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Jules & Jim – Uma Mulher Para Dois – ***** de *****

Quando escrevi a pré-crítica do ótimo “Rocco e Seus Irmãos”, comentei que o Cinema Italiano era, ao meu ver, o segundo melhor Cinema existente. Contudo, esqueci de dizer qual era o Cinema que, definitivamente, mais me agradava. Pois respondo agora mesmo, o Cinema que mais me agrada é, inquestionavelmente, o Cinema Francês. Se a sétima Arte produzida na França contasse apenas com Jean-Luc Godard, creio que já poderia se declarar o melhor Cinema existente no mundo inteiro, agora, imaginem somar Godard com François Truffaut, Jean Renoir, Robert Bresson, Claude Chabrol, Jean Vigo, Roman Polanski, Eric Rohmer, Michel Gondry, Alain Resnais, François Ozon, Louis Malle, Gaspar Noé e muitos outros? Pois é, não restam dúvidas de que o Cinema Francês é muito rico mesmo, e enriqueceu-se ainda mais durante o clássico período alcunhado de Nouvelle Vague. E falando em Nouvelle Vague, sabiam que nunca havia assistido a este “Jules & Jim”, um dos maiores representantes da mais gloriosa era do Cinema Francês? Pois é, reparado esse terrível erro de minha parte, vamos à crítica da obra-prima de Truffaut.

Ficha Técnica:
Título Original: Jules et Jim.
Gênero: Drama.
Tempo de Duração: 104 minutos.
Ano de Lançamento: 1962.
País de Origem: França.
Direção: François Truffaut.
Roteiro: François Truffaut e Jean Gruault, baseado em livro de Henri-Pierre Roché.
Elenco: Jeanne Moreau (Catherine), Oskar Werner (Jules), Henri Serre (Jim), Vanna Urbino (Gilberte), Boris Bassiak (Albert), Anny Nelsen (Lucie), Sabine Haudepin(Sabine), Marie Dubois (Therese), Christiane Wagner (Helga) e Michel Subor (Narrador).

Sinopse: Jules (Oskar Werner) e Jim (Henri Serre) são dois jovens boêmios e intelectuais que vivem em Paris durante a Belle Époque. A vida de ambos ganha uma injeção de ânimo ainda maior quando Catherine (Jeanne Moreau), uma jovem libertária, revolucionária, contestadora, inconsequente e impetuosa os conhece. Os três formam um grupo inseparável que passa boa parte do tempo indo ao teatro, realizando passeios ciclísticos e frequentando a praia local. Dá-se início à Primeira Guerra Mundial, Jules se vê obrigado a sair da França e defender a sua terra natal, mas casa-se com Catherine antes. Terminada a guerra, Jim vai visitar os dois amigos e vê que ambos formaram uma família bem sucedida. Mas o tempo passa e o francês se dá conta de que os dois não são tão felizes quanto pensava, uma vez que Catherine é uma jovem feminista ferrenha e acredita que o amor é curto. Logo, a garota passa a trair Jules constantemente, achando que trata-se de uma atitude normal. Jules não se importa com isso, contenta-se apenas com a presença da esposa, sem se preocupar com a fidelidade por parte da mesma. As coisas mudam completamente de figura quando Catherine passa a amar Jim, e o sentimento torna-se recíproco, nascendo aí um triângulo amoroso altamente explosivo.

Jules et Jim – Trailer:

Crítica:

É interessante que, antes de assistir a este “Jules & Jim – Uma Mulher Para Dois”, o último filme por mim conferido tenha sido “Acossado” de Jean-Luc Godard (e aconselho que o(a) leitor(a) o faça da mesma forma, assista à obra-prima de Godard e, logo me seguida, assista a obra-prima de Truffaut, e quando tiver acabado, entenderá o porquê de meu conselho), pois ambos tem muito em comum.

Além de serem dois dos maiores representantes da Nouvelle Vague, também contam com o “amor” como grande protagonista da trama. Entretanto, ambas as obras abordam tal sentimento de formas extremamente diferentes, sendo que o longa de Godard estabelecia um panorama sobre o amor entre duas pessoas completamente diferentes, ao contrário do longa de Truffaut, que o faz em cima de vários indivíduos com muitas características em comum.

O filme começa com uma citação que o resume muito bem. Catherine, a protagonista, diz: “Você disse: “eu te amo”, eu disse: “espere”, eu disse: “sou sua” e você disse: vá embora”. Neste curto diálogo podemos prever que o longa trata de pessoas que amam, mas não suportam vivenciarem tal amor de forma completa. É como se o mesmo as enjoasse, as entediasse, e perdesse toda a magia e o charme inicial com o decorrer de um curto período de tempo. X ama Y, Y pede a X um tempo para pensar, Y decide então aceitar o amor de X, e quando X passa a se relacionar afetivamente com Y, ele já não sabe mais se ama o parceiro. Complexo? E como.

É nesta amálgama amorosa que o roteiro assinado por François Truffaut e Jean Gruault, baseados no romance autobiográfico de Henri-Pierre Roché, tece o seu trio de personagens principais. Adotando inicialmente uma narrativa abrupta e efêmera, assim como muitos exemplares da Nouvelle Vague o fizeram, “Jules & Jim – Uma Mulher Para Dois” nos introduz logo de cara, e sem quaisquer delongas, à amizade entre os personagens título. Passamos a saber, logo no início da projeção, que ambos tornaram-se amigos fantasiando-se para um baile, e pronto, isso já basta. Não é necessária uma abordagem mais ampla de como ambos se conheceram, isso seria perda de tempo.

Jules é um austríaco que, ao lado do francês Jim, nutre uma paixão incondicional pela Arte. Ambos passam os seus vinte e poucos anos de idade aproveitando a vida ao máximo, fazendo tudo o que os demais jovens aristocratas poderiam fazer na Paris dos últimos anos da Belle Époque. O desenvolvimento diegético de ambos passa a fazer mais sentido e descobrimos então a verdadeira razão da existência da amizade entre os protagonistas. Os dois estão fortemente ligados aos prazeres da boemia e ao estudo da Arte, e isso já basta para que o apego entre ambos nos cative definitivamente, justificando o início súbito do filme.

A amizade entre eles ganha força máxima com a inclusão de Catherine na trama. Assim como Jules tornou-se amigo de Jim ao acaso, o mesmo ocorre com a personagem magistralmente encarnada pela excelente Jeanne Moreau. A primo, Catherine surge como um amálgama entre os dois amigos. A garota, até então depressiva, completa e, ao mesmo tempo, é completada pela alegria dos personagens-título. Os jovens, que já seguiam um estilo de vida hedonista, e com ligeiras pinceladas epicuristas, ganham características ainda mais joviais quando se encontram ao lado da moça.

Mas tudo o que é belo tem o seu fim. Chega a Primeira Grande Guerra e, com ela, surge uma vírgula que interrompe a amizade de ambos. Jules é desterrado da França para lutar pelo seu país. Notamos então que os sentimentos de ambos são realmente verdadeiros, pois um prefere mil vezes a própria morte a ter de aniquilar o outro em campo de batalha.

A guerra acaba. Jim visita Jules, que encontra-se casado com Catherine e, em uma primeira vista, julga que ambos formaram um casal feliz, construíram uma excelente cabana em uma bela fazenda e tiveram uma filha encantadora. Eles tem tudo para ser uma família afortunada, mas não são. Por quê? Em face do gênio impetuoso e libertário de Catherine.

Jules ama a imagem que criou em cima da moça, mas não nutre por ela um sentimento tão intenso quando esta se encontra a sua frente. Catherine já é uma jovem demasiada feminista e libertária. Ela é a personificação da década de 1.920, uma feminista insanável. É extremamente ‘saidinha’, como diriam os mais velhos. A personagem de Jeanne Moreau é adepta ferrenha do amor livre, do amor anárquico, do amor rotativo. Para ela, o verdadeiro amor existe, de fato, mas tem uma chama muito curta e pode ser facilmente apagado.

Eis que Jim volta à sua vida. O francês passa a amá-la, mas respeita o amigo. Jules, no entanto, desconfia, e pede ao amigo que case-se com a sua esposa, pois apenas desta forma ele poderá vê-la todos os dias, já que o austríaco não consegue disponibilizar a esta todo o amor necessário (se é que realmente existe algum), ele confessa que contenta-se apenas com a presença diária de Catherine. Jules permite então que o amigo francês e a ex-esposa mantenham conjunção carnal em sua própria morada, debaixo de seu próprio nariz.

Seria ele um (com o prévio perdão pela expressão vulgar) “corno manso”? Ou quem sabe um voyeur. Não, nem um, nem outro. Jules, como já fora dito, ama apenas a imagem que criou sobre Catherine, e talvez nem ame a pessoa Catherine, apesar de não conseguir viver afastado da mesma. Para ele não consiste uma traição ver as duas pessoas a que mais ama manterem um relacionamento afetivo dentro de sua própria casa, e com o seu próprio aval. Mas aos poucos Jim também passa a sentir que já não ama Catherine com a mesma magnitude que amava outrora e tal sentimento é recíproco.

E é aí que o vai-e-vem amoroso começa tudo de novo. Os desconexos sentimentos afetivos tomam conta da película mais uma vez (se é que deixaram de tomar conta da mesma durante algum instante) e nos vemos novamente diante de um relacionamento que mais parece ter ocorrido em meio a uma comunidade hippie. E falando em comunidades hippies, não é de se estranhar a coincidência de “Jules & Jim – Uma Mulher Para Dois” ter sido lançado justamente nos anos 1.960, juntamente com o surgimento destes movimentos da contracultura, já que eles também pregavam a mesma forma alternativa de amor.

É através da utilização de uma direção bastante autoral, repleta de travelings curtos e rápidos, cortes dinâmicos, e de enquadramentos que exploram ao máximo a beleza natural de suas locações, bem como de sua fotografia, que Truffaut filma “Jules & Jim – Uma Mulher Para Dois” realizando um complexo estudo de personagens que amam de forma doentia, e deixam de amar de forma ainda mais doentia.

Não é o melhor exemplar que a Nouvelle Vague pode nos oferecer, pois perde de longe para “Acossado”, mas é uma obra-prima incontestável. Um marco na sétima Arte.

Avaliação Final: 10,0 na escala de 10,0.

Fahrenheit 451 – **** de *****

Ontem (sexta feira, 03 de abril de 2009) estive conversando com o Radamés pelo MSN um assunto bem diferente de política, história, cinema, brasileiros versus argentinos (assim como vem ocorrendo no post “Che – O Argentino”), ou qualquer outra coisa que a gente está acostumado a conversar. Realizamos uma breve discussão sobre a objetividade presente nos alunos do Curso de Direito. Existem leis, os acadêmicos simplesmente as estudam sem jamais questiona-las, utilizam a máxima de que: “as leis foram feitas para serem cumpridas, e não discutidas”, e ponto (e ainda me perguntam porque abandonei o curso de Direito). Ironicamente, comprei neste mesmíssimo dia o DVD de “Fahrenheit 451” por míseros R$ 12,99 (que se tornam ainda mais míseros face à grandeza da obra de Truffaut) e decidi assiti-lo. Me surpreendi quando passei a notar que a trama debatia justamente sobre uma sociedade tomada pelo pragmatismo racional e pelas objetividades da vida, o que tinha tudo haver com o assunto em que havia debatido com o Radamés na tarde deste dia.

Ficha Técnica:
Título Original: Fahrenheit 451.
Gênero: Ficção Científica.
Tempo de Duração: 112 minutos.
Ano de Lançamento: 1966.
Nacionalidade: Inglaterra.
Direção: François Truffaut.
Roteiro: Jean-Louis Richard e François Truffaut, baseado em livro de Ray Bradbury.
Elenco: Oskar Werner (Guy Montag), Julie Christie (Linda / Clarisse), Cyril Cusack (Capitão), Anton Diffring (Fabian), Anna Palk (Jackie), Ann Bell (Doris), Caroline Hunt (Helen), Jeremy Spenser, Bee Duffell, Alex Scott e Michael Balfour.

Sinopse: Em um futuro não muito distante, os “bombeiros” tem uma função bem diferente da de apagar incêndios e resgatar pessoas correndo sérios riscos de vida. Estes profissionais tem apenas a função de localizar e destruir qualquer espécie de obra literária existente, alegando que as mesmas são propagadoras da infelicidade, pois oferecem às pessoas uma vida que estas não podem ter e as tornam insatisfeitas com suas existências convencionais. Um destes bombeiros, Guy Montag (Oskar Werner), passa a questionar tais atos quando é influenciado pelos ideais de Clarisse (Julie Christie) e presencia a morte da tia da moça, que prefere ser incinerada a ver-se afastada de seus livros.

Fahrenheit 451 – Trailer:

Crítica:

É com esta frase de Albert Einstein que início a crítica de “Fahrenheit 451”:

“Um raciocínio lógico o leva de A a B. A imaginação o leva a qualquer lugar que desejar”

Imagine então um mundo sem livros. Agora me responda, seria possível imortalizarmos pessoas ou acontecimentos históricos sem a existência destes? E se não imortalizássemos estas pessoas e estes acontecimentos históricos, o mundo seria o que ele é hoje?

O que seria de nosso planeta sem a Guerra de Independência estadunidense? O que seria da Guerra de Independência estadunidense sem a Revolução Francesa? O que seria da Revolução Francesa sem os Ideais Iluministas? O que seriam dos Ideais Iluministas sem o Renascimento Cultural? O que seria do Renascimento Cultural sem a Cultura Romana? O que seria da Cultura Romana sem a Cultura Grega? Enfim, se seguirmos esta trilha, perceberemos facilmente que o mundo não seria absolutamente nada.

E qual seria a melhor forma de registrar tais acontecimentos e passa-los às gerações posteriores? Através de livros, não? Afinal de contas, se George Washington não houvesse lido frases do tipo: “Liberté, Egalité, Fraternité”, de Jean-Jacques Rousseau, não teríamos uma Declaração de Independência proferida por ele, teríamos? Se Che Guevara e Fidel Castro não tivessem acesso a nenhum livro sobre Marxismo, não teríamos a Revolução Cubana, teríamos?

Pois é, mas voltemos à questão proposta no início desta análise cinematográfica: imaginemos um mundo sem livros. Ray Bradbury imaginou e escreveu um livro onde as pessoas vivem em um futuro não muito distante, em que o governo é totalitário e, a fim de evitar manifestações populares inspiradas em ideais libertários registrados em livros, decidem queimar todo o tipo de publicação literária existente no mundo. Jean-Louis Richard e François Truffaut, assim como Bradbury, também conseguiram imaginar um mundo assim e adaptaram a obra escrita para o Cinema. O resultado? Um filme muito acima da média, certamente.

A antevisão de Bradbury, Truffaut e Richard ganhou vida nas telonas e nos apresentou a um futuro extremamente plausível. A subordinação popular aqui não é tão visível como era no perfeito “Metropolis”, mas não há como deixar de notá-la. Mulheres são escravas da beleza e de frivolidades impostas pela televisão, bem como telenovelas, e os homens são meros escravos do trabalho. Todos vivem objetivamente, todos realizam apenas o que tem de ser realizado e só. Não há questionamentos acerca de sua existência, não há pessoas sonhadoras, não há nada, apenas racionalidade e objetividade. Se algo é desse modo, é porque ele tem que ser desse modo, e ponto final.

E é neste mundo frio que nos deparamos com uma sociedade ainda mais decadente e execrável da qual, lastimavelmente, fazemos parte atualmente. As pessoas são simplesmente estúpidas e condenam os livros por julgarem que estes as tornam infelizes e as levam a experiências pelas quais jamais irão passar na realidade. Logo, aceitam um estilo de vida insosso, convencional e sem grandes perspectivas. A diversão aqui é propagada por programas televisivos interativos, mas intelectualmente vazios, sem nada a acrescentar à existência de qualquer indivíduo que seja.

Em suma, no ano de 1966 Truffaut levou aos cinemas uma cópia semi-fiel do que o mundo viria a ser em 2009, algo que nem mesmo Fritz Lang, Stanley Kubrick, Michael Radford, Ridley Scott e James Cameron conseguiram fazer com tanta perfeição (o que não quer dizer que o longa de Truffaut seja necessariamente o melhor do gênero, pois está muito longe, mesmo, de merecer tal título).

Quanto aos demais aspectos o filme também se sai muito bem. A fotografia é muitíssimo bem empregada, bem como a direção de arte que cria cenários muito parecidos com as nossas casas atuais (e sejamos francos, quem, em plenos anos 1960, iria julgar plausível a existência de televisões de plasma, iguais às que o protagonista tem em sua sala de estar?), o que dá ao filme um indispensável toque de verossimilhança.

Os atores também saem-se muito bem em seus respectivos papéis. Eles são inexpressivos? Sim, mas convenhamos, podemos esperar que, em uma sociedade onde a razão literalmente impera, os indivíduos que a compõem consigam demonstrar quaisquer expressões que sejam? É claro que não. O destaque no elenco fica por conta de Julie Christie que, como sempre, conta com a sua talentosa inexpressividade. A atriz sente dificuldades ao se expressar (assim como o fizera no excelente “Dr. Jivago”), mas o modo como entona todas as suas frases é o diferencial de sua atuação. Através do tom de voz que emprega, conseguimos perceber o tipo de emoção que ela deseja transmitir (a propósito, a personagem Clarisse é uma das poucas não-racionais em “Fahrenheit 451”, uma vez que ela pode ser taxada de subversiva). A propósito, costumo dizer que Christie é a versão feminina de Peter O’Toole.

Truffaut, como já era de se esperar, faz em “Fahrenheit 451” um trabalho excepcional. Além de recriar magistralmente o futuro pouco inspirador do livro de Bradbury, o diretor realiza um trabalho fascinante por trás das câmeras, conferindo total dinamicidade à obra utilizando “closes ins” a todo instante. Truffaut também mostra total eficiência através dos “travellings” com os quais acompanha os seus personagens, mas o grande destaque de sua direção acaba mesmo ficando com o vazio emocional presente na mesma, algo imprescindível para um filme que visa, dentre muitas outras coisas, criticar o excesso de racionalidade de uma sociedade decadente.

O diretor francês deixa a sua marca registrada em “Fahrenheit 451” pela forma como transportou para a sétima arte a clássica cena em que Doris (Ann Bell) é queimada viva, junto com a sua casa e sua gigantesca coleção de livros.

Mas nem tudo funciona perfeitamente bem no filme em questão. Se Truffaut realiza aqui um dos melhores trabalhos de sua mais do que vitoriosa carreira, ele também comete algumas pequenas falhas, como incluir uma cena em que alguns policiais perseguem o protagonista Montag (Oskar Werner) sobrevoando uma lagoa pendurados por cabos de aço amarrados em helicopteros. A sequencia é bem curta, mas constrangedora o bastante, devido ao modo como a montagem é mal realizada. E não adianta se desculparem alegando que na época não havia condições de produzirem efeitos visuais mais bem feitos, pois “Metropolis” era a prova viva de que a cena poderia ter sido menos tosca e mais realista.

Os erros do filme, infelizmente, não se resumem a uma única cena mal feita. De forma alguma, vão muito além disso. O final de “Fahrenheit 451” se revela bastante deplorável e jamais faz jus ao restante da trama. Se nos dois primeiros atos da obra nos eram apresentadas fortes críticas ao excesso de racionalidade contido em uma determinada sociedade, no terceiro ato o filme cai em sua própria armadilha, quando chegamos à uma colônia onde pessoas subversivas decoram um determinado livro e, logo em seguida, o queima para livrarem-se de provas. Francamente, não sei se um final nestes moldes foi a intenção do roteiro ou não, mas caso tenha sido, o culpado é o próprio filme, e não este que vos escreve que não foi capaz de entendê-lo. Oras, se em uma sociedade moldada nos dois primeiros atos do filme as pessoas nada mais eram do que meros números, o que dizer então da sociedade moldada no terceiro ato? Existe maior racionalidade do que uma pessoa decorar um livro inteiro para depois poder queimá-lo?

Mas é como eu mesmo disse, pode ser que o filme tenha a total intenção de criar um desfecho extremamente racional, para utilizar-se de uma espécie de cinismo a fim de nos fazer crer que, no fim, tudo acabou bem, quando, na verdade, não foi o que aconteceu e as pessoas continuaram na mesmíssima situação, só que em um formato um pouco diferente.

Enfim, caso seja isso, desconsiderem os meus apontamentos e passem a considerar o filme perfeito.

Avaliação Final: 8,7 na escala de 10,0.