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O Falcão Maltês – ***** de *****

Assisti a “O Falcão Maltês” pela primeira vez no ano de 2.000, quando tinha apenas 16 anos, e mesmo não sendo um grande fã de filmes antigos naquela época, havia adorado o filme de John Huston. Não sei se fora necessariamente a trama complexa e bem bolada que me chamou atenção ou o personagem de Humphrey Bogart, com um charme e um carisma de fazer inveja a qualquer James Bond. Passados nove anos decidi assistir a “Acossado” de Jean-Luc Godard e logo nos primeiros minutos de projeção virei fã incondicional do filme francês, onde um dos destaques principais fica com o protagonista Michel, claramente influenciado pelo Sam Spade de Bogart. Fiquei tanto com o filme de Godard quanto com o filme de Huston no cabeça e, nesta semana, pude matar tal ansiedade quando, surpreendentemente, encontrei o DVD de “O Falcão Maltês”. Não pensei duas vezes, loquei o filme e trouxe para casa, onde poderia assisti-lo o quanto antes. O resultado é que continuo adorando a obra-prima mais influente do Cinema Noir.


Ficha Técnica:
Título Original: The Maltese Falcon
Gênero: Suspense
Tempo de Duração: 100 minutos
Ano de Lançamento (EUA):
1941
Direção: John Huston
Roteiro: John Huston, baseado em livro de Dashiell Hammett
Elenco: Humphrey Bogart (Sam Spade), Mary Astor (Brigid O’Shaughnessy), Gladys George (Iva Archer), Peter Lorre (Joel Cairo), Barton MacLane (Detetive Dundy), Lee Patrick (Effie Perine), Sydney Greenstreet (Kasper Gutman), Ward Bond (Detetive Tom Polhaus), Jerome Cowan (Miles Archer) e Elisha Cook Jr. (Wilmer Cook).


Sinopse: Um detetive particular (Humphrey Bogart) é procurado por uma mulher misteriosa (Mary Astor), que alega estar sendo ameaçada. Mas tanto o seu perseguidor quanto o homem encarregado de protegê-la aparecem mortos e tudo gira em torno de uma estátua de falcão de valor incalculável.


The Maltese Falcon – Trailer:


Crítica:

Quando falamos sobre “O Falcão Maltês” (conhecido também como “Relíquia Macabra”, que nada mais é do que um título marqueteiro e inconveniente) logo temos certeza de dois pontos extraordinários: o primeiro é que o filme trata-se de um dos dois mais importantes exemplares da era noir do Cinema (concorre ao posto de “mais importante” diretamente com o perfeito “Crepúsculo dos Deuses” de Billy Wilder) e o segundo é que a obra em questão trata-se de um dos mais admiráveis filmes da história da sétima Arte, falando em um contexto geral.

Tido pela grande maioria dos críticos e cinéfilos do mundo todo como a obra-prima máxima do consagrado cineasta John Huston (alguns ainda afirmam ser “O Tesouro de Sierra Madre”, “Uma Aventura na África”. “Moulin Rouge (1952)” ou “O Homem Que Queria Ser Rei”, mas, ao menos desta vez, concordo com a opinião da maioria), o longa tem como maior atrativo a atuação de Humphrey Bogart, que transforma o seu Sam Spade em um dos personagens mais marcantes e inesquecíveis da história da Sétima Arte, seja pelo tom de voz inigualável empregado pelo ator (que também o fazia excelentemente bem no sensacional “Casablanca”), seja pelos inolvidáveis maneirismos utilizados pelo astro hollywoodiano.

Spade entra em cena através de uma clássica sequência onde, sentado atrás de uma mesa de escritório e vestindo um chapéu que quase lhe cobre os olhos por inteiro, enrola um cigarro e o fuma enquanto atende uma mulher formalmente trajada. A composição de Bogart é praticamente perfeita, seu personagem lhe cai tão bem quanto uma luva, e o ator consegue, com maestria, transformar o protagonista em um sujeito ainda mais cafajeste do que ele já é por si só. Longe de aparentar ser o típico herói de filmes deste gênero, Spade revela-se um sujeito moralmente incorreto e dotado de atitudes imprevisíveis (“___ Você é o homem mais imprevisível que já conheci.” ___ Menciona Brigid O’Shaughnessy em um determinado momento do filme), que não se vê capaz de esconder a sua ganância pelo dinheiro (nisso, o seu Spade lembra um pouco o seu Dobbs, só que em doses de ambição muito mais homeopáticas) e, não bastasse isso, tem um caso de amor com a esposa de seu sócio que, além de desprezar completamente, não demonstra a menor compaixão quando fica sabendo da morte deste.

As demais figuras que compõem o rol de personagens também seguem a linha do protagonista e, assim como na grande maioria das obras que constituem o subgênero film noir, são todos indivíduos de caráter duvidoso, variando desde a mocinha que se passa por garota meiga, mas na verdade é demasiadamente perigosa, ao vilão que se mostra capaz de sacrificar um grande amigo (que é tido como um filho para ele) a fim de conseguir um objeto extremamente ambicionado por si.

A trama também faz jus aos personagens que a integram e, mesmo aparentando ser um tanto o quanto previsível em alguns poucos momentos, é extremamente bem amarrada e suficientemente interessante e complexa para nos prender a atenção do início ao fim do longa, sem jamais se revelar fadigosa e/ou aborrecedora. Os diálogos, por sua vez, são ágeis, secos, ácidos, ríspidos e dinâmicos, e enriquecem ainda mais o roteiro que já se mostra excepcional se o analisarmos individualmente.

Longe de ser apenas um donairoso e excelente exemplar do gênero cinematográfico suspense-policial, “O Falcão Maltês” merece destaque mormente por ser um dos filmes que mais serviram de inspiração para formar, não somente a Hollywood, mas também o Cinema mundial o qual conhecemos hoje. Entre as películas e cineastas os quais podemos citar que foram direta ou indiretamente influenciados pela obra-prima máxima de John Huston (e leve em conta que este foi o primeiro filme por ele dirigido) estão: “Acossado” de Jean-Luc Godard, “Um Corpo Que Cai” de Alfred Hitchcock, “O Terceiro Homem” de Orson Welles e “Pacto de Sangue” de Billy Wilder. Em outras palavras: se é de seu interesse adquirir um estimável conhecimento em Cinema e, acima de tudo, em Cinema Noir, “O Falcão Maltês” torna-se um filme mais do que mister para tal.

Avaliação Final: 9,0 na escala de 10,0.

Velozes & Furiosos 4 – ** de *****

Sei que havia prometido, através do Twitter, que a próxima crítica que iria escrever seria a de “O Equilibrista”, mas acontece que acabei de sair da sessão deste “Velozes & Furiosos 4 e o filme está bem nítido em minha mente, logo, prefiro comentá-lo agora mesmo (isso sem contar que, não sejamos hipócritas, um filme como este atrai muito mais leitores ao blog do que um documentário como O Equilibrista). Já disse mil, quinhentas e noventa e sete vezes (1.598 agora, neste exato momento) que procuro evitar estabelecer conceitos prévios (leia-se pura e simplesmente, preconceitos, caso prefira) acerca de um filme antes mesmo de assistí-lo. Entretanto, em muitos casos é impossível não fazê-lo. Como não me encher de ânimo antes de assistir a um filme de Martin Scorsese ou de Woody Allen (apenas para citar dois exemplos)? Seguindo a contra-mão, como não nutrir forte receio ao saber que terei como missão acompanhar a mais um episódio da série “Velozes & Furiosos” (que é uma das coisas que mais execro (se não a que mais execro) quando o assunto em pauta é Cinema)? Mas desta vez confesso que me surpreendi. Juro que esperava muito mais nugacidades por parte do roteiro. Enfim, vamos ao texto, onde deixarei mais clara a minha opinião.


Ficha Técnica:

Título Original: Fast & Furious.
Gênero: Ação.
Tempo de Duração: 107 minutos.
Ano de Lançamento: 2009.
Site Oficial: www.velozesefuriosos4ofilme.com.br
País de Origem: Estados Unidos da América.

Direção: Justin Lin.

Roteiro: Chris Morgan, baseado nos personagens criados por Gary Scott Thompson.

Elenco: Vin Diesel (Dominic Toretto), Paul Walker (Brian Spindler), Michelle Rodriguez (Letty), Jordana Brewster (Mia Toretto), Rick Yune (Johnny Tran), Beau Holden (Ted Gessner), Thom Barry (Sargento Bilkins), Reggie Lee (Lance Nguyen), Ted Levine (Sargento Tanner), Chad Lindberg (Jesse), Vyto Ruginis (Harry), Ja Rule (Edwin), Matt Schulze (Vince) e Johnny Strong (Leon).

Sinopse: Domenic Toretto (Vin Diesel) é o líder de uma gangue de corridas de ruas em Los Angeles que está sendo investigado pela polícia por roubo de equipamentos eletrônicos. Para investigá-lo é enviado Brian Spindler (Paul Walker), que se infiltra na gangue na intenção de descobrir se Toretto é realmente o autor dos crimes e se há alguém mais por trás deles.

Fonte Sinopse: http://www.adorocinema.com/filmes/velozes-e-furiosos-4/velozes-e-furiosos-4.asp

Fast & Furious – Trailer:

Crítica:

É a primeira vez que vou aos cinemas conferir a um filme da saga “Velozes & Furiosos”. Quando os outros três episódios da série encontravam-se em cartaz, não tinha coragem de torrar dinheiro tão levianamente. Contudo, agora tenho carteirinha de crítico, escrevo para um periódico de uma cidade vizinha (cujo nome não estou autorizado a revelar pela internet) e posso entrar gratuitamente nos cinemas. Pensei: ___ Afinal de contas, por quê não Velozes & Furiosos 4?. Independentemente se a crítica for positiva ou negativa, ela atrairá uma quantidade satisfatória de leitores, não? Decidi então ir ao cinema local assistir ao filme.

Já havia assistido a todos os outros três episódios que formam a série (e juro que não estou dizendo isso para me gabar, afinal de contas, por que me gabaria de algo tão esdrúxulo?), mas o fiz em DVD. Lembro-me de que, ao assistir ao primeiro filme, concluí que o mesmo tratava-se de uma descarada releitura (e olhe que estou sendo deveras eufemista aqui, pois a palavra “plágio” se encaixaria muito melhor que “releitura” nesta situação) de “Caçadores de Emoção”, com Keanu Reeves e Patrick Swayze. Em outras palavras, tratava-se de uma porcaria copiando outra porcaria, o que viria resultar em uma porcaria ainda maior.

O filme nada mais era do que o maior oceano de futilidades que a sétima Arte já havia presenciado até o presente momento (pouco tempo mais tarde, “Jackass – O Filme” viria a concorrer ao posto). Mulheres gostosonas e burras que se interessam por caras gostosões e burros que vivem em torno de um mundo ainda mais burro, onde pessoas com um visível complexo de inferioridade literalmente se matam a fim de ver quem chega em primeiro lugar em uma corrida, como se tal façanha fosse mudar o mundo para pior, ou para melhor. O que víamos então era um paraíso machista, banhado de mulheres gostosas com shortinhos excessivamente curtos (não que eu me incomode com isso, muito pelo contrário, mas enfim…), carrões “tunados” que são utilizados para medir o grau de superioridade entre os seus respectivos proprietários, cerveja, hip-hop, gírias ridículas, e tudo o que o decadente mundo capitalista pode nos oferecer de pior.

Não bastasse toda a podridão supracitada, ainda nos damos de cara com arcos dramáticos abomináveis. Personagens ridículos dão às caras (e o roteiro faz das tripas, coração, para fazer com que nos cativemos com eles), situações ainda mais ridículas começam a brotar e, não bastasse tudo isso, o filme ainda plagia (agora sim tive de utilizar esta palavra, não teve escapatória) a química estabelecida entre Reeves e Swayze, tentando formar uma dinâmica entre Paul Walker e Vin Diesel. É claro que não funciona. Mas o primeiro filme, apesar de ser um dos grandes responsáveis por essa juventude burra que assombra o mundo nos dias atuais (eles sabem montar e desmontar um carro inteiro, mas não sabem nem ao menos a diferença entre políticos de direita e políticos de esquerda), contava com os seus momentos de adrenalina e nos proporcionava um ou outro momento de tensão. O segundo episódio, por sua vez, nem isso faz, e o terceiro consegue cair ainda mais neste quesito.

Eis que surge o episódio 4 e a série que já se iniciou sem quaisquer resquícios de criatividade e/ou originalidade, aparenta chegar ao ápice de sua incapacidade inventiva. A começar pelo título. Se o episódio 2 (que é o pior de todos, ou seria o episódio 3? Dúvida cruel, hein? Creio que fique com o terceiro mesmo) teve, ao menos, a ousadia (gargalhadas) de alterar o seu título, e o sucessor mostrou-se digno de, no mínimo, criar um subtítulo (ainda que este seja ridículo), o quarto capítulo desta ignóbil quadrilogia (isso se não inventarem ainda mais filmes por aí) nem isso fez. Optou por chamar-se simplesmente “Velozes & Furiosos 4 e ponto final.

Aí começa o filme. O personagem interpretado pelo atual canastrão mor, Vin Diesel, volta do Panamá para investigar a morte de sua ex-namorada (era a namorada dele mesmo? Juro que nem me lembro (e nem faço questão de me lembrar) de qual era o grau de relacionamento deste para com a finada). O destino faz com que ele cruze o caminho de um velho conhecido, Brian Splinter (Paul Walker) – protagonista do longa original – e inferimos então que a produção é, de fato, uma continuação direta do primeiro filme (o que torna os outros dois episódios intermediários ainda mais desnecessários do que já o são).

Novamente a péssima química estabelecida entre Paul Walker e Vin Diesel (é difícil saber quem é o pior ator entre eles, não?) vem à tona, mas desta vez os realizadores tiveram o bom senso de observar que não há necessidade de se investir muito em arcos dramáticos frívolos. Os produtores, o roteirista (mas essa porcaria tem roteiro?) e o diretor provavelmente pensaram: “___ Porra (com o tardio perdão pela palavra), esse é um filme feito para pessoas burras. Pessoas que nem ao menos sabem que o mundo está passando por uma crise econômica. Para quê vamos nos preocupar com a estória, ou, principalmente, com a química entre os protagonistas? Eles querem só ação, então vamos dar ação a eles.”.

É a partir deste momento que “Velozes & Furiosos 4 (com o perdão pela redundância altamente desnecessária que virá a seguir) se revela unicamente um filme veloz e furioso. Muita ação, pouca estória, pouca inteligência e (quem diria?) pouca nugacidade. Ou melhor, pouca futilidade se o compararmos com os antecessores. Neste quarto episódio tem carrões? Tem sim, senhor. Tem a câmera do diretor realizando um travelling enquanto foca a bunda de uma hispano-americana saindo do carro utilizando um short curtíssimo? Tem sim, senhor. Tem Vin Diesel pagando de machão? Tem sim, senhor. Tem lesbianismo barato e promíscuo? Tem sim, senhor. Tem hip-hop? Tem sim, senhor. Mas acreditem, ou não, tem tudo isso em doses homeopáticas.

Por mais incrível que possa parecer, o filme revela-se unicamente uma aventura policial carregada de clichês, mas que conta com um ritmo interessante, do tipo “desligue o cérebro e coma pipoca, mas muita pipoca mesmo”. Finalmente, aquele excesso de corridas despropositais dá uma sossegada aqui neste quarto episódio, e quando elas acontecem, são realizadas de um modo que realmente acabe nos criando uma ou outra tensão, além de ter um escopo (pequeno, mas tem) no contexto geral do roteiro (e, particularmente, adorei o primeiro “pega”, bem como a importância que o diretor conferiu à utilização de GPS’s durante o desenrolar da mesma).

É provável que “Velozes & Furiosos 4 seja o episódio da série que menos contenha futilidades embutidas em seu roteiro (se é que isto aqui possui um roteiro), o que, sejamos francos, não quer dizer lá muita coisa. De qualquer forma, salva-se como uma fita de ação despretensiosa e descerebrada, igual a essas que são exibidas uma única vez na Tela Quente e, logo de cara, se veem relegadas a um Domingo Maior (isso, é claro, se não forem encaminhadas diretamente ao SBT ou a Record, o que é mais provável).

Obs.: O final do filme foi tão ridículo que, assim que começaram a ser exibidos os créditos, abandonei a sala. No entanto, fui o único que tomou tal atitude, sendo que os demais infelizes… digo… os demais espectadores, permaneceram em suas poltronas, o que indica que o filme provavelmente conta com uma cena extra inserida em seus créditos. Agora, sejamos francos, se o final já se revelou um dos piores da história do Cinema (um ônibus que conta com prisioneiros da mais alta periculosidade e nem ao menos é escoltado pela polícia? Truco, papudo! É impressionante como Hollywood zomba da inteligência de seus espectadores. Apesar de que é de se esperar que os espectadores de Velozes & Furiosos não contem com um pingo de inteligência sequer, não é mesmo?), o que se pode esperar então de uma cena extra inserida entre os créditos?

Avaliação Final: 4,0 na escala de 10,0.

Acossado – ***** de *****

Havia prometido adotar recentemente uma escrita bem mais resumida, não? Sim, e sejamos francos, estava cumprindo tal promessa, não estava? Mas e quando o objeto da análise tratar-se de um de meus três filmes prediletos? Como continuar cumprindo tal promessa e utilizar um texto curtíssimo para resumir um filme que tem tanta coisa a dizer, como é o caso de “Acossado”? Como resumir em poucas palavras toda a idolatria que nutro pela obra-prima de Jean-Luc Godard? Impossível. Ou melhor, impossível não é, já que resenhei o meu filme predileto em apenas minúsculas 25 linhas de texto, mas confesso que senti-me extremamente mal por resumir toda a obra-prima de Francis Ford Coppola em tão poucas palavras. Não farei o mesmo com “Acossado” e, portanto, preparem-se (caso se interessem pela leitura do artigo infra) para uma redação bem longa, recheada de fanatismo, mas bastante detalhada e feita com muita paixão.


Ficha Técnica:
Título Original: À Bout de Souffle.
Gênero: Romance / Policial.
Tempo de Duração: 87 minutos.
Ano de Lançamento: 1960.
País de Origem: França.
Direção: Jean-Luc Godard.
Roteiro: Jean-Luc Godard, baseado em estória de François Truffaut.
Elenco: Jean-Paul Belmondo, (Michael Poiccard), Jean Seberg (Patricia Franchisi), Daniel Boulanger (Inspetor de polícia), Jean-Pierre Melville (Parvulesco), Henri-Jacques Huet (Antonio Berrutti), Van Doude (Jornalista), Claude Mansard (Claudius Mansard), Jean-Luc Godard (Informante), Richard Balducci (Tolmatchoff) e Roger Hanin (Cal Zombach).

Sinopse: Após furtar um carro e, na fuga, matar um policial, Michel (Jean-Paul Belmondo) parte para Paris a fim de recuperar o dinheiro que um indivíduo está lhe devendo e propor à sua amante Patricia (Jean Seberg), uma jovem estadunidense aspirante a jornalista, que viaje com ele para a Itália. Enquanto tenta persuadir a garota e encontrar o homem que lhe deve o dinheiro, Michel perde o senso da realidade e comete alguns delitos pela cidade, mesmo sendo procurado incansavelmente pela polícia, em razão do assassinato que cometera há pouco.

À Bout de Souffle – Trailer:

Crítica:

Não tem jeito, começarei com o clichê: o Cinema pode (e deve) ser dividido da seguinte forma: antes e depois de “Acossado”. E falo sério mesmo, não estou me fazendo de fã incondicional e/ou irracional do filme, não. Deseja que eu fundamente o meu argumento? Pois bem, então vamos lá.

Antes de “Acossado” o Cinema contava com obras noir como os excelentes: “O Falcão Maltês” (ou “Relíquia Macabra”, caso o leitor prefira), “Pacto de Sangue” (um de meus ‘Wilder’ favoritos) e “O Terceiro Homem” (meu segundo ‘Welles’ predileto, perdendo apenas para “Cidadão Kane”, é claro). Jean-Luc Godard (que até então era apenas um crítico da Sétima Arte que detestava amplamente o jeito de se fazer Cinema adotado por Christian-Jacque, Jean Delannoy e Gilles Grangier) buscou inspiração nos filmes supra e lançou este fabuloso “Acossado” que, dotado de muita filosofia e estética cinematográfica, viria a influenciar visivelmente verdadeiros clássicos do Cinema estadunidense, principalmente produções magistrais realizadas na década de 70, tais como: “Taxi Driver”, “Uma Rajada de Balas” (sim, eu sei, o policial dirigido por Arthur Penn é da década de 60, mas está tão próximo dos anos 70 que achei plausível citá-lo aqui) e “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” (não se assustem, mais abaixo explico a citação do mais famoso filme de Woody Allen). Meus argumentos o satisfizeram agora? Não! Pois continuemos a fundamentar então.

A fim de provar definitivamente que “Acossado” é o divisor de águas entre o Cinema Clássico e o Cinema Moderno, direciono as seguintes perguntas ao leitor: o que seria do Cinema atual sem a década de 70? O que seria da década de 70 sem Francis Ford Coppola e Martin Scorsese? O que seria do Cinema da década de 80 sem Brian de Palma? O que seria do Cinema da década de 90 sem Quentin Tarantino? E o que seria da década de 70, de Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, Brian de Palma e Quentin Tarantino sem a Nouvelle Vague? Por fim, o que seria da Nouvelle Vague sem Jean-Luc Godard e este seu “Acossado”? Impossível de se imaginar, não? Pois é, e tendo tudo isso em vista, pode-se findar que o Cinema realmente é dividido em: antes e depois de “Acossado”, não? Certamente que sim.

Mas, e individualmente falando? O que podemos esperar de “Acossado” analisando-o como um filme qualquer? É realmente uma obra cinematográfica de qualidade? Ou trata-se apenas de um exercício de estilo vazio que, involuntariamente, acabou inspirando muitas outras obras-primas e, apenas por este motivo, é elogiado com tanto fervor por críticos de Cinema do mundo inteiro?

Bem, juro que enquanto assistia à obra em questão procurei esquecer-me de toda a badalação que o filme carregava consigo. Esqueci-me de que era a mais famosa obra do mais famoso cineasta francês de todos os tempos; esqueci-me de que era um dos grandes responsáveis pelo surgimento do importantíssimo movimento alcunhado de Nouvelle Vague (o grande responsável foi “Nas Garras do Vício” de Claude Chabrol); esqueci-me de que fora um filme demasiadamente improvisado, feito sem quaisquer planejamentos, onde o diretor e roteirista Jean-Luc Godard escrevia o roteiro (baseado em argumento de François Truffaut que, mais tarde, viria a se tornar seu arqui-rival) durante a manhã e, à tarde, dirigia o filme (ou seja, a produção começou a ser filmada com um roteiro totalmente incompleto). Enfim, fiz um esforço e esqueci-me de tudo isso, optando por avaliar esta produção como uma outra qualquer. Mesmo assim, analisando-a da maneira mais individualista possível, considerei-a fenomenal.

A sensação que tive enquanto assistia a “Acossado” acabou sendo a mesmíssima sensação que tive enquanto assistia a “8 ½” de Federico Fellini: a de estar diante de um dos dez melhores filmes que já havia tido a oportunidade de assistir em toda a minha vida. E, para falar a verdade, “Acossado” é mais do que isso, é um de meus três filmes prediletos, perdendo apenas para “2001 – Uma Odisséia no Espaço” e “O Poderoso Chefão”, que ficam, respectivamente, em segundo e primeiro lugar em minha lista de filmes prediletos.

Mas deixando de lado esse meu fanatismo entranhado e analisando o filme frigidamente, não há como deixarmos de depreender que “Acossado” atinge a perfeição em todos os aspectos possíveis, a começar pela direção de Godard que revela-se, nesta obra, a primeira a utilizar a técnica que viria a ser alcunhada de handcam, rompendo de vez um paradigma adotado pelo Cinema.

Com a câmera literalmente na mão, o genial cineasta francês confere um realismo fora do comum à trama. E não apenas o doce e suave balanço horizontal de sua máquina nos proporciona tal sensação. O modo como o diretor realiza vários enquadramentos, a forma enérgica que utiliza para movimentar a câmera durante as cenas mais tensas e a sapiência (e olha que este fora o seu primeiro longa metragem) adotada com o intento de criar cenas clássicas (sobretudo durante o desfecho do filme, quando o diretor segue Michel, que corre desesperadamente por uma rua de Paris) também conferem ao filme um toque realista excepcional, além de fazer com que nos cativemos definitivamente com o mesmo.

A edição empregada em “Acossado” também eleva a obra-prima de Godard a um patamar que o Cinema mundial raramente conseguiu alcançar, principalmente pelo modo como a mesma “brinca” a todo o instante com a passagem de tempo no filme. Ora ela dá saltos consideráveis no tempo, ora ela ameaça avançar gradativamente, mas volta ao mesmíssimo lugar em que parou. Tal técnica confere uma dinâmica excepcional à obra, que jamais perde o seu ritmo.

A trilha-sonora, então, é empregada de um modo mais do que conveniente. Além de nos remeter a uma instigante aura de Film Noir, acrescenta à produção os tons de suspense, humor e romance que revelam-se imprescindíveis para o sucesso completo da mesma. Sabe aquela trilha-sonora que você ouve e passa longos dias relembrando-a? Pois é, a trilha de “Acossado” é uma destas, bem como as de “O Poderoso Chefão”, “Dr. Jivago”, “A Primeira Noite de um Homem”, “Três Homens em Conflito”, “Os Sete Samurais”, “Lawrence da Arábia”, “2001 – Uma Odisséia no Espaço”, “Barry Lyndon”, “Os Bons Companheiros”, “Pulp Fiction – Tempos de Violência”, “Casablanca”, “…E o Vento Levou”, “Ben-Hur”, “Laranja Mecânica”, “Taxi Driver” (a propósito, a trilha do filme em questão é muitíssimo parecida com a deste filme de Scorsese) e de muitos outros filmes inesquecíveis.

Mas o trunfo de “Acossado” reside mesmo em seu roteiro. Godard já acerta logo de cara ao nos introduzir, do modo menos sutil o possível (e isso, acreditem, trata-se de um grande elogio), à conturbada vida do fora-da-lei Michel Poiccard. É como se o diretor nos fizesse um convite com os seguintes dizeres: “Está afim de acompanhar de perto a vida de um perigoso criminoso durante alguns dias?”, e, sem nem ao menos esperar a nossa aquiescência no que se concerne a tal solicitação, Godard simplesmente segura-nos a mão e nos puxa para dentro da estória e da vida de Michel, sem quaisquer pedidos de licença, sem quaisquer cerimônias e sem quaisquer delongas. Ele simplesmente o faz do modo mais brusco e inesperado o possível, o quê, certamente, é sensacional.

Sabe-se lá como, Godard acaba conseguindo a façanha de fazer com que nos cativemos com o filme logo em seu primeiro segundo. Sentimos como se já conhecêssemos Michel há algum tempo, como se já fossemos íntimos do mesmo, tamanha a familiaridade que o gênio francês nos transmite logo no início da trama, quando a mesma se abre com a seguinte frase: “No fundo, sou burro!”. Exatamente, em menos de dois segundos de projeção, o protagonista nos faz logo de cara uma espécie de confissão. E aí eu pergunto: “Como podemos não nos cativar com um sujeito destes?”.

Tudo em Michel chama a atenção, tudo mesmo. A começar pelo fato deste ser uma releitura de vários personagens encarnados por Humphrey Bogart nos anos 1.940 (reparem na clara homenagem que o filme realiza ao astro de “O Tesouro de Sierra Madre”, quando a imagem de Michel é refletida em um vidro que protege a imagem de Bogard, ou seja, a imagem deste atrás, e a imagem daquele à frente, mostrando que um é o sucessor do outro), passando pelos trejeitos parecidos com os de um bonachão italiano mesclados ao charme de um galanteador francês, o terno que traja durante boa parte da trama, o chapéu que lhe cobre os olhos, o cigarro no canto direito da boca soltando fumaça durante a projeção inteira, a ignorância dele e, é claro, os diálogos completamente desconexos que solta durante o filme todo. Repare, por exemplo, quando ele comenta, olhando diretamente para a câmera, ou seja, para nós, espectadores: “___ Amo a França. Se não gosta do mar, se não gosta da montanha, e se não gosta da cidade…”… enfim, é melhor nem concluir os dizeres do protagonista, sob pena de retirar o timming cômico embutido na cena. Tudo o que posso dizer é que, justamente quando esperávamos que Michel fosse nos dar uma outra alternativa para amarmos a sua terra natal, ele simplesmente conclui o que havia começado a dizer de uma forma extremamente brutal e desconexa, o que nos faz instantaneamente soltar uma gostosa gargalhada.

Aliás, o filme todo é desconexo (daí o motivo da edição constantemente dar saltos para frente e para o nada) e bem-humorado, sobretudo o par romântico formado por Michel e Patricia. E é justamente no affair de ambos que o filme atinge o seu clímax. A melhor cena de “Acossado” não reside em uma perseguição, nem em um tiroteio, nem em um momento essencialmente dramático, mas sim em uma simples conversa na qual o casal tem em uma simples cama de hotel. Isso mesmo, uma singela conversa na cama, sem nenhuma cena picante ou coisa do tipo.

Muitos poderão achar os diálogos de ambos completamente sem pé, nem cabeça, mas a verdade é que toda a carga dramática do filme está ali. Ambos falam sobre tudo e, ao mesmo tempo, sobre nada, sobre absolutamente nada. Patricia pede ao parceiro que diga algo simpático, este não sabe o que dizer, a garota então contorna a situação embaraçosa comentando o quão bonito é o cinzeiro dele, ele diz que era de um avô seu que morou uns tempos na suíça e, sem mais nem menos, emenda com uma conversa onde relata que este seu mesmo antepassado adquiriu um Rolls-Royce uma vez e o carro suportou quinze anos sem ter uma única falha mecânica.

E é justamente neste romance desconexo e sem razão de ser, que o filme aposta todas as suas fichas. E aposta certo. O caso de amor entre Michel e Patricia nada mais é do que um epítome da grande maioria dos casos amorosos existentes naquela época, e por que não dizer, em nossa época? É por isso que não há como negar que Godard fez uma obra muito a frente de seu tempo, uma obra que relataria o acaso, o preenchimento existencial embasado no sexo e em uma reles aventura, sem qualquer conteúdo. Em um determinado momento Patricia, imatura, sonhadora e infantil comenta que gostaria que eles fossem como Romeu e Julieta, mas como isso seria possível? Há algo que possa unir um casal tão desconexo?

Ele é um inculto, ela, uma aspirante a intelectual; ele é rude, ela, um doce de pessoa; ele é audacioso, ela, excessivamente cautelosa; ele é objetivo, ela, um poço de subjetividade; ele é resoluto, ela, um baú de perplexidade; ele não tem quaisquer perspectivas fora do submundo do crime, ela, uma aspirante a jornalista com uma próspera carreira pela frente. E aí perguntamos: “Por quê?! Por que uma moça destas se interessa por um tipinho destes?!”. Oras, pelos mesmos motivos que as garotas mais perfeitamente lapidadas se interessam pelos tipos mais asquerosos: pelo sexo (está aí o motivo da analogia deste filme com “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” conforme citado no primeiro parágrafo) e pela aventura.

Nossas existências se repetem cada dia mais. Vivemos sempre o mesmo, passamos sempre pelas mesmas situações. Imagine uma garota como Patricia. Ela tem futuro? E como. Tem todas as ferramentas necessárias para prosperar na vida? E como. Mas o que é que ela não tem? Emoção. Fazer sexo com um marginal é algo que, ao mesmo tempo em que a assusta e a carrega de incertezas (uma vez que a garota, aparentemente, nasceu com o rei na barriga e o romance com Michel foge bastante do estilo de vida que preparou-se, durante toda a adolescência, para levar quando adulta), confere uma experiência instigantemente diferente na vida da moça. É como se ela estivesse flertando com o perigo, com uma vida instável, mesmo morrendo de medo de seguir com isso adiante.

E é desta forma ingênua, através de uma estória objetivamente simples (mas muito complexa se prestarmos atenção nas entrelinhas), que Godard realiza o seu amplo panorama artístico sobre nossas existências carregadas do mais insuportável tédio. A fim de fugir das rotinas das grandes cidades, as garotas, cheias de ponto de interrogação em suas mentes, não estão mais interessadas nos rapazes maduros e prontos para o compromisso sério, mas sim nas aventuras, nas possíveis emoções que um affair possa lhes proporcionar. E mesmo que o amor não seja verdadeiro, mesmo que não contenha um pingo de química sequer, isso parece não importar mais, o que importa realmente é a possibilidade de risco, que mesmo não ocorrendo tão frequentemente (como é o caso do filme em questão), já é, no mínimo, uma possibilidade, uma chance de levar uma vida mais, digamos, cool.

A fim de produzir a sua obra-prima definitiva, Jean-Luc Godard utilizou-se de uma simples fórmula: somou tudo o que o Cinema havia produzido de melhor até então, multiplicou a soma por inúmeros elementos peculiares e, como resultado, obteve o dígito mais extenso e incontável que se possa imaginar, o que reflete também no extenso e incontável número de qualidades que esta pintura em forma de película possui. Em suma, e sem cálculos matemáticos, “Acossado” tomou emprestadas características valiosíssimas do Cinema ianque para que as mesmas pudessem ser lapidadas e devolvidas à Terra do Tio Sam com um valor ainda mais alto do que quando cruzaram o Oceano Atlântico no final dos anos 1.950 e início dos anos 1.960. Por fim, encerro esta crítica (enorme, diga-se) da mesma forma que a iniciei: o Cinema, definitivamente, se divide em: antes e depois de “Acossado”.

Avaliação Final: 10,0 na escala de 10,0.

M – O Vampiro de Dusseldorf – **** de *****

O Oscar acabou e a partir de então volto, com muitíssima satisfação (e os(as) senhores(as) nem imaginam o quão gigantesca vem a ser tal satisfação), a assistir, analisar e publicar análises de filmes clássicos, sobretudo, clássicos de origem não-estadunidense. Recomeço com este “M – O Vampiro de Dusseldorf “, clássico absoluto de um dos meus cineastas prediletos, o magistral Fritz Lang. A minha intenção era recomeçar com “O Diário de um Pároco de uma Aldeia”, de Robert Bresson, cujo trabalho não confiro a um bom tempo (vergonha!), mas não encontrei este filme para locar em lugar algum. Fiquei com “M…”, que revelou-se um ótimo filme, sem dúvidas, mas se não fosse por todo o glamour que possui (afinal de contas, é o “pai” dos filmes noir e dos suspenses com assassinos seriais) certamente sua fama seria bem menor. Ah, boa notícia, consegui o VHS de “O Diário de…” com um amigo meu, terça ou quarta-feira que vem o assisto e o comento.

M – O Vampiro de Dusseldorf (M, 1.931, dirigido por Fritz Lang) – **** de *****

Crítica:

O leitor já deve ter assistido a algum(ns) filme(s) de suspense onde o assassino da trama nos é apresentado através de uma sinistra sombra projetada na parede, não? Também já deve ter assistido a algum(ns) outro(s) filme(s) de suspense onde o diretor realiza uma tomada aérea para filmar várias escadas que formam diversos quadrados simetricamente alinhados, não? Certamente já deve ter assistido a algum(ns) outro(s) filme(s) em que observamos um grupo de policiais sentados em uma mesa, discutindo um caso intrincado, enquanto soltam fumaças de cigarros e charutos com a mesmíssima frequência que fazem as chaminés de uma indústria, não? Se a resposta para todas as três perguntas (ou duas delas que seja… ou uma… tanto faz) for: sim (o que é bem provável), seria interessante que o leitor soubesse que todas as cenas previamente citadas são oriundas do clássico de Fritz Lang: “M – O Vampiro de Dusseldorf”. Aliás, não só estas cenas são originárias do filme em questão, como também o subgênero suspense serial-killer também o é. Logo, filmes como “O Silêncio dos Inocentes”, “Se7en – Os Sete Crimes Capitais”, e é claro, os clássicos de Hitchcock, nem sequer existiriam se não fosse pela obra de Lang.

E falando no maior gênio da história do Cinema alemão, não restam dúvidas de que o trunfo de “M…” reside justamente em seu trabalho como diretor. Lang capta a alma do filme, confere suspense na dose certa ao mesmo, realiza enquadramentos mais do que excelentes (vide a sequência em que o cineasta realiza uma tomada aérea e filma um grupo de pessoas cercando o assassino, antes deste enconder-se em um prédio), utiliza a técnica dos “closes in” e “closes out” magistralmente (note o modo como ele “passeia” pelo esconderijo de um grupo de bandidos enquanto estes encontram-se sentados à mesa), enfim, o filme é dois terços de Lang, ou melhor, do diretor Lang. E o outro terço? O outro terço pertence ao próprio Lang, mas o Lang roteirista, que junto de sua esposa Thea von Harbou realiza um complexo estudo sobre a mente psicótica de seu protagonista, o serial-killer alcunhado de M (aliás, a dramaticidade envolvida na cena do julgamento é algo fora do comum).

O longa falha, no entanto, por ser frio demais durante os seus dois primeiros atos. E tal frieza não seria necessariamente ruim caso “M…” mantivesse este ritmo até o final, mas não é o que acontece. Infelizmente, ao chegar em seu desfecho, o pai dos filmes noir se amedronta e tenta nos trazer um final humanista e sensibilizado demais, algo que não soa bem em uma película que demonstrou-se extremamente racional até então. Um final muito simples (coloque-se no lugar das mães e pense se você realmente tomaria tal atitude), para um filme muito complexo. De qualquer forma, “M – O Vampiro de Dusseldorf” é uma obra obrigatória na “bagagem” de qualquer pessoa que se diga cinéfila, não apenas por ser um dos principais filmes da brilhante carreira de Fritz Lang, ou por apresentar um interessantíssimo debate sobre a pena de morte, mas também por ser a grande fonte de inspiração dos suspenses sobre assassinos em série e, é claro, o berço do Cinema noir.

Avaliação Final: 8,5 na escala de 10,0.

Força Policial – * de *****

Muitas vezes já utilizei este espaço dedicado à pré-crítica para esculhambar os títulos nacionais conferidos às produções estrangeiras, contudo, não me lembro de ter feito o mesmo com o título original de uma determinada obra. Faço-o então agora com este “Pride & Glory” (gargalhadas). Em primeiro lugar, creio que nem preciso comentar a falta de criatividade, não? Em segundo lugar, o que dizer deste ‘titulozinho’ medíocre, ‘marqueteiro’ e megalomaníaco? Sim, pois dá a entender que a produção trata-se de um épico de guerra, não? E o que o orgulho e a glória tem em comum com a corrupção policial? Ah sim, claro, o filme insinua que um oficial da polícia nova-iorquina deveria sentir orgulho e glória de seu serviço. Mas oras, o correto não é que todos nós deveríamos sentir orgulho e glória de nossas profissões? Analisando por este prisma, então todo o filme que aborde uma profissão, seja ela qual for, deveria se chamar “Orgulho & Glória”, não? Mas o título não é ao todo ruim, ao menos ele ilustra bem certas qualidades da obra que nomeia: um filme imaturo e megalomaníaco.

Ficha Técnica:
Título Original: Pride & Glory.
Gênero: Policial.
Ano de Lançamento: 2008.
Site Oficial: http://www.prideandglorymovie.com/
Nacionalidade: Estados Unidos / Alemanha.
Tempo de Duração: 130 minutos.
Direção: Gavin O’Connor.
Roteiro: Joe Carnahan e Gavin O’Connor, baseado em estória de Gavin O’Connor, Robert Hopes e Greg O’Connor.
Elenco: Edward Norton (Ray Tierney), Colin Farrell (Jimmy Eagan), Jon Voight (Francis Tearney, Sr.), Noah Emmerich (Francis Tearney, Jr.), Jennifer Ehle (Abby Tierney), John Ortiz (Sandy), Frank Grillo (Eddie Carbone), Shea Whigham (Kenny Dugan), Lake Bell (Megan Egan), Carmen Ejogo (Tasha), Manny Perez (Coco Dominguez), Wayne Duvall (Bill Avery), Ramon Rodriguez (Angel Tezo), Rick Gonzalez (Eladio Casado), Maximiliano Hernández (Carlos Bragon), Leslie Denniston (Maureen Tierney), Hannah Riggins (Caitlin Tierney), Carmen LoPorto (Francis Tierney), Lucy Grace Ellis (Bailey Tierney), Ryan Simpkins (Shannon Egan), Ty Simpkins (Matthew Egan), Flaco Navaja (Tookie Brackett), Raquel Jordan (Lisette Madera), José Ramón Rosario (Prefeito Arthur Caffey), Christopher Michael Holley (Detetive Miller), Jessica Pimentel (Angelique Domenguez).

Sinopse: Após quatro policiais serem assassinados, Francis Tierney (Jon Voight), chefe dos detetives da polícia de Nova York, pede para que o filho Ray (Edward Norton) volte a trabalhar em seu departamento e o ajude com as investigações. O rapaz reluta a princípio, mas aceita o pedido do pai e passa a investigar o caso ao lado do irmão Francis Tearney, Jr. (Noah Emmerich) e do cunhado Jimmy Eagan (Colin Farrell).

Pride & Glory – Trailer:

Crítica:

“Força Policial” (e, no final das contas, o título nacional do filme se mostra quase tão estúpido quanto o título original) está sendo “vendido” a nós, brasileiros, como o “Tropa de Elite” estadunidense. Falácia! Não acredite em um segundo sequer da campanha publicitária deste lixo imundo! Se “Tropa de Elite” conseguia nos transmitir perfeitamente aquilo que estava sendo exibido nas telas, adotando para tal uma estrutura semi-documental levemente parecida com um filme produzido durante o neo-realismo italiano, “Força Policial” tenta (e esta foi uma das tentativas mais frustrantes da história da sétima Arte, diga-se) o fazer plagiando quase todos os filmes do gênero produzidos recentemente.

E sei que já virou clichê falar de clichês em uma crítica cinematográfica, mas aqui não há como fugirmos disso, uma vez que o filme copia vários elementos de outros filmes policiais. Temos espaço para o policial extremamente competente que trabalha em um departamento cujas atividades encontram-se bem aquém de suas aptidões investigativas. Há também um drama familiar envolvendo este mesmo policial, que viu-se obrigado a se separar da mulher que ama por causa do trabalho (e francamente, ele deveria ser eternamente grato ao trabalho por faze-lo abandonar um “trabuco” da categoria de sua ex-esposa. Bom, ao menos eu, se estivesse no lugar dele, seria. Ou melhor, se realmente estivesse no lugar dele, nem ao menos me envolveria com um “canhão” daqueles), a família inteira que trabalha na polícia (pai, filhos e, acredite, até o genro), o protagonista que mora em um barco ancorado no cais local, o pai que pede ao filho que volte a trabalhar lado a lado com ele, a trama se desenrolando durante o período natalino, os narcotraficantes oriundos de países latino-americanos (e nem preciso comentar o teor preconceituoso disso, não é?), dentre muitos (mas muitos mesmo, vocês irão ficar até atordoados com a enxurrada de clichês contida no roteiro de “Força Policial”) outros chavões.

O modo como o roteiro aborda os seus personagens soa exacerbadamente superficial. O protagonista então dispensa comentários, até mesmo porque eles já foram feitos no parágrafo supra. Mas e quanto aos demais personagens? Um mais fútil que o outro. Temos o pai de família que faz de seu serviço algo glorioso e tenta o passar para os filhos, que decidem seguir a carreira profissional do progenitor, temos também o genro que é chefe de uma família perfeitamente moldada no “american way-of-life” e se envolve com a corrupção a fim de dar uma vida melhor aos filhos e à esposa, o irmão do protagonista que é um homem correto e honesto, mas que não delata os companheiros por uma questão de coleguismo e… podemos parar por aí? Ah não, acredito ser conveniente falarmos também sobre os narcotraficantes latino-americanos. O quê? Já citei-os acima? Sim, mas não me lembro de ter comentado que os mesmos seguem o estereotipo do criminoso cruel que resolve tudo “na bala”. Pior ainda é notarmos que os fora-da-lei são sempre estúpidos, a ponto de deixar uma pista ou uma testemunha a todo o momento em que cometem uma infração.

E falando na idiotice dos bandidos de “Força Policial”, creio que todo o membro da policia adoraria que os criminosos realmente fossem assim, não? Pois é, seria o trabalho mais fácil do mundo, ao menos é o que o filme deixa a entender conforme mostra as investigações sendo executadas. Veja o momento em que o personagem de Edward Norton (e o que ele está fazendo neste filme, uma vez que nunca atuou em uma obra tão exposta ao ridículo como esta?) entrevista um garoto latino-americano (e, sinceramente, não sei qual é a vantagem de seu personagem saber falar espanhol se, após um minuto de interrogação, o protagonista pergunta: “Sabe falar inglês?”, e passa a comunicar-se com os entrevistados apenas no idioma oficialmente falado na Terra do Tio Sam), por exemplo. Ray vai à testemunha certa, na hora certa, e consegue as informações certas. Pois é, falar que o roteiro é extremamente artificial neste ponto torna-se dispensável, não é mesmo? Principalmente se levarmos em conta que o próprio “script” se denuncia quando o protagonista comenta: “___ Foi apenas sorte!”.

Bem, pode até ter sido um golpe de sorte, de fato, e isso não teria problema algum caso o longa tivesse parado por aí mesmo. Mas não é o que acontece, o roteiro insiste em criar mais cenas artificiais como esta, tornando-se muito comum vermos bandidos exageradamente descuidados a ponto de deixarem celulares próximos ao local do crime e testemunhas que veem tudo o que aconteceu e contam para a polícia logo em seguida (a propósito, só em um filme imbecil como este conseguimos ver testemunhas tão fáceis de se interrogar e dispostas a contar tudo o que sabem, mesmo que isto lhes custe a vida). E francamente, juro (e juro mesmo, não estou exagerando) que pensei que em um determinado momento do filme os bandidos fossem cometer um crime e logo em seguida pendurar, em uma parede próxima ao local do incidente, luminosos com os seguintes dizeres: “Me chamo Fulano da Silva, tenho 1,80m de altura, sou negro e matei este homem porque vendi a ele mais de dez mil dólares em cocaína e o desgraçado não me pagou a quantia. Caso queiram me localizar basta procurar-me na Rua dos Pinheiros, número 1234, apartamento 27, ao lado do boteco do Zé do Pires e de frente para a Funerária Lá Vai Mais Um. Estarei com uma camiseta regata vermelha com o emblema do Flamengo e com uma caixa de cereais na mão direita. Com a mão esquerda acenarei para vocês pela janela. Quaisquer dúvidas é só ligar para o telefone número 1234-5678 e darei informações mais minuciosas. P.S.: Não se esqueçam do mandado judicial para poderem arrombar a minha porta e levar-me à delegacia. Atenciosamente, Fulano da Silva.” (sei que fui pouco original na escolha do endereço e número de telefone, mas acabei sendo involuntariamente inspirado pela falta de criatividade do filme que acabei de assistir).

“___ Mas e a trama em si, consegue mostrar o esquema de corrupção dos policiais nova-iorquinos?” ___ Me pergunta o leitor. Mostrar mostra, mas do modo mais convencional o possível. E não apenas de um modo convencional, como também de uma forma nada convincente, principalmente por vermos os policiais corruptos estabelecendo poucos contatos com os bandidos. A propósito, é triste vermos o quão dispensável “Força Policial” é se o compararmos com muitos outros filmes do gênero que desempenharam o mesmo papel que ele pretendia desempenhar, só que de uma maneira bem mais realista, como é o caso de “O Corruptor”, “Os Reis da Rua”, “Dia de Treinamento”, “Cop Land” e, é mais do que óbvio, “Tropa de Elite” (aliás, notem o modo como o mesmo é fortemente plagiado neste “Força Policial”. As cenas do filme gringo em que mostram um policial assaltando o dono de um mercado são descaradamente copiadas da cena em que o capitão Fábio (encarnado com maestria por Milhem Cortaz) assalta uma choperia).

Mas nem tudo pode ser encarado com repulsa nesta porcaria dirigida por Gavin O’Connor. O próprio diretor realiza um trabalho regular atrás das câmeras e o modo como movimenta as mesmas revela-se interessante durante algumas cenas do longa. O elenco também encontra-se bastante afiado e realiza um trabalho bastante competente, sobretudo Noah Emmerich que se mostra bastante seguro como Francis Tearney, Jr. Norton também realiza um trabalho convincente, mas muito aquém do esperado, e o mesmo eu digo de Colin Farrell e Jon Voight.

Bem, poderia execrar o filme ainda mais, poderia comentar os péssimos diálogos embutidos no mesmo, a trilha-sonora visivelmente maniqueísta, o terceiro ato ridículo (que conta com uma briga de bar, no estilo mano-a-mano, entre os dois personagens principais da trama), mas vou parando por aqui. “Força Policial” é um filme que possui um elenco competente e uma direção razoável, e só. No mais, somos quase afogados por uma enxurrada de clichês e cenas extremamente artificiais empregadas pelo roteiro. O maior pecado do longa, entretanto, é o modo gritantemente (isso para não dizer ‘berrantemente’) falho como decide abordar a corrupção policial, algo que o deixa bem aquém de várias outras produções do gênero. Um lixo descartável, apenas isso.

Avaliação Final: 2,0 na escala de 10,0.

As Duas Faces da Lei – ** de *****

dezembro 15, 2008 Deixe um comentário
Para todos aqueles que se dizem fãs de Robert De Niro e Al Pacino, não há nada mais compensador do que vê-los atuando juntamente, dividindo a mesmíssima cena. Destarte, todo filme que traga as duas maiores lendas vivas de Hollywood (no que diz respeito à profissão de ator, é claro) reunidas merece ser conferido, nem que as únicas qualidades deste residam na atuação de ambos. Se ainda levarmos em conta que é cada vez mais raro este tipo de reunião ocorrer (uma vez que, segundo alguns tablóides, De Niro e Pacino não se simpatizam muito), uma obra que traga como principal ingrediente esta magistral dupla de atores ganha muitíssimo crédito e torna-se obrigatória a qualquer um que se diga amante das Artes Cênicas. Em 1.995 os fãs do (bom) Cinema puderam conferir o desempenho de ambos os atores no ótimo “Fogo Contra Fogo” que, além de nos brindar com uma magnífica dinâmica desenvolvida pela dupla, possuía um roteiro muito bom e uma interessante direção de Michael Mann. Infelizmente este “As Duas Faces da Lei” não obteve o mesmo êxito que o longa da década passada e ficou bem aquém do que podia se esperar de uma obra protagonizada pela dupla de atores vivos mais fantástica de Hollywood.

Ficha Técnica:
Título Original: Righteous Kill.
Gênero: Policial.
Ano de Lançamento: 2008.
Site Oficial: http://www.righteouskill-themovie.com/
Nacionalidade: Estados Unidos.
Tempo de Duração: 93 minutos.
Diretor: Jon Avnet.
Roteirista: Russell Gerwitz.
Elenco: Al Pacino (David Fisk), Robert De Niro (Thomas Cowan), John Leguizamo (Detetive Perez), Donnie Wahlberg (Detetive Riley), Carla Gugino (Karen Kleisner), 50 Cent (Spider), Brian Dennehy (Tenente Hingus), Frank Jhn Hughes (Randall), Shirley Brener (Natalya), Adrian Martinez (Glenn), Trilby Glover (Jessica) e Antonino Paone (Matthew Natrella).

Sinopse: Ao investigar o assassinato de um popular cafetão, a dupla de detetives Thomas Cowan (Robert De Niro) e David Fisk (Al Pacino) se vê diante de um crime parecido com um outro que fora investigado por eles mesmos anos atrás. Da mesma forma que ocorreu no assassinato anterior o homicida desta vez também deixou um poema justificando o crime. Mais assassinatos desta natureza passam a acontecer e os policiais logo se dão conta de que estão diante de um serial killer e que, possivelmente, prenderam as pessoas erradas na investigação anterior.

Righteous Kill – Trailer:

Crítica:

Frustrante. Esta palavra define bem a sensação que se tem ao terminar de assistir a este “As Duas Faces da Lei” no cinema. Toda a expectativa gerada em volta do retorno da dupla Pacino e De Niro (eles atuaram juntos pela primeira vez no thriller “Fogo Contra Fogo”, há 13 anos, desde então, jamais voltaram a repetir a dose) fora por água abaixo, gerando um filme constituído por uma sinopse bastante interessante, mas trabalhada de maneira extremamente artificial pelo roteiro (que conta com o final mais forçado dos últimos tempos), que acaba se salvando ligeiramente graças às atuações de seus protagonistas e à direção de Jon Avnet que, embora se revele extremamente irregular durante o desenrolar da trama, confere bastante ritmo ao longa durante o seu primeiro ato.

Certamente, o maior problema com “As Duas Faces da Lei” reside na auto-confiança adquirida pelo mesmo, uma vez que este chega à errônea conclusão de que basta ter as duas maiores lendas vivas de Hollywood (e quando digo “maiores lendas vivas” refiro-me unicamente à profissão de ator) como ingrediente principal para se realizar uma obra brilhante e magnífica. O problema é que os responsáveis pelo filme se esquecem de que o principal ingrediente de uma obra-cinematográfica é o roteiro da mesma. Não que a estória do longa seja das piores, longe disso (apesar da mesma conter inúmeras falhas), mas o bem da verdade é que o mínimo que se pode esperar de um roteiro decente é que o mesmo aborde seus personagens principais de modo que faça o público se cativar com eles.

Em “As Duas Faces da Lei” a dupla de tiras interpretada por De Niro e Pacino é simplesmente jogada na tela e o filme sugere que o espectador, logo de cara, sinta-se envolvido pelos mesmos. Mas como podemos nos envolver com dois personagens que mal nos foram apresentados? Pois é, como havia mencionado anteriormente, é justamente aí que reside o maior defeito do filme: o de deduzir que somente o fato de contar com dois atores carismáticos e lendários em cena bastaria para que nos cativássemos instantaneamente com os seus respectivos personagens. Ledo engano.

Vide o personagem de Pacino, por exemplo. Não fosse a magistral atuação do eterno Michael Corleone, o detetive David Fisk não possuiria a menor razão de existir, uma vez que o mesmo nem ao menos diz a que veio na trama. Ou melhor, além de dar espaço para que o brilhante ator mostre todo o seu potencial, o personagem de Pacino tem sim um outro propósito no filme, afinal de contas, não fosse por ele, o desfecho de “As Duas Faces da Lei” seria completamente diferente. E é aí que caímos em um outro dilema: será que não valeria a pena o encerramento desta película ser completamente diferente, uma vez que o mesmo soa deveras artificial?

E o que podemos dizer então da postura de “cara durão” dos personagens de Robert De Niro e Al Pacino? Se há algo que me atraiu imensamente no ótimo “Rocky Balboa” foi a perspicácia que o roteiro, e o próprio Stallone, tiveram em reconhecer e admitir que um dos maiores astros dos anos 1970 estava velho demais para bancar o rapagão durão, conforme o fizera anos atrás. Os responsáveis por este “As Duas Faces da Lei” teriam que ter tido a mesma perspicácia e, ao invés de exibirem ambos os atores esmurrando bandidos, fazendo carrancas e mantendo conjunções carnais com jovens mulheres, deveriam nos apresentar aos protagonistas do longa de um modo mais realista, convincente e bem menos exagerado.

Outra falha crassa contida no longa é a dificuldade que o roteiro encontra ao tentar definir um gênero a si mesmo. Não sabemos ao certo se estamos diante de um drama policial, ou simplesmente de um filme policial, ou de um drama convencional, ou ainda de um filme de suspense ou um thriller. É claro que, caso o roteirista Russell Gerwitz houvesse, ao menos, explorado de maneira decente cada um destes gêneros, teríamos um longa bastante rico e cativante, mas não é isso o que acontece. Como drama, o filme falha, pois explora os seus protagonistas de maneira pouco satisfatória; como policial o maior defeito reside na estória, que é inicialmente interessante, mas durante o desenrolar da trama se revela muito artificial e, por fim, como suspense ou thriller, o longa decepciona, pois jamais consegue passar tensão ao espectador da maneira que deveria (muito pelo contrário, o filme é bem chato, diga-se).

Sendo assim, podemos concluir que as únicas qualidades da obra dizem respeito às brilhantes atuações de sua dupla de protagonistas e à direção dinâmica de Avnet que, apesar de se revelar simples demais durante o desenrolar da trama, se mostra bastante competente durante o início do longa, conferindo bastante ritmo a este. No mais, somos obrigados a encarar um filme totalmente falho e decepcionante, do tipo que De Niro e Pacino deveriam passar longe a fim de preservarem as próprias carreiras que, em um passado muito, muito distante, arrancaram diversos dos momentos mais marcantes, inspirados e clássicos da história do Cinema.

Avaliação Final: 4,0 na escala de 10,0.

Max Payne – * de *****

novembro 22, 2008 Deixe um comentário
“Max Payne” era um dos jogos de computador mais populares durante a época em que “Grand Theft Auto – Vice City” liderava os rankings de vendas mundiais, sendo assim, era mais do que óbvio que muito em breve teríamos uma obra cinematográfica baseada no game para PC. Diferentemente das demais obras do gênero, que confesso só não passar longe por motivos profissionais, nutria alguma expectativa de que este longa, dirigido por John Moore, fosse, ao menos, um interessante filme de entretenimento. Ledo engano. Além de chato, arrastado e cansativo (confesso que fiz um grande esforço para não cair no sono durante a sessão), “Max Payne”, seguindo a contra-mão do jogo que lhe inspirou, não se mostra nem um pouco inovador, muito pelo contrário, é plágio descarado de muitas outras obras cinematográficas produzidas entre os anos 80 e 90, conforme o leitor poderá constatar na crítica infra.


Ficha Técnica:

Título Original: Max Payne.
Gênero: Policial.
Ano de Lançamento: 2008.
Nacionalidade: EUA.
Tempo de Duração: 100 minutos.
Diretor: John Moore.
Roteirista: Beau Thorne.
Elenco: Mark Wahlberg (Max Payne), Mila Kunix (Mona Sax), Beau Bridges (BB Hensley), Ludacris (Jim Bravura), Chris O’Donnell (Jason Colvin), Donal Logue (Alex Balder), Amaury Nolasco (Jack Lupino), Kate Burton (Nicole Horne), Olga Kurylenko (Natasha), Rothaford Gray (Joe Salle), Joel Gordon (Owen Green), Jamie Hector (Lincoln DeNeuf), Andrew Friedman (Trevor), Marianthi Evans (Michelle Payne), Nelly Furtado (Christa Balder) e outros.

Sinopse: Max Payne (Mark Wahlberg) é um policial que, após ter a família assassinada, se infiltra em uma quadrilha de marginais viciados em uma nova droga criada pelo exército estadunidense a fim de vingar a morte de seus entes. Contudo, Payne acaba sendo culpado injustamente pela morte de seu parceiro e passa a ser perseguido por criminosos e policiais.

Max Payne – Trailer:

Crítica:

O mais novo filme dirigido por John Moore é, na realidade, uma salada cinematográfica. Prepare-a da seguinte maneira: misture muitas fatias de “Desejo de Matar” (se a batida estória de vingança já era realmente batida nos tempos da série protagonizada por Charles Bronson, quiçá nos dias atuais), algumas folhas de “Constantine” (efeitos visuais com direito a anjos negros, construções em chamas (que nos remetem à lembrança do inferno) e muito mais, sem contar o final “redentor” do protagonista (“___ Agora sim eu creio em anjos!”), é claro), duzentos gramas fatiados de “Os Infiltrados” (leia a sinopse e saberá o porquê), cinqüenta gramas de “A Identidade Bourne” (repare na seqüência inicial do longa, que conta com Mark Wahlberg afundando na água), muito, mas muito mesmo, “Rambo 2: A Missão” (afinal de contas, o protagonista se mostra capaz de matar, sozinho, dezenas de pessoas armadas até os dentes) ralado, e pronto, teremos “Max Payne”. Ops, mas espere aí, não está faltando algo? Um ingrediente especial ou um toque do próprio cozinheiro? Acontece que o cozinheiro aqui, tal como a sua equipe de auxiliares, não faz nada além de inserir ingredientes já utilizados infinitas vezes por outros profissionais da área.

E se o filme em questão nada mais é do que uma descarada mistureba dos aspectos das obras mencionadas no parágrafo anterior, o mínimo que podemos esperar deste é que ao menos funcione corretamente como entretenimento, não é? Pois é, mas o problema mor está justamente aí, nem como mera diversão “Max Payne” funciona. Qual o maior defeito que uma produção cinematográfica que visa apenas divertir o seu público alvo pode possuir? Se revelar um filme chato e não conseguir diverti-lo, correto? Exato, e a obra protagonizada por Mark Wahlberg falha gravemente neste quesito, uma vez que a mesma conta com uma ação levemente eficaz, mas muito má distribuída ao longo de sua projeção.

“Max Payne” já começa mal. Logo no início somos bruscamente apresentados ao protagonista da estória imergindo vagarosamente em um lago de Nova York. Depois, ficamos sabendo que o mesmo almeja buscar vingança contra os responsáveis pela morte de sua família. Em seguida, o roteiro nos introduz a algumas cenas de ação que não cativam em momento algum e, a partir de então, o personagem-título nem ao menos é explorado pelo roteiro. Não sabemos nada mais sobre o mesmo, exceto o desejo deste em se infiltrar na quadrilha e, conforme fora citado há pouco, se vingar dos assassinos de sua esposa e filho (lembrou-se de mais algum filme? Exato, “Mad Max”, como pude deixar de mencioná-lo no primeiro parágrafo?). Agora, sejamos francos, se o roteiro nem ao menos se preocupa em abordar de forma mais ampla o protagonista da estória, como este quer que nos cativemos com o mesmo? A sensação que fica é a de que o filme só se compromete em agradar os fãs do game, uma vez que estes certamente estão muito mais familiarizados com o personagem-título.

Até mesmo Mark Wahlberg, que na grande maioria das vezes realiza uma atuação competente, se mostra insatisfatório devido à visível fragilidade do péssimo roteiro de Beau Thorne que força-o a atuar de maneira extremamente caricata. Wahlberg é o tipo de ator cujo talento consegue realizar a incrível façanha de maquiar ligeiramente o pavoroso roteiro de “Fim dos Tempos”, graças à seu seguro trabalho, mas em “Max Payne” ele não se mostra capaz de salvar nem um pouco o filme, muito pelo contrário, torna a situação ainda mais desastrosa.

Adotando uma carranca mal-humorada durante o tempo todo, o ex-rapper transforma o seu personagem no estereótipo do sujeito amargurado, taciturno, e que segue a batida linhagem do indivíduo “bata primeiro, pergunte depois”. Uma espécie de Charles Bronson da segunda idade (e não é a toa que citei “Desejo de Matar” no primeiro parágrafo desta crítica, afinal de contas, “Max Payne” copiou não somente a estória daquele filme como também os trejeitos do protagonista). As demais atuações também são todas desastrosas.

O quê? Ah sim, eu sei que as pessoas que vão aos cinemas assistir ao longa de John Moore não estão tão preocupadas em avaliar a obra tomando por base características como atuação do elenco, direção, roteiro, entre outras coisas. O que eles querem mesmo é ação e efeitos visuais de primeira. Pois é como já fora previamente citado, as seqüências de ação deste “Max Payne” são levemente eficazes, mas muito má distribuídas pelo roteiro, podendo ser conferidas apenas no terceiro ato da mesma. E mesmo sendo eletrizantes (em especial a seqüência final), não há como deixarmos de notar a artificialidade presente nas mesmas. Pode-se observar tal falta de naturalidade não só através da facilidade com que o personagem-título elimina os seus opositores, contando com pouco ou nenhum auxílio, mas também pelo “sexto sentido” que Payne possui, a ponto de notar a presença de seus opositores até mesmo quando estes encontram-se perfeitamente bem escondidos ou tentam assassinar-lhe de surpresa pelas costas.

Outra grave falha presente em tais seqüências é a praticamente nula periculosidade a qual o protagonista é exposto diante das mesmas. Lembro-me perfeitamente que ao dissertar sobre “Star Wars – Episódio IV – Uma Nova Esperança” informei que a maior qualidade daquele filme era o modo como as suas seqüências de aventura, sobretudo o ataque à Estrela da Morte, se mostravam capazes de criar um clima amplamente tenso no espectador, expondo sempre os heróis do longa a uma altíssima periculosidade. Em “Max Payne” isto nunca ocorre, e quando pensamos que irá ocorrer, simplesmente aparece alguém na hora H e salva o protagonista (criativo, não?). Não bastasse Moore conferir uma fraca direção (ele nada mais faz que manter a câmera ligada enquanto os atores fingem que atuam e os responsáveis pelos efeitos visuais e CGI trabalham) à obra, ele também não se revela capaz de (salvo em alguns momentos) criar quaisquer tensões em seus espectadores.

Os efeitos visuais também deixam muito a desejar, funcionando apenas quando “resolvem” criar explosões e simular edifícios pegando fogo. No mais, se revelam cópias fiéis dos efeitos do ótimo “Constantine”, principalmente no que diz respeito a aparição de anjos negros.

Mas nem tudo são falhas no filme. Além das raras seqüências de ação que realmente valem a pena ser conferidas e dos poucos efeitos visuais que funcionam bem, “Max Payne” conta com uma fotografia magistralmente escura que, casada com uma direção de arte responsável pela construção de uma Nova York sombria e tomada pelo crime e pelas drogas, cria um clima gótico mais do que apropriado ao longa, uma vez que, após perder a família, o policial infiltrado no submundo da delinqüência passa a olhar o mundo de maneira depressiva e pessimista.

Visualmente belo, mas visivelmente falho como entretenimento e, principalmente, Arte. Esta frase resume bem “Max Payne”, um filme que se atreveu a plagiar sem quaisquer indícios de escrúpulos aspectos de diversas obras cinematográficas.

Avaliação Final: 3,0 na escala 10,0.