[ • REC ] – **** de *****
Sinopse: Uma repórter decide gravar e acompanhar o cotidiano de um corpo de bombeiros. Tudo caminhava tranqüilamente bem até que os moradores de um edifício ouvem os gritos desesperados de uma mulher e ligam para os bombeiros pedindo auxílio. Ao chegarem no local, descobrem que há algo extremamente macabro por trás desse simples chamado de socorro.
A principal intenção de “[ • REC ]” está subentendida no contexto do título do filme, ou seja, transmitir uma estória terrivelmente assustadora de modo que a mesma aparente estar sendo gravada em tempo real e (por quê não dizer?) por nós mesmos. Exatamente, a primorosa direção de Paco Plaza e Jaume Balagueró cumpre magistralmente o seu principal objetivo: o de colocar o espectador cara a cara com a trama, assumindo assim, de uma maneira quase que direta, o papel do cameraman Pablo (interpretado por Pablo Rosso). Durante o filme inteiro sentimos como se estivéssemos inseridos na película, como se fossemos parte inerente da mesma, como se assumíssemos a direção desta, e é justamente esta característica amplamente interativa que se revela o maior trunfo deste “[ • REC ]” (caso queira entender melhor o que estou almejando dizer, basta lembrar-se do estilo de direção adotado por Daniel Myrick e Eduardo Sánchez ao filmar “A Bruxa de Blair”).
Realizando movimentos rápidos e desesperados, Plaza e Balagueró conseguem nos transportar ao outro lado da tela de uma maneira fantástica, fazendo com que sintamos como se estivéssemos juntos de todos os personagens, presenciando tudo o que está ocorrendo e passando pelos mesmos apuros que eles, proporcionando-nos uma tensão raramente vista na maioria dos filmes do gênero (que conforme mencionei na pré-crítica, é o meu gênero de filme mais odiado). “___ E isso faz a direção do longa ser revolucionária?”, pergunta-me o leitor. Não, não faz. Tanto a direção, quanto a estrutura narrativa de “[ • REC ]” são idênticas às de “A Bruxa de Blair”, ou seja, o filme não inovou em nada. Contudo, o “não inovar” pode ser encarado como um problema? Claro que não, quem foi que disse que um filme precisa ser original para ser bom? Para que uma obra “não inovadora” possa ser encarada como boa, basta a mesma não utilizar clichês fortemente convencionais ou saber utilizá-los de um modo que não caia na mesmice.
“___ E “[ • REC ]” consegue triunfar no que diz respeito a essa fuga de clichês fortemente convencionais?”. Infelizmente não, o filme de Plaza e Balagueró utiliza metade dos clichês do gênero “horror” (ou “terror” caso o leitor prefira). “___ Mas ao menos se mostra capaz de utilizá-los de modo que não caia na mesmice?”. Também não, tanto que, embasando-se em uma determinada atitude do cameraman Pablo, sabemos exatamente o momento em que iremos levar um susto, como é o caso da cena em que o mesmo decide se aproximar demais de uma certa personagem que fora contaminada ou na seqüência em que um alçapão se abre. “___ Então por que cargas d´água este desmiolado está defendendo tanto o filme?” ___ pergunta o leitor a si mesmo. Porque apesar dos clichês e dos tradicionalismos adotados pelo roteiro, não há como negar que o longa consegue cumprir com maestria aquilo que se compromete a fazer: assustar o espectador.
Contando com uma estória absurda (que se revela ainda mais absurda quando ficamos sabendo a origem dos fatos através de uma cena clichê que utiliza um antigo gravador (que, pasmem, devido a um imperdoável furo de roteiro, funciona até mesmo quando acaba a energia do prédio inteiro) e um mural montado com inúmeros recortes de jornal) e com um roteiro que faz uso descarado de coincidências que extrapolam os limites da artificialidade (não é muita coincidência a repórter ter decidido trabalhar ao lado dos bombeiros no exato dia em que tais fatos bizarros aconteceram?), a trama de “[ • REC ]” não se mostra capaz, em momento algum, de ser tão realista quanto a direção do mesmo, mas ao menos se revela bastante eficiente ao tentar conferir um clima fortemente tenso e urgente ao espectador. E sejamos francos, o que você, caro leitor, espera ao assistir um filme de horror assumidamente mainstream e comercial? Uma obra revolucionária? Uma estória bastante complexa? Um filme tenso e assustador? Os três? Sim, claro, normalmente esperamos as três coisas, mas você daria prioridade a qual destas características? Creio que à terceira (“um filme tenso e assustador”), não? Pois analisando por este prisma, não há como negar que “[ • REC ]” é um ótimo filme e realmente se mostra capaz de, não apenas assustar, como também deixar o espectador completamente apavorado diante da tela.
Mesmo sabendo o exato momento em que seremos assustados, não há como não ficarmos surpresos com a proeza do filme, que consegue nos deixar de cabelo em pé durante 80% de sua projeção. Conforme o longa vai se desenrolando, ele vai se tornando cada vez mais previsível e, ironicamente, cada vez mais tenso e desesperador. Parte desta tensão se deve às excelentes atuações vindas por parte do elenco inteiro. O trabalho dos atores, principalmente o de Manuela Velasco, é simplesmente fenomenal e, depois da direção desesperadamente movimentada de Plaza e Balagueró, é a característica que confere maior tensão no espectador.
A edição de David Gallart também merece ser destacada neste texto. Presenteando o espectador com um trabalho dinâmico, Gallart realiza cortes para lá de convenientes ao filme e coopera tremendamente com a ordem seqüencial deste, conferindo uma agilidade incrível à trama. Outros aspectos inerentes ao sucesso da mesma é o som e a edição de som desta. A fim de conferir um forte realismo à obra (soa até paradoxal alcunhar de realista uma obra absurda desta, mas enfim…), os responsáveis pelo som do filme posicionaram estrategicamente cada microfone no cenário, captando assim todo o ruído que os diretores julguem ser necessários para proporcionar um clima de desespero cada vez mais forte em seus espectadores. A edição de som, por sua vez, se mostra bastante completa e cuidadosa e, em associação ao trabalho de sonoplastia, consegue transmitir-nos toda a tensão embutida na trama.
“[ • REC ]” certamente não é um primor no que diz respeito à inovação e originalidade e a trama do mesmo se mostra bastante absurda, além de apelar para uma série de coincidências gritantemente artificiais, mas ainda assim o longa conta com uma direção fantástica, uma edição dinâmica, atuações sob medida, edição de som e som que acrescentam muito ao resultado final da obra e, principalmente, uma invejável capacidade de criar tensão nos espectadores a ponto de nos deixar com os olhos “grudados” na tela do intróito ao cabo.
A Múmia: Tumba do Imperador Dragão – ° de *****
Título Original: The Mummy: Tomb of the Dragon Emperor.
Elenco: Brendan Fraser (Rick O’Connell), Maria Bello (Evelyn O’Connell), Jet Li (Imperador Dragão), John Hannah (Jonathan Carnahan), Michelle Yeoh (Zi Juan), Luke Ford (Alex O’Connell), Isabella Leong (Lin), Anthony Wong Chau-Sang (General Yang), Russell Wong (Ming Guo), Liam Cunningham (Mad Dog Maguire), David Calder (Roger Wilson), Jessey Meng (Choi) e Tian Liang (Li Zhou).
Sinopse: O impiedoso imperador dragão (Jet Li) é amaldiçoado pela feiticeira Zi Juan (Michelle Yeoh), o que faz com que ele e seu exército de 10 mil homens seja petrificado. Mais de dois milênios depois o túmulo do imperador dragão é descoberto por Alex O’Connor (Luke Ford), filho dos aventureiros Rick (Brendan Fraser) e Evelyn (Maria Bello), que deixou os estudos para se dedicar à escavação. Seus pais não sabem do trabalho de Alex, que conta com a ajuda do tio, Jonathan Carnahan (John Hannah), dono de uma boate em Xangai. Atualmente Rick e Evelyn levam uma pacata vida em Londres, mas sentem falta da aventura. Um dia eles recebem a proposta de levar um precioso artefato a Xangai e, usando a desculpa de visitar Jonathan, aceitam a missão. Só que ao chegar eles são abordados pelo general Yang (Anthony Wong Chau-Sang), que deseja trazer o imperador dragão de volta à vida.
The Mummy: Tomb of the Dragon Emperor – Trailer:
Crítica:
Procedido por dois outros filmes pipoca que já não eram lá dos melhores (apesar de serem ligeiramente divertidos), este terceiro episódio da série “A Múmia” parece ter vindo a fim de afundar a franquia de vez. Tudo aqui beira o ridículo, o supérfluo, o frívolo e à falta de originalidade. Falta de originalidade esta que já pode ser observada a partir do subtítulo desta bomba (e olhe que o fato de eu estar utilizando até mesmo o subtítulo deste verdadeiro lixo cinematográfico como artifício para avacalhá-lo é sinal de que o mesmo realmente conseguiu a façanha de me deixar ainda mais mal-humorado do que eu já acordei hoje): “A Tumba do Imperador Dragão”. Mas, afinal da contas, por que Dragão? Além de patético, nada original, marqueteiro e pedante, o subtítulo tenta conferir ao longa um tom de importância altamente desnecessário, tornando o filme ainda mais ridículo do que ele já é por si só.
Provavelmente o maior defeito deste “A Tumba do Imperador Dragão” (gargalhadas, muitas gargalhadas) ocorra justamente em cima do oportunismo financeiro visado pelos produtores do longa que almejaram arrecadar mais alguns milhões de dólares em cima da alta bilheteria já gerada pela franquia nos filmes anteriores. O problema é que os dois episódios antecessores pareciam já ter espremido o máximo que conseguiriam espremer de um roteiro que já nasceu falho (apesar de ligeiramente eficiente) e agora o que restou do mesmo foi um bagaço artístico de péssima qualidade, onde raramente algum cineasta, seja ele quem for, conseguiria a capacidade de extrair algo interessante disto.
Dando início à sua narrativa realizando uma prévia explicação histórica sobre os fatos que viriam a ser abordados mais tarde pelo roteiro (qual?), o longa já se afunda em todos os possíveis clichês do gênero, adotando uma mais que batida estória de maldição. O pior de tudo é constatarmos que a película vai se desenrolando e nenhum aspecto, seja técnico, seja artístico, acompanha o desenrolar da mesma. O roteiro, que já conta com uma trama nauseante, torna a situação ainda pior quando opta por inserir elementos completamente dispensáveis e fora de contexto à estória, obrigando o espectador a ter de tolerar baboseiras como crises familiares (abordadas da maneira mais batida o possível), a formação de um par romântico extremamente previsível e irritante e, acreditem, a inserção dos abomináveis homens das neves como colaboradores dos heróis do filme.
Sim, a falta de idéias para compor este lixo da Sétima Arte (se é que uma baboseira desta proporção pode ser alcunhada de Arte) é tão visível, que a dupla de roteiristas parvos, incompetentes, ridículos, palermas e idiotas, Alfred Gough e Miles Millar (após um trabalho asqueroso destes, creio que ambos deveriam ser exonerados da face da Terra sem o menor resquício de humanismo e/ou dignidade), se viu obrigada a apelar até mesmo a um recurso altamente artificial, tal como a inserção dos lendários Yetis (que, para piorar a situação, foram muito mal trabalhados pela equipe responsável pelos efeitos visuais do filme) na trama a fim de conferir algum chamariz a mesma (e ironicamente, acabaram tornando a mesma ainda mais patética do que ela já seria, e é, por si só).
Quanto à caracterização dos personagens então, nem se fala, esta dispensa comentários haja vista a sua mediocridade. Temos aqui um personagem mais estereotipado que o outro, em especial o tal Imperador Dragão (gargalhadas) que é abordado pelo roteiro tomando por base e alicerce todos (sim, eu disse: todos) os clichês possíveis a fim de se construir um vilão. Além de anunciar a sua maldade matando pessoas oprimidas e indefesas e fazendo as caretas mais carrancudas e artificiais o possível, o filme nos faz o “favor” de tornar a voz deste extremamente grave (chegando a lembrar até mesmo a ridícula voz de Xerxes no ótimo “300”), fato que colabora para que a experiência soe ainda mais irritante do que ela já é por si só. E não bastassem as imperdoáveis e inúmeras (ou seria melhor eu ter mencionado “infinitas” ao invés de “inúmeras”?) derrapadas que o roteiro dá na composição do vilão do longa, a atuação gritantemente inexpressiva e sem carisma do péssimo Jet Li (este que não faria falta alguma ao Cinema caso um dia levasse um tiro no meio da testa) consegue a façanha de transformar o Imperador Dragão em um dos mais ridículos vilões do Século XXI.
“___Mas e como entretenimento, o filme funciona?” ___ Pergunta-me o leitor. “___ Não!” ___ Respondo eu de maneira fria e objetiva. Para que um filme desta natureza possa obter êxito como uma mera obra de diversão, é necessário, no mínimo, que este contenha seqüências de aventura/ação satisfatórias, e isto não é o que ocorre aqui. Ou melhor, ocorrer até ocorre, mas o ridículo diretor Rob Cohen (que jamais imaginei ser capaz de dirigir algo mais pavoroso que “Velozes e Furiosos” e “Triplo X”, até assistir a esta bomba em questão) não demonstra a menor competência para conduzir tais seqüências e as estraga parcialmente (isso para não dizer: “quase inteiramente”). Sinceramente, creio que até mesmo o genial Edwin S. Potter, com toda a falta de tecnologia propícia na época (primeira década do Século XX), se mostrou capaz de realizar uma movimentação com a câmera de maneira mais satisfatória no fantástico curta “O Grande Assalto a Trem” de 1.903 (e confesso não estar mencionando isto hiperbolicamente).
Enfim, eu bem que poderia continuar a minha análise apresentando as demais falhas do filme (porque, acredite, esta bomba consegue conter ainda mais falhas do que as que já foram supracitadas), mas sinceramente não sei se vou me conter e manter a razão que procurei manter até então, sendo assim, a fim de privar-me de cometer injúrias e/ou difamações contra os envolvidos com este “projeto artístico de entretenimento” (atenção às aspas), encerro aqui este texto, redigindo algo que raramente escrevo em minhas análises (até mesmo por considerar isto uma total falta de ética), mas neste caso, não posso dar outro conselho ao leitor(a) que não seja: “evite, a todo custo, assistir a este filme”.
O quê? Ah sim, estava me esquecendo, devo manter a praxe em minhas críticas e reservar o último parágrafo para realizar um resumo da mesma. Pois vamos lá, “A Múmia – A Tumba do Imperador Dragão” se revela um filme previsivelmente (sim, pois era fácil prevermos que, pela maneira com que o segundo episódio se encerrou, as chances de extrairmos algo produtivo aqui seriam mínimas) ridículo e dispensável e, além de contar com quase todos os clichês e estereótipos do gênero, obriga o espectador a passar 92 minutos de seu precioso tempo (e digo precioso pois apesar de curto, o filme custa a passar, haja visto que a sua fraquíssima estória poderia facilmente ser desenvolvida em menos de 50 minutos) tendo que suportar uma estória nada original, carregada de alívios cômicos que não funcionam em hipótese alguma, atuações sofríveis e cenas de aventura/ação bem montadas mas terrivelmente dirigidas pelo péssimo Rob Cohen. Um dos piores filmes que tive o dúbio privilégio de assistir neste início de século.
Avaliação Final: 0,5 na escala de 10,0.
A Lista de Schindler – ***** de *****
Voltando a postar na sessão de “Filmes Clássicos”, optei por reeditar este texto de “A Lista de Schindler”, que havia publicado no site Cinema em Cena a cerca de dois ou três anos atrás e postá-lo aqui no Papo Cinema. Entretanto, minha intenção não era assistir ao longa novamente, almejava apenas dar uma analisada no texto, mudá-lo em alguns pontos, e postá-lo, mas não resisti e acabei assistindo ao filme pela terceira vez em minha vida. A sensação não pôde ser diferente, mais uma vez me derreti em lágrimas ao final da obra-prima de Steven Spielberg (oras, homens também choram, e também possuem sentimentos, não?). Logo após o término da sessão, reli o meu texto e optei por alterá-lo em algumas partes. O resultado o leitor poderá conferir logo mais abaixo, onde não poupei elogios para explanar sobre um de meus quinze filmes prediletos.
Ficha Técnica:
Título Original: The Schindler’s List.
Gênero: Drama.
Ano de Lançamento: 1993.
Nacionalidade: EUA.
Tempo de Duração: 195 minutos.
Diretor: Steven Spielberg.
Roteirista: Steven Zaillian, baseado em obra-literária de Thomas Keneally.
Elenco: Liam Neeson (Oskar Schindler), Ben Kingsley (Itzhak Stern),Ralph Fiennes (Amon Goeth), Caroline Goodall (Emilie Schindler), JonathanSagall (Poldek Pfefferberg), Embeth Davidtz (Helen Hirsch), Malgoscha Gebel(Victoria Klonowska), Shmulik Levy (Wilek Chilowicz), Mark Ivanir (MarcelGoldberg), Béatrice Macola (Ingrid) e Andrzej Seweryn (Julian Scherner).
Sinopse: Oskar Schindler é um homem ganancioso, egoísta, totalitário e membro honorário do Partido Nazista. Um sujeito tão inescrupuloso que utiliza toda a sua malícia e o seu poder de persuasão para enriquecer-se cada vez mais através da guerra e do trabalho escravo judeu. No entanto, após assistir ao extermínio de um gueto judeu em uma cidade na Alemanha e se chocar completamente ao presenciar a maneira como estes eram tratados nos campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, Schindler muda completamente o seu modo de pensar e agir, a ponto de sensibilizar-se totalmente com a causa judia e criar uma lista gigantesca de trabalhadores judeus que viria a precisar para trabalhar em sua fábrica de armas. Com isto, Schindler gasta toda a sua fortuna a fim de comprar o maior número possível de trabalhadores judeus, fazendo assim com que os nazistas não os maltratem nos campos de concentração, providenciando com que estes tenham uma vida bem melhor e mais digna como funcionários de suas fábricas.
The Schindler’s List – Trailer:
“A Lista de Schindler” é o tipo de filme que Steven Spielberg (“E.T. – O Extraterrestre”), infelizmente, não está acostumado a dirigir. Não que eu tenha algo contra os demais projetos do diretor estadunidense, mas, convenhamos, nenhum deles se equipara a este longa em questão.
Ben Kingsley (“Gandhi”) também não fica muito atrás eencarna com extrema competência Itzhak Stern, realizando uma atuação completamente segura e convincente, figurando também entre as 50 melhores atuações masculinas da história do cinema.
No entanto, a melhor atuação do filme é, de longe, a de Liam Neeson (“Fé Demais Não Cheira Bem”), interpretando com uma incrívelperfeição o protagonista do filme, Oskar Schindler. Neeson encarna seu papel deuma maneira tão natural, que em momento algum a mudança de personalidade de Schindler soa de maneira artificial e falsa, algo que dificilmente seria obtido com tanta perfeição por qualquer outro ator que fosse. Particularmente, creio que a atuação de Neeson neste filme figura entre as dez melhores atuações masculinas da história do Cinema, e sim, encontro-me em pleno uso da razão quando afirmo isso.
Avaliação Final: 10,0 na escala de 10,0.
Hellboy II – O Exército Dourado – **** de *****
Ficha Técnica:
Título Original: Hellboy II – The Golden Army.
Gênero: Aventura / Ação / Fantasia.
Tempo de Duração: 120 minutos.
Ano de Lançamento (EUA / Alemanha): 2008.
Site Oficial: http://www.hellboyiioexercitodourado.com.br/
Estúdio: Revolution Studios / Lawrence Gordon Productions / Dark Horse Entertainment.
Distribuição: Universal Pictures.
Direção: Guilhermo del Toro.
Roteiro: Guilhermo del Toro, baseado em estória de Mike Mignola.
Produção: Lawrence Gordon, Lloyd Levin, Mike Richardson e Joe Roth.
Música: Danny Elfman
Direção de Fotografia: Guillermo Navarro.
Desenho de Produção: Stephen Scott.
Direção de Arte: Peter Francis, Anthony Caron-Delion, John Frankish, Paul Laugier, Mark Swain e Judit Varga.
Figurino: Sammy Sheldon
Edição: Bernat Vilaplana. Efeitos Especiais: Spectral Motion Inc. / DDT SFX Crew / DDT SFX Team / Ivo Coveney.
Elenco: Ron Perlman (Hellboy), Doug Jones (Abraham Sapien / Anjo da Morte), Selma Blair (Liz Sherman), James Dodd (Johann Klauss), John Alexander (Johann Klauss), Seth MacFarlane (Johann Klauss – voz), Luke Goss (Príncipe Nuada), Anna Walton (Princesa Nuala), Jeffrey Tambor (Dr. Tom Manning), John Hurt (Prof. Bruttenholm), Brian Steele (Sr. Wink), Roy Dotrice (Rei Balor), Andrew Hefler (Agente Flint), Iván Kamarás (Agente Steel), Mike Kelly (Agente Marble) e Montse Ribé (Jovem Hellboy).
Sinopse: Houve uma época em que o Homem convivia com seres mágicos das mais diversificadas espécies. Entretanto, devido à ganância humana, tal convívio jamais poderia ser concretizado de modo harmonioso. A fim de parar os exércitos humanos, que a tudo destruíam e conquistavam em nome do poder, fortuna e conhecimento, Balor, Rei dos Elfos, a pedido de seu filho, o Príncipe Nuada, aceitou uma oferta feita pelo mestre dos Goblins Negros de construir um gigantesco e indestrutível exército mecânico dourado e derrotar, definitivamente, o exército dos homens, encerrando de uma vez por todas, a carnificina promovida por estes. Junto com o exército, foi entregue ao rei uma coroa mágica dourada que poderia controlar toda a armada. Após derrotar todas as resistências humanas, Balor se mostrou altamente assustado com o poder de destruição de tal exército e, temendo que o mesmo fugisse de seu controle, optou por travar um tratado de paz com os humanos, onde ele dividiria a coroa mágica em três partes, daria uma aos humanos e duas ficariam consigo mesmo, fazendo com que, desta forma, o poderoso exército se mantivesse adormecido ao longo dos anos. Contrariado, temendo com que os humanos jamais cumprissem tal tratado, o Príncipe Nuada abandona o seu reino, ao lado de seu pai, e se refugia nas florestas, para retornar quando o seu povo mais precisasse dele. Passa-se diversos séculos desde a trégua travada entre Homens e Criaturas Mágicas, e Nuada volta para furtar os três pedaços da coroa e uni-las, reativando dessa forma, o poderoso exército, com o intuito de exterminar a raça humana que, segundo o príncipe, descumpriu o trato e voltou a causar risco ao mundo devido à sua ganância. Para evitar que Nuada ponha em risco o seu plano, os heróis: Hellboy, Abraham Sapien, Liz Sherman, Johann Krauss e a Princesa Nuala, irmã do Príncipe Nuada, cuja ideologia é bem menos radical à do irmão, juntam as suas forças para protegerem o pedaço da coroa que ainda não está em poder do rancoroso elfo.
Hellboy II – The Golden Army – Trailer:
Crítica:
“Hellboy II – O Exército Dourado” pode, durante o seu primeiro ato inteiro, ser subdividido em dois filmes com diferentes propósitos. O primeiro visa narrar a dinâmica desenvolvida entre os heróis do longa, ao passo que o segundo, narra os eventos que se mostram imprescindíveis para o desenvolvimento da trama. Antes o filme tivesse optado por colocar o “segundo filme” em primeiro plano. Não, em momento algum insinuei que o desenvolvimento dos protagonistas do filme é dispensável, até mesmo porque, apesar destes já terem sido muito bem desenvolvidos no longa anterior, era necessário que o roteiro elaborasse, ao menos, uma dinâmica entre os personagens, e isso ele faz muito bem feito, diga-se.
Contudo, o argumento do longa é tão interessante (uma vez que este conta até mesmo com mitologia nórdica mesclada à estória principal) que o mesmo deveria ter tido um desenvolvimento infinitamente maior do que o que fora apresentado aqui. Outra característica que merecia ter sido desenvolvida de uma maneira bem mais ampla pelo roteiro é o vilão do longa, o Príncipe Nuada. Nuada é mais um destes antagonistas megalomaníacos que almeja dominar o mundo a todo o custo, mas há uma explicação extremamente plausível para tal megalomania: o vilão não ambiciona poder e/ou fortuna (assim como a grande maioria dos vilões da excelente, embora falha, franquia “007”), mas sim, salvar o planeta Terra dos seres humanos.
Sim, o vilão, encarnado por Luke Goss de maneira caricata, diga-se, tem como objetivo de vida dominar o mundo para exterminar a raça humana, impedindo, dessa forma, que a mesma destrua o planeta em que vive, conforme tem feito nos últimos séculos. Se “Hellboy II” tem uma qualidade que o difere das demais obras do gênero, tal qualidade reside justamente nos motivos que impulsionam o seu antagonista a agir de tal forma. Francamente, creio que seja extremamente difícil não nos cativarmos e, ouso até mesmo dizer, não torcermos para que um opositor destes não derrote os mocinhos da estória, afinal de contas, seus propósitos são, de certa forma, heróicos e autruístas. Contudo, conforme já fora previamente mencionado, é lastimável que o roteiro não aborde Nuada de um modo mais amplo e dramático, fazendo com que o espectador possa se relacionar de um modo ainda mais profundo do que já se relaciona com o mesmo.
Os demais personagens também são extremamente interessantes. Hellboy, a princípio, se mostra um sujeito capaz de causar repulsas ao espectador devido ao fato de ser um brutamontes completamente idiota e adepto ao emprego de violência na obtenção de informações. Contudo, durante o desenrolar da trama, tomamos ciência do destino o qual a criatura está fadada e isto, de uma maneira ou de outra, faz com que perdoemos as características reacionárias do “herói”, já que estas irão ter uma participação direta no fado da criatura.
Liz Sherman é outra personagem cujo desenvolvimento também é extremamente bem realizado embasando-se na dinâmica desenvolvida entre esta e um outro personagem, no caso, o próprio Hellboy, parceiro romântico da mesma no filme. O romance entre ambos é abordado de maneira deveras satisfatória, os alívios cômicos provenientes deste também são bem convincentes (“___Eu daria a vida por ela, mas ela ainda quer que eu lave os pratos!”, só para citar um exemplo) e a forte e, ao mesmo tempo, frágil personalidade (assim como em todas as mulheres) de Sherman é desenvolvida maravilhosamente bem quando esta se encontra ao lado de seu par romântico, além, é claro, da química entre ambos torná-la uma personagem mais humana (e a ele também).
No entanto, é o extremamente racional Abe Sapien quem acaba sendo desenvolvido de um modo mais interessante pelo roteiro do filme. Além de ser responsável pela maior parte das gags que realmente funcionam no longa, o roteiro sempre cria situações que testam a personalidade do alienígena. Vide as cenas onde este se vê obrigado a utilizar a força bruta, por exemplo. Acostumado sempre a utilizar a inteligência como auto-defesa (e neste quesito ele funciona como amálgama a Hellboy, uma vez que a bizarra criatura vermelha não é das mais inteligentes e necessita de alguém que o complete neste quesito), Abraham se sente como uma criança indefesa quando não se vê capaz de utilizá-la em situações que exigem pura força bruta.
Entretanto, o mesmo roteiro que acerta no desenvolvimento de Sapien, falha gravemente ao tentar criar um par romântico ao mesmo. Além de ser piegas, seu romance consome alguns longos minutos do filme e é irritante e dispensável. Ao menos o ser pelo qual Abraham passa a nutrir um forte afeto tem uma saída bastante inesperada no desfecho da trama e isso faz com que a carga dramática inserida no final do filme aumente bastante.
Não menos racional que Sapien é o novato Johann Krauss que, logo de cara, assume a liderança da equipe. A composição de Krauss é fantástica e suas vestimentas nos remetem à lembrança dos trajes utilizados pelos alienígenas que compunham as antigas séries japonesas produzidas para televisão (e quem jamais pôde acompanhar tais séries, para que se tenha uma noção do que estou mencionando, pode muito bem observar um exemplar destes alienígenas inserido no clipe “Testify” da ótima banda californiana Rage Against the Machine, facilmente encontrado no Youtube).
O tom de voz que o ator Seth Macfarlane empresta ao personagem é muito conveniente e confere ao mesmo o sotaque alemão necessário para a constituição deste. Os trejeitos desajeitados de Krauss também são bastante engraçados e contam muitos pontos a favor da caracterização do indivíduo. A única ressalva que faço ao personagem é justamente à composição física (e desta vez me refiro à composição física, e não artística e/ou dramática conforme havia mencionado a pouco) deste. Krauss é, na realidade, um espírito que utiliza uma roupa confeccionada pelo Prof. Bruttenholm, cujo interior ajuda a manter todo o seu ectoplasma concentrado. Pois é, mais absurdo que isso, impossível.
A direção de del Toro, por sua vez, parece alternar entre altos e baixos. Ao mesmo tempo em que o diretor se vê capaz de utilizar a excelente direção de arte de Peter Francis, a fim de dar vida a seres para lá de interessantes (como é o caso do monstro gigantesco que, sempre que ferido, deixa um curioso rastro verde no chão que logo se converte em um majestoso limbo) e a lugares extremamente criativos (como é o caso do Mercado Negro dos Trolls), o mesmo não se vê capaz de criar ângulos realmente interessantes enquanto conduz as seqüências de ação, fato que, certamente, dramatizaria muito mais as mesmas.
E já que as tais seqüências de ação foram levemente arranhadas no parágrafo acima, nada mais correto e conveniente do que destrinçá-las aqui, uma vez que, sejamos francos, as pessoas que vão aos cinemas assistir a este “Hellboy II – O Exército Dourado” almejam, acima de tudo, serem consumidos por uma ação realmente cativante. Se há um ponto forte nas seqüências de ação do filme em questão, este reside na distribuição destas ao longo da obra, fato que faz com que o mesmo jamais se torne cansativo.
Entretanto, se há um ponto fraco inserido no contexto destas, este diz respeito à composição quase invulnerável do protagonista do filme. São raras as cenas onde presenciamos Hellboy correndo sério risco de vida. Até mesmo quando o protagonista do longa enfrenta criaturas maiores e, aparentemente, mais fortes do que ele, tais embates acabam revelando-se curtos demais e carentes de forte emoção, como é o caso das cenas onde o super-herói enfrenta a gigantesca criatura verde (que já fora citada) e o monstruoso Sr. Wink (que acaba saindo de cena bem mais cedo do que realmente deveria).
Contudo, a ausência de real periculosidade que Hellboy enfrenta nas seqüências de ação contidas nos primeiro e segundo atos, é parcialmente compensada durante o seu terceiro ato, quando o personagem passa a correr total e real risco de vida (em uma cena, em particular, este quase vem ao óbito), fato que acaba cativando o espectador.
Tendo como maior argumento a seu favor os motivos pelos quais o seu principal antagonista é impulsionado, “Hellboy II – O Exército Dourado” acaba falhando ao não desenvolver de uma forma mais ampla e complexa o vilão da estória, extraindo assim uma atuação involuntariamente caricata por parte de Luke Goss. Em contrapartida, os demais personagens do filme são explorados de um modo deveras satisfatório, em especial no que diz respeito à dinâmica efervescida entre eles, e todos os demais atores rendem atuações convincentes. A direção de Guilhermo del Toro é satisfatória, principalmente quando utiliza a soberba direção de arte de Peter Francis a fim de dar vida a criaturas e locais verdadeiramente fantásticos (e neste caso, a palavra “fantásticos” assume caráter ambíguo), mas o diretor falha ao não conseguir criar ângulos realmente cativantes com a sua câmera, algo que poderia dar mais vivacidade às cenas de ação inseridas no longa. E falando em tais seqüências de ação, é uma pena que as mesmas, apesar de serem muitíssimo bem distribuídas ao longo da projeção, não consigam cativar tanto durante os dois primeiros atos, uma vez que raramente põem em risco à vida do protagonista. Os alívios cômicos inseridos no longa são outros aspectos que alternam entre altos e baixos, mas funcionam muito bem em sua grande maioria (como maior exemplo disto cito um diálogo carregado com um excelente humor negro inserido no roteiro: “___ Eu não sou um bebê, eu sou um tumor!”). Mesmo com muitas falhas, “Hellboy II – O Exército Dourado” se revela uma ótima opção para o fim de semana.
Avaliação Final: 7,5 na escala de 10,0.