto do filme em questão) que tornam a experiência bastante dinâmica e agradável e, principalmente, divertida. O longa se revela narrativamente interessante, uma vez que cumpre o seu papel de nos introduzir no mundo “Guerra nas Estrelas” e é de uma beleza visual estonteantemente arrebatadora.
Avaliação Final: 7,0 na escala de 10,0.