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Archive for the ‘Cinema Italiano’ Category

Amarcord – ***** de *****

maio 23, 2009 2 comentários

Há muito tempo não assistia a Fellini e concluí: devo fazê-lo o quanto antes. Oras, o italiano é, talvez, o meu terceiro cineasta predileto (perdendo apenas para Kubrick, Godard e empatando, talvez, com Bergman), por que então não assisti-lo? Fiquei praticamente um ano e meio sem conferir o trabalho de um dos maiores mestre do Cinema italiano e a situação estava soando insustentável. Não poderia ficar sequer mais um único dia de minha vida tão afastado do lirismo “felliniano”. Não resisti, fui à locadora, encontrei o DVD na prateleira dos filmes de Arte, peguei-o com as duas mãos (mesmo sabendo que ninguém mais iria passar na minha frente para levar o filme para casa, afinal de contas, quem vai a uma locadora com o intento de assistir a Fellini?) e trouxe-o para casa. O resultado desta experiência? Leiam à crítica abaixo e comprovem por si mesmos.

Ficha Técnica:

Título Original: Amarcord.

Gênero: Comédia.

Tempo de Duração: 127 minutos.

Ano de Lançamento (Itália / França): 1973.

Países de Origem: Itália e França.

Direção: Federico Fellini.

Roteiro: Federico Fellini e Tonino Guerra.

Elenco: Armando Brancia (Aurelio Biondi), Pupella Maggio (Miranda Biondi), Bruno Zanin (Titta Biondi), Magali Noël (Gradisca), Ciccio Ingrassia (Teo), Nando Orfei (Pataca), Luigi Rossi (Advogado), Gianfilippo Carcano (Don Baravelli) e Josiane Tanzilli (Volpina).

Sinopse: Através dos olhos de Titta (Bruno Zanin), um garoto impressionável, o diretor dá uma olhada na vida familiar, religião, educação e política dos anos 30, quando o fascismo era a ordem dominante. Entre os personagens estão o pai e a mãe de Titta, que estão constantemente batalhando para viver, além de um padre que escuta confissões só para dar asas à sua imaginação anti-convencional.

Fonte Sinopse: Adoro Cinema

Amarcord – Trailer:

Crítica:

Como fã incondicional de Fellini e Bergman, não consigo me decidir entre um dos dois. Quem é melhor, o italiano ou o sueco? O bem humorado ou o depressivo? Cada qual tem o seu estilo próprio de abordar as questões existenciais vivenciadas por nós, meros mortais, mas quem realiza melhor o seu trabalho? Difícil dizer. Ambos convencem, e muito, em suas respectivas intenções.

Se Bergman nos faz refletir sobre as nossas existências em “Gritos e Sussurros”, Fellini o faz tão magistralmente quanto (ou talvez, de maneira até melhor) em “8 e ½”. Se Bergman critica a hipocrisia social em “Persona – Quando Duas Mulheres Pecam”, Fellini o faz tão magistralmente quanto (ou talvez, com um pouco menos de intensidade) em “A Doce Vida”.

Mas enfim, por que estou batendo tanto em cima de ambos os diretores? Simples, porque ambos nos remetem aos mesmos questionamentos, só que os dois encontram-se em polaridades estupidamente diferentes.

Se Bergman se mostra em crise existencial constante e nunca/raramente oferece solução/soluções para tal, Fellini já tem um pensamento mais positivo, e boa parte de suas obras são depreendidas com um final feliz (e em momento algum isso pode ser encarado negativamente, já que Fellini sabia, como poucos, criar finais felizes pouco/nada artificiais). Quiçá “Amarcord” seja o filme que melhor diferencie um dos maiores gênios (senão o maior) do Cinema italiano do maior gênio do Cinema sueco, e prove, de fato, que ambos realmente abordam assuntos muito parecidos, mas em polaridades amplamente diferentes.

Revelando-se, talvez, como o trabalho mais positivista dentre os demais exemplares “fellinianos”, ouso mencionar que “Amarcord” muito provavelmente seja uma ode que o cineasta almejou realizar sobre a concreta possibilidade de se encontrar a felicidade plena e absoluta nas coisas mais simples da vida. Não seria inverossímil de minha parte, portanto, mencionar também que, possivelmente, este seja o motivo pelo qual o filme não tenha uma grande trama por trás de si. Afinal de contas, o roteiro trata de pessoas simples, com cotidianos ainda mais simples. Veja o nosso próprio caso. Somos, na grande maioria das vezes, indivíduos que apenas passamos pela vida, sem vivenciar momentos excepcionais e marcantes a ponto de tornaram-se um filme. E isto é necessariamente ruim? Depende, tudo varia de acordo com a forma com a qual encaramos nossas vidas. Para quem sabe admirar a beleza na simplicidade, o cotidiano de uma reles cidadezinha no litoral da Itália pode ser um paraíso.

Mas “Amarcord” é também uma crítica à completa alienação. Uma condenação à hipocrisia social, tomando como base para tal um grupo de pessoas que viviam em meio a um sistema fascista e totalitarista, e que parecia aceitar o mesmo sem problemas. Ao mesmo tempo em que presenciamos um povo simples, humilde e satisfeito com a própria vida, tomamos ciência também de que estamos diante de um aglomerado de seres humanos alienados, conformistas e (por que não dizer?) ufanistas, que sentem orgulho de fazer parte de um sistema econômico e de um regime militar que os usa como meras ferramentas para o triunfo de uma pequena, mas dominante, minoria.

Amarcord” nos propõe então o debate acerca de uma polêmica questão: o que é melhor? Viver humildemente e levar uma vida feliz, mesmo sendo gritantemente manipulado por uma minoria, ou abandonar todos os ideais conformistas que podemos ter e corrermos o risco de sermos repreendidos por esta mesma minoria (assim como um personagem que é torturado pelos fascistas logo após ser tachado de comunista)?

A produção, no entanto, não é somente um debate político-social-existencial. Fellini, por mais que negue com veemência, parece ter utilizado a sua câmera aqui com o intuito de realizar uma espécie de autobiografia (assim como o fez, e assumiu que o fez, em “8 e ½” – o meu ‘Fellini’ predileto e um de meus dez filmes preferidos) e o próprio título desta magnífica obra do Cinema italiano revela-se o grande alcaguete do cineasta, uma vez que “Amarcord” trata-se de uma gíria deveras utilizada na região onde Federico nasceu e significa justamente: “Me recordo”.

E é justamente quando emprega em sua narrativa um fantástico clima de recordação que o longa opta, com sapiência, por focar-se em uma cidadezinha no litoral da Itália, onde podemos nos deparar com os personagens mais peculiares e extravagantes o possível. Começamos com uma ninfomaníaca e vamos até uma mulher absurdamente voluptuosa cujo maior sonho é casar-se com um militar fascista, passando por uma enfermeira anã, um ambulante exageradamente excêntrico, um grupo de pessoas que trabalham durante a vida toda simplesmente para tentar sobreviver, e uma pequena confraria de jovens altamente frívolos que não pensam em outra coisa, se não sexo.

Falando nos jovens, talvez seja neles que Fellini tenha depositado a maior parte da carga autobiográfica do filme, espelhando-se em Titta para nos relatar as suas experiências com a família, a religião, a amizade, a política, o regime militar fascista, e, é claro, o sexo, bem como a aflição pela qual passamos antes, durante e depois da realização do mesmo. Afinal de contas, por mais fútil que possa ser, como podemos negar que o sexo marca, de fato, as nossas vidas?

Mas e quanto ao diretor Fellini? O gênio Fellini? Como ele se sai? Por trás das câmeras, o italiano dá o tom minuciosamente correto à obra. Ele a orquestra como se fosse, de fato, um maestro. Sabe-se-lá como o cineasta consegue tornar possivelmente real um filme com um número considerável de figuras excêntricas. Tanto que, mesmo em meio à excessiva carga fantasiosa da trama (afinal de contas, trata-se de um filme de lembranças, e quem não conta com uma carga fortemente fantásticata com uma carga fortemente fanttaa (afinal de contas, trata-se de um filme de lembranças, e quem nm que is conformistas o embutida em suas recordações?), nos sentimos inexplicavelmente familiarizados com a mesma, tornando-se impossível não nos identificarmos com a maior parte do filme.

O cineasta destaca-se também no que se refere à concepção de cenas clássicas. E digo clássicas, pois são atemporais, sendo que poderiam adquirir tal rótulo a partir do momento em que foram exibidas nos cinemas do mundo todo. Como não reconhecer de imediato que sequências como a dos jovens se masturbando no carro, a dos adolescentes dançando em meio a uma neblina, a da nevasca cobrindo a cidade no final do filme transformando-a em uma das mais belas paisagens já vistas na história do Cinema, o casamento que conclui a obra e, principalmente, o passeio de barcos tradicional que se encerra com a passagem do Transatlântico Rex, entre muitas outras, irão marcar o Cinema durante muitos e muito anos?

Realizando uma autobiografia não assumida de sua infância, Fellini faz de “Amarcord” um estupendo debate existencial explicitando dois pontos exacerbadamente diferentes: a possibilidade de se encontrar a felicidade nas coisas mais simples da vida e, ao mesmo tempo, a impossibilidade de se viver tranquilamente perante a um ideal extremamente conformista, que acaba permitindo com que sistemas totalitários, bem como o fascismo, se apoderem de nós, sem nem ao menos nos importarmos com isso. O clima de recordação embutido no roteiro nos soa extremamente familiar e nos cativamos imensamente com os jovens pervertidos sexuais que, deixando a hipocrisia de lado, podem ser espelhados em qualquer um de nós.


O longa talvez falhe apenas no senso de humor excessiva e desnecessariamente pastelão inserido em seu início (e juro que pensei estar assistindo a um “Porky’s” politizado durante alguns momentos), mas nada que comprometa este longa que, assim como “O Poderoso Chefão” (alguma vez já disse que este é meu filme predileto?), revela-se muito mais do que um excelente filme; “Amarcord” mostra-se, na verdade, uma junção de várias cenas clássicas que são projetadas na tela ao longo de, aproximadamente, 120 minutos, e o que é melhor, sob a magistral trilha-sonora composta por Nino Rota (assim como acontecera também em “O Poderoso Chefão”), que parece ter vida própria (e não se surpreenda caso você passe um mês inteiro assoviando-a incansavelmente) e casa-se magistralmente com as maravilhosas imagens que perambulam pela tela.

Avaliação Final: 9,0 na escala de 10,0.

Rocco e Seus Irmãos – ***** de *****

abril 14, 2009 2 comentários
Vendo aqui a resenha de Daniel sobre tal filme,venho atribuir a esse gigante do cinema uma segunda opinião,dessa que,não somente é meu Visconti favorito,como também é um gigante entre os filmes que já vi na vida.

Um pequeno texto que havia escrito em maio/2008,quando vi o filme:

Rocco e Seus Irmãos (1960,de Luchino Visconti)

Visconti agora foi elevado ao nível gênio,terceira obra dele que vejo e uma sempre melhor que as outras, esqueça ‘O Leopardo’ a obra-prima dele é esta:

A jornada de uma família que era feliz e não sabia e ficou infeliz sabendo disso.Visconti crítica a hipócrisia em família,que tenta colocar belos porta-retratos paea tamparem as rachaduras de sua parede,e as rachaduras desse filme aparecem de forma claraOs cinco irmãos que vão aos poucos tomando destinos diferentes,mas a ação de cada um ainda influência na reação do outro e é claro da figura materna que eles tentam proteger.Inveja,saudades,amor…todos os sentimentos que os envolve,eles se amam ou tentam se amar,junto a isso,Visconti ainda traça o perfil indivudaul de cada um e coloca caracteristicas bem particulares para eles.As coisas só se agrava quando Rocco se apaixona por Nádia,a ex-ficante de seu irmão mais velho Simone,era o que precisava para a família se abalar de vezCenas marcantes estão presentes nessa obra-prima,alguymas mostrando a verdadeira felicidade escondida por trás de uma fantasia infeliz,que é logo no início na seqüência que neva e eles proucuram emprego,cenas fortes como o estupro de Nádia,a briga de rua entre Rocco e Simone e o assassinato.
Milão é fria,assim como as relções em família pouco-a-pouco se transformam.

Simone entra para a lista dos personagens mais desprezíveis que o cinema já pôde fazer,e fica lá,bem ao lado de figuras como Johnny Friendy,Charle Foster Kane,Fred C. Dobbs,enfermeira Ratched ou Mr. Potter.

Rocco e Seus Irmãos – **** de *****

Finalmente, após… hããã… deixe me ver… ah, sim… finalmente, após três meses e meio, volto a assistir a uma obra cinematográfica oriunda de meu segundo país predileto (predileto no que diz respeito a Cinema, é claro): a Itália. Há muito tempo não ouvia diálogos proferidos naquele maravilhoso idioma, com aquele maravilhoso sotaque. Comentei com o Ricardo (co-editor do “Cine-Phylum”) que desejava muito assistir a uma obra proveniente da nação que, há aproximadamente 1.600 anos atrás, abrigava o berço do mais importante império que já esteve sob o planeta Terra. Fizemos um trato então: ele assistiria a “A Regra do Jogo” e eu a “Rocco e Seus Irmãos”. Qual foi o resultado de minha experiência? Vejamos mais abaixo.

Ficha Técnica:
Título Original: Rocco e i Soui Fratelli.
Gênero: Drama.
Tempo de Duração: 177 minutos.
Ano de Lançamento: 1960.
País de Origem: Itália / França.
Direção: Luchino Visconti.
Roteiro: Luchino Visconti, Suso Cecchi d’Amico, Pasquale Festa Campanile e Vasco Pratolini.
Elenco: Alain Delon (Rocco Parondi), Renato Salvatori (Simone Parondi), Annie Giradot (Nadia), Katina Paxinou (Rosaria Parondi), Spiros Focás (Vicenzo Parondi), Roger Hanin (Morini), Max Cartier (Ciro Parondi), Claudia Mori (Funcionária da Lavanderia), Alessandra Panaro (Noiva de Ciro), Corrado Pani (Ivo), Rocco Vidolazzi (Luca Parondi), Paolo Stoppa (Cecchi), Suzy Delair (Luisa), Nino Castelnuovo (Nino Rossi), Enzo Fiermonte (Boxeador), Renato Terra (Alfredo, irmão de Ginetta) e Claudia Cardinalle (Ginetta).

Sinopse: Com o propósito de prosperar na vida, Rosaria Parondi (Katina Paxinou) muda-se da bela Sicília para a fria, mas industrializada, Milão, uma vez que Vicenzo (Spiros Focás), seu filho mais velho, o fez e obteve um êxito considerável. Juntos dela migram também os seus demais filhos: Simone (Renato Salvatori), Rocco (Alain Delon), Ciro (Max Cartier) e Luca (Rocco Vidolazzi). Simone logo arruma um emprego como boxeador e, após uma série de relevantes vitórias, torna-se a mais nova promessa do boxe milanês. O sucesso de Simone, no entanto, é interrompido quando Nadia (Annie Giradot), uma jovem e problemática prostituta, entra em cena e o rapaz se apaixona por ela. Ambos vivem um caso de amor sem compromissos, até que Nadia conhece o sensível e sonhador Rocco e apaixona-se por ele, colocando os dois irmãos em uma posição extremamente delicada.

Rocco e i Soui Fratelli – Trailer:

Crítica:

Assistir a “Rocco e Seus Irmãos” é uma experiência semelhante a ler uma obra literária assinada por William Sheakspeare, haja visto que, em ambas as situações, você ficará diante de um drama devastador, cujo ingrediente principal vem a ser um caso de amor mal resolvido.

A fim de nos apresentar aos seus personagens principais, Visconti emprega aqui a mesma técnica que Sergio Leone viria a adotar em 1.966, ao dirigir a sua obra-prima: “Três Homens em Conflito”. Trata-se da inserção de legendas no canto inferior central da tela, indicando os nomes (no caso do western: pseudônimos) de cada uma de suas figuras dramáticas sempre que o roteiro pretendesse tecer uma abordagem sobre as mesmas. O curioso, no entanto, é constatarmos que a figura dramática mais inerente à trama (o que não quer dizer que seja necessariamente a mais importante) nem ao menos tem o seu nome mencionado nas tais legendas. Talvez Visconti tenha feito isso propositadamente, uma vez que a personagem trata-se de uma mera coadjuvante no que diz respeito ao destino de todos os irmãos, algo que faz com que ela não assuma a condição de protagonista em nenhuma das sub-tramas, mesmo conferindo vital importância a estas.

Mas afinal de contas, quem é a tal personagem a qual tanto mencionei no parágrafo acima e nem ao menos citei o seu nome? Estou me referindo à ambiciosa e tempestiva Nadia. O estudo que o filme nos permite realizar sobre o modo como a autodestruição da garota está mutuamente ligada à desagregação dos membros da família Parondi é maravilhoso. Nadia é um agente fragmentador de uma família que, antes de conhecê-la, permanecia fortemente unida, mas depois de um reles incidente onde, involuntariamente, manteve contato com a moça pela primeira vez, passou a entrar em profunda perdição e decadência.

Nadia passa a experimentar também o mesmo amargo e indigerível gosto da perdição e decadência sempre que entra em contato com dois membros da família Parondi em especial: Rocco e Simone. O segundo trata-se de um bonachão cobiçoso, alguém que se vê solidamente amarrado ao amor que Nadia pode lhe oferecer, e para que jamais se distancie de tal ternura, Simone está disposto a tudo.

Rocco, por sua vez, passa a ser a salvação desta, o apoio do qual ela precisa para tornar-se uma mulher decente e largar o passado para trás. É no jovem rapaz que Nadia descobre o amor verdadeiro, e há uma forte recíproca em tal sentimento. Mas Rocco ama outra pessoa além de Nadia. Ama o irmão Simone e sacrifica-se em prol deste, por saber de toda a paixão que ele nutre pela garota, uma paixão doentia, uma paixão incontrolável e incurável.

E é neste desestruturado, desequilibrado, irregular, e impetuoso triângulo amoroso que o filme ganha toda a sua força e nos mostra o quão uma paixão doentia de tal natureza pode se mostrar capaz de destruir a vida de uma pessoa e dos indivíduos que com ela convivam adjacentemente. Nos vemos então diante de uma tragédia. Uma tragédia que nos remete demasiadamente às tragédias gregas, às tragédias sheakspearianas, e até mesmo a muitas tragédias reais que passamos a ter conhecimento diariamente.

Mesmo com um tema tão brilhante a ser abordado pelo roteiro, “Rocco e Seus Irmãos” não teria essa força toda se não fosse pelo talentoso elenco, sobretudo Annie Girardot, Alain Delon e, principalmente, Renato Salvatori, que encarna com uma maestria assombrosa o personagem de maior carga dramática do filme: o impulsivo Simone. A propósito, juro que, enquanto assistia ao filme em questão, não consegui desassociar a atuação de Salvatori à de Marlon Brando no excelente “Uma Rua Chamada Pecado” (e não digo isso me embasando nos personagens encarnados por ambos, mas sim nas atuações em si).

Visconti mostra também que não é apenas um excelente diretor de elenco. Com a sua câmera ele confere à obra toda a sensibilidade da qual a mesma necessita para funcionar corretamente bem, principalmente quando realiza um close nos rostos de seus atores e expressa todos os sentimentos destes. E é incrível notarmos como o mesmo consegue realizar de forma tão natural uma rápida transição emotiva entre os seus personagens, alternando magistralmente entre alegria e tristeza, celebração e tragédia, tudo em uma única cena (refiro-me aqui à sequência em que a família comemora uma importante vitória de Rocco e, poucos minutos depois, tal solenidade se transforma em tragédia, graças à inesperada aparição de Simone).

Mas o Visconti que se revela capaz de retratar naturalmente uma mudança de humor tão radical e rápida em seus personagens, é o mesmo Visconti que se mostra extremamente ineficaz ao não conseguir evitar o excessivo dramalhão que desanda em muitas cenas da obra, inclusive na supracitada sequência da celebração em família. O derramamento de lágrimas que surge próximo ao final desta cena (no início da mesma, quando Simone surge repentinamente, a tristeza estampada nos rostos de seus protagonistas caia como uma “luva” nas “mãos” do roteiro e tudo soava de maneira extremamente natural, mas com o desenrolar da cena Visconti não consegue se conter e cai em um dramalhão imperdoável) é típico de uma novela mexicana, destas produzidas pela Televisa S/A.

E não bastasse a pieguice gradativa inserida em algumas partes do filme, este ainda comete o equivoco de se estender muito além do necessário, proporcionando excessiva importância aos demais irmãos, sendo que apenas dois deles realmente nos interessam: Rocco e Simone. Para que esta produção italiana neo-realista soasse mais dinâmica e conseguisse nos transmitir a sua maravilhosa mensagem de modo mais consistente, era imprescindível que a trama tivesse alguns minutos a menos de projeção e dirigi-se o seu foco de modo ainda mais concreto no triângulo amoroso, que é o que realmente impulsiona a produção. De uma forma ou de outra, estas são apenas pequeninas falhas contidas em uma obra cinematográfica quase perfeita.

Avaliação Final: 8,5 na escala de 10,0.