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Poema – Às 4 da Manhã

março 1, 2008 7 comentários

O “Cine-Phylum” é, e sempre foi, um espaço virtual destinado a analisar o Cinema desde os seus primórdios (vide minha crítica de “Intolerância”), passando por sua famosa Era de Ouro (vide minhas críticas de “…E o Vento Levou”, “Cidadão Kane”, “Casablanca”, “A Felicidade Não Se Compra”, “Crepúsculo dos Deuses”, “Rastros de Ódio”, “Juventude Transviada” e “O Sétimo Selo” e as críticas do Ricardo de “No Tempo das Diligências”, “Rebecca, A Mulher Inesquecível” e “Os Sete Samurais”) e por sua fase revolucionária (vide minhas críticas de “A Doce Vida”, “8 e ½”, “A Primeira Noite de Um Homem”, “Persona – Quando Duas Mulheres Pecam”, “O Poderoso Chefão”, “O Poderoso Chefão – Parte II”, “Rocky, Um Lutador” e “Barry Lyndon”) chegando, finalmente, em sua era contemporânea (vide minhas críticas de… oras, a maior parte de minhas críticas está direcionada a esta nova era do Cinema).
Levando isso em conta, seria deveras estranho mudar o foco deste blog, nem que seja apenas um pouco. Mas acontece que eu estava completamente melancólico, depressivo e angustiado estes dias e não bastasse isso, comecei a traduzir as letras do Pearl Jam, o que me deixou ainda mais pra baixo.
Baseado nisso, resolvi escrever um poema e pensava em guardá-lo comigo mesmo, mas não tem como negar o meu amor à Arte e, convenhamos, Cinema, antes de tudo, é Arte. Por este motivo acreditei que seria interessante postar este poema no blog, mesmo que fugisse completamente do maior foco do mesmo.
Isto sem contar que tornaria a minha imagem muito mais humana e daria ao “Cine-Phylum” um caráter mais, digamos, pessoal.
Ah sim, outra curiosidade deste poema é que, acreditem ou não, minha crise passou assim que concluí o mesmo. Moral da história: poemas depressivos curam autores depressivos.
Mas vamos ao poema, que é o que interessa (ou não):


Segunda-feira
Quatro da manhã
O Silêncio aparenta ser a recompensa
E também a punição
De um homem que vivenciou mais um dia
E que também envelheceu mais um dia


Sua cabeça está deitada sob o travesseiro
Seus olhos permanecem insistentemente abertos
“Amanhã será um novo dia”: pensa ele
Um novo dia sem nada de novo
Um dia a mais na vida de alguém que espera a morte
Um dia a menos na vida de alguém que, involuntariamente, se mantém vivo


Seu corpo é seu cárcere
Um cárcere que o prende a materialismos
Um cárcere que o impede de ser livre
Um cárcere que o impede de ser feliz
Um cárcere que o impede de aproveitar a solidão
Um cárcere que o impede de sonhar


Seus sonhos despedaçados
Suas esperanças minimizadas
Seus amores não correspondidos
Seus ideais vaiados pelo grande público
Isto é tudo o que lhe resta
Isto, somado à arma pressionada contra sua testa

O gatilho jamais se move
O homem pensa
“Eu quero mesmo movê-lo?”
“Ou será que eu almejo movê-lo contra o que me rodeia?”
Tais questionamentos o perturbam
Ele já não sabe mais o que fazer

Amanhã será um novo dia
Um dia a mais na vida de quem já perdeu a esperança
Um dia a menos na vida de quem já não espera mais nada
Um novo dia cujas realizações não o levarão a lugar algum
Salvo, é claro, a questionamentos que ficarão sem respostas
Sem respostas sobre a sua existência

E a arma é cada vez mais pressionada contra sua testa
Mas o gatilho insiste em não se mover
O cano balanceia entre sua testa e o meio que o cerca
Mas nada acontece e o silêncio permanece
E junto com ele as incertezas que virão com um novo dia
Um dia a mais na vida de quem já está farto de esperar a morte chegar.

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