Filmes de Estréia, Sexta-Feira, 27 de março de 2009
O Casamento de Rachel – **** de *****:
Está aí uma comédia extremamente imbecil, mas que sabe-se lá o porquê foi altamente enaltecida por meio mundo (ou talvez até mesmo mais do que meio mundo). Poppy nada mais é do que uma garota alienada e idiota, que dá risadinha de tudo o que acontece na vida. Oras, uma coisa é você encarar a existência de um modo positivo e com imenso alto astral (e isso, em hipótese alguma pode ser chamado de alienação), outra coisa é ser um perfeito débil mental que acha tudo engraçado. Mas o filme conta com um terceiro ato interessante, e que tenta dar a volta por cima, mas fica apenas na tentativa. Sally Hawkins e Eddie Marsan realizam grandes atuações, apesar dos papéis caricatos.
Clique aqui para ler a crítica completa.
Ah, assisti a “Che – O Argentino” hoje, amanhã à noite posto a crítica no Cine-Phylum.
O Casamento de Rachel – **** de *****
Ficha Técnica:
Título Original: Rachel Getting Married.
Gênero: Drama.
Ano de Lançamento: 2008.
Site Oficial: www.sonyclassics.com/rachelgettingmarried
Nacionalidade: Estados Unidos.
Tempo de Duração: 114 minutos.
Direção: Jonathan Demme
Roteiro: Jenny Lumet
Elenco: Anne Hathaway (Kym), Rosemarie DeWitt (Rachel), Mather Zickel (Kieran), Bill Irwin (Paul), Anna Deavere Smith (Carol), Anisa George (Emma), Tunde Adebimpe (Sidney), Debra Winger (Abby), Jerome Le Page (Andrew), Beau Sia (Norman Sklear) e Dorian Missick (Dorian Lovejoy).
Sinopse: Kym (Anne Hathaway) é uma ex-drogada que recupera-se de sua antiga dependência em uma clínica para viciados em narcóticos. A jovem é liberada por um fim de semana para visitar a família durante o casamento de sua irmã Rachel (Rosemarie DeWitt) e quando chega em casa um ‘fantasma’ do passado, diretamente ligado ao vício da jovem, passa a atormentar toda a família, principalmente a própria Kym.
Rachel Getting Married – Trailer:
Crítica:
Quando adolescente, lembro-me de que adorava ir ao casamento de parentes. Não pela festa em si, muito menos pela alegria ao ver duas pessoas que se amam contraindo casamento, até mesmo porque, se atualmente sou uma pessoa bastante fria no que diz respeito ao amor, antigamente eu era ainda mais frio e invulnerável em relação a este sentimento hipócrita. Logo, quando vejo duas pessoas contraindo casamento (e gosto sempre de anteceder a palavra ‘casamento’ por ‘contrair’, pois para mim é como se tal união realmente fosse uma doença, uma doença hipócrita de uma sociedade hipócrita) sinto pena de ambas, do mesmo modo que sinto pena de um nascituro que aguarda, durante um longo período de melancolia (nove meses, para ser mais exato), o nascimento para uma existência ainda mais melancólica (por um acaso, o leitor já reparou que faço uso destas críticas cinematográficas para divagar sobre filosofia niilista passiva?). Enfim, o motivo pelo qual gostava de tais cerimônias era poder embriagar-me gratuitamente, é claro. Agora, imagine você, caro leitor, ter de assistir a um casamento de pessoas desconhecidas e não poder embriagar-se para passar o tempo. Pois é, essa é a sensação que temos durante alguns momentos de “O Casamento de Rachel”, o mais novo filme de Jonathan Demme.
Quando o filme começa, Paul (Bill Irwin) vai buscar a filha Kym (Anne Hathaway) em uma clínica para tratamento de dependentes químicos. A garota, logo no início do longa, revela que conseguiu abandonar o vício e está “limpa” há, pelo menos, nove meses. Quando a jovem chega em casa, todos a recebem muito bem, sobretudo a irmã Rachel (Rosemarie DeWitt), e tal recepção é recíproca. Infelizmente, o filme então descamba para uma sucessão de cenas completamente dispensáveis que só se revelam capazes de nos aborrecer, nada além disso. Começamos com o ensaio do casamento de Rachel que, apesar de mostrar uma vasta criatividade durante a sua composição (afinal de contas, é um casamento bem moderno e que foge das tradições de um matrimônio convencional), se revela longo e desnecessário demais. Digo isso também do jantar que ocorre no mesmo dia, onde conhecemos um pouco dos personagens Sidney e Rachel através de depoimentos feitos pelos amigos do casal. O problema é que o foco do filme, em si, deveria residir na conturbada volta de Kym ao lar, conforme a sinopse nos indica, e não no casamento de sua irmã que, apesar de ser um acontecimento que intitula a obra, nada mais deveria representar do que uma ferramenta utilizada de pano de fundo para explorar a “nova” Kym em seu antigo ambiente (notaram a antítese? Ah, por favor, digam que sim!).
Outra gravíssima falha cometida logo no início da trama, reside na fraca direção de Jonathan Demme (e apesar de não ser um grande fã de seus filmes (nem mesmo de “O Silêncio dos Inocentes”), confesso que nunca imaginei ter de dizer algum dia que a direção do mesmo consistia em um dos maiores defeitos de um determinado filme, pois sempre reconheci a competência de Demme). Além de o diretor demonstrar uma falta de sutileza terrível ao homenagear a si mesmo (algo que a Rede Globo de Televisão sempre realiza da forma mais arrogante e artificial o possível), fazendo a protagonista Kym citar Hannibal Lecter (o mais famoso personagem de seu mais famoso filme “O Silêncio dos Inocentes”) logo nos primeiros momentos de projeção, o cineasta ainda adota o tipo de direção que está na moda da maneira mais falha que se pode imaginar. Qual é o tipo de direção a qual estou me referindo? A mesma utilizada por Darren Aronofsky em “O Lutador” e, parcialmente, adotada por Gus Van Sant em “Milk – A Voz da Igualdade”, ou seja, a direção com a câmera, literalmente, na mão. Trata-se da câmera balançada que nos dá a impressão de assumirmos a função de observador direto da trama. O problema é que Jonathan Demme emprega tal recurso de um modo muito confuso, e logo nos primeiros momentos do filme, o modo desajeitado como ele balança a sua câmera nos deixa atordoado. Mas Demme, felizmente, limita-se com o passar dos minutos e volta a ser aquele competente diretor de “O Silêncio dos Inocentes”. O mesmo parece amadurecer-se com o desenrolar do filme e a direção desajeitada, exibida durante o primeiro ato do longa, vai ganhando forma e sendo empregada de maneira correta.
Mas não apenas a direção de Demme melhora com o desenrolar da trama. Outro ponto que se fortalece conforme a mesma avança é o seu roteiro. Após os primeiros quarenta minutos, o longa passa a focar-se totalmente no problema de Kym e na maneira como um ‘fantasma’ do passado ainda atormenta a sua família (e lamento não poder citar aqui qual ‘fantasma’ viria a ser este, sob pena de estragar a sensação que o leitor terá ao assistir ao filme e ouvir a própria Kym narrar o sucedido).
O mais interessante é que o roteiro não narra o rombo que a dependência de Kym causou em sua família do modo convencional e piegas como os demais filmes do gênero o fazem. Em “O Casamento de Rachel” tudo é realizado na medida certa. Primeiramente, Kym não é mais viciada em drogas e o roteiro de Jenny Lumet acerta muito em optar por retratar uma jovem que conseguiu se recuperar de tal dependência. Evitando todos os clichês possíveis, Lumet cria uma personagem arrependida, mas que não consegue reparar os graves danos que causou à própria família em virtude de seus problemas com os entorpecentes. Logo, a sua volta ao lar é como se fosse a volta de seus antigos problemas. Não apenas isso, como também a volta de certas lembranças das quais os membros de sua família gostariam de esquecer definitivamente.
O drama do retorno de Kym passa então a contrastar com a alegria proporcionada pelo futuro casamento de sua irmã Rachel, e Demme, como já era de se esperar, sabe lidar magistralmente bem com ambos os lados da moeda. A visível falta de sutileza demonstrada no início do filme, conforme citei mais acima, é deixada de lado. No lugar, entra uma direção ponderada e contida, fazendo com que a trama consiga explorar o máximo de sua protagonista.
E, sejamos francos, explorar uma personagem complexa como Kym não é tarefa das mais fáceis. A garota é bipolar ao extremo, insegura, complexada e dificílima de lidar. Ora ela aparenta ser uma pessoa tranquila, ora ela aparenta ser uma pessoa emocionalmente desequilibrada. A cena em que ela discute com a sua verdadeira mãe ilustra bem isso. Kym conversa com a mãe normalmente, logo em seguida ela pensa no passado e começa a discutir fortemente com a mesma, resultando na cena mais forte do filme. A propósito, a decisão de conferir um papel complexo destes à competente atriz Debra Winger revela-se uma escolha tremendamente inteligente de Jonathan Demme e é surpreendente notarmos que, em tão pouco tempo em cena, a atriz confira tanta força à trama, da mesma forma que Viola Davis fez no ótimo “Dúvida”.
E falando em atuações, o que dizer então do trabalho de Anne Hathaway? Aliás, não há nem o que falar. A atriz realmente dá um show, e já digo logo de cara, se fosse eu quem atribuísse o prêmio aos concorrentes ao Oscar de todas as categorias, Hathaway certamente venceria melhor atriz. O trabalho da garota é simplesmente incrível, tanto pela expressividade da mesma, como pela maneira convincente com que altera o seu tom de voz e, principalmente, pela naturalidade (salvo quando o roteiro a força agir artificialmente, conforme já fora citado) com a qual encarna a complexa Kym. Um trabalho fabuloso, sem dúvida alguma. O melhor de toda a carreira da jovem atriz.
“O Casamento de Rachel”, infelizmente, volta a cometer o mesmo erro que havia cometido em seu início, conforme vai se aproximando de seu desfecho. O casamento anunciado no título finalmente chega, e quando chega, nos remete novamente a mesmíssima sensação do primeiro ato do longa: a de estarmos assistindo a uma longa cerimônia de casamento e não podermos encher a cara para nos divertimos um pouco e deixar de lado a insuportável chatice contida nessas cenas. E por mais que a cerimônia seja, no mínimo, curiosa, com direito a música do Neil Young, bandas de rock e, pasmem, um micro desfile de escola de samba parecido com os do Rio de Janeiro (e se eu já odeio assistir a um casamento sem poder me embriagar enquanto o faço, imagine então assistir a um casamento sem poder me embriagar e, de quebra, ter que assistir a algo que me lembre o Carnaval, festa que, caso um dia eu me torne ditador e assuma o poder no governo do Brasil, será completamente abolida).
Em suma, o mais recente filme dirigido por Jonathan Demme sofre durante o seu primeiro ato inteiro e parte dessa culpa é oriunda do próprio Jonathan Demme. O diretor, na tentativa de entrar na moda das direções com câmeras na mão, filma o longa de um modo cansativamente confuso. O roteiro peca gravemente por dar ênfase demais aos preparativos do casamento anunciado no título e deixa de lado a estória mais interessante: o retorno da ex-viciada Kym e o modo como os antigos problemas da família voltam a assombrar a mesma alguns anos mais tarde. Destarte, tanto o roteiro, como a direção, tomam o rumo certo e o filme ganha muita força, criando uma protagonista de peso, cujo drama contrasta fortemente com a felicidade conferida pelo casamento de Rachel. O elenco todo (todo mesmo, sem exceções) rende atuações magistrais e Anne Hathaway faz uma atuação digna do Oscar que não irá receber. Nada contra Kate Winslet, até mesmo porque ela fez um ótimo trabalho, mas o grande trunfo de “O Leitor” reside no roteiro do filme, e não em sua atuação, diferentemente de Anne Hathaway, cujo trabalho desempenhado em “O Casamento de Rachel” consiste na maior qualidade deste.
Avaliação Final: 7,5 na escala de 10,0.
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