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Archive for the ‘Documentário’ Category

O Equilibrista – **** de *****

Pela primeira vez em minha vida… não, esperem um momento… pela segunda vez em minha vida critico um documentário. A primeira vez foi um pequeno texto (lembram-se daquele formato de 25 linhas o qual utilizava para escrever as minhas opiniões antigamente?) que fiz sobre o ótimo “Some Kind of Monster”, que narra a crise pela qual os quatro músicos que formam o Metallica passou antes da gravação do CD “St. Anger” (que, ao contrário da grande maioria dos headbangers, considero-o ótimo). Escrevi o texto, mas não cheguei a publicá-lo (ou será que o publiquei na época em que escrevia para o Papo Cinema? Provavelmente não), destarte, esta é a primeira vez que disponibilizo uma crítica de minha autoria direcionada a um filme do gênero documentário (sim, acabei de comprar uma caixa de rojões e estou disparando-os contra o céu e correndo pelas ruas cantando e chorando de felicidade). Vamos ao texto.

Ficha Técnica:
Título Original:
Man on Wire.
Gênero: Documentário.
Tempo de Duração: 90 minutos.
Ano de Lançamento:
2008.
Site Oficial: http://manonwire.com
Países de Origem:
Estados Unidos da América e Inglaterra.
Direção: James Marsh.
Elenco:
Philippe Petit, Jim Moore, Annie Allix, Jean-Louis Blondeau, David Forman, Barry Greenhouse, Jean François Heckel e Alan Welner, Paul McGill (Philippe Petit), Ardis Campbell (Annie), David Demato (Jean Louis), David Roland Frank (Alan).

Man on Wire – Trailer:

Crítica:

Documentário geralmente é sinônimo de filme frio e banhado de entrevistas e/ou depoimentos que visam relatar um fato comum (“Some Kind of Monster”), ou um fato político (“Um Táxi Para a Escuridão”), ou então defender uma tese (“Supersize-me – A Dieta do Palhaço”), ou até mesmo adotar um caráter amplamente investigativo, trabalhando como uma forma de fonte de informação alternativa que nos traz à tona fatos que são ocultados do público em geral (“S.O.S. Saúde”). O quê? Ah, sim, claro, existem muitos outros formatos de documentário, mas por ora, fiquemos apenas com estes, tudo bem?

Vez ou outra, no entanto, surgem algumas obras deste gênero que acabam sendo difíceis de se encaixar em qualquer uma dessas subcategorias (se é que posso alcunhá-las de subcategorias). “O Equilibrista”, por exemplo, não trata de um acontecimento político qualquer, nem defende tese alguma, muito menos traz à tona fatos que são escondidos do público e nem se assume como relato do cotidiano de uma pessoa (ou de um grupo delas, como é o caso do recente “Flight 666, que, infelizmente, ainda não assisti, o que é lamentável vindo de um fã incondicional de Iron Maiden, como é o caso deste que vos escreve). Do que o filme trata então? E o mais importante, o que faz com que ele seja digno de toda a fama que acumulou durante a corrida pelo Oscar® (tanto que faturou o prêmio de Melhor Documentário deste ano)?

A primeira questão proposta no parágrafo acima é facílima de ser respondida. O filme trata da aventura de um indivíduo cujo propósito existencial resumia-se a cruzar dois pontos distintos equilibrando-se apenas em um cabo de aço que é ligado entre ambos os locais. O problema é que ele decidia realizar tais feitos em lugares altíssimos, cujo risco de morte era mais elevado do que a minha pressão arterial (piadinha sem graça essa, não? Mas o que seria de um crítico de Cinema sem as suas piadinhas sem graça?) e, no ápice de sua carreira (e por que não dizer, loucura?), o protagonista Philippe Petit decide cruzar as torres gêmeas que formavam o recém extinto World Trade Center. E é justamente isso o que o filme aborda: os bastidores de tal travessia insana.

E quanto à segunda questão? Ah, essa já se mostra material o suficiente para se redigir uma crítica inteira. O que faz de “O Equilibrista” um documentário digno de toda a fama que vem recebendo? Primeiramente, creio que seja o fato de a “trama” focar-se justamente no World Trade Center, edifício este que pode ser considerado o símbolo máximo do atentado que se revelou o divisor de águas entre as Eras Pré e Pós 11 de Setembro. É interessante ratificarmos, através desta obra, a ingenuidade estadunidense quanto à sua segurança interna que, no final das contas, não era tão invulnerável quanto muitos julgavam ser (note o modo como Philippe se infiltra no prédio e chega ao último andar do mesmo).

Mas acima de tudo, creio que o sucesso desta fita, bem como o grande destaque da mesma, resida, de fato, no modo cativante como ela desenvolve os seus personagens, bem como o quão empenhados e persistentes estes se mostram a fim de tornarem o seu sonho uma visível realidade. Indo na contramão da grande maioria dos documentários, “O Equilibrista” opta, felizmente, por não adotar a frieza característica do gênero (e isto é, certamente, o que a obra nos oferece de melhor) e tenta desenvolver os seus personagens da maneira mais encantadora o possível, através de entrevistas e depoimentos honestos. Como não se identificar com o protagonista na cena em que testemunhamos os “esforços” por ele empregados a fim de destacar uma página de uma revista em um consultório dentário? Como não sentirmos na pele a aflição pela qual ele passa quando corre sério risco de ser apanhado pelos guardas do World Trade Center, quando se esconde debaixo de uma lona no último andar do edifício? E é claro, como não nos perturbarmos quando presenciamos Philippe andando sobre um cabo de aço em uma altura de 321 metros?

Todos esses são pontos que transformam “O Equilibrista” em um documentário bem diferente do que o que estamos acostumados a testemunhar e, se o fato de poder assistir a um homem andando sobre um cabo de aço a 321 metros de altura do chão não acrescenta absolutamente nada em nossas vidas, a fé e a perseverança por ele empregadas (e por sua equipe também) acrescentam, e muito.

Destaque para as “atuações” (se é que posso as chamar assim) de Philippe Petit e dos demais “atores” (se é que posso os chamar assim, também) que conferem um tom de naturalidade incrível a obra (e como não se identificar com o protagonista visto a expressividade, o carisma e o entusiasmo dele?). Ponto positivo também para a direção simplesmente fantástica de James Marsh que, além de conferir à obra a sensibilidade necessária para que ela funcione corretamente, ainda emprega muitas técnicas do tipo “takes aéreos”, “travellings” e “deep focus”.

Ponto negativo para a fotografia que, desnecessariamente, abusa do preto e branco em cenas onde não há necessidade para o uso de tal.

Avaliação Final: 8,5 na escala de 10,0.

O Equilibrista – **** de *****

Pela primeira vez em minha vida… não, esperem um momento… pela segunda vez em minha vida critico um documentário. A primeira vez foi um pequeno texto (lembram-se daquele formato de 25 linhas o qual utilizava para escrever as minhas opiniões antigamente?) que fiz sobre o ótimo “Some Kind of Monster”, que narra a crise pela qual os quatro músicos que formam o Metallica passou antes da gravação do CD “St. Anger” (que, ao contrário da grande maioria dos headbangers, considero-o ótimo). Escrevi o texto, mas não cheguei a publicá-lo (ou será que o publiquei na época em que escrevia para o Papo Cinema? Provavelmente não), destarte, esta é a primeira vez que disponibilizo uma crítica de minha autoria direcionada a um filme do gênero documentário (sim, acabei de comprar uma caixa de rojões e estou disparando-os contra o céu e correndo pelas ruas cantando e chorando de felicidade). Vamos ao texto.

Ficha Técnica:
Título Original:
Man on Wire.
Gênero: Documentário.
Tempo de Duração: 90 minutos.
Ano de Lançamento:
2008.
Site Oficial: http://manonwire.com
Países de Origem:
Estados Unidos da América e Inglaterra.
Direção: James Marsh.
Elenco:
Philippe Petit, Jim Moore, Annie Allix, Jean-Louis Blondeau, David Forman, Barry Greenhouse, Jean François Heckel e Alan Welner, Paul McGill (Philippe Petit), Ardis Campbell (Annie), David Demato (Jean Louis), David Roland Frank (Alan).

Man on Wire – Trailer:

Crítica:

Documentário geralmente é sinônimo de filme frio e banhado de entrevistas e/ou depoimentos que visam relatar um fato comum (“Some Kind of Monster”), ou um fato político (“Um Táxi Para a Escuridão”), ou então defender uma tese (“Supersize-me – A Dieta do Palhaço”), ou até mesmo adotar um caráter amplamente investigativo, trabalhando como uma forma de fonte de informação alternativa que nos traz à tona fatos que são ocultados do público em geral (“S.O.S. Saúde”). O quê? Ah, sim, claro, existem muitos outros formatos de documentário, mas por ora, fiquemos apenas com estes, tudo bem?

Vez ou outra, no entanto, surgem algumas obras deste gênero que acabam sendo difíceis de se encaixar em qualquer uma dessas subcategorias (se é que posso alcunhá-las de subcategorias). “O Equilibrista”, por exemplo, não trata de um acontecimento político qualquer, nem defende tese alguma, muito menos traz à tona fatos que são escondidos do público e nem se assume como relato do cotidiano de uma pessoa (ou de um grupo delas, como é o caso do recente “Flight 666, que, infelizmente, ainda não assisti, o que é lamentável vindo de um fã incondicional de Iron Maiden, como é o caso deste que vos escreve). Do que o filme trata então? E o mais importante, o que faz com que ele seja digno de toda a fama que acumulou durante a corrida pelo Oscar® (tanto que faturou o prêmio de Melhor Documentário deste ano)?

A primeira questão proposta no parágrafo acima é facílima de ser respondida. O filme trata da aventura de um indivíduo cujo propósito existencial resumia-se a cruzar dois pontos distintos equilibrando-se apenas em um cabo de aço que é ligado entre ambos os locais. O problema é que ele decidia realizar tais feitos em lugares altíssimos, cujo risco de morte era mais elevado do que a minha pressão arterial (piadinha sem graça essa, não? Mas o que seria de um crítico de Cinema sem as suas piadinhas sem graça?) e, no ápice de sua carreira (e por que não dizer, loucura?), o protagonista Philippe Petit decide cruzar as torres gêmeas que formavam o recém extinto World Trade Center. E é justamente isso o que o filme aborda: os bastidores de tal travessia insana.

E quanto à segunda questão? Ah, essa já se mostra material o suficiente para se redigir uma crítica inteira. O que faz de “O Equilibrista” um documentário digno de toda a fama que vem recebendo? Primeiramente, creio que seja o fato de a “trama” focar-se justamente no World Trade Center, edifício este que pode ser considerado o símbolo máximo do atentado que se revelou o divisor de águas entre as Eras Pré e Pós 11 de Setembro. É interessante ratificarmos, através desta obra, a ingenuidade estadunidense quanto à sua segurança interna que, no final das contas, não era tão invulnerável quanto muitos julgavam ser (note o modo como Philippe se infiltra no prédio e chega ao último andar do mesmo).

Mas acima de tudo, creio que o sucesso desta fita, bem como o grande destaque da mesma, resida, de fato, no modo cativante como ela desenvolve os seus personagens, bem como o quão empenhados e persistentes estes se mostram a fim de tornarem o seu sonho uma visível realidade. Indo na contramão da grande maioria dos documentários, “O Equilibrista” opta, felizmente, por não adotar a frieza característica do gênero (e isto é, certamente, o que a obra nos oferece de melhor) e tenta desenvolver os seus personagens da maneira mais encantadora o possível, através de entrevistas e depoimentos honestos. Como não se identificar com o protagonista na cena em que testemunhamos os “esforços” por ele empregados a fim de destacar uma página de uma revista em um consultório dentário? Como não sentirmos na pele a aflição pela qual ele passa quando corre sério risco de ser apanhado pelos guardas do World Trade Center, quando se esconde debaixo de uma lona no último andar do edifício? E é claro, como não nos perturbarmos quando presenciamos Philippe andando sobre um cabo de aço em uma altura de 321 metros?

Todos esses são pontos que transformam “O Equilibrista” em um documentário bem diferente do que o que estamos acostumados a testemunhar e, se o fato de poder assistir a um homem andando sobre um cabo de aço a 321 metros de altura do chão não acrescenta absolutamente nada em nossas vidas, a fé e a perseverança por ele empregadas (e por sua equipe também) acrescentam, e muito.

Destaque para as “atuações” (se é que posso as chamar assim) de Philippe Petit e dos demais “atores” (se é que posso os chamar assim, também) que conferem um tom de naturalidade incrível a obra (e como não se identificar com o protagonista visto a expressividade, o carisma e o entusiasmo dele?). Ponto positivo também para a direção simplesmente fantástica de James Marsh que, além de conferir à obra a sensibilidade necessária para que ela funcione corretamente, ainda emprega muitas técnicas do tipo “takes aéreos”, “travellings” e “deep focus”.

Ponto negativo para a fotografia que, desnecessariamente, abusa do preto e branco em cenas onde não há necessidade para o uso de tal.

Avaliação Final: 8,5 na escala de 10,0.

Valsa Com Bashir – **** de *****

março 5, 2009 2 comentários
Outro filme do Oscar que não tinha tido tempo de assistir até então. Contudo, “Valsa com Bashir” faz parte do ciclo de filmes “undergrounds” que passaram pelo Teatro Kodak, contudo, este continha algo em especial: era uma animação que vinha como a grande favorita para a conquista do Prêmio de Melhor Filme em Língua Estrangeira. A derrota do mesmo foi o acontecimento mais inesperado da noite. Muitos (inclusive o Radamés (que vez ou outra posta alguma coisa por aqui) e eu) apontaram a crise no Oriente Médio como a principal agravante, outros já apontaram o fato do filme “The Class” estar ganhando muito ritmo e, na disputa de votos com “…Bashir”, ambos acabaram abrindo espaço para “Departures” faturar o prêmio. Há quem diga também que o preconceito da Academia para com os gêneros: animação e documentários, prevaleceu, e por isso o filme israelense ficou de mãos abanando. Enfim, não assisti aos demais filmes que concorriam a essa categoria, mas digo sem medo de errar foi um ótimo filme e se revelou melhor do que a grande maioria dos filmes que concorreram a quaisquer outras categorias no Oscar.

Crítica:

Muito provavelmente a “carta na manga” de “Valsa Com Bashir” seja o fato desta ser uma produção israelense que critica a própria política israelense. Quando acompanhamos o noticiário, por mais imparcial que este tente ser, sempre assistimos a matérias que apontem o povo do Estado de Israel como os “mocinhos” da estória. Eles são judeus e por isso são perseguidos, por isso são esnobados pelos países árabes, por isso estão sempre envolvidos em conflito bélicos. Isso é o que muitas pessoas pensam sobre Israel: eles também estão errados, mas os outros, ah, os outros estão muito mais. Tanto é que a própria Terra do Tio Sam, juntamente com outros países ocidentais e organizações como a Freedom House, oferecem apoio direto a Israel. Tendo em vista tudo o que mencionei no parágrafo acima, não restam dúvidas de que assistir a uma produção que vá de encontro às opiniões da grande maioria da população mundial é, na pior das hipóteses, interessante, não? Melhor ainda é ver que esta mesma produção é proveniente do berço de tais discussões. Aí, o filme torna-se imperdível. E é isso mesmo o que “…Bashir” é, um filme imperdível.

Polêmica, cruel e realista, a animação deve ser conferida por todos, sobretudo atualmente, onde o Oriente Médio passa por uma complicadíssima crise diplomática. Só isso já faria com que “…Bashir” valesse uma bela de uma espiada. A direção de Ari Folman, por sua vez, consegue reduzir ainda mais os empecilhos entre o espectador e o valor do ingresso. Cada centavo gasto para assistir ao longa israelense é válido, e não apenas pelos motivos que supracitei, mas também pelo modo como o diretor “brinca” com a câmera. Logo na sequência de abertura do filme, vemos o mesmo realizar “close outs” de uma cidade suja. Em seguida, dezenas de cachorros saem de uma rua congruente à que a câmera está posicionada e começam a correr acompanhando a mesma, que filma magistralmente as expressões raivosas dos animais. A cena é muito bem dirigida e Folman já de cara nos dá uma amostra do que viria fazer mais para a frente.

A cena se encerra, descobrimos que tudo aquilo era, na verdade, um sonho do protagonista. Em seguida nos é revelado que o mesmo era um ex-combatente do exército israelense e, a fim de curar este trauma, procura um amigo, que também já servira às forças armadas de Israel e agora é cineasta (e, por sinal, este amigo é o próprio diretor e roteirista do filme: Ari Folman). O amigo aconselha que o protagonista Ron Ben-Yishai procure algumas outras pessoas que combateram ao seu lado e peça os relatos das mesmas, a fim de esclarecer mais a sua memória, uma vez que, inexplicavelmente, Yishai esqueceu-se de muitas lembranças que tinha da guerra.

O filme então torna-se deveras atraente e passa a alternar entre passado e presente. Conforme Yishai vai entrevistando os seus ex-colegas, ele vai reconstruindo em sua mente aquele período terrível de sua vida. Algumas subtramas extremamente interessantes vão sendo relatadas, como a cena em que o sobrevivente de um conflito no Líbano se vê obrigado a nadar vários quilômetros para escapar com vida, ou a própria sequência que dá título ao filme, quando um personagem pega uma metralhadora e começa a disparar tiros para todos os lados, rodopiando em ângulos de trezentos e sessenta graus, dando a impressão de estar dançando uma valsa bem em frente a um gigantesco pôster de Bashir Gemayel (mais adiante realizarei um breve comentário sobre o mesmo). Outra sequência que merece ser comentada neste parágrafo é uma perto do início, quando soldados, dentro de tanques de guerra, passam a disparar tiros para todos os lados, mesmo não havendo inimigos para serem atingidos. Eis que um sujeito questiona “___ Por que você não está atirando? Comece a atirar!” e o outro pergunta: “___ Atirar em quem?”, “___ Não sei, apenas atire!”, responde o interlocutor. É a neurose das guerras tomando conta de seus participantes ativos.

E quanto a Bashir Gemayel? Quem seria ele? O filme peca por não explorar mais o personagem que lhe deu o título, bem como peca por não explorar os fatores que levaram Israel a interferir na Guerra Civil Libanesa. Bashir foi um dos mais renomados e importantes comandantes das Falanges Libanesas (e isso podemos constatar em uma das poucas cenas do filme que realmente exploram-no, quando um soldado israelense diz: “___ Ele representava para eles (os Falangistas) o quê David Bowie representava para mim”). Se elegeu presidente do Líbano em 1.982 (um ano antes de meu nascimento), apoiado pelo Estado de Israel, mas fora morto em um atentado terrorista palestino antes mesmo de assumir o cargo. O resultado? Um massacre total por parte do exército israelense, com o auxílio dos Falangistas (até então liderados por Bashir Gemayel) em cima dos palestinos. Aproximadamente 3.500 pessoas faleceram, sendo a maioria, como não poderia deixar de ser, pessoas inocentes. O longa, por sua vez, consegue captar toda a crueldade presente naquele massacre, e não há como negar que este revela-se o clímax do mesmo.

É estranho, no entanto, que o filme encontre as suas maiores falhas logo em sua segunda metade, que é justamente quando encontra os seus maiores acertos. Se é nessa parte do longa que podemos conferir o supracitado massacre e uma entrevista para lá de polêmica onde um dos entrevistados afirmam que Ariel Sharon tinha ciência do massacre e não se incomodou muito com o mesmo, é nela também que o filme imerge de vez em uma estrutura inteiramente documental. O que eu tenho contra documentários? Nada, pelo contrário, os adoro, mas em “… Bashir” a jogada definitivamente não funciona. Em primeiro lugar, do ponto de vista técnico a animação se mostra muito falha nas cenas em que exibem os personagens falando. A movimentação labial destes é extremamente artificial e não convencem. Em segundo lugar, analisando agora do ponto de vista artístico, a carga dramática do filme cai um pouco a partir do momento em que adota a estrutura documental. Um documentário tende sempre a ser bastante realista e, em uma animação, este grau de realismo não consegue ser atingido em sua plenitude. Faltam expressões por parte dos entrevistados que realmente nos cativem, nos convençam de que eles sentem pelo o que realmente aconteceu.

De qualquer forma, “…Bashir” é um ótimo filme (melhor do que 90% das produções lançadas comercialmente em 2008), mas longe de ser intocável como muitos dizem.

Avaliação Final: 8,5 na escala de 10,0.