Arquivo

Archive for the ‘Mike Leigh’ Category

Simplesmente Feliz – ** de *****

fevereiro 21, 2009 7 comentários
Acredito que este “Simplesmente Feliz” não tenha me pegado em um bom dia. Ontem, 20 de fevereiro de 2009, foi um dos dias em que me mantive mais mal humorado em toda a minha vida. Aí, vejam só que ironia do destino, peguei pela frente esta comédia irritante. E confesso que esperava que a mesma pudesse, ao menos, melhorar o meu dia, me fazer sorrir um pouco, mas não, ledo engano. A única coisa que “Simplesmente Feliz” conseguiu foi me fazer sair da sessão ainda mais mal humorado do que quando entrei na mesma.

Crítica:

“Simplesmente Feliz” pode ser dividido em duas partes: na primeira ele se revela apenas um filme idiota, na segunda ele se revela um filme idiota querendo se redimir da vergonha a qual submeteu os seus espectadores. A personagem em si é uma das coisas mais estúpidas que pude testemunhar no Cinema nos últimos anos, e o que mais me irrita é que o roteiro (indicado ao Oscar de melhor do ano sabe-se lá o porquê) o faz propositadamente, com a inteção de passar uma lição de moral estapafúrdia ao espectador. Poppy é transformada em uma mistura de Pee Wee feminino com… deixe me ver… ah, sei lá… com Punky – A Levada da Breca. Sim, ria a vontade, mas a verdade é que é justamente isso o que se pode ver em cena.

Abordando Poppy como uma personagem praticamente retardada (nada contra os deficientes mentais, diga-se), o roteiro já nos faz sentir um ódio mortal por ela logo no início. Quando a mesma entra em uma livraria e vê o título de um livro, “A Rua Para a Realidade”, em seguida responde: “___ Eu não quero ir para lá.”. Isso! Que maravilha hein?! Ela pretende então ser uma tapada, uma burra, uma alienada pelo resto da vida? Que bom seria se todas as pessoas pensassem assim, não? O quê? Ah, claro, o filme vai se desenrolando e Poppy vai percebendo que ser irresponsável nem sempre é algo bom. Oh, que grande ‘sacada’ a do roteiro, não? Não se pode fazer qualquer coisa sem o mínimo de responsabilidade! Ótimo! Grande filosofia de vida! Se um dia você abrir um boteco pode até colocar algo do tipo na porta do banheiro!

E se o filme não funciona como um estudo sobre a irresponsabilidade (a propósito, tem certeza de que era mesmo necessário fazer um estudo sobre isso? Algo tão óbvio?), nem ao menos como comédia consegue decolar. Poppy é uma garota bobinha, ri de tudo. Se alguém chega para ela e comenta: “___ Poppy, seu pai foi encontrado morto enquanto preparava um omelete para o jantar!”, ela dá suas risadinhas irritantes com um ar de: “tudo bem, o que importa é ser feliz!” (e é obvio que a situação que coloquei acima não acontece no filme, mas se acontecesse, não esperaria outra reação da moça). Agora, imagine que mundo ótimo seria se todas as pessoas fossem iguais à protagonista? Não teríamos Revolução Francesa, nem Abolição da Escravatura, nem nada que pudesse submeter o mundo a inerentes revoluções, teríamos apenas pessoas querendo fazer piadinhas fúteis de tudo e de todos.

Aliás, falando em fútil, o que dizer da cena em que a personagem, junta de algumas amigas, fuma maconha? Francamente, “Simplesmente Feliz” poderia, pelo menos, se revelar um lixo digno de “Sessão da Tarde”, não fosse esse tipo de coisa. Agora, o filme de Mike Leigh (e é uma pena ver um cineasta tão competente envolvido em uma baboseira tão grande) infelizmente investe em cenas pesadas como a citada e em outras similares a essa, tornando o filme algo muito pesado para ser encarado como uma simples comédia bobinha, mas levinha. O longa então se revela muito babaca para os adultos e muito pesado para as crianças, ou seja, não presta para ninguém, exceto para uma porrada de críticos de Cinema com problemas mentais que o superestimaram.

Agora, falando em cenas de peso, juro que adoraria entrar nos sets de filmagem com um extintor de incêndio na mão e esmiuçar o crânio da protagonista. Ah, como isso me passou pela cabeça durante a sessão! Seguindo o exemplo do músico Zeo Britto na música “Soraya Queimada”, eu juro que queria ter um lança-chamas, uma vela, um palito de fósforo, uma nano faísca que seja, para poder queimar Soraya… aliás… queimar Poppy. Que garota chata! Insuportável! Confesso que, mesmo sendo assexuado, adoro garotas meiguinhas, que parecem criança falando. Juro que tenho uma tara incontrolável por elas. O problema com a protagonista, no entanto, é que ela exagera na dose, a ponto de me deixar desesperado para persegui-la, tortura-la e mata-la. E lembrando outro músico psicótico, Rogério Skylab, juro que queria ter uma moto serra e cortar os braços e as pernas de Poppy, para fazer a mesma ocupar a postura de Vênus de Milo em meu jardim. Contudo, é óbvio que eu cortaria a língua da garota, assim não a ouviria falar tanta asneira.

Mas o filme estranhamente ganha muito ritmo em seu final. Além de explorar o instrutor de auto escola Scott de um modo mais cativante (e confesso que ri bastante quanto à teoria dele acerca de ocultismo envolvendo um monumento em Washington e o modo como utiliza Lúcifer e os outros dois anjos caídos, Enharah e Raziel, para atribuir uma alcunha aos três espelhos retrovisores de um veículo) o roteiro ainda consegue se mostrar bastante interessante. A comédia ridícula dá ar a um pequeno drama bastante satisfatório. As atuações de Sally Hawkins e Eddie Marsan se revelam monstruosas (e não é culpa deles se os seus personagens são extremamente caricatos) e dignas de uma indicação ao Oscar (ao contrário do roteiro que, nem nos meus sonhos mais bizarros, teria tal honra concedida). Mas é justamente quando o filme se torna interessantíssimo que ele, infelizmente, se encerra abruptamente.

Enfim, mais um engodo, dentre os muitos outros engodos, cometidos pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas neste infeliz ano (infeliz para o Cinema, é claro) de 2009.
Avaliação Final: 4,0 na escala de 10,0.