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Força Policial – * de *****

Muitas vezes já utilizei este espaço dedicado à pré-crítica para esculhambar os títulos nacionais conferidos às produções estrangeiras, contudo, não me lembro de ter feito o mesmo com o título original de uma determinada obra. Faço-o então agora com este “Pride & Glory” (gargalhadas). Em primeiro lugar, creio que nem preciso comentar a falta de criatividade, não? Em segundo lugar, o que dizer deste ‘titulozinho’ medíocre, ‘marqueteiro’ e megalomaníaco? Sim, pois dá a entender que a produção trata-se de um épico de guerra, não? E o que o orgulho e a glória tem em comum com a corrupção policial? Ah sim, claro, o filme insinua que um oficial da polícia nova-iorquina deveria sentir orgulho e glória de seu serviço. Mas oras, o correto não é que todos nós deveríamos sentir orgulho e glória de nossas profissões? Analisando por este prisma, então todo o filme que aborde uma profissão, seja ela qual for, deveria se chamar “Orgulho & Glória”, não? Mas o título não é ao todo ruim, ao menos ele ilustra bem certas qualidades da obra que nomeia: um filme imaturo e megalomaníaco.

Ficha Técnica:
Título Original: Pride & Glory.
Gênero: Policial.
Ano de Lançamento: 2008.
Site Oficial: http://www.prideandglorymovie.com/
Nacionalidade: Estados Unidos / Alemanha.
Tempo de Duração: 130 minutos.
Direção: Gavin O’Connor.
Roteiro: Joe Carnahan e Gavin O’Connor, baseado em estória de Gavin O’Connor, Robert Hopes e Greg O’Connor.
Elenco: Edward Norton (Ray Tierney), Colin Farrell (Jimmy Eagan), Jon Voight (Francis Tearney, Sr.), Noah Emmerich (Francis Tearney, Jr.), Jennifer Ehle (Abby Tierney), John Ortiz (Sandy), Frank Grillo (Eddie Carbone), Shea Whigham (Kenny Dugan), Lake Bell (Megan Egan), Carmen Ejogo (Tasha), Manny Perez (Coco Dominguez), Wayne Duvall (Bill Avery), Ramon Rodriguez (Angel Tezo), Rick Gonzalez (Eladio Casado), Maximiliano Hernández (Carlos Bragon), Leslie Denniston (Maureen Tierney), Hannah Riggins (Caitlin Tierney), Carmen LoPorto (Francis Tierney), Lucy Grace Ellis (Bailey Tierney), Ryan Simpkins (Shannon Egan), Ty Simpkins (Matthew Egan), Flaco Navaja (Tookie Brackett), Raquel Jordan (Lisette Madera), José Ramón Rosario (Prefeito Arthur Caffey), Christopher Michael Holley (Detetive Miller), Jessica Pimentel (Angelique Domenguez).

Sinopse: Após quatro policiais serem assassinados, Francis Tierney (Jon Voight), chefe dos detetives da polícia de Nova York, pede para que o filho Ray (Edward Norton) volte a trabalhar em seu departamento e o ajude com as investigações. O rapaz reluta a princípio, mas aceita o pedido do pai e passa a investigar o caso ao lado do irmão Francis Tearney, Jr. (Noah Emmerich) e do cunhado Jimmy Eagan (Colin Farrell).

Pride & Glory – Trailer:

Crítica:

“Força Policial” (e, no final das contas, o título nacional do filme se mostra quase tão estúpido quanto o título original) está sendo “vendido” a nós, brasileiros, como o “Tropa de Elite” estadunidense. Falácia! Não acredite em um segundo sequer da campanha publicitária deste lixo imundo! Se “Tropa de Elite” conseguia nos transmitir perfeitamente aquilo que estava sendo exibido nas telas, adotando para tal uma estrutura semi-documental levemente parecida com um filme produzido durante o neo-realismo italiano, “Força Policial” tenta (e esta foi uma das tentativas mais frustrantes da história da sétima Arte, diga-se) o fazer plagiando quase todos os filmes do gênero produzidos recentemente.

E sei que já virou clichê falar de clichês em uma crítica cinematográfica, mas aqui não há como fugirmos disso, uma vez que o filme copia vários elementos de outros filmes policiais. Temos espaço para o policial extremamente competente que trabalha em um departamento cujas atividades encontram-se bem aquém de suas aptidões investigativas. Há também um drama familiar envolvendo este mesmo policial, que viu-se obrigado a se separar da mulher que ama por causa do trabalho (e francamente, ele deveria ser eternamente grato ao trabalho por faze-lo abandonar um “trabuco” da categoria de sua ex-esposa. Bom, ao menos eu, se estivesse no lugar dele, seria. Ou melhor, se realmente estivesse no lugar dele, nem ao menos me envolveria com um “canhão” daqueles), a família inteira que trabalha na polícia (pai, filhos e, acredite, até o genro), o protagonista que mora em um barco ancorado no cais local, o pai que pede ao filho que volte a trabalhar lado a lado com ele, a trama se desenrolando durante o período natalino, os narcotraficantes oriundos de países latino-americanos (e nem preciso comentar o teor preconceituoso disso, não é?), dentre muitos (mas muitos mesmo, vocês irão ficar até atordoados com a enxurrada de clichês contida no roteiro de “Força Policial”) outros chavões.

O modo como o roteiro aborda os seus personagens soa exacerbadamente superficial. O protagonista então dispensa comentários, até mesmo porque eles já foram feitos no parágrafo supra. Mas e quanto aos demais personagens? Um mais fútil que o outro. Temos o pai de família que faz de seu serviço algo glorioso e tenta o passar para os filhos, que decidem seguir a carreira profissional do progenitor, temos também o genro que é chefe de uma família perfeitamente moldada no “american way-of-life” e se envolve com a corrupção a fim de dar uma vida melhor aos filhos e à esposa, o irmão do protagonista que é um homem correto e honesto, mas que não delata os companheiros por uma questão de coleguismo e… podemos parar por aí? Ah não, acredito ser conveniente falarmos também sobre os narcotraficantes latino-americanos. O quê? Já citei-os acima? Sim, mas não me lembro de ter comentado que os mesmos seguem o estereotipo do criminoso cruel que resolve tudo “na bala”. Pior ainda é notarmos que os fora-da-lei são sempre estúpidos, a ponto de deixar uma pista ou uma testemunha a todo o momento em que cometem uma infração.

E falando na idiotice dos bandidos de “Força Policial”, creio que todo o membro da policia adoraria que os criminosos realmente fossem assim, não? Pois é, seria o trabalho mais fácil do mundo, ao menos é o que o filme deixa a entender conforme mostra as investigações sendo executadas. Veja o momento em que o personagem de Edward Norton (e o que ele está fazendo neste filme, uma vez que nunca atuou em uma obra tão exposta ao ridículo como esta?) entrevista um garoto latino-americano (e, sinceramente, não sei qual é a vantagem de seu personagem saber falar espanhol se, após um minuto de interrogação, o protagonista pergunta: “Sabe falar inglês?”, e passa a comunicar-se com os entrevistados apenas no idioma oficialmente falado na Terra do Tio Sam), por exemplo. Ray vai à testemunha certa, na hora certa, e consegue as informações certas. Pois é, falar que o roteiro é extremamente artificial neste ponto torna-se dispensável, não é mesmo? Principalmente se levarmos em conta que o próprio “script” se denuncia quando o protagonista comenta: “___ Foi apenas sorte!”.

Bem, pode até ter sido um golpe de sorte, de fato, e isso não teria problema algum caso o longa tivesse parado por aí mesmo. Mas não é o que acontece, o roteiro insiste em criar mais cenas artificiais como esta, tornando-se muito comum vermos bandidos exageradamente descuidados a ponto de deixarem celulares próximos ao local do crime e testemunhas que veem tudo o que aconteceu e contam para a polícia logo em seguida (a propósito, só em um filme imbecil como este conseguimos ver testemunhas tão fáceis de se interrogar e dispostas a contar tudo o que sabem, mesmo que isto lhes custe a vida). E francamente, juro (e juro mesmo, não estou exagerando) que pensei que em um determinado momento do filme os bandidos fossem cometer um crime e logo em seguida pendurar, em uma parede próxima ao local do incidente, luminosos com os seguintes dizeres: “Me chamo Fulano da Silva, tenho 1,80m de altura, sou negro e matei este homem porque vendi a ele mais de dez mil dólares em cocaína e o desgraçado não me pagou a quantia. Caso queiram me localizar basta procurar-me na Rua dos Pinheiros, número 1234, apartamento 27, ao lado do boteco do Zé do Pires e de frente para a Funerária Lá Vai Mais Um. Estarei com uma camiseta regata vermelha com o emblema do Flamengo e com uma caixa de cereais na mão direita. Com a mão esquerda acenarei para vocês pela janela. Quaisquer dúvidas é só ligar para o telefone número 1234-5678 e darei informações mais minuciosas. P.S.: Não se esqueçam do mandado judicial para poderem arrombar a minha porta e levar-me à delegacia. Atenciosamente, Fulano da Silva.” (sei que fui pouco original na escolha do endereço e número de telefone, mas acabei sendo involuntariamente inspirado pela falta de criatividade do filme que acabei de assistir).

“___ Mas e a trama em si, consegue mostrar o esquema de corrupção dos policiais nova-iorquinos?” ___ Me pergunta o leitor. Mostrar mostra, mas do modo mais convencional o possível. E não apenas de um modo convencional, como também de uma forma nada convincente, principalmente por vermos os policiais corruptos estabelecendo poucos contatos com os bandidos. A propósito, é triste vermos o quão dispensável “Força Policial” é se o compararmos com muitos outros filmes do gênero que desempenharam o mesmo papel que ele pretendia desempenhar, só que de uma maneira bem mais realista, como é o caso de “O Corruptor”, “Os Reis da Rua”, “Dia de Treinamento”, “Cop Land” e, é mais do que óbvio, “Tropa de Elite” (aliás, notem o modo como o mesmo é fortemente plagiado neste “Força Policial”. As cenas do filme gringo em que mostram um policial assaltando o dono de um mercado são descaradamente copiadas da cena em que o capitão Fábio (encarnado com maestria por Milhem Cortaz) assalta uma choperia).

Mas nem tudo pode ser encarado com repulsa nesta porcaria dirigida por Gavin O’Connor. O próprio diretor realiza um trabalho regular atrás das câmeras e o modo como movimenta as mesmas revela-se interessante durante algumas cenas do longa. O elenco também encontra-se bastante afiado e realiza um trabalho bastante competente, sobretudo Noah Emmerich que se mostra bastante seguro como Francis Tearney, Jr. Norton também realiza um trabalho convincente, mas muito aquém do esperado, e o mesmo eu digo de Colin Farrell e Jon Voight.

Bem, poderia execrar o filme ainda mais, poderia comentar os péssimos diálogos embutidos no mesmo, a trilha-sonora visivelmente maniqueísta, o terceiro ato ridículo (que conta com uma briga de bar, no estilo mano-a-mano, entre os dois personagens principais da trama), mas vou parando por aqui. “Força Policial” é um filme que possui um elenco competente e uma direção razoável, e só. No mais, somos quase afogados por uma enxurrada de clichês e cenas extremamente artificiais empregadas pelo roteiro. O maior pecado do longa, entretanto, é o modo gritantemente (isso para não dizer ‘berrantemente’) falho como decide abordar a corrupção policial, algo que o deixa bem aquém de várias outras produções do gênero. Um lixo descartável, apenas isso.

Avaliação Final: 2,0 na escala de 10,0.

Na Mira do Chefe – *** de *****

fevereiro 19, 2009 Deixe um comentário
Certa vez, pouco antes de dar-se início à Copa do Mundo de 2002, comentava com o meu pai que o Brasil, felizmente, não iria levar a taça para casa em virtude de sua péssima campanha nas Eliminatórias anterior (os motivos pelos quais torcia contra a Seleção Brasileira (e ainda torço veementemente contra e, francamente, sempre torci e sempre torcerei contra a mesma) explico em uma ocasião mais apropriada, mas é claro que o leitor, sagaz como é, já deve ter deduzido que tem algo relacionado à alienação em massa proporcionada pela mesma). Ele, por sua vez, disse que as chances do Brasil faturar o troféu eram enormes, pois se a Seleção encontrava-se fraca naquele momento, as outras equipes estavam igualmente medíocres (e desta vez falo no sentido pejorativo da palavra, e não na qualidade de mediano como sempre costumo fazer) e tinham ainda menos chances de vencerem a Copa. O que isto tudo tem a ver com “Na Mira do Chefe”? Bem, com o filme em si, nada, mas com a sua participação no Oscar, tudo. Se “Na Mira do Chefe” está concorrendo ao aclamado Oscar de Melhor Roteiro Original e já arrematou vários outros prêmios importantes para a sétima Arte, é porque 2008 foi um ano vergonhoso para o Cinema e, na falta de coisa melhor, premia-se a primeira obra diferente que se vê pela frente, mesmo esta se revelando uma produção apenas na média e nada mais.

Ficha Técnica:
Título Original: In Bruges
Gênero: Comédia.
Ano de Lançamento: 2008.
Site Oficial: http://www.inbruges.co.uk/
Nacionalidade: Inglaterra e Bélgica.
Tempo de Duração: 107 minutos.
Direção: Martin McDonagh.
Roteiro: Martin McDonagh.
Elenco: Colin Farrell (Ray), Brendan Gleeson (Ken), Ralph Fiennes (Harry Waters), Clémense Poésy (Chloë), Jérémie Renier (Eirik), Thekla Reuten (Marie), Jordan Prentice (Jimmy), Elizabeth Berrington (Natalie), Eric Godon (Yuri), Sachi Kimura (Imamoto), Anna Madeley (Denise) e Ciarán Hinds (Padre).
Sinopse: Harry Waters (Ralph Fiennes), chefe de um grupo de matadores de aluguel, envia dois de seus profissionais, Ray (Colin Farrell) e Ken (Brendan Gleeson), a Bruges, uma cidadela medieval localizada na Bélgica. Ken, um intelectual de carteirinha, logo se apaixona pela arquitetura gótico-medieval local e a importância histórica que tem a cidade. Ray, um rapaz estúpido e inculto, não consegue partilhar com o amigo a mesma opinião. Em primeiro lugar, porque ele não se adapta ao local, uma vez que é o típico jovem boêmio e cidades pacatas não lhe agradam nem um pouco, em segundo lugar, porque carrega consigo o trauma de uma missão mal-sucedida, e isto lhe pesa a consciência de um modo que passa a ter sérias dificuldades para se distrair.

In Bruges – Trailer:

Crítica:

Ao contrário do que muitos podem imaginar, inclusive os(as) senhores(as), a profissão de crítico de Cinema não é das mais fáceis, muito menos, das mais gratificantes. Uma coisa é “brincar” de crítico e poder escolher os filmes os quais serão objetos de crítica, outra coisa é você se ver obrigado a assistir a uma penca de filmes os quais não assistiria em uma ocasião normal. Por este motivo, creio que os críticos da sétima Arte passam tanto tempo assistindo a tanta asneira que o Cinema, mormente Hollywood, nos “empurra” que, ao verem uma produção um pouco diferente das demais, já elevam esta a um patamar muito mais alto do que realmente merece ser elevada. Quando o gênero em pauta então é a comédia, nem se fale. Tendo em vista que a grande maioria dos filmes que passam pelos cinemas, sobretudo os cinemas chinfrins, são as comédias, é mais do que natural que as produções desta espécie sejam as que mais confiram títulos ruins ou péssimos (como é o caso da maioria) ao mercado cinematográfico (tanto que, na grande maioria das vezes, os “vencedores” do Framboesa de Ouro são os filmes de comédia).

Aí surge um “Na Mira do Chefe”. Um filme que, aparentemente, tenta ser diferente, fugir dos clichês habituais do gênero, trazer o novo à pessoas que já estão fartas do “mais do mesmo”. De fato, a produção consegue o fazer com certo êxito, não se tenha nem dúvidas, mas isso não quer dizer necessariamente que seja um filme lá muito bem sucedido. O leitor deve-se lembrar de quando eu mencionei, ao escrever sobre “Onde os Fracos Não Têm Vez”, que todo o filme que tente inovar, por pior que seja, merece o mínimo de respeito, não se lembra? Pois é, mas por outro lado, ao comentar o fraco “Amigos, Amigos, Mulheres à Parte” mencionei que, muitas vezes, na tentativa de inovar (no caso desta comédia romântica, ela tenta inovar muito pouco, muito pouco mesmo), o filme acaba se revelando ainda pior do que se revelaria caso seguisse os tradicionalismos de sempre. Ainda assim mantive a minha opinião costumeira e conferi alguns pontos extras ao longa dirigido por Howard Deutch pela tentativa (ainda que falha) deste inovar.

E quanto a “Na Mira do Chefe”? Bem, o mesmo não conseguiu obter o mesmo êxito que “Onde os Fracos Não Têm Vez” obteve, mas ao menos não se revelou tão falho quanto “Amigos, Amigos, Mulheres à Parte” se revelou. Muito longe disso. Assim como o filme de Martin McDonagh está longe de ser ótimo, excelente ou perfeito, ele também está longe de ser péssimo, ruim, ou apenas razoável. “Na Mira do Chefe” se revela, durante a maior parte de seu tempo, uma produção satisfatória, agradável, mas apenas isso. Aí surge um aglomerado de críticos rasgando seda para o filme, dizendo que o mesmo é uma nova obra-prima da comédia de humor negro. Festivais como o Globo de Ouro e o Bafta atribuem prêmios importantíssimos ao longa e o Oscar ainda o indica na categoria de Melhor Roteiro Original. Oras, sejamos racionais. Será que o Cinema está tão decadente a ponto de um filme merecer tanto crédito por ser, apenas, diferente?

O longa começa muito lento, com muito pouco ritmo. Piadas fracas vão surgindo, como a cena em que o personagem de Colin Farrell zomba de uma família obesa. O roteiro vai, cada vez mais, nos apresentando a situações que não fazem o filme levantar vôo (e já nem me lembro (e nem quero) mais se vai acento circunflexo no primeiro ‘o’ ou não) de maneira alguma. Os atores até que fazem a sua parte, realizam grandes atuações, sobretudo Colin Farrell que trabalha muito bem (muito bem mesmo). O diretor Martin McDonagh também faz um bom trabalho, apesar de realizar algo que particularmente não me atrai nem um pouco: criar uma espécie de cartão-postal da cidade de Bruges ao dar ênfase demais aos pontos turísticos da mesma. Não que a cidade não mereça ser enfocada, muito pelo contrário, Bruges é encantadora. A eficiente fotografia empregada por Eigil Bryld torna a paisagem e a arquitetura locais ainda mais belas de serem admiradas por nós, espectadores (a propósito, quando sai o próximo vôo para a Bélgica? Gostaria de poder apreciar a sua arquitetura de perto.). Entretanto, quando um filme começa a dar muita ênfase ao cenário ou a paisagem do local em que a trama se desenrola, sempre suspeitem de uma coisa: o mesmo está tentando suprir a falta de conteúdo de seu roteiro com a beleza visual de suas locações. E “Na Mira do Chefe”, lamentavelmente, faz isso com certa frequência.

Passam-se os minutos. Os personagens de Farrell e Gleeson vão se revelando mais cativantes, mas ainda assim não há como não notarmos o modo artificial com que o roteiro desenvolve o protagonista Ray. Após ter sido contratado para eliminar um padre, Ray, involuntariamente, acerta uma pessoa inocente e acaba tirando-lhe a vida (e não vou descrever que espécie de pessoa era essa que o protagonista matou involuntariamente, sob pena de tirar o peso dramático da cena). O fato confere um trauma terrível ao personagem, que sofre fortes ameaças de entrar em profunda depressão e, até mesmo, cometer suicídio. Contudo, se a consciência do protagonista era tão pesada assim, como ele podia se revelar tão radiante e despreocupado no início do filme, quando conheceu Chloë (Clémense Poésy) e passou a paquerá-la? E por mais linda que a moça seja (e ela realmente é), acredito que isso não seria argumento o suficiente para que ele pudesse simplesmente esquecer-se do ocorrido. Logo, o roteiro falha gritantemente (isso para não dizer “berrantemente”) ao abordar esta alteração de humor constante do protagonista do modo mais indelicado o possível.

Felizmente, temos os personagens secundários do filme. Estes sim são construídos de um modo extremamente interessante. Variamos desde o skinhead assaltante até o chefe de quadrilha que conta com um código de ética fortíssimo (o qual jamais quebra) e passamos pelo anão racista, pela narcotraficante internacional e muitos outros personagens completamente curiosos. Aliás, desde que assisti ao ótimo “Snatch – Porcos e Diamantes” não via uma gama tão vasta de personagens bizarros e hilários quanto neste “Na Mira do Chefe”. E o roteiro sabe os utilizar de um modo realmente magistral, inserindo-os em situações tão absurdas quanto eles mesmos o são.

Os diálogos do longa também são fenomenais e a mesmíssima citação que fiz ao comentar o ótimo “Frost/Nixon”, faço ao comentar esta obra de McDonagh: “Gostaria de destacar também os diálogos do filme. Confesso que, durante alguns momentos, as falas de seus personagens me remeteram à deliciosa sensação de estar assistindo a um filme roteirizado por Woody Allen”. Como não se esbaldar em gargalhadas ao ouvir coisas do tipo: “___ Havia uma época em que ser skinhead consistia em matar palestinos de 12 anos, mas hoje em dia parece ser um pré-requisito para ser gay.” e “___ Eu sou americano, mas por favor, não me culpe por isso.”.

Resumidamente, “Na Mira do Chefe” é um filme que não começa nada bem. Temos um protagonista deveras artificial, cujas mudanças de caráter não são estudadas pelo roteiro de um modo verdadeiramente satisfatório. O longa não tem ritmo em seu início, o senso de humor empregado demora bastante para funcionar e a direção de Martin McDonagh, à primo, parece se importar mais em criar uma sequência de cartões-postais da cidade de Bruges do que de conduzir o filme de um modo realmente aceitável. Tais falhas vão sendo corrigidas com o desenrolar da trama. O elenco é extremamente competente (o que já era de se esperar de um elenco encabeçado por profissionais excelentes como Colin Farrell, Brendan Gleeson e Ralph Fiennes). Farrell realiza uma das melhores atuações de sua carreira e, se o roteiro é extremamente artificial na abordagem de seu personagem, ele nada tem a ver com isso. Sua atuação é cativante e convincente. Ralph Fiennes, então, nem se comenta. A sua presença é devastadora e, quando o mesmo entra em cena, o filme ganha uma força fora do comum. Surgem os personagens secundários, sujeitos dotados de características para lá de bizarras, hilárias, curiosas e interessantes. A trama vai criando situações engraçadas, mas no geral, o longa está há anos luz de merecer o prestígio que vem, exageradamente, recebendo. Um bom filme, apenas isso.
Avaliação Final: 7,0 na escala de 10,0.

Crítica – O Sonho de Cassandra

Estava desesperado para criticar algum filme este final de semana (principalmente porque este espaço virtual está desatualizadíssimo faz um bom tempo), mas com tantas opções (incluindo dois dos maiores blockbusters desta temporada) à vista, qual eu deveria escolher? Pensei bem e optei por assistir ao mais recente filme de um dos meus 10 diretores prediletos, Woody Allen. Para minha surpresa, este “O Sonho de Cassandra”, cuja premissa não fez com que eu me entusiasmasse muito, se revelou o melhor filme do diretor nova-iorquino desde que este lançou o irretocável “Crimes e Pecados”. É verdade que a premissa desta obra já foi utilizada por Allen diversas vezes, mas é incrível notarmos como o mesmo é capaz de inovar a cada filme (e olhe que ele mantém uma média de 1 filme por ano, sendo que a maioria dos cineastas mantém uma meta de 1 filme a cada três ou quatro anos). Além de reflexivos e introspectivos, os filmes do diretor judeu são completamente charmosos e prazerosos de se assistir, tanto os dramas quanto as comédias. Tendo em vista isso, é óbvio que a minha escolha para o fim de semana não poderia ser outra senão “O Sonho de Cassandra”, como o leitor poderá constatar mais abaixo.

Ficha Técnica:
Título Original: Cassandra’s Dream
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 108 minutos
Ano de Lançamento (EUA / Inglaterra / França): 2007
Site Oficial: http://www.cassandrasdreammovie.com/
Estúdio: Iberville Productions / Virtual Studios / Wild Bunch
Distribuição: The Weinstein Company / Imagem Filmes
Direção: Woody Allen
Roteiro: Woody Allen
Produção: Letty Aronson, Stephen Tenenbaum e Gareth Wiley
Música: Philip Glass
Fotografia: Vilmos Zsigmond
Desenho de Produção: Maria Djurkovic
Figurino: Jill Taylor
Edição: Alisa Lepselter
Elenco: Ewan McGregor (Ian), Colin Farrell (Terry), Hayley Atwell (Angela Stark), Sally Hawkins (Kate), John Benfield (Pai), Clare Higgins (Mãe), Ashley Madekwe (Lucy), Andrew Howard (Jerry), Tom Wilkinson (Howard), Philip Davis (Martin Burns), Stephen Noonan (Mel), Dan Carter (Fred), Jennifer Higham (Helen), Lee Whitlock (Mike), Milo Bodrozic (Milo Bodrozic), Emily Gilchrist (Emily Gilchrist), Richard Lintern (Diretor), Peter-Hugo Daly (Dono do barco).

Sinopse:

Ian (Ewan McGregor) e Terry (Colin Farrell) são irmãos que decidem comprar o barco “Cassandra’s Dream”, apesar dos problemas financeiros que ambos atravessam. Terry trabalha em uma oficina, mas é viciado no jogo e sempre está às voltas com novas dívidas. Já Ian trabalha no restaurante do pai (John Benfield), mas sonha em largar o negócio para alçar vôos mais altos. Ambos moram com os pais, com a família sendo auxiliada financeiramente pelo tio Howard (Tom Wilkinson). Um dia Howard aparece para uma visita, o que anima Ian e Terry. Eles pretendem pedir dinheiro ao tio, para que possam realizar os sonhos que têm para suas vidas. Howard aceita ajudá-los, mas o que exige em troca muda para sempre a vida dos irmãos.


Cassandra’s Dream – Trailer

Crítica:

Poucos roteiristas… não, espere um pouco, este início de crítica definitivamente não ficou satisfatório, tentemos outra vez… nenhum roteirista (ah, agora sim!), seja ele vivo ou morto, parece ter a capacidade de criar personagens tão bem desenvolvidos quanto Woody Allen tem. Da mesma forma, nenhum diretor, seja ele vivo ou morto, parece ter a capacidade de abordar um tema tão complexo e chocante de maneira tão sutil e, até mesmo, reflexiva do modo como Allen o faz. Adotando, mais uma vez, várias características que compuseram diversas obras suas, tais como: mitologia grega (utilizado em “Poderosa Afrodite”) e literatura doistoievskiana (utilizado em “Match Point”), o roteirista e diretor nova-iorquino deu uns retoques em uma premissa que já fôra por ele utilizada inúmeras vezes e mais uma vez conseguiu inovar, oferecendo ao público um dos trabalhos mais relevantes de toda a sua carreira artística. O longa tem um intróito praticamente irretocável. Logo de início somos apresentados a uma ótima fotografia e a uma suntuosa trilha-sonora e tomamos ciência de que estamos frente a frente com um típico filme de Allen. O diretor parece fazer mágica, é incrível a maneira como seus filmes conseguem nos cativar logo no início, é incrível como ele consegue fazer com que seus longas se tornem tão prazerosos de serem assistidos. No primeiro ato, temos uma abordagem tão fascinante de seus personagens, que fica difícil não nos envolver com os mesmos e não resistirmos ao charme do filme. Neste “O Sonho de Cassandra” (que desde já afirmo ser o melhor “Allen” dos últimos anos), devido à riqueza de detalhes com que os personagens da estória são abordados, fica praticamente impossível não nos sentirmos próximos de cada um deles (inclusive dos secundários). Infelizmente, o mesmo roteiro que não peca em nada durante o seu primeiro e segundo atos, falha gravemente ao, no final da trama, abordar mais o personagem de McGregor que o de Farrell, tendo em vista que o principal ingrediente do longa parece ser justamente o trauma psicológico que se agrega na mente deste segundo.

Avaliação Final: 8,5 na escala de 10,0.

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