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Archive for the ‘Ficção Científica’ Category

Star Trek – **** de *****

Não sou fã incondicional da franquia “Star Trek” (exceto no que se refere ao filme “Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan”, que é o único que considero como sendo uma verdadeira obra-prima do Cinema) e isso diz respeito tanto aos episódios feitos para a televisão, ao longo da década de 1.960, quanto aos episódios feitos para o Cinema, produzidos, em sua maioria, ao longo da década de 1.980. Contudo, o meu pai é simplesmente fanático pela série (a Velha Geração somente, apesar de ele gostar um pouco da Nova Geração) e coleciona quase tudo o que vê pela frente e refere-se à mesma. Logo, por mais que o meu fanatismo por “Star Trek” esteja longe de, sequer, engraxar as botas da paixão que nutro por “Star Wars”, respeito, e muito, a franquia, e ouso dizer que, principalmente por influencia de meu progenitor, tenho um conhecimento até que razoável sobre a mesma. Não sei, no entanto, se esse conhecimento é razoável o bastante para fazer uma análise dos filmes antigos com este mais novo episódio que acaba de chegar aos cinemas do mundo todo, mas enfim, vamos arriscar e vê no que dá.
Ficha Técnica:
Título Original: Star Trek
Gênero: Ficção Científica
Tempo de Duração: 126 minutos
Ano de Lançamento: 2009
Site Oficial: http://www.startrekmovie.com
Países de Origem: Estados Unidos da América e Alemanha
Direção: J.J. Abrams
Roteiro: Alex Kurtzman e Roberto Orci, baseado em série de TV criada por Gene Roddenberry
Elenco: Chris Pine (James Tiberious Kirk), Zachary Quinto (Spock), Leonard Nimoy (Spock Prime), Eric Bana (Nero), Bruce Greenwood (Capitão Christopher Pike), Karl Urban (Dr. Leonard “Bones” McCoy), Zoe Saldana (Nyota Uhura), Simon Pegg (Scotty), John Cho (Hikaru Sulu), Anton Yelchin (Pavel Chekov), Ben Cross (Sarek), Winona Ryder (Amanda Grayson), Chris Hernsworth (George Kirk), Jennifer Morrison (Winona Kirk), Rachel Nichols (Gaila), Faran Tahir (Capitão Robau), Clifton Collins Jr. (Ayel), Antonio Elias (Oficial Pitts), Freda Foh Shen (Kelvin Helmsman), Jimmy Bennet (James T. Kirk – jovem), Jacob Kogan (Spock – jovem), Tyler Perry (Almirante Richard Barnett), Ben Biswagner (Almirante James Komack) e Akiva Goldsman (Integrante do Conselho Vulcano).

Sinopse: James Tiberious Kirk (Chris Pine) é um jovem rebelde inconformado com a morte de seu pai. Certo dia, recebe convite para fazer parte da formação de novos cadetes para a Frota Estelar. Uma vez lá conhece Spock (Zachary Quinto), um vulcano que optou por deixar seu planeta porque é metade humano e discordava do preconceito. Durante o treinamento, e também na primeira missão, os dois vivenciam novas experiências provocadas por seus estilos diametralmente opostos. Assim, Spock, o cerebral, e Kirk, o passional, viverão uma grande aventura ao lado de outros tradicionais integrantes da tripulação da U.S.S. Enterprise, a mais avançada nave espacial da época. (Roberto Cunha).

Fonte Sinopse: Adoro Cinema

Star Trek – Trailer:

Crítica:

Há muito tempo (muito tempo mesmo) citei que J. J. Abrams era uma das poucas falhas contidas no ótimo “Missão: Impossível 3”. Ao contrário de boa parte da crítica especializada, a “handcam” empregada pelo diretor não me agradara nem um pouco, haja visto o ritmo atordoantemente frenético que a mesma havia conferido ao filme que, sob mãos mais seguras e menos histéricas, nos seria capaz de proporcionar sequências de ação mais aproveitavelmente divertidas.

Em “Star Trek” digo justamente o contrário. O mérito da produção em questão é, acima de tudo, de J. J. Abrams. Desta vez o cineasta (que é também o responsável pela série televisava “Lost”, que eu nunca assisti e, sabe-se lá o porquê, nem pretendo faze-lo) adota uma direção mais segura e se mostra responsável por um trabalho de câmeras muito mais consistente do que o que havia realizado no longa estrelado pelo superestimado Tom Cruise.

E não apenas o modo como filma as cenas de ação ou as técnicas que adota para movimentar a sua câmera fazem deste seu mais novo trabalho algo digno dos mais sinceros elogios. Abrams destaca-se também ao utilizar algumas perspicácias que conferem à sua direção a aparência de ter sido realizada por um cineasta bem mais experiente. É o caso de uma cena onde um personagem menciona: “___ Aprendi isso com um amigo meu” e, logo em seguida, o diretor retira a câmera do foco que havia feito em cima do interlocutor e realiza um curto e rápido, embora suave, “travelling” no personagem o qual ele se referia. Sem necessitar dizer uma única palavra, já percebemos que o tal personagem era a pessoa a qual o interlocutor se referia. É como sempre dizem: uma imagem vale mais do que mil palavras e, no caso do Cinema, uma imagem competentemente filmada passa a valer muito mais.

Todavia, devo ressaltar que a grande maioria do público que vai aos cinemas contemplar “Star Trek” está, na verdade, ansiando buscar uma sessão nostalgia ao lado de personagens marcantes como o Capitão Kirk, o Sr. Sulu, o Dr. McCoy e, é claro, o Sr. Spok, e não testemunhar o trabalho de Abrams como diretor. A pergunta que fica no ar então é a seguinte: “o filme faz jus à clássica saga cinematográfica iniciada em 1.979 e, principalmente, à ainda mais clássica série televisiva que levava os seus respectivos apreciadores à loucura durante os anos 1.960?”. A resposta para esta questão é, como não poderia deixar de ser: depende.

Quando o filme em questão se inicia, logo sentimos falta da marcante música-tema que, ao contrário dos episódios anteriores, não abre este longa, o que nos resulta em uma certa frustração. Tentamos esquecer esta pequena grande falha e, conforme a projeção avança, percebemos que estamos diante de uma trama bastante complexa e intrincada, mas não há como deixarmos de reparar em dois pontos em especial. O primeiro é que “Star Trek” conta com cenas de ação em excesso e muitas vezes se esquece de parar para explorar os seus personagens ou a sua própria estória. O segundo apontamento é que a trama, apesar de abstrusa, não atinge o mesmo grau de complexidade que muitos episódios da série televisava, ou até mesmo da série cinematográfica (como “Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan” (só uma curiosidade: é estranho notar que “Jornada nas Estrelas” é uma das poucas franquias cinematográficas onde o episódio original não apenas não é o melhor, como também é um dos piores), apenas para citar um exemplo) conseguiam atingir.

Mas em momento algum, no entanto, temos a sensação de que estamos assistindo a um filme “hollywoodiano” qualquer. Tampouco posso afirmar que “Star Trek” não resgata a magia do seriado que lhe deu origem. A música-tema original faz falta? E como. O excesso de cenas de ação soa estranho para um filme que carrega consigo a “marca” “Jornada nas Estrelas”? Certamente soa. A trama conta com mais ação do que ficção científica propriamente dita? Não resta uma dúvida sequer quanto a isso. Mas ainda assim o filme encontra-se em um patamar muito superior a das produções atualmente padronizadas por Hollywood.

Se a indústria cinematográfica vem, cada vez mais, insultando a nossa inteligência com baboseiras do naipe de “Velozes & Furiosos 4”, “Star Trek” aparece como um colírio para os nossos olhos e, ao invés de zombar do atilamento de seu público alvo, realiza uma trama que, apesar de não ser tão complexa quanto o esperado, é muitíssimo bem vinculada, muitíssimo bem arquitetada e aborda de forma satisfatória questões físicas, astrofísicas e científicas.

“Star Trek” provavelmente não é a obra-prima que os fãs tanto esperavam, mas ainda assim revela-se uma agradabilíssima sessão nostálgica e faz jus aos mais clássicos momentos de toda a saga televisiva e cinematográfica que marcou uma geração inteira de adolescentes (que agora são nossos pais). A trama é suficientemente interessante, apesar de não ser tão complexa quanto o esperado; o elenco cumpre muito bem as suas funções; as cenas de ação, apesar de excessivas, são eletrizantes e extremamente bem dirigidas por J. J. Abrams, que realiza aqui o seu melhor trabalho direcionado à sétima Arte.

E se encerro no clichê, é porque não vejo outro modo de fazê-lo, mas enfim: “vida longa e próspera à nova investida cinematográfica da franquia “Star Trek”.”.

Avaliação Final: 8,0 na escala de 10,0.

Fahrenheit 451 – **** de *****

Ontem (sexta feira, 03 de abril de 2009) estive conversando com o Radamés pelo MSN um assunto bem diferente de política, história, cinema, brasileiros versus argentinos (assim como vem ocorrendo no post “Che – O Argentino”), ou qualquer outra coisa que a gente está acostumado a conversar. Realizamos uma breve discussão sobre a objetividade presente nos alunos do Curso de Direito. Existem leis, os acadêmicos simplesmente as estudam sem jamais questiona-las, utilizam a máxima de que: “as leis foram feitas para serem cumpridas, e não discutidas”, e ponto (e ainda me perguntam porque abandonei o curso de Direito). Ironicamente, comprei neste mesmíssimo dia o DVD de “Fahrenheit 451” por míseros R$ 12,99 (que se tornam ainda mais míseros face à grandeza da obra de Truffaut) e decidi assiti-lo. Me surpreendi quando passei a notar que a trama debatia justamente sobre uma sociedade tomada pelo pragmatismo racional e pelas objetividades da vida, o que tinha tudo haver com o assunto em que havia debatido com o Radamés na tarde deste dia.

Ficha Técnica:
Título Original: Fahrenheit 451.
Gênero: Ficção Científica.
Tempo de Duração: 112 minutos.
Ano de Lançamento: 1966.
Nacionalidade: Inglaterra.
Direção: François Truffaut.
Roteiro: Jean-Louis Richard e François Truffaut, baseado em livro de Ray Bradbury.
Elenco: Oskar Werner (Guy Montag), Julie Christie (Linda / Clarisse), Cyril Cusack (Capitão), Anton Diffring (Fabian), Anna Palk (Jackie), Ann Bell (Doris), Caroline Hunt (Helen), Jeremy Spenser, Bee Duffell, Alex Scott e Michael Balfour.

Sinopse: Em um futuro não muito distante, os “bombeiros” tem uma função bem diferente da de apagar incêndios e resgatar pessoas correndo sérios riscos de vida. Estes profissionais tem apenas a função de localizar e destruir qualquer espécie de obra literária existente, alegando que as mesmas são propagadoras da infelicidade, pois oferecem às pessoas uma vida que estas não podem ter e as tornam insatisfeitas com suas existências convencionais. Um destes bombeiros, Guy Montag (Oskar Werner), passa a questionar tais atos quando é influenciado pelos ideais de Clarisse (Julie Christie) e presencia a morte da tia da moça, que prefere ser incinerada a ver-se afastada de seus livros.

Fahrenheit 451 – Trailer:

Crítica:

É com esta frase de Albert Einstein que início a crítica de “Fahrenheit 451”:

“Um raciocínio lógico o leva de A a B. A imaginação o leva a qualquer lugar que desejar”

Imagine então um mundo sem livros. Agora me responda, seria possível imortalizarmos pessoas ou acontecimentos históricos sem a existência destes? E se não imortalizássemos estas pessoas e estes acontecimentos históricos, o mundo seria o que ele é hoje?

O que seria de nosso planeta sem a Guerra de Independência estadunidense? O que seria da Guerra de Independência estadunidense sem a Revolução Francesa? O que seria da Revolução Francesa sem os Ideais Iluministas? O que seriam dos Ideais Iluministas sem o Renascimento Cultural? O que seria do Renascimento Cultural sem a Cultura Romana? O que seria da Cultura Romana sem a Cultura Grega? Enfim, se seguirmos esta trilha, perceberemos facilmente que o mundo não seria absolutamente nada.

E qual seria a melhor forma de registrar tais acontecimentos e passa-los às gerações posteriores? Através de livros, não? Afinal de contas, se George Washington não houvesse lido frases do tipo: “Liberté, Egalité, Fraternité”, de Jean-Jacques Rousseau, não teríamos uma Declaração de Independência proferida por ele, teríamos? Se Che Guevara e Fidel Castro não tivessem acesso a nenhum livro sobre Marxismo, não teríamos a Revolução Cubana, teríamos?

Pois é, mas voltemos à questão proposta no início desta análise cinematográfica: imaginemos um mundo sem livros. Ray Bradbury imaginou e escreveu um livro onde as pessoas vivem em um futuro não muito distante, em que o governo é totalitário e, a fim de evitar manifestações populares inspiradas em ideais libertários registrados em livros, decidem queimar todo o tipo de publicação literária existente no mundo. Jean-Louis Richard e François Truffaut, assim como Bradbury, também conseguiram imaginar um mundo assim e adaptaram a obra escrita para o Cinema. O resultado? Um filme muito acima da média, certamente.

A antevisão de Bradbury, Truffaut e Richard ganhou vida nas telonas e nos apresentou a um futuro extremamente plausível. A subordinação popular aqui não é tão visível como era no perfeito “Metropolis”, mas não há como deixar de notá-la. Mulheres são escravas da beleza e de frivolidades impostas pela televisão, bem como telenovelas, e os homens são meros escravos do trabalho. Todos vivem objetivamente, todos realizam apenas o que tem de ser realizado e só. Não há questionamentos acerca de sua existência, não há pessoas sonhadoras, não há nada, apenas racionalidade e objetividade. Se algo é desse modo, é porque ele tem que ser desse modo, e ponto final.

E é neste mundo frio que nos deparamos com uma sociedade ainda mais decadente e execrável da qual, lastimavelmente, fazemos parte atualmente. As pessoas são simplesmente estúpidas e condenam os livros por julgarem que estes as tornam infelizes e as levam a experiências pelas quais jamais irão passar na realidade. Logo, aceitam um estilo de vida insosso, convencional e sem grandes perspectivas. A diversão aqui é propagada por programas televisivos interativos, mas intelectualmente vazios, sem nada a acrescentar à existência de qualquer indivíduo que seja.

Em suma, no ano de 1966 Truffaut levou aos cinemas uma cópia semi-fiel do que o mundo viria a ser em 2009, algo que nem mesmo Fritz Lang, Stanley Kubrick, Michael Radford, Ridley Scott e James Cameron conseguiram fazer com tanta perfeição (o que não quer dizer que o longa de Truffaut seja necessariamente o melhor do gênero, pois está muito longe, mesmo, de merecer tal título).

Quanto aos demais aspectos o filme também se sai muito bem. A fotografia é muitíssimo bem empregada, bem como a direção de arte que cria cenários muito parecidos com as nossas casas atuais (e sejamos francos, quem, em plenos anos 1960, iria julgar plausível a existência de televisões de plasma, iguais às que o protagonista tem em sua sala de estar?), o que dá ao filme um indispensável toque de verossimilhança.

Os atores também saem-se muito bem em seus respectivos papéis. Eles são inexpressivos? Sim, mas convenhamos, podemos esperar que, em uma sociedade onde a razão literalmente impera, os indivíduos que a compõem consigam demonstrar quaisquer expressões que sejam? É claro que não. O destaque no elenco fica por conta de Julie Christie que, como sempre, conta com a sua talentosa inexpressividade. A atriz sente dificuldades ao se expressar (assim como o fizera no excelente “Dr. Jivago”), mas o modo como entona todas as suas frases é o diferencial de sua atuação. Através do tom de voz que emprega, conseguimos perceber o tipo de emoção que ela deseja transmitir (a propósito, a personagem Clarisse é uma das poucas não-racionais em “Fahrenheit 451”, uma vez que ela pode ser taxada de subversiva). A propósito, costumo dizer que Christie é a versão feminina de Peter O’Toole.

Truffaut, como já era de se esperar, faz em “Fahrenheit 451” um trabalho excepcional. Além de recriar magistralmente o futuro pouco inspirador do livro de Bradbury, o diretor realiza um trabalho fascinante por trás das câmeras, conferindo total dinamicidade à obra utilizando “closes ins” a todo instante. Truffaut também mostra total eficiência através dos “travellings” com os quais acompanha os seus personagens, mas o grande destaque de sua direção acaba mesmo ficando com o vazio emocional presente na mesma, algo imprescindível para um filme que visa, dentre muitas outras coisas, criticar o excesso de racionalidade de uma sociedade decadente.

O diretor francês deixa a sua marca registrada em “Fahrenheit 451” pela forma como transportou para a sétima arte a clássica cena em que Doris (Ann Bell) é queimada viva, junto com a sua casa e sua gigantesca coleção de livros.

Mas nem tudo funciona perfeitamente bem no filme em questão. Se Truffaut realiza aqui um dos melhores trabalhos de sua mais do que vitoriosa carreira, ele também comete algumas pequenas falhas, como incluir uma cena em que alguns policiais perseguem o protagonista Montag (Oskar Werner) sobrevoando uma lagoa pendurados por cabos de aço amarrados em helicopteros. A sequencia é bem curta, mas constrangedora o bastante, devido ao modo como a montagem é mal realizada. E não adianta se desculparem alegando que na época não havia condições de produzirem efeitos visuais mais bem feitos, pois “Metropolis” era a prova viva de que a cena poderia ter sido menos tosca e mais realista.

Os erros do filme, infelizmente, não se resumem a uma única cena mal feita. De forma alguma, vão muito além disso. O final de “Fahrenheit 451” se revela bastante deplorável e jamais faz jus ao restante da trama. Se nos dois primeiros atos da obra nos eram apresentadas fortes críticas ao excesso de racionalidade contido em uma determinada sociedade, no terceiro ato o filme cai em sua própria armadilha, quando chegamos à uma colônia onde pessoas subversivas decoram um determinado livro e, logo em seguida, o queima para livrarem-se de provas. Francamente, não sei se um final nestes moldes foi a intenção do roteiro ou não, mas caso tenha sido, o culpado é o próprio filme, e não este que vos escreve que não foi capaz de entendê-lo. Oras, se em uma sociedade moldada nos dois primeiros atos do filme as pessoas nada mais eram do que meros números, o que dizer então da sociedade moldada no terceiro ato? Existe maior racionalidade do que uma pessoa decorar um livro inteiro para depois poder queimá-lo?

Mas é como eu mesmo disse, pode ser que o filme tenha a total intenção de criar um desfecho extremamente racional, para utilizar-se de uma espécie de cinismo a fim de nos fazer crer que, no fim, tudo acabou bem, quando, na verdade, não foi o que aconteceu e as pessoas continuaram na mesmíssima situação, só que em um formato um pouco diferente.

Enfim, caso seja isso, desconsiderem os meus apontamentos e passem a considerar o filme perfeito.

Avaliação Final: 8,7 na escala de 10,0.

O Dia em que a Terra Parou (2008) – ° de *****

janeiro 13, 2009 Deixe um comentário
Sei muito bem que é um gigantesco clichê, no meio da crítica cinematográfica, falar mal de sequências e refilmagens, mas sejamos francos, analisando a qualidade das mesmas, há um modo de se aceitar tais filmes tranquilamente? Particularmente, detesto a maior parte das sequências e refilmagens feitas atualmente, mas devo dizer que sempre mantenho uma postura bem imparcial quando vou ao cinema conferir as mesmas. Foi o caso de “Os Infiltrados”, por exemplo. Já havia assistido a “Conflitos Internos” antes e, ao contrário da grande maioria da crítica nacional e internacional, não gostara muito do que tinha acabado de conferir. O filme que deu o Oscar® a Martin Scorsese, no entanto, me surpreendeu e, mesmo sendo uma sequência, se revelou uma experiência bem mais interessante que o policial Hongkonguiano. Logo, tendo em vista tal imparcialidade, juro que fui conferir este “O Dia em que a Terra Parou” sem quaisquer expectativas, sejam elas boas ou ruins. Acreditam se lhes disser que, mesmo assim, não pude deixar de considerar o filme um verdadeiro lixo e que não houve como deixar de realizar comparações deste com o longa original? Realmente, Uma bomba desnecessária e ridícula, diferentemente do filme original que é um verdadeiro primor.

Ficha Técnica:
Título Original: The Day the Earth Stood Still.
Gênero: Ficção Científica.
Ano de Lançamento: 2008.
Site Oficial: http://www.odiaemqueaterraparou.com.br/
Nacionalidade: Estados Unidos.
Tempo de Duração: 103 minutos.
Diretor: Scott Derrickson.
Roteirista: David Scarpa, baseado em roteiro de Harry Bates e Edmund H. North.
Elenco: Keanu Reeves (Klaatu), Jennifer Connelly (Helen Benson), Kathy Bates (Regina Jackson), Jaden Smith (Jacob Benson), John Cleese (Prof. Barnhardt), Jon Hamm (Michael Granier), Kyle Chandler (John Driscoll), Robert Knepper (Coronel), James Hong (Sr. Wu), John Rothman (Dr. Myron), Sunita Prasad (Rouhani), Juan Riedinger (William Kwan), Sam Gilroy (Tom), Tanya Champoux (Isabel), Mousa Kraish (Yusef), J.C. MacKenzie (Grossman), Daniel Bacon (Winslow) e Hiro Kanagawa (Dr. Ikegawa).

Sinopse: Refilmagem da clássica e consagrada ficção-científica produzida originalmente em 1951. O filme conta a estória de Klaatu (Keanu Reeves), um alienígena que vem ao planeta Terra com a intenção de se reunir com membros de outros planetas que optam por iniciar um processo de obliteração da raça humana, que vem, cada vez mais, destruindo o Planeta Azul. A cientista Helen Benson (Jennifer Connelly), a fim de preservar a espécie, se encontra com Klaatu e tenta convencer este de que o ser humano ainda pode ter salvação.

The Day the Earth Stood Still – Trailer:

Crítica:

Em 1951, Harry Bates e Edmund H. North roteirizaram um filme que fora dirigido por Robert Wise e utilizava uma inesperada invasão alienígena como pano de fundo para debater questões bélicas, pacifístas e ambientais. Em 2008, David Scarpa roteirizou um filme que fora dirigido por Scott Derrickson (que se atreve a dizer que é fã da clássica obra mesmo após cometer um terrível atentado contra esta) e utilizava a mesma inesperada invasão alienígena como pano de fundo para debater… ops, esqueça a palavra “debater” e voltemos à metade da frase… utilizava a mesma inesperada invasão alienígena como pano de fundo para criar um ou outro efeito visual que realmente conseguisse chamar a atenção do público.

Pois é, conforme havia mencionado em meu texto sobre o clássico e original (e excelente, diga-se) “O Dia em que a Terra Parou”, imaginava que os efeitos visuais desta mais nova versão para o Cinema fossem infinitamente mais bem feitos do que os da versão anterior (aliás, é mais do que óbvio que estes seriam melhores, não?), mas não mais revolucionários (afinal de contas, os mesmos foram um marco na década de 1950). Logo, não há como não nos impressionarmos com efeitos em CGI como o gigantesco robô Gort (que, desta vez, não apresenta as mesmas falhas toscas que na versão anterior onde, ao mover os braços e as pernas, podíamos ver claramente que tratava-se de uma pessoa qualquer trajando uma fantasia, pois na medida em que suas articulações dobravam, a roupa também dobrava) e a nuvem de insetos extraterrestres que devasta boa parte de Manhattam.

Fora os efeitos visuais e alguns outros elementos técnicos (som e edição de som), o filme não se salva em mais nenhum outro aspecto, exceto, é claro, no que diz respeito à interessante, embora extremamente irregular, atuação de Jennifer Connelly e à pequena ponta que John Cleese realiza no final do segundo ato da trama (a propósito, o quê o meu ‘Python’ predileto estaria fazendo neste lixo da sétima Arte? A única justificativa realmente aceitável é que este tenha recebido um cachê muito alto para aparecer pouco, assim como aconteceu com o meu ator predileto, Marlon Brando, no interessante “Superman”).

E falando em atuações, o que dizer da pavorosa aparição (e confesso que “pavorosa aparição” se revela um termo bastante eufemista diante da intragável presença do ator durante o filme todo) do péssimo Keanu Reeves? Mais inexpressivo do que nunca (acredite, é verdade!), Reeves confere a seu personagem uma frieza forte o bastante para que não nos cativemos com ele, ou até mesmo com os seus propósitos no filme, durante um único nano segundo de projeção sequer. É óbvio que, vindo de um extraterrestre tão frio e racional quanto Klaatu, tal inexpressividade se revela, de uma certa forma, inerente à caracterização do personagem, mas sejamos francos, até mesmo o primeiro oficial da nave espacial USS Enterprise, o saudoso Sr. Spock, interpretado por Leonard Nimoy, conseguia expressar, quando necessário, um ou outro sentimento em seu semblante sisudo e inalterável. Tome como exemplo também o mesmo Klaatu da primeira versão de “O Dia em que a Terra Parou”. O personagem de Michael Rennie era tão racional quanto o protagonista desta refilmagem, no entanto, não só os objetivos daquele, como também a composição do ator que o encarnava, tornavam o inesquecível alienígena um personagem muito mais interessante do que o de Reeves. E o que dizer então do monólogo realizado por aquele? Mesmo contando com raras alterações de expressão, Rennie se mostrava capaz de nos envolver profundamente com tal cena, diferentemente de Reeves que, em momento algum, consegue nos chamar a atenção.

Não bastasse a falta de talento de quase todo o elenco, “O Dia em que a Terra Parou” ainda falha gravemente na maneira como o roteiro compõe os seus personagens. A própria personagem de Connelly é simplesmente patética. Executando a frustrada tentativa de desenvolvê-la através de uma crise familiar com o seu afiliado (Helen ama o garoto, mas não vê recíproca), o roteiro cai no mesmíssimo grave clichê que “Guerra dos Mundos” caiu há quase cinco anos atrás, com a diferença de que os personagens envolvidos naquela trama, apesar de extremamente falhos, se revelavam ligeiramente mais interessantes que os inseridos neste longa. O Professor Barnhardt, por sua vez, nem ao menos diz a que veio. Diferentemente do personagem da versão clássica, este aqui aparece em cena apenas para que os fãs do filme de 1951 possam se identificar com o mesmo (se identificar? Tentar estabelecer coligações entre a obra-prima de Wise e este lixo cinematográfico da pior espécie se revela um desperdício de tempo total) e, francamente, o diálogo que o mesmo estabelece com Klaatu (“___ É quando estamos à beira do precipício que evoluímos!”. Simplesmente ridículo), em momento algum, se revela forte o bastante a ponto de fazer com que o protagonista mude de opinião em relação à raça humana. Aliás, o que dizer da artificial mudança de caráter de Klaatu? Sem dúvida alguma a mudança de caráter mais artificial já vista nos cinemas neste início de século (a não ser, é claro, que você pense que um sujeito que pretende destruir a raça humana mude veementemente de opinião apenas por ouvir um: “___ É quando estamos à beira do precipício que evoluímos!” e por presenciar duas pessoas se abraçando). Por fim, o que dizer da Secretária de Defesa Regina Jackson (desastrosamente encarnada por Kathy Bates)? Diferentemente do Secretário do filme original que debate humildemente com Klaatu sobre a imbecilidade e a imaturidade presente nos conflitos entre os membros de nossa raça, Regina nada mais é que uma personagem estereotipada, arrogante, aborrecedora e extremamente desnecessária à trama.

A química estabelecida entre os personagens é praticamente nula. Se um dos pontos mais fortes do filme roteirizado por Bates e North residia na cativante e agradabilíssima relação entre Klaatu e o garoto Bobby, neste atentado à sétima Arte produzido no ano de 2008 não temos uma única dinâmica que chegue aos pés daquela. Na versão original, a química estabelecida entre Klaatu e Bobby conseguia conferir à trama, além do típico charme presente nos filmes da década de 1950, uma série de discussões e ensinamentos sobre o modo correto de se evoluir uma espécie. Aqui, a relação entre o alienígena e o garoto Jacob (e os demais personagens, diga-se) é estabelecida na base da frieza e em momento algum nos cativa. Muitíssimo pelo contrário, a única coisa que ambos os personagens conseguem é nos irritar profundamente criando diálogos chatos e aborrecedores. Entretanto, o longa também erra quando tenta estabelecer uma química entre personagens de maneira menos fria, fazendo com que o roteiro descambe para o ridículo, para o piegas, para o lugar-comum.

Lamentável, afinal de contas, a única coisa que esta readaptação consegue é deixar no ar a seguinte indagação: “Se Scott Derrickson é tão fã da versão original de “O Dia em que a Terra Parou” quanto ele mesmo diz que é, por quê cargas d’água o fracassado… ops, digo… o cineasta (gargalhadas) pegou o filme de 1951, despejou um caminhão de esterco sobre o mesmo, bateu no liquidificador por 103 minutos e criou este grande pedaço de (e, adiantadamente, peço mil desculpas pela palavra de baixo calão que irei utilizar agora, mas diante de um erro cinematográfico tão grande quanto este, não me vejo possibilitado de agir de outra maneira) merda que, a partir do momento em que chegou nos cinemas do mundo todo, passou a boiar perdidamente no oceano mainstream hollywoodiano?”. Encerro esta crítica afirmando que, ao contrário da versão original (mais uma vez o comparei com o filme de 1951, não é? Mas fazer o quê, não há como escapar disso) que primava por abordar a relação terráqueo/extraterrestre de um modo não ofensivo, este remake é apenas mais um filme, dentre outros milhões do gênero, que se propõe a abordar uma possível relação interplanetária da forma mais imbecil e agressiva o possível. E, francamente, filme de merda (já pensou se a moda pega e eu começo a proferir um palavrão toda vez que estiver de extremo mau-humor após ter conferido uma obra tão ridícula quanto esta em questão?) imbecil e agressivo por filme de merda imbecil e agressivo, eu fico com “Independence Day” que, apesar de contar com uma trama ainda mais idiota, é bem mais divertido que esta refilmagem ridícula (ah sim, e apesar de todas as falhas, o longa ainda se dá ao luxo de ser enfadonho e contar com poucas sequências de ação). Uma pena que tenhamos começado o ano de 2009 com um filme que, certamente, figurará na lista de “Piores do Ano” da grande maioria dos críticos de Cinema do mundo todo.

Avaliação Final: 1,7 na escala de 10,0.

O Dia em que a Terra Parou – ***** de *****

janeiro 10, 2009 Deixe um comentário
O Dia em que a Terra Parou (The Day the Earth Stood Still, 1.951, roteirizado por Harry Bates e Edmund H. North e dirigido por Robert Wise). – ***** de *****

Já disse isso várias vezes e torno a repeti-lo neste artigo: “gosto de analisar um filme embasado no período em que este foi lançado e não no período em que o assisti”. Por quê? Simples. Por uma questão de justiça e ética. Veja os efeitos visuais da clássica versão de “O Dia em que a Terra Parou”, por exemplo. São todos obsoletos, desde a criação do OVNI sobrevoando os céus de Washington no início do filme, aos raios lasers disparados pelo robô gigante Gort que desintegram as armas dos militares. Não restam dúvidas de que os efeitos visuais do remake que teve a sua estréia nos cinemas mundiais no dia de ontém são bem mais convincentes (apesar de que a probabilidade de serem tão revolucionários quanto é bem pequena), mas deve-se levar em conta a tecnologia adotada para fazer os filmes na época, e a tecnologia utilizada atualmente.
Contudo, se por um lado os efeitos visuais de “O Dia em que a Terra Parou” podem ser tidos como toscos nos dias de hoje, não há como negar a inventividade contida em seu roteiro. Apesar de contar com um clichê aqui e outro acolá, o longa dirigido por Robert Wise se revela a primeira ficção-científica sobre relações interplanetárias não ofensivas na história do Cinema (e se eu estiver errado, peço, por favor, que me corrijam). Fugindo de baboseiras do naipe de guerras interplanetárias, ou alienígenas que vêm até aqui com o único intento de destruir o planeta (e sejamos francos, por que um grupo de extraterrestres faria uma viagem longa e cansativa com o único propósito de nos destruir, sem mais nem menos? Pessoas como Dean Devlin e Roland Emmerich deveriam pensar nisso antes de criarem asneiras como “Independency Day”) os roteiristas Harry Bates e Edmund H. North nos oferece aqui um protagonista extremamente interessante: o alienígena Klaatu, que vem à Terra em missão de paz, pedir apenas para que suspendamos o uso de armas nucleares, evitando assim uma destruição do planeta e, consequentemente, do sistema solar.
O filme indaga, a todo tempo, a imbecilidade de nossas guerras e coloca a nossa raça em um patamar imaturo. Apesar de simples, o filme sempre nos remete à reflexões extremamente inteligentes sobre o dúbio rumo que nossos líderes políticos tomam a fim de evoluírem suas respectivas nações. E falando em nações, é incrível vermos a coragem do roteiro que, em plena década de 50 (quando Hollywood vivia a sua Era de Ouro), apresenta críticas severas à política de governo bélica estadunidense.
“O Dia em que a Terra Parou” peca, no entanto, ao criar um desfecho ligeiramente previsível para o seu protagonista. Há uma cena inserida em seu terceiro ato (que é claro, não revelarei qual é, muito menos o que acontece) que nos faz pensar em um final mais dramático, mais imprevisível, mais fora do comum, entretanto, na hora H, Bates e North pulam para trás e conferem a Klaatu um final mais, digamos, corretinho. O que eu tenho contra finais bonitinhos? Nada. Só sei que um desfecho mais trágico faria com que a obra tornasse ainda mais forte a mensagem que almeja passar.

Avaliação Final: 9,0 na escala de 10,0.

Metropolis – ***** de *****

dezembro 8, 2008 Deixe um comentário
Não faz muito tempo que assisti a este “Metropolis” pela primeira vez. Foi durante umas férias de julho, em 2.006, salvo engano de minha parte. Loquei-o na vídeolocadora com grandes expectativas, afinal de contas, qual cinéfilo que se preze não gostaria de conferir a obra-prima de Fritz Lang, que é também considerada o maior marco na história do Cinema expressionista alemão? As expectativas aumentaram ainda mais quando li uma crítica afirmando que o longa possuía críticas muito bem desenvolvidas contra o Capitalismo, contra a dependência que o homem contemporâneo possui em relação às máquinas e a cruel exploração que a burguesia exerce sobre o proletariado. Enfim, é o filme que todo o cinéfilo revoltado com o sistema adoraria assistir e, no meu caso, não foi diferente, principalmente agora que o assisti pela segunda vez e pude observar a obra com um olhar ainda mais crítico.

Ficha Técnica:
Título Original: Metropolis.
Gênero: Ficção Científica.
Ano de Lançamento: 1927.
Nacionalidade: Alemanha.
Tempo de Duração: 136 minutos.
Diretor: Fritz Lang.
Roteirista: Thea von Harbou e Fritz Lang.
Elenco: Gustav Fröhlich (Freder Fredersen), Brigitte Helm (Maria / Robô), Alfred Abel (Johhah “Joh” Fredersen), Rudolf Klein-Rogge (C.A. Rotwang), Fritz Rasp (Slim), Theodor Loos (Josaphat), Heinrich George (Grot) e Erwin Biswanger (Georg).
Sinopse: Metropolis é uma cidade dividida em duas partes: a “Cidade Superior”, onde a burguesia reside, e a “Cidade dos Operários”, habitada pelo proletariado. Os habitantes da “Cidade dos Operários” têm como mentora intelectual Maria, que pede aos mesmos que não se revoltem contra a classe alta a fim de exigirem melhores condições de trabalho e o façam de um modo menos radical. Maria acaba conhecendo Freder, o filho de Joh Fredersen, um dos magnatas da cidade, e mantendo um relacionamento amoroso com este. Segundo a moça, Freder é o messias que trará esperança aos operários, contudo, o pai do rapaz decide incitar uma revolução na “Cidade dos Operários” e pede para que o cientista Rotwang crie um andróide com a mesma aparência de Maria, para que assim esta possa aconselhar os operários a se revoltarem.

Metropolis – Trailer:

Crítica:

Considerado um marco na história do Cinema mudo (e até mesmo na história do Cinema de forma geral, diga-se de passagem), “Metropolis” é, acima de tudo, uma verdadeira obra-de-arte contemporânea (expressionista, para ser mais exato) mister para todos aqueles que se dizem amantes do (bom) Cinema. Em termos de arte expressionista alemã, temos Edward Münch e sua obra-prima: o quadro “O Grito”, representando o Magnum Opus da pintura, durante esta fase da arte contemporânea. Fritz Lang e sua obra-prima, o filme “Metropolis”, porém, podem ser considerados o Magnum Opus do cinema expressionista alemão e, convenhamos, o diretor e o longa fazem jus a todo o glamour que existe por trás de ambos.

A propósito, seria mais do que justo por parte deste que vos escreve dedicar este parágrafo inteiro a fim de comentar o brilhantismo com que Lang rege sua obra por trás das câmeras. Pessoalmente, creio que a direção do alemão nesta película só não pode ser considerada superior ao trabalho que Orson Welles realizou no estupendo “Cidadão Kane”, sendo assim, encaro a mesma como a segunda melhor direção dentre as quais já tive a oportunidade de prestigiar ao longo de minha vida. O grande destaque do trabalho do diretor alemão fica por conta dos planos perfeitos que este consegue criar, tais como a cena em que ele divide a tela em várias partes e é capaz de focalizar os olhos de muitas pessoas simultaneamente, fazendo o uso de uma única tomada. Outros destaques fantásticos são: as tomadas onde Lang (com a ajuda de uma direção de Arte que vai além da perfeição) nos apresenta a uma visão panorâmica da cidade de Metropolis; as cenas em que o diretor enfoca diversas pessoas distribuídas pela tela durante vários momentos da película (e vale dizer que, para a realização da obra, foram necessários cerca de 36.000 figurantes, tamanha a grandiosidade da mesma); a maneira como as cenas da enchente, da morte dos funcionários na “Casa das Máquinas” e a clássica cena onde o protagonista Freder tem a visão da máquina como sendo um monstro que devora os pobres trabalhadores, são conduzidas pelo diretor, além de muitos outros destaques que o filme possui.

Tecnicamente falando, o longa é esplendoroso. Além de conter uma direção de arte que vai além da perfeição (assim como eu dissera no parágrafo anterior) e que nos apresenta a uma cidade futurista onde toda a sua melancolia e claustrofobia nos é demonstrada através de arranha-céus magníficos e, ao mesmo tempo, sombrios e assustadores, helicópteros voando ao redor da cidade, auto-estradas congestionadas, poluição em demasia e muito mais, “Metropolis” conta também com efeitos visuais tão fulgentes que até mesmo nos dias atuais, onde filmes como “O Senhor dos Anéis” se revelam irretocáveis neste quesito, consegue se destacar com maestria, a ponto de se revelar revolucionário mesmo após ter passado quase um século desde a sua criação.

As atuações do elenco, apesar de um tanto o quanto exaltadas durante alguns momentos (até mesmo porque é praticamente impossível os atores atuarem de outra forma, tendo em vista que o filme é mudo e a melhor maneira destes se expressarem é fazendo o uso de expressões exaltadas, como as que acontecem aqui), são todas ótimas e extremamente convincentes. A química exalada por todos os atores é cativante e o entrosamento entre estes é invejável. É o tipo de qualidade que era muito mais comum naqueles tempos, quando atores não ganhavam rios de dinheiro e faziam o seu trabalho por amor à profissão e à Arte, diferentemente do que se vê atualmente.

O roteiro, por sua vez, também é fabuloso e conta com uma dose altíssima de reflexões que o espectador poderá desfrutar durante o desenrolar da película inteira. Utilizando como pano de fundo uma estória de amor (o mocinho rico se apaixona pela mocinha pobre e o romance entre ambos é impossível graças à diferença financeira entre eles) que, atualmente, pode ser encarada como clichê, mas na época de lançamento do filme, não, o longa realiza críticas extremamente ferrenhas ao sistema capitalista, à maneira como a burguesia explora o proletariado e à total dependência do ser humano perante as máquinas.

A exploração que a burguesia realiza sobre o proletariado pode ser notada durante quase todo o filme, a começar pela brilhante idéia que Lang teve ao decidir dividir a cidade de Metropolis em duas partes: a Cidade Superior (habitada pela burguesia) e a Cidade dos Operários. Para que a primeira possa funcionar corretamente, é necessário que os operários se esgotem de cansaço e arrisquem as suas vidas trabalhando na Casa das Máquinas (situada um pouco acima da Cidade dos Operários). Enquanto isso, os burgueses passam o dia inteiro se divertindo na Cidade Superior. Não resta dúvidas de que tal metáfora é uma perfeita crítica aos burgueses, insinuando que os mesmos obtém suas vidas confortáveis às custas do labor da grande maioria da população, que além de não possuir quaisquer perspectivas de vida, são encarados como meras peças substituíveis que mantém o sistema funcionando.

E falando no sistema econômico, são claros os ataques que Lang realiza ao Capitalismo. Podemos notar facilmente o quão os poderosos de Metropolis manipulam os operários e visam, acima de tudo, obter lucros pesados à custa do trabalho destes. Como exemplo disso pode-se citar o intento do grande vilão do filme, o multimilionário Joh Fredersen (pai de Freder, protagonista da estória), que visa incitar uma revolução na Cidade dos Operários, para que estes se autodestruam. Desta forma, Fredersen poderá substituir os operários por andróides, uma vez que a produção destes se mostra muito mais proveitosa e as despesas com os mesmos se revelam bem menores. No entanto, é justo tirar a vida de milhares de seres humanos apenas para obter o máximo de lucro o possível, conforme prega o Capitalismo? Questionamentos como estes são levantados por Lang a todo o instante nesta sua obra-prima.

Quanto à relação homem-máquina, o filme não poupa esforços ao abordá-la. Em sua mais clássica cena, que trata-se da visão que o protagonista Freder tem sobre a máquina assumindo o lugar de um monstro que se alimenta de homens (no caso, os operários da cidade), “Metropolis” realiza uma das mais perfeitas metáforas que o Cinema já fez sobre a submissão humana perante os avanços tecnológicos. É a cria alimentando-se, literalmente, da carne de seus criadores. E o que dizer então dos nichos feitos pelos operários na mesma máquina supracitada a fim de mantê-la em funcionamento? À medida que tais nichos nela se alojam, percebemos que é como se os funcionários fizessem parte da máquina, como se fossem algum órgão vital desta. A partir daí, reparamos que homem e máquina estão se unindo, se tornando inseparáveis.

O final do filme é um ponto extremamente subjetivo e polêmico. Muitas pessoas (intelectuais, dentre estas) o consideram um desfecho de extrema direita, onde fica claro que a revolução esquerdista não trouxe benefício algum a nenhuma das classes envolvidas com a mesma. Outras pessoas acham que é o final que o longa realmente deveria ter, provando que a direita e a esquerda podem caminhar juntas em harmonia, contanto que haja um mediador interagindo entre ambas. Há também o grupo de indivíduos que defendem a tese de que o final mostra a extinção do totalitarismo, uma vez que o proletariado, a partir daquele instante, passaria a ter uma participação ativa no poder. Minha opinião sobre o mesmo? Fico com a segunda e a terceira hipótese juntas, mas independentemente do que Lang quis nos transmitir com a sua “moral da estória” inserida no final da trama, “Metropolis” se revela uma inquestionável obra-prima e que, de maneira simples e cativante, se revela capaz de abordar de forma magistral assuntos que permanecem em pauta até os dias atuais.

Avaliação Final: 10,0 na escala de 10,0.

Star Wars – Episódio VI – O Retorno do Jedi – **** de *****

novembro 30, 2008 Deixe um comentário
Provavelmente, uma das despedidas mais tristes da história do Cinema. Não que o filme em si, ou o seu desfecho, seja melancólico, longe disso, mas a verdade é que não deve ter sido nada fácil para os fãs da saga (que em 1983 já eram muitos espalhados por todo o mundo) se acostumarem com a idéia de que jamais ouviriam novamente nos cinemas a respiração profunda, assustadora e ofegante do mais marcante vilão que a sétima Arte já nos apresentou. O que seriam dos milhões de nerds lucasmaníacos sem os golpes de sabre de luz desferidos por Luke Skywalker? Sem as batalhas espaciais magistralmente comandadas por Han Solo? Sem o charme e a independência feminina de Leia Organa? Sem os rugidos incompreensíveis de reclamação de Chewbacca? Sem a dinâmica da atrapalhada dupla de dróides R2-D2 e C3PO? Pois é, em 1983 eu nem ao menos havia nascido, ou melhor, nasci apenas no final deste ano, quando o filme já havia estreado, mas mesmo assim já posso imaginar toda a melancolia que se alastrou nos fãs do mundo todo acerca desta magnífica saga que revolucionou o modo de se fazer os chamados “filmes-pipoca”.


Ficha Técnica:

Título Original: Return of the Jedi.
Gênero: Aventura/Ficção Científica.
Tempo de Duração: 131 minutos.
Ano de Lançamento (EUA): 1983.
Site Oficial: www.starwars.com/episode-vi
Estúdio: LucasFilm Ltda.
Distribuição: 20th Century Fox Film Corporation.
Direção: Richard Marquand.
Roteiro: George Lucas e Lawrence Kasdan, baseado em estória de George Lucas.
Produção: Howard G. Kazanjian.
Música: John Williams.
Direção de Fotografia: Alan Hume.
Desenho de Produção: Norman Reynolds.
Direção de Arte: Fred Hole e James L. Schoppe.
Figurino: Aggie Guerard Rodgers e Nilo Rodis-Jamero.
Edição: Sean Barton, Duwayne Dunham e Marcia Lucas.
Efeitos Especiais: Industrial Light & Magic.
Elenco: Mark Hamill (Luke Skywalker), Harrison Ford (Han Solo), Carrie Fisher (Princesa Leia Organa), Billy Dee Williams (Lando Calrissian), David Prowse (Darth Vader), James Earl Jones (Darth Vader – Voz), Ian McDiarmid (Imperador Cos Palpatine), Alec Guinness (Obi-Wan Kenobi), Anthony Daniels (C3PO), Kenny Baker (R2D2/Paploo), Peter Mayhew (Chewbacca), Sebastian Shaw (Anakin Skywalker), Frank Oz (Yoda) e Michael Pennington (Moff Jerjerrod).

Sinopse: Após ter sido raptado pelo caçador de recompensas Borba Fett, Han Solo (Harrison Ford) é levado como refém até o gangster Jabba, o Hutt. Luke Skywalker (Mark Hamill) e seus amigos partem em uma missão com o objetivo de resgatar o importante general. Enquanto isso, o Imperador Cos Palpatine (Ian McDiarmid) e Lorde Darth Vader (atuação: David Prowse, voz: James Earl Jones) lideram o projeto de construção de uma nova “Estrela da Morte” (estação espacial super poderosa que havia sido destruída pelos soldados da Aliança Rebelde em “Uma Nova Esperança”) ainda mais poderosa que a anterior. Em uma desesperada e arriscada tentativa de defesa, os líderes da Aliança Rebelde nomeiam Lando Calrissian (Billy Dee Williams) para comandar um ataque à nova estação espacial imperial e Luke Skywalker se prepara para o grande desafio de sua vida: enfrentar e derrotar Darth Vader e Cos Palpatine, tornar-se um verdadeiro cavaleiro Jedi e encerrar com esta guerra de uma vez por todas, trazendo paz e liberdade ao universo.

Return of the Jedi – Trailer:

Crítica:

“O Retorno de Jedi” se inicia com a tentativa frustrada, organizada por Luke, Leia, Lando, Chewbaca, R2-D2 e C3PO, de salvar Han Solo das garras de Jabba, o Hutt. Durante este resgate mal-sucedido, o filme brinda o espectador com figurinos, maquiagem e efeitos visuais simplesmente vislumbrantes. Nunca, em toda a trilogia, os realizadores se mostraram capazes de aproveitar todas as qualidades técnicas da obra a fim de criar uma diversificação tão ampla de criaturas quanto às que nos são apresentadas no início deste último episódio, no reduto de Jabba e os responsáveis pelos efeitos visuais e pela maquiagem se revelam extremamente competentes ao darem um ar ainda mais realista às bizarras criaturas.

Outro ponto forte inserido em tal seqüência inicial reside na criatividade que o roteiro e a direção tiveram ao construí-la. Preste atenção, por exemplo, na riqueza de detalhes utilizada para compor as coreografias e os números de dança realizados na residência de Jabba. Observe também os acordes musicais tocados, remetendo-nos à lembrança de um gênero no melhor estilo free jazz. Tudo aparenta ter sido minuciosamente bem pensado, escrito e executado. O resultado não poderia ter sido melhor.

A entrada de Luke Skywalker em cena também colabora muito para que esta ganhe muito ritmo, uma vez que os poderes de Jedi do jovem protagonista ampliaram-se consideravelmente e a evolução técnica da obra, principalmente no que diz respeito aos efeitos visuais desta, faz com que as seqüências de luta com sabre de luz se tornem muito mais reais e empolgantes e contem com movimentos muito mais ousados que os dos episódios anteriores.

Mas se por um lado tal seqüência revela-se extremamente interessante, analisando-a apenas como entretenimento, por outro lado a mesma revela-se fraca e parcialmente desnecessária do ponto de vista narrativo. Justifico tal afirmativa tomando por base que, apesar de nos mostrar o resgate do general Han Solo (que primeiramente se revela frustrado, mas com a entrada de Luke em cena toma um outro rumo), os minutos iniciais do filme fogem completamente da proposta principal da trilogia que é narrar a guerra estelar entre o Império Intergaláctico e a Aliança Rebelde.

Evidentemente, é uma excelente pedida presenciarmos em um blockbuster (ainda mais um com as proporções de um “Star Wars”) cenas de ação fantásticas regadas com impecáveis efeitos visuais, além, é claro, de contar com uma atriz formosíssima (bem, ao menos, na época, ela era muito formosa, gostosérrima (me desculpem pela vulgaridade, garotas, mas estou sendo sincero), para falar a verdade), do naipe de uma Carrie Fisher, trajando vestimentas apertadíssimas e minúsculas, mas sejamos francos, para que uma seqüência destas dure longos vinte minutos, é necessário, ao menos, que esta tenha um propósito muito maior dentro da trama do que simplesmente mostrar o resgate de um dos protagonistas da mesma, algo que poderia ter sido realizado em cerca de cinco minutos.

Outro defeito presente em tal seqüência é o modo desonroso como Bobba Fett, que havia se revelado um importante e interessante personagem até então, sai de cena: o mesmo é derrotado por Han Solo através de um golpe de sorte e o que já era ridículo consegue piorar ainda mais devido ao fato de o longa utilizar tal cena como alívio cômico. Aliás, a maneira como este “O Retorno de Jedi” se “desfaz” de muitos de seus personagens é um dos maiores defeitos do mesmo. Note, por exemplo, a seqüência que ilustra a morte de um certo personagem, cuja identidade manterei em segredo, que havia cativado imensamente o público. Ele simplesmente diz: “___ Estou velho, preciso descansar.”, e pronto, sai de cena, sem mais nem menos, da maneira menos sutil o possível.

O roteiro, escrito por George Lucas e Lawrence Kasdan, optou, desta vez, por explorar menos os seus protagonistas, inclusive o próprio Darth Vader, e devo reconhecer que esta fora uma sábia decisão, uma vez que o desenvolvimento dos personagens principais já havia sido realizado com maestria nos longas anteriores. Sendo assim, não há nada mais conveniente então, do que o roteiro tomar a inteligente decisão de focar-se, principalmente, em amarrar as pontas deixadas em aberto pelos dois episódios anteriores, deixando os seus protagonistas em segundo plano (salvo o Imperador Cos Palpatine que, pela primeira vez na trilogia, é abordado de uma maneira demasiadamente ampla e torna-se um dos personagens principais deste episódio final), e é justamente isto o que ocorre aqui.

Mas o roteiro conta com diversas falhas e estas, infelizmente, não se resumem aos minutos iniciais do longa, conforme já consta citado neste texto. A artificial revelação sobre o grau de parentesco entre Luke e Leia é o exemplo mais claro disso. Francamente, poucas revelações soaram tão artificiais, desnecessárias e formulaicas na história do Cinema quanto à cena em que Luke revela a Leia que possui um forte grau de parentesco com esta.

A direção de Richard Marquand, que em sua totalidade se revela muito boa, também comete alguns deslizes imperdoáveis e torna os defeitos que já vinham do roteiro ainda mais alarmantes. Vide os alívios cômicos. Em sua grande maioria, são todos infantis, desnecessários, tolos. Ao menos desta vez o casal Leia e Han se mostra mais maduro e Marquand dirige o romance entre ambos de maneira convincente e nada irritante. Sem dúvida alguma foi a melhor química entre ambos durante toda a saga.

As seqüências de aventura foram extremamente bem distribuídas pelo roteiro e estas colaboram, e muito, para que o filme jamais se torne cansativo e/ou visivelmente longo (salvo a seqüência inicial, conforme já fora comentado). Contudo, o roteiro se esquece de algo importantíssimo ao criar tais cenas: deve-se sempre dar prioridade ao qualitativo e relegar o quantitativo ao segundo plano. “O Retorno de Jedi” é o episódio da saga que conta com mais cenas de ação, contudo, nenhuma destas chega aos pés da perseguição espacial entre Han Solo e as naves imperiais dentro de uma tempestade de asteróides no episódio anterior, ou, principalmente, do ataque que a Aliança Rebelde realiza à estação espacial “Estrela da Morte” no episódio original. Parte desse defeito deve-se ao diretor Richard Marquand que, apesar de criar ângulos satisfatórios enquanto dirige tais cenas, não se mostra capaz de dar a estas a mesma sensação de urgência e perigo imediato que os diretores George Lucas e Irvin Kershner conseguiram fazer com maestria nos, respectivamente, quarto e quinto episódios.

Mesmo com todos os defeitos já relatados neste texto, não há como negar que “O Retorno de Jedi” é um ótimo filme e conta com muito mais qualidades do que defeitos. A maior qualidade do longa, muito provavelmente, fica por conta da maneira como este consegue amarrar algumas pontas deixadas pelos episódios anteriores de maneira natural. Certamente, a morte de muitos personagens (dois em especial) aqui soa extremamente artificial e parece ser mais uma jogada do roteiro, como se este tivesse a obrigação de dar fim a tais personagens e, seja pela falta de tempo, criatividade, ou até mesmo, força de vontade, o faz de modo nada convincente. Ainda assim, os roteiristas Lucas e Kasdan se preocupam em criar um desfecho extremamente interessante à trama e aos seus respectivos protagonistas.

A dinâmica desenvolvida entre Luke Skywalker e Darth Vader também é outro ponto extremamente forte e relevante deste episódio final, principalmente depois da revelação ocorrida em “O Império Contra-Ataca”. E se no longa anterior a luta entre ambos já se mostrava extremamente tensa e dramática, imagine só neste “O Retorno do Rei” o impacto emocional que a mesma causa, principalmente quando sabemos que ali, um dos dois irá encontrar o seu trágico fim, além, é claro, desta vez estarmos cientes do grau de parentesco entre ambos, uma vez que no longa anterior Vader faz a revelação a Luke somente após a luta ter se encerrado.

E a carga dramática entre Vader e Skywalker certamente não reside apenas no dramático combate final entre ambos (que se revela a melhor luta de sabres de luz de toda a trilogia, apesar de não chegar aos pés da maioria das seqüências de ação dos dois episódios anteriores), muito pelo contrário. O âmago de tal química encontra-se nos diálogos entre o mocinho e o vilão da estória. O primeiro, tenta convencer o outro de que ainda há bondade nele e há a possibilidade deste voltar a atuar pelo lado iluminado da Força, ao passo que o segundo, tenta desesperadamente compenetrar o jovem Jedi a seguir o lado escuro da Força e derrotar o Imperador de uma vez por todas, assumindo o controle total do império ao seu lado.

Falando no imperador Cos Palpatine, a aparição deste também aumenta, e muito, o peso dramático do filme. Nos longas anteriores víamos Palpatine apenas através de hologramas, neste episódio de encerramento, presenciamos o mesmo em carne e osso, durante muitas cenas do filme e pode apostar, apesar deste não possuir traços tão marcantes quanto os de Vader, ele se revela tão assustador quanto o seu subordinado. Outra característica marcante de Palpatine reside na oratória deste. Sempre disposto a persuadir às pessoas a seguirem os seus ideais ao invés de simplesmente descarregar seus poderes nestas, o imperador apela a Luke para que este se junte a ele utilizando sempre diálogos extremamente convincente, como por exemplo a cena em que mostra ao rapaz as terríveis baixas que a Aliança Rebelde está sofrendo no confronto direto com o Império e que a única possibilidade de salvá-los é justamente unindo-se ao lado escuro da Força. O imperador também desempenha um papel muito importante para o destino final de Vader e Skywalker e colabora para que o combate entre ambos tenha um resultado final tão dramático quanto teve no longa anterior.

Apesar de ficar bem aquém aos outros dois episódios da saga, “O Retorno de Jedi” conta com um roteiro que se preocupa em amarrar, de maneira fascinante (salvo em um outro caso onde se mostra extremamente artificial ao fazê-lo), as pontas que os seus antecessores deixaram em aberto e desenvolve a química entre Luke Skywalker e Darth Vader de um modo épico. O imperador Cos Palpatine, que antes só nos era apresentado via hologramas, aparece em carne e osso neste episódio final e ganha uma abordagem digna de líder de Darth Vader. Os aspectos técnicos do filme são fantásticos, a direção de arte cria cenários inesquecíveis e os efeitos visuais são os melhores de toda a trilogia, além, é claro, de possibilitarem com que as lutas de sabre de luz sejam mais realistas e empolgantes que as dos filmes anteriores. O longa, no entanto, se revela falho em muitos de seus aspectos, sobretudo pelo início desnecessariamente longo, pelos alívios cômicos pífios e, principalmente, por não contar com seqüências de aventura realmente marcantes, como os episódios anteriores conseguiram fazer. Um ótimo filme, mas não há como negar que a saga “Star Wars” merecia um desfecho bem mais digno.

Avaliação Final: 8,0 na escala de 10,0.

Star Wars – Episódio V – O Império Contra – Ataca – ***** de *****

novembro 30, 2008 Deixe um comentário
É uma grande honra e um grande esmero para mim, poder, finalmente analisar este quinto episodio da saga “Star Wars”. Que venerei veementemente a mesma durante a minha infância, isso todos que acompanham o meu trabalho já sabem, agora, o meu carinho em especial por este quinto episódio está sendo revelado em primeira mão aqui, nesta pré crítica do longa. Sinceramente, não consigo descrever, demonstrar em palavras, o quão importante esta verdadeira Obra-Prima do Cinema fora para o desenvolvimento de minha paixão pela Sétima Arte. Meu pai lembra-me até hoje da minha reação enquanto assistia ao filme pela primeira vez e, ao ver o protagonista Luke desconcentrando-se de seu treinamento para se tornar um Jedi, acabara, involuntariamente, derrubando o simpático dróide R2-D2. Curioso como sempre fui (e agora, sabe-se lá o porquê, não sou mais), tratei de perguntar ao meu progenitor: “Pai, por que o R2 caiu?”. Sei que a frase é clichê, mas enfim: “Bons tempos aqueles”.

Ficha Técnica:
Título Original: The Empire Strikes Back.
Gênero: Aventura / Ficção Científica.
Tempo de Duração: 124 minutos.
Ano de Lançamento (EUA): 1980.
Estúdio: LucasFilm Ltda.
Distribuição: 20th Century Fox Film Corporation.
Direção: Irvin Kershner.
Roteiro: Leigh Brackett e Lawrence Kasdan, baseado em estória de George Lucas.
Produção: Gary Kurtz.
Música: John Williams.
Direção de Fotografia: Peter Suschitzky.
Desenho de Produção: Norman Reynolds.
Direção de Arte: Leslie Dilley, Harry Lange e Alan Tomkins.
Figurino: John Mollo.
Edição: Paul Hirsch e Marcia Lucas.
Efeitos Especiais: Industrial Light & Magic.
Elenco: Mark Hamill (Luke Skywalker), David Prowse (Darth Vader), James Earl Jones (Darth Vader – Voz), Harrison Ford (Han Solo), Carrie Fisher (Princesa Leia Organa), Frank Oz (Yoda – Voz), Jeremy Bulloch (Boba Fett/Tenente Sheckil), Billy Dee Williams (Lando Calrissian), Alec Guinness (Obi-Wan Kenobi), Anthony Daniels (C3PO), Kenny Baker (R2D2), Peter Mayhew (Chewbacca) e Clive Revill (Imperador Cos Palpatine – Voz).
Sinopse: Após ser descoberta pelos exércitos imperiais, a Aliança Rebelde opta por montar a sua base de operações militares em um local discreto, onde o império jamais possa encontrá-los com facilidade. Entretanto, o Senhor do Mal: Lorde Darth Vader (atuação: David Prowse, voz: James Earl Jones), envia sondas aos sistemas solares mais longínquos do espaço sideral a fim de localizar seus inimigos e o plano funciona perfeitamente. Após uma batalha fortíssima contra o Império, os rebeldes têm muito de seu potencial enfraquecido e decidem fugir para não serem capturados. Luke Skywalker (Mark Hamill) recebe uma visita de seu antigo tutor Obi-Wan Kenobi (Alec Guiness) e este lhe aconselha a procurar por Mestre Yoda (Frank Oz) dando início ao seu treinamento para tornar-se um Jedi. Han Solo (Harrison Ford), Princesa Leia Organa (Carrie Fischer), Chewbaca (Peter Mayhew), R2-D2 (Kenny Baker) e C3PO (Anthony Daniels) conseguem escapar ilesos da frota espacial imperial, mas a sua nave é seriamente atingida e necessita fazer reparos. Para isso, Han Solo decidi ir até Curoscant, encontrar-se com Bobba Fett (Jeremy Bulloch), um velho conhecido, e solicitar-lhe auxílio com os reparos.
Star Wars – Episode V – The Empire Strikes Back – Trailer:

Crítica:
Peço ao leitor que me responda rapidamente a seguinte questão: qual é a primeira coisa que lhe vem à mente quando se pensa em “Star Wars”? Aposto que 90% das pessoas que leram esta pergunta responderam: Darth Vader, estou errado? Pois é, não há como negar que, por mais que personagens como Luke Skywalker, Capitão Han Solo, Princesa Leia, Chewbaka, Mestre Yoda, Obi-Wan Kenobi, e até mesmo os robôs R2-D2 e C3PO nos cativem amplamente, a alma da trilogia é o senhor das trevas: Lorde Darth Vader. Só para se ter uma idéia, em quase todas as listas, elaboradas por cinéfilos, com o intento de eleger os melhores vilões da estória do Cinema, adivinhe só quem encabeça as mesmas com unanimidade? Sim, ele mesmo, Lorde Darth Vader.
Mas o que faz de Vader este personagem tão marcante? Tão onipresente na memória da grande maioria dos fãs da sétima Arte? Seria a sua respiração assustadora e ofegante? Seria a sua fantasia aterrorizadoramente sombria e escura? Seria sua voz vibrante e penetrante? Seriam seus poderes devastadores de Lorde Sith (vide o modo como ele é capaz de sufocar um sujeito que está a anos luz de distância dele)? Creio que seja tudo isso e muito mais, em especial o lado psicológico deste. Vader passa a causar interesse no espectador a partir do momento em que, no episódio anterior, exatamente no intróito do filme, ficamos sabendo, através de Obi-Wan Kenobi, que o vilão já fora um promissor Jedi outrora, mas converteu-se ao lado negro da Força e exterminou a grande maioria dos mestres Jedi. Quais os motivos que levariam um promissor defensor do lado iluminado da Força a tornar-se aquilo que mais odiava? Particularmente, creio que seja exatamente isto que torna Vader um objeto de estudo tão interessante, o modo como o roteiro explora o seu lado psicológico e o transforma em um simples produto do meio e das circunstâncias que este lhe proporcionou. Por mais poderoso que Vader seja, não há como negar que ele possuía inúmeras fraquezas a ponto de ter sua ideologia de vida drasticamente convertida, deslocando-se de uma polaridade para outra, fato que o torna um vilão vulnerável, ou seja, muito mais palpável de se absorver em um contexto real.
Contudo, conforme mencionei em minha crítica, em “Uma Nova Esperança” o grande vilão desta saga acabou não sendo explorado da maneira profunda com que deveria ter sido. Se por um lado o episódio anterior ganha pontos ao conferir vulnerabilidade a Vader, tornando-o um reles subordinado do Comandante Vanden Willard, por outro lado falha na construção do personagem, fazendo-o não cativar o público tanto o quanto deveria. Neste “O Império Contra-Ataca” a situação se inverte. Optando sabiamente por escreverem um roteiro que dá total ênfase ao vilão, Leigh Brackett e Lawrence Kasdan fazem de Vader o âmago deste quinto episódio e, indiscutivelmente, a maior qualidade deste.
A direção de Irvin Kershner é outro ponto fortíssimo do longa e se mostra extremamente competente ao conduzir as cenas protagonizadas por Vader, fazendo com que as mesmas causem o impacto que o roteiro tanto almeja. Note, por exemplo, a perfeição que é o primeiro plano-seqüência, onde vemos o Senhor do Mal dar as caras neste quinto episódio pela primeira vez. Começamos com a brusca movimentação das naves do império pela galáxia, procurando insaciavelmente por membros da Aliança Rebelde. A música Imperial March, brilhantemente orquestrada pelo mestre John Willians, é ressoada de maneira que cause um impacto direto no espectador e, finalmente, vemos Lorde Darth Vader sentado em sua majestosa poltrona. Uma cena arrepiante, marcante, magistralmente bem realizada por Kershner, que confere uma união perfeita entre vários aspectos do longa (direção, direção de arte, trilha-sonora, fotografia, figurino e, é claro, roteiro) e que, por si só, já faz com que o espectador necessite dar uma conferida na obra, mesmo que este não se interesse pela trilogia.
Mas é óbvio que “O Império Contra-Ataca” não se resume apenas a Darth Vader. Contando com um roteiro fabuloso que apresenta uma carga dramática maior que o filme original, este quinto episódio se mostra inquestionavelmente formidável em quase todos os seus aspectos. Comecemos pelo desenvolvimento de seus demais personagens. Em “Uma Nova Esperança”, o longa contava com um ponto indispensável a todo o episódio de abertura de série (ou saga, caso o leitor prefira) que se preze: a aprofundada abordagem de seus protagonistas (salvo Darth Vader, conforme fora previamente mencionado). Este “O Império Contra-Ataca”, contudo, opta engenhosamente por não tentar desenvolver seus personagens de uma maneira individual (coisa que o filme anterior fizera com maestria), o que faria com que o mesmo perdesse muito tempo inutilmente, e o faz através da química elaborada entre dois ou mais personagens e/ou mediante as situações as que os mesmos são respectivamente submetidos.
Há, no entanto, uma falha gravíssima contida no roteiro de “O Império Contra-Ataca” quando este desenvolve a química existente entre dois determinados personagens do longa. Refiro-me a Han Solo e Leia. O flerte entre ambos que havia se iniciado de maneira conveniente e satisfatória no filme anterior, beira o ridículo aqui, obrigando o espectador a se conformar com diálogos forçados e artificiais do tipo: “___ Sei que você me ama, não adianta disfarçar.” ou “___ No fundo você adoraria ficar com um cara bonitão como eu.”. Não bastasse isso, temos uma série de piadinhas ridículas em cima do romance entra ambos e, francamente, não há como não se irritar com a química desenvolvida entre os personagens de Ford e Fisher, pois eles formam o típico casal clichê: “nos odiamos, mas, no fundo, nos amamos!”.
Menos artificial e mais satisfatória é a fantástica química desenvolvida entre o protagonista Luke Skywalker e seu mais novo mentor, o ex-líder do Conselho Jedi: Mestre Yoda. Contando com diálogos cuja superioridade se mostra ululante aos de Han e Leia, o bizarro, mas ainda assim estranhamente cativante, Mestre Yoda dá a Luke (e a nós, espectadores), lições sobre paciência, autoconfiança, plenitude e estabilidade emocional e racional. A inserção do mestre Jedi na trilogia antiga foi um dos pontos mais altos da mesma e não é a toa que este tornou-se um personagem quase tão marcante quanto o próprio Darth Vader. Luke Skywalker também é muito bem desenvolvido em função de tal química, sobretudo a rebeldia do mesmo (note a maneira como este reluta em relação a algumas exigências de Yoda e no modo como ele não segue o conselho do mentor, abandonando-o para salvar os amigos) que muito difere dos dogmas estoicistas adotados por seu pai no primeiro episódio da saga.
As seqüências de aventura também são ótimas e, apesar de ficarem bem aquém das do quarto episódio, se revelam altamente dinâmicas. Ao contrário da grande maioria dos filmes de aventura, a saga “Star Wars” parece preocupar-se em criar situações onde os protagonistas realmente se encontrem em total perigo e nós, espectadores, consigamos desenvolver um elo emocional com os mesmos, praticamente adentrando na pele destes e passando pelos mesmos perigos que eles também passam. A seqüência em que Solo e Léia, a fim de fugir e despistar as naves imperiais, adentram uma tempestade de meteoros e correm seriíssimo risco de vida é uma prova cabal disto. Ainda mais emocionante e tensa é a seqüência inicial em que o Império descobre a nova base de operações da Aliança Rebelde e comanda um ataque à mesma (esta seqüência torna-se ainda mais eficiente quando Darth Vader entra em cena).
“O Império Contra-Ataca” conta também com uma direção de arte que beira à perfeição (principalmente se levarmos em conta a época em que o filme fora produzido). Desta vez, as naves são ainda mais bem detalhadas que no episódio anterior, conferindo ainda mais realismo às mesmas. Os cenários também são fantásticos, em especial Curoscant vista do alto, uma cidade incrivelmente futurística entre as nuvens, algo que incita à imaginação do espectador e confere um crédito ainda maior a toda magia que envolve a obra. Simplesmente fantástico.
Os efeitos visuais também não ficam muito atrás. Da mesma forma que a caracterização do gangster Jabba, the Hutt, impressionava os espectadores pela sua aparência quase real, o mesmo ocorre com o inesquecível Mestre Yoda, mas com uma grande diferença: Yoda, aqui, é ainda mais convincente e real que Jabba, uma vez que seus movimentos são muito menos lentos que os daquele. Outra grande evolução que o filme obteve neste quesito foram as lutas com sabres de luz que ganharam muito mais dinâmica graças aos efeitos visuais. Tais efeitos colaboraram, e muito, para que a luta ocorrida entre Luke e um personagem cuja identidade manterei oculta fosse extremamente emocionante (é claro que se compararmos tal duelo com os ocorridos nos filmes da nova trilogia, estes empalidecem bastante) e se tornasse a cena mais importante de toda a saga “Star Wars”, além, é claro, de ser considerado uma das 10 cenas mais importantes da história do Cinema.
E já que mencionei tal cena, creio que deveria destinar um parágrafo inteiro apenas a esta, tamanha a importância da mesma. Conferindo uma carga dramática extremamente importante e envolvente à seqüência em questão, os roteiristas Leigh Brackett e Lawrence Kasdan souberam perfeitamente como criar de maneira extremamente sutil o clima necessário para que a mesma soasse surpreendente (na verdade, ela é surpreendente apenas para quem ainda não assistiu aos Episódios I, II e III) e emocionante na medida certa. A inserção do diálogo “___ Luke, você é meu filho” também não poderia ter sido realizada de maneira mais conveniente e impactante. Irvin Kershner também se mostra competente o bastante na condução da cena, pois sabe da importância que ela tem para a trilogia de um modo geral e proporciona ao espectador um dos maiores espetáculos já promovidos pela Sétima Arte.
Por fim, a sensação lúgubre que este quinto episódio nos proporciona em relação às incertezas acerca dos futuros dos respectivos protagonista da estória é, não menos, que majestosa e fantástica, pois faz com que roamos as unhas de tensão ao imaginar o que virá pela frente, com o sexto e último (ao menos por enquanto) episódio da saga. E, convenhamos, não há maior toque de genialidade que um filme pertencente à uma trilogia pode causar em seu espectador do que este: deixá-lo assíduo para conferir o próximo episódio sem precisar apelar para artificialidades de roteiro.
Abordando o mais carismático personagem de toda a saga de um modo demasiado aprofundado, “Star Wars – Episódio V – O Império Contra-Ataca” se mostra amplamente matreiro no desenvolvimento deste e, de quebra, cria o maior e mais importante vilão de toda a história do Cinema. Apresentando uma carga dramática bem superior ao filme anterior, este quinto episódio ainda ganha um importantíssimo destaque devido a uma revelação bombástica ocorrida no terceiro ato de sua trama. O desenvolvimento entre os personagens é perfeito, uma vez que este é realizado a partir da química existente entre dois ou mais deles, salvo, é claro, a química desnecessariamente infantil elaborada entre Han Solo e Léia Organa. As seqüências de aventura deixam um pouco a desejar comparadas ao filme anterior, mas são excelentes e tensas o bastante, analisando-as individualmente. O melhor filme de toda a saga.
Avaliação Final: 9,0 na escala de 10,0.

Star Wars – Episódio IV – Uma Nova Esperança – ***** de *****

novembro 30, 2008 Deixe um comentário
Uma das questões mais polêmicas envolvendo a crítica de Cinema encontra-se na eterna discussão sobre a avaliação de um filme ser realizada tomando por base a época de lançamento deste ou o modo como o mesmo envelheceu. Sempre fui crítico ferrenho das análises que levam em conta o envelhecimento do filme. Em primeiro lugar, porque a crítica, na grande maioria dos casos, avalia filmes que estão estreando nos cinemas de seu respectivo país e, muito dificilmente, avaliará os mesmos daqui a cinco anos, que seja. Sendo assim, se a grande maioria dos filmes que são criticados têm por base o período em que foram lançados, por que não fazer o mesmo com os clássicos? Em segundo lugar temos os filmes que revolucionam em sua parte técnica, como é o caso de obras do naipe de um “Metropolis”, “King Kong”, “2001 – Uma Odisséia no Espaço” e, obviamente, este “Star Wars – Episódio IV – Uma Nova Esperança”. Em 1977 ninguém ousaria dizer que este quarto episódio da saga (quarto cronologicamente falando, pois foi o primeiro a ser lançado nos cinemas do mundo todo) conta com efeitos visuais obsoletos, muito pelo contrário, o filme era altamente inovador na época no que diz respeito a este quesito. Entretanto, se o analisarmos fazendo um paralelo com os filmes atuais (inclusive com a nova trilogia – “Star Wars”, que engloba os episódios I, II e III da saga, cujas críticas encontram-se nesta seção do site, logo mais abaixo), o longa, muito bem dirigido por George Lucas, poderá ser tido como obsoleto no que se refere a efeitos visuais. E sejamos francos, podemos considerar uma obra-prima desta magnitude obsoleta? Certamente que não.

Ficha Técnica:
Título Original: Star Wars.
Gênero: Aventura/Ficção Científica.
Tempo de Duração: 121 minutos.
Ano de Lançamento (EUA): 1977.
Estúdio: LucasFilm Ltda.
Distribuição: 20th Century Fox Film Corporation.
Direção: George Lucas.
Roteiro: George Lucas.
Produção: Gary Kurtz.
Música: John Williams.
Direção de Fotografia: Gilbert Taylor.
Desenho de Produção: John Barry.
Direção de Arte: Leslie Dilley e Norman Reynolds.
Figurino: John Mollo.
Edição: Richard Chew, Paul Hirsch e Marcia Lucas.
Efeitos Especiais: Industrial Light & Magic.
Elenco: Mark Hamill (Luke Skywalker), Harrison Ford (Han Solo), Carrie Fisher (Princesa Leia Organa), Peter Cushing (Grand Moff Wilhuff Tarkin), Alec Guinness (Obi-Wan Kenobi), Anthony Daniels (C3PO), Kenny Baker (R2D2), Peter Mayhew (Chewbacca), David Prowse (Darth Vader), Phil Brown (Tio Owen Lars), Shelagh Fraser (Tia Beru Lars), Alex McCrindle (General Jan Dodonna), Eddie Byrne (Comandante Vanden Willard) e James Earl Jones (Darth Vader – Voz).
Sinopse: Após o seu tio adquirir dois andróides para auxiliá-lo nos afazeres de sua fazenda, Luke Skywalker (Mark Hammil) descobre em um deles uma mensagem gravada pela belíssima princesa Leia Organa (Carrie Fisher) para o cavaleiro Jedi Obi-Wan Kenobi (Alec Guiness). Luke decide então procurar o velho Jedi para informar-lhe sobre a mensagem e é a partir deste momento que ambos ficam sabendo que Leia fora seqüestrado e que o Império Galáctico (que assumiu o controle absoluta da Federação no episódio anterior), comandado por Lord Darth Vader (atuação de David Prowse e voz de James Earl Jones), planeja construir uma poderosa estação espacial alcunhada de Estrela da Morte, cuja capacidade de ataque é tão potente que se mostra capaz de destruir um planeta inteiro em fração de segundos. Ambos procuram pelo capitão Hans Solo (Harrison Ford), um piloto mercenário que os leva até a Estrela da Morte e os ajudará a resgatar a princesa Leia e a destruir esta terrível ameaça.
Star Wars – Episode IV – A New Hope – Trailer:

Crítica:
A sensação que se tem ao assistir a este “Uma Nova Esperança” é a de que estamos assistindo a três filmes diferentes, conectados em um só, tamanha a riqueza de detalhes inserida no mesmo. O primeiro “filme” visa desenvolver os seus personagens e nos apresentar a estória de um modo menos amplo. O segundo “filme” já tem como objetivo principal explorar a estória abordada na primeira parte e delinear mais a mesma. O terceiro “filme”, por fim, visa ampliar a outra estória também discutida na primeira parte do longa mostrando o embate final entre a Aliança Rebelde e o Império Galáctico auxiliado pela sua estação espacial alcunhada de “Estrela da Morte”.
A abordagem de todos os personagens é simplesmente fantástica. Ao contrário dos três primeiros episódios da saga, todos os personagens que fazem parte da estória têm uma função importante para o desenvolvimento e conclusão da mesma e isso inclui até mesmo os dróides R2-D2 (Kenny Baker) e C3PO (Anthony Daniels) que, além de servirem como alívio cômico em muitos casos (e, desta vez, a maioria das gags protagonizada por ambos funcionam muito bem e extraem risos do público, ao contrário dos episódios anteriores onde tínhamos empregado um humor demasiado infantilóide em muitas cenas), desempenham, em muitos casos, um papel importantíssimo na trama.
Os personagens principais da estória também são abordados magistralmente pelo roteiro. Luke Skywalker (Mark Hammil), como protagonista da trama, convence muito mais que seu pai Anakin. O jovem é um típico adolescente sonhador cujo conservadorismo do tio, que é tutor do mesmo, o impede de ir para uma faculdade e seguir uma carreira que realmente lhe atraia. Bem diferente de Anakin Skywalker do primeiro episódio, que também residia no planeta Tatooine, Luke é um jovem de bom caráter, mas ainda assim se mostra impulsivo, rebelde, contestador e possui uma personalidade forte.
Os demais personagens também são muito bem desenvolvidos pelo roteiro e merecem destaque nesta análise. Obi-Wan Kenobi (Alec Guiness), que terminara o episódio anterior como um grande herói da República, agora, com a queda desta, aparece aqui como um velho eremita, tido como louco e bruxo aos olhos daqueles que não o conhecem, e nem fazem questão de o conhecer mais amplamente. A princesa Leia (Carrie Fisher), apesar de ser a mocinha que precisa ser resgatada, não segue, nem de longe, o estereotipo desta. Destemida, contestadora e de forte personalidade, mas ainda assim bela, garbosa e inteligente, a personagem é extremamente marcante e se mostra capaz de cativar o público.
Há, no entanto, dois personagens cujo desenvolvimento deixou um pouco a desejar. Refiro-me ao capitão Hans Solo (Harrison Ford) e, acreditem ou não, ao comandante Darth Vader (atuação de David Prowse e voz de James Earl Jones). Começarei pelo primeiro, uma vez que o segundo, certamente, gerará mais polêmica. Solo é um personagem deveras interessante. Seu código de ética e moral parece ter graves falhas e suas atitudes nem um pouco altruístas o tornam um personagem interessantíssimo, principalmente se levarmos em conta que ele é um dos heróis da estória. Todas estas características o colocam em uma posição bem distante do estereotipo do herói altruísta e estóico que estamos acostumados a ver repetidamente nos filmes do gênero. Contudo, há uma passagem ocorrida no final do filme onde Solo toma uma atitude tão discrepante com relação aos seus princípios morais que põe em jogo todo esta concepção de “mercenário que só se preocupa com dinheiro” que havíamos absorvido do mesmo durante a projeção inteira. A justificativa utilizada por este (“___ Não deixaria você (Luke) ficar com a glória toda só para si”) torna a sua atitude um pouco menos artificial, mas ainda assim a mesma não deixa de ser discrepante.
Darth Vader, por sua vez, conta com características para lá de notáveis, que variam deste a sua vestimenta, que nos remete à sensação de estarmos diante de um personagem meio-humano, meio-máquina, à sua assustadora respiração lenta e profunda, passando por seu tom de voz marcante e suas habilidades de ex-cavaleiro Jedi, agora importante Lord Sith. Sempre que Vader está em cena o filme ganha ainda mais destaque, mas o roteiro, infelizmente, não deu a devida importância ao mesmo, sendo que as suas aparições na película acabam sendo poucas, comparadas à importância que este tem para toda a saga “Star Wars”.
O elenco está extremamente bem entrosado e a química entre os atores é um dos pontos mais altos do longa. Note, por exemplo, como as cenas em que Luke Skywalker contracena com Obi-Wan Kenobi conferem um tom bastante especial à trama. O mesmo ocorre com a química existente entre o capitão Hans Solo e a princesa Leia Organa ou então a dinâmica ocorrida nas cenas em que o mesmo Hans Solo contracena com o já citado Luke Skywalker. E é claro que não poderia deixar de destacar a dupla de dróides R2-D2 e C3PO e, até mesmo a cena onde Obi-Wan Kenobi enfrenta Darth Vader que, apesar de curtíssima, confere um tom especial à trama e a química decorrente da transigência das atuações.
Do ponto de vista individual o elenco também demonstra atuações magníficas, em especial por parte de Mark Hammil e Alec Guiness. O primeiro, se mostra um ator extremamente convincente e chama para si a responsabilidade de protagonizar o longa, sem que, para isso, precise roubar a cena dos demais atores. Hammil demonstra um tom de voz seguro, profere seus diálogos com extrema segurança, é hábil em sua interpretação, se mostra extremamente expressivo e carismático. Guiness também realiza uma atuação segura e confere ao seu personagem uma participação muito mais marcante do que a de McGregor nos primeiros episódios (nada contra o ator escocês, já que o ator realizou uma atuação convincente, mas nada que se aproxime da que Guiness realizou neste quarto episódio). O tom de voz empregado pelo ator também outorga ao seu personagem todo o ar de sapiência que lhe é inerente, uma vez que, neste quarto episódio, Obi-Wan adota uma postura de mentor intelectual (fato que também colabora para que o espectador se envolva bem mais com este mestre Kenobi que o protagonista dos episódios anteriores).
As seqüências de ação são todas bem empolgantes e Lucas as dirige de maneira sublime, ainda que movimente a câmera de maneira apenas satisfatória (salvo em uma ou outra seqüência quando arrisca realizar algum travelling) na grande maioria das vezes, o diretor sempre se mostra capaz de conferir mais tensão às mesmas, criando ângulos fantásticos a fim de acompanhá-las (vide, por exemplo, a seqüência em que Luke e Solo confrontam as naves imperiais durante o início do terceiro ato do filme). Dentre as cenas de aventura, destaco, é claro, uma das cenas mais clássicas de toda a saga: o ataque das naves rebeldes realizado à estação espacial “Estrela da Morte”. Francamente, não me recordo de ter assistido a outra cena produzida pela sétima Arte onde os heróis da trama se mostravam expostos a um perigo de vida tão iminente quanto George Lucas os expôs na seqüência em questão.
Há outras cenas de aventura também que merecem muitíssimo destaque, tais como: o resgate da princesa Léia, os tiroteios ocorridos nos corredores da “Estrela da Morte”, a seqüência em que os personagens caem no compartimento de lixo da estação espacial (um exemplo de que pode-se realizar uma cena perfeitamente tensa sem apelar ao uso de efeitos visuais mirabolantes ou gastar rios de dinheiro para tal), a conturbada fuga dos heróis que resulta em uma das perseguições espaciais mais marcantes da história do Cinema (e que empalidece a ótima perseguição espacial ocorrida entre Obi-Wan Kenobi e Jango Fett em “Ataque dos Clones”) e, como não poderia deixar de ser, a luta final de sabres de luz travada entre o Jedi Kenobi e o Sith Darth Vader que, apesar de ter envelhecido mal em virtude dos efeitos especiais da época estarem obsoletos nos tempos atuais, principalmente se levarmos em conta os efeitos empregados para conduzir as lutas do gênero ocorridas na trilogia atual, é extremamente marcante em virtude da maneira como se encerra e marcou uma geração inteira, aja visto que fora a primeira luta com armas desta categoria exibida nos cinemas.
Encerrando este texto, gostaria de comentar outros qautro aspectos que também marcaram este filme e o elevou à mais do que merecida intitulação de clássico absoluto do Cinema: refiro-me à trilha-sonora, ao figurino, à direção de arte e aos efeitos visuais. A primeira, como todos sabem, é marcante e figura facilmente entre as melhores da história do Cinema. A música tema é cativante, parece ter vida própria, só falta respirar (será?). As demais músicas também são fantásticas e realizam um casamento praticamente perfeito com as respectivas cenas em que são empregadas. O figurino, por sua vez, não poderia ser mais perfeito. Quem imaginaria, em plena década de 70, ver nos cinemas um homem com um traje igual ao de Darth Vader? Ou um uniforme igual ao do exército imperial? A direção de arte também é impecável, repare, por exemplo, na riqueza de detalhes das espaço-naves ou nos edifícios do planeta Tatooine. Os efeitos visuais, apesar de estarem ultrapassados se comparados aos filmes atuais foram revolucionários na época, e não é para menos. Imagine a sensação que se tem, em pleno ano de 1977, você ir ao cinema e se deparar com uma criatura como Jabba – The Hutt? E o que dizer então da perfeição com que os efeitos visuais construíram o personagem, dando ao mesmo movimentos bastante naturais?
Considerado pela grande maioria dos cinéfilos como a Ficção Científica de Cultura Pop definitiva, “Uma Nova Esperança” pode ser encarado como um marco na história do Cinema por ter dado início a uma das mais bem sucedidas (tanto do ponto de vista comercial como artístico) franquias já realizadas até os dias de hoje. O longa conta com algumas falhas na construção de alguns poucos personagens e a estória de resgate adotada aqui é um pouco batida, mas os seus protagonistas são bastante cativantes e o roteiro os aborda de um modo que os torna ainda mais marcantes. As atuações de todo o elenco são mais do que satisfatórias e os atores possuem uma química fantástica entre si. O filme se enriquece ainda mais com a ótima direção de George Lucas e outros aspectos tais como: edição, trilha-sonora, direção de arte, figurino, efeitos sonoros, efeitos visuais e, é claro, suas seqüências de aventura, que são tensas e memoráveis na medida certa. Uma aventura indiscutivelmente digna de toda a badalação que possui.
Avaliação Final: 9,0 na escala de 10,0.

Star Wars – Episódio III – A Vingança dos Sith – **** de *****

novembro 28, 2008 Deixe um comentário
Lembro-me que quando fui assistir a este terceiro episódio no cinema (desta vez sozinho, como eu gosto) meu fanatismo pela saga “Star Wars” havia sido reduzido consideravelmente (foi em 2.005, eu estava com 21 anos na ocasião), principalmente em virtude do impacto que a trilogia “O Senhor dos Anéis” havia causado em mim e também pelo fato de, na época, os meus gostos cinematográficos estarem completamente voltados aos filmes cult de Arte, sendo assim, ao invés de passar algumas horas assistindo a um blockbuster eu preferia muito mais aproveitar o tempo assistindo a um Kubrick, ou um Bergman, ou um Fellini. Felizmente venci o preconceito que possuía na época e, atualmente, apesar de preferir muito mais os chamados cult de Arte, valorizo, e muito, os blockbusters. Tendo em vista isso, vejo-me capaz agora de avaliar este longa como o mesmo realmente deve ser avaliado: como um ótimo filme comercial.


Ficha Técnica:

Título Original: Star Wars: Episode 3 – Revenge of the Sith
Gênero: Aventura / Ficção Científica
Tempo de Duração: 146 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2005
Estúdio: Lucasfilm Ltd.
Distribuição: 20th Century Fox Film Corp.
Direção: George Lucas
Roteiro: George Lucas
Produção: Rick McCallum
Música: John Williams
Fotografia: David Tattersall
Desenho de Produção: Gavin Bocquet
Direção de Arte: Ian Gracie, Phil Harvey, David Lee e Peter Russell
Figurino: Trisha Biggar
Edição: Roger Barton e Ben Burtt
Efeitos Especiais: Industrial Light & Magic

Elenco: Hayden Christensen (Anakin Skywalker / Darth Vader), Ewan McGregor (Obi-Wan Kenobi), Ian McDiarmid (Chanceler Supremo / Imperador Palpatine / Darth Sidious), Natalie Portman (Senadora Amidala / Padmé Naberrie-Skywalker), Samuel L. Jackson (Mace Windu), Christopher Lee (Conde Dooku / Darth Tyranus), Anthony Daniels (C-3PO), Kenny Baker (R2-D2), Peter Mayhew (Chewbacca), Frank Oz (Yoda – voz), Jimmy Smits (Senador Bail Organa), Genevieve O’Reilly (Senador Mon Mothma), Ahmed Best (Jar Jar Binks), Jay Laga’aia (Capitão Typho), Joel Edgerton (Owen Lars), Oliver Ford Davies (Governador Whitesun-Lars), Temuera Morrison (Comandante Cody / Comandante Thire / Comandante Bly), Keisha Castle-Hughes (Rainha Apailana), Rebecca Jackson Mendoza (Rainha de Alderaan), Bruce Spence (Tion Medon), Kee Chan (Senador Male-Dee), Ling Bai (Senadora Bana Breemu), Warren Owens (Senador Fang Zar), Rena Owen (Senadora Nee Alavar), Christopher Kirby (Senador Giddean Danu), Matt Sloan (Plo Koon), Rohan Nichol (Capitão Antilles), Matthew Wood (General Grievous – voz), James Earl Jones (Darth Vader – voz) e George Lucas (Barão Papanoida).

Sinopse: Após salvar o Senador Palpatine, que fora seqüestrado pelos exércitos rebeldes, Anakin Skywalker se torna ainda mais íntimo deste. Entretanto, o jovem aprendiz de Obi-Wan Kenobi não sabe que o Senador almeja tomar o poder absoluto e utilizá-lo como principal ferramenta para tal.

Star Wars: Episode 3 – Revenge of the Sith – Trailer:

Crítica:

A sensação que este “A Vingança dos Sith” deixou nos fãs da saga “Star Wars” durante o seu lançamento nos cinemas foi provavelmente a mesma sensação de angústia que “O Retorno do Rei” deixou nos fãs da saga “O Senhor dos Anéis” ou “A Última Cruzada” deixou nos fãs da trilogia “Indiana Jones” (que recentemente fora estendida com um interessante quarto episódio). Afinal de contas, os milhões de fãs que a mesma possui já não poderiam mais lotar as salas de cinema do mundo todo a fim de se reencontrar com o mundo mágico criado por George Lucas em uma aventura inédita. Mas ao menos serve de consolo o fato destes fãs saberem que a saga, a partir do momento que este terceiro episódio estreasse nos cinemas do mundo todo, estaria completa e que, agora, todas as pontas existentes entre a antiga e a atual trilogia encontravam-se, finalmente, completamente amarradas.

É uma tarefa muito árdua, no entanto, amarrar todas as pontas de ambas as trilogias de um modo realmente convincente e satisfatório. Pode-se confirmar isto neste “A Vingança dos Sith” onde, ironicamente, as maiores falhas e os maiores acertos do mesmo residem, justamente, na tentativa do roteiro criar elos entre uma trilogia e outra. Vide o maior erro do roteiro, por exemplo, que consiste em mostrar o principal motivo que teria levado Anakin Skywalker a abraçar o lado escuro da Força. Após ter uma visão, durante um sonho seu, onde sua esposa Padmé Amidala (que agora encontra-se grávida) perde a vida após dar a luz a um filho seu, o jovem Padawan passa a buscar medidas desesperadas a fim de evitar que tal fato seja concretizado. Ao saber da situação em que o jovem se encontra, o Senador Palpatine, Chanceler Supremo da Federação e Mestre dos Lords Sith (uma espécie de Jedi que utiliza a Força apenas para benefício próprio), propõe a Skywalker que este se una a ele no combate contra os Jedi e em troca, o político ensinará ao jovem os poderes do lado escuro da Força que poderão salvar a vida de Padmé. Francamente, uma lastimável e artificial solução que o roteiro encontrou para fazer com que o jovem muda-se completamente de posição ideológica.

Por outro lado, o mesmo roteiro que apresenta uma solução tão simplória e artificial para a mudança de caráter repentina de Skywalker, se revela extremamente satisfatório ao trabalhar os demais pontos que fizeram com que o aprendiz de Obi-Wan Kenobi sofresse tal mutação ideológica. Uma vez que o episódio anterior já cumprira a excelente tarefa de desenvolver Anakin de maneira bastante convincente, este terceiro episódio opta inteligentemente por não tentar desenvolver o personagem ainda mais. Ao invés disso, o roteiro toma a brilhante decisão de desenvolver o Senador Palpatine e o jogo psicológico que este realiza em Anakin, fazendo-o mudar completamente de lado (e sinceramente, se o roteiro não tivesse tomado tal atitude, a mudança de lado do protagonista soaria extremamente artificial e o filme se revelaria extremamente falho).

Conforme pudemos testemunhar em “Ataque dos Clones”, Anakin Skywalker era um jovem talentoso, mas extremamente arrogante e precipitado. Neste “A Vingança dos Sith” a sua impaciência aumenta cada vez mais levando em conta a insistência do Conselho Jedi em não conferir a ele o título de Cavaleiro Jedi (os membros do Conselho têm dúvidas quanto a Anakin em virtude à arrogância do rapaz e aos fortes laços que este tem com o Chanceler Palpatine, algo que, indiretamente, quebra a independência dos Jedi para com os políticos) e designar-lhe missões que realmente ponham em teste as suas inúmeras habilidades. Aproveitando-se da impaciência do aprendiz de Obi-Wan Kenobi e do gênio vaidoso deste, Palpatine trabalha, através de argumentos convincentes, a mente do jovem rapaz e o incentiva a auxiliá-lo a tomar o poder absoluto. A maneira como o roteiro desenvolve Palpatine, suas táticas de persuasão (salvo as que envolvem Padmé que, conforme fora citado, soam artificiais) e seus diálogos é, não menos, do que excelente. Tudo foi cuidadosamente arquitetado pelo roteiro, para que a maior parte das alterações de caráter de Anakin não soassem artificiais.

O grande trunfo do roteiro, no entanto, consiste na virada espetacular que este dá na estória, a partir do início de seu segundo ato. A sensação que temos quando Palpatine põe em prática a sua “Ordem 66” (cuja descrição não irei fazer a fim de não estragar algumas surpresas) é a de que Lucas utilizou magistralmente os dois episódios anteriores (e, francamente, as pessoas que afirmam que este terceiro episódio tornou os outros dois desnecessários, simplesmente não sabem o que estão falando) a fim de mover estrategicamente todas as suas peças pelo tabuleiro e, quando chegasse o momento oportuno, utilizaria este terceiro episódio para dar o xeque-mate. E é justamente isto o que ocorre, cada peça movida nos longas anteriores teve importância vital para a conclusão desta trama, para o clássico desfecho da mesma. Simplesmente fascinante. Tão fascinante quanto à tristeza que nos assola ao ver a Ordem Jedi sendo completamente destruída.

As seqüências de aventura também são outra característica do filme que alternam entre altos e baixos. Logo no início somos apresentados à dupla de Jedis de “Ataque dos Clones”, Anakin e Obi-Wan, em uma missão de extrema importância: libertar o Senador Palpatine, que fora raptado pelo temível Conde Dookan. É exatamente nesta cena que podemos, pela primeira vez em toda a trilogia, notar a habilidade de Lucas na movimentação de câmeras. Pela primeira vez nesta trilogia vemos o “padrinho de todos os nerds” (como é conhecido o diretor) acompanhando as seqüências de ação de uma maneira realmente incrível. Note o modo como Lucas acompanha as naves espaciais durante a batalha, a movimentação com a câmera é perfeita e dá muita credibilidade à cena em si. Outro aspecto que conta muitos pontos a favor desta cena é a direção de arte que constrói, de maneira estupenda, uma nave espacial gigantesca fantástica. Tal seqüência parece ter sido sublimemente montada por Lucas a fim de homenagear as antigas batalhas intergalácticas contra um dos símbolos máximos da série, a Estrela-da-Morte, ocorridas na trilogia anterior.

Contudo, nem todas as cenas envolvendo aventura são tão magistrais quanto a seqüência acima citada (milagre eu não ter escrito “supracitada”, não?). Vide o duelo de sabres de luz travado entre Anakin Skywalker e Conde Dookan, apenas para citar um exemplo. Em virtude do que vimos no filme anterior, esperava-se uma luta bem mais consistente, empolgante, e isso acaba não ocorrendo. Temos aqui uma luta interessante, bem coreografada, mas que deveria ter sido mais bem trabalhada, principalmente do ponto de vista emocional, do que acabou sendo. Outra luta decepcionante é a ocorrida entre Obi-Wan Kenobi e o General Grievous, principalmente se levarmos em conta o interesse que a mesma nos desperta ao ficarmos sabendo que o segundo combatente, por possuir quatro braços, irá utilizar quatro sabres de luz simultaneamente, tornando a tarefa de derrotá-lo praticamente impossível ao destemido Jedi. No entanto, Kenobi derrota-o muito facilmente, o que torna a seqüência pouco emocionante. Por outro lado, as demais seqüências de ação envolvendo sabres de luz são fantásticas, em especial a mirabolante e empolgante luta entre Obi-Wan Kenobi e Anakin Skywalker, agora Lord Darth Vader. Simplesmente um dos mais empolgantes duelos já proporcionados pelo Cinema e que, infelizmente, devido à baixa tecnologia da época e orçamento nem tão estrondoso quanto o utilizado nos filmes atuais, viria a se repetir de um modo bem menos interessante durante o quarto episódio da saga. Devo destacar também a luta entre Mace Windu e Lord Darth Sidious cujos cuidados com o resultado final foram tantos que acabaram envolvendo 102 movimentos e três grandes salas para ser filmada.

A direção de arte, como já era de se esperar (uma vez que esta se revela o ponto alto de toda a trilogia), é, não menos, do que estupenda, e mais: é empregada aqui de maneira ainda mais eficiente do que havia sido empregada nos filmes anteriores. Repare na beleza plástica que é Coruscant à noite, ou no salão de ópera onde Anakin tem uma das conversas mais importantes do filme com o Senador Palpatine, ou no verde natural estonteante do Planeta Utapau e ainda na beleza vulcânica do Planeta Mustafar (a propósito, a direção de arte majestosa do cenário aqui engrandece ainda mais a magnífica e dramática luta de sabres entre Obi-Wan Kenobi e Darth Vader).

Os demais aspectos técnicos do longa também não decepcionam. A fotografia, como sempre, é belíssima e dá ainda mais realce aos fabulosos cenários criados pela estupenda direção de arte, a trilha-sonora engrandece ainda mais as seqüências de aventura, suspense e drama do filme e o figurino também é sensacional, bastante diversificado e riquíssimo em detalhes, algo que fertiliza ainda mais a magia por trás do longa.

As atuações, no entanto, decepcionam e, se comparadas a “O Ataque dos Clones”, empalidecem consideravelmente. Se por um lado Ian McDiarmid realiza um trabalho supremo ao assumir a pele do Senador Palpatine e do Lord Darth Sidious (sinceramente, não vejo melhor ator para cumprir tal função), por outro lado o excelente Christopher Lee aparece muito pouco e os demais atores, nem de longe, conseguem criar uma atuação tão marcante quanto a que ele realizou no longa anterior. Ewan McGregor, se revela um bom ator neste longa, mas falha em algumas cenas onde precisaria fazer uma entonação de voz mais dramática. Natalie Portman só atua de maneira definitivamente convincente ao final do filme, que é justamente quando o roteiro confere uma carga dramática muito mais forte a sua personagem. Nas demais cenas, a atriz jerusalense não adota uma carga dramática forte o bastante para fazer com que a sua personagem se aproxime do público.

E quanto à atuação de Hayden Christensen? Bem, digamos que esta merece um parágrafo único para ser comentada de forma mais aprofundada. Christensen realiza uma atuação bastante irregular no longa e, assim como as cenas de aventura e as artimanhas utilizadas pelo roteiro a fim de amarrar a trama, seu trabalho aqui alterna constantemente entra altos e baixos (só que, neste caso ao menos, devo dar mais ênfase à palavra “baixos” que à palavra “altos”). Note, por exemplo, a maneira artificial como ele emprega um tom de voz ridiculamente grave e sombrio quando diz: “___ Eu lhe ofereço o meu empenho em troca de vossos ensinamentos!”. Por outro lado, o ator canadense emprega, durante muitas cenas, a expressão de uma pessoa realmente frustrada, cujas esperanças naquilo que julgava ser o certo a se fazer se revelam cada vez mais nulas, escassas e minguantes. Contudo, faltou a Christensen mais talento, mais expressividade, mais dramatização em sua composição, faltou algo que realmente convencesse o público de que ele é Darth Vader, ele é a alma de toda a trilogia.

Preparando a finalização deste texto, comentarei sobre outro ponto que também alterna entre altos e baixos (sim, mais um, este filme definitivamente se revelou uma montanha russa artística): os diálogos. Ao mesmo tempo em que temos diálogos extremamente inteligentes do tipo “O Bem é apenas um ponto de vista” (algo que Lucas, voluntaria ou involuntariamente, extraiu de filosofia nieztschiana) e “Era para você trazer equilíbrio à Força, não jogá-la na escuridão”, Lucas quase joga seu roteiro no lixo com absurdos do tipo: “Não, você vai tentar me matar!” (resposta de Skywalker a Kenobi quando o segundo diz que irá matá-lo). Para piorar a situação, o tom de voz empregado por Christensen a fim de declamar tal oração é tão artificial que torna a cena ainda mais ridícula do que ela já seria por si só. Ah, e é claro que não poderíamos ficar sem o clássico e clichê “Nããããããããããão!” proferido da maneira mais piegas o possível pelo protagonista.

Resumindo, “A Vingança dos Sith” é um filme que alterna entre altos e baixos, mas o saldo final acaba sendo incontestavelmente positivo. Utilizando algumas táticas incríveis a fim de preencher as lacunas deixadas em aberto na unificação da trilogia antiga com esta nova, Lucas se revela um roteirista de mão cheia, mas que erra gravemente algumas vezes, quando tenta, por exemplo, criar um motivo para que Anakin Skywalker opta-se por pender ao lado escuro da Força envolvendo a sua amada esposa. As seqüências de aventura são, em sua maioria, muito boas, mas decepcionam completamente o público em alguns casos. As atuações em sua maioria são boas (e nada além de boas), salvo Hayden Christensen que se mostra completamente irregular durante o filme inteiro. A parte técnica deste terceiro episódio é irretocável e o longa encerra a saga com maestria, servindo como uma perfeita ponte que dá liga as duas trilogias.

Ah, e como não poderia deixar de ser, encerrarei definitivamente este texto realizando um rápido comentário sobre a trilogia inteira. Diria, antes de tudo, que nenhum dos três episódios se revela dispensável, desnecessário ou fraco (conforme muitas pessoas dizem), muito pelo contrário, cada um possui a sua função. O primeiro trata de oferecer ligeiras explicações sobre vários pontos que viriam a ser abordados futuramente, tais como: o que vem a ser a Força, como fora a infância de Anakin Skywalker, como Obi-Wan Kenobi passou a treiná-lo e muitas outras coisas que ficariam completamente vagas sem este primeiro episódio. “Ataque dos Clones”, por sua vez, encarregou-se de explorar os personagens principais da trilogia, amarrar algumas pontas deixadas, propositadamente, em aberto pelo primeiro filme, iniciar (ainda que de maneira artificial) o importante romance entre Anakin e Padmé, e, acima de tudo, dar início à demonstração das falhas de caráter apresentadas pelo aprendiz de Obi-Wan Kenobi, fato que o levaria ao destino que teria de traçar em um futuro não muito distante. O terceiro episódio, finalmente, se revela o ponto alto da trama e preenche todas as lacunas deixadas em aberto pelos dois longas anteriores. A trilogia nova realmente não faz jus à antiga, mas ainda assim se mostra altamente importante para uma melhor compreensão daquela, além, é claro, de se revelar uma ótima experiência cinematográfica se fizermos um balanço geral da mesma.

Avaliação Final: 8,5 na escala de 10,0.

Star Wars – Episódio II – Ataque dos Clones – **** de *****

novembro 28, 2008 Deixe um comentário
Lembro-me muito bem da primeira vez em que assisti a este filme. Fui ao cinema junto de dois amigos (algo raro de se acontecer, pois geralmente vou ao cinema sozinho) e encontrava-me no auge de meu fanatismo incondicional por “Star Wars”. Lembro-me que, na época (foi em 2002, eu possuía 18 anos), só havia uma coisa que me atraia mais do que a saga dirigida por George Lucas: o estilo musical Heavy Metal, em especial o melódico produzido na Alemanha (não citei o substantivo “mulher” aqui, pois soaria clichê demais). No mais, tudo que me vinha à mente estava, direta ou indiretamente, voltado à saga “Star Wars”, tudo mesmo. Quando assisti ao filme pela primeira vez, como não poderia deixar de ser, achei-o perfeito. Hoje em dia, com o fanatismo pela série bem menor que durante a época supracitada, pude conferir o mesmo utilizando a razão acima de tudo e constatar que, apesar de ótimo, o filme conta com algumas visíveis falhas, conforme o leitor poderá constatar no texto a seguir.

Ficha Técnica:
Título Original: Star Wars: Episode II – Attack of the Clones
Gênero: Aventura / Ficção Científica
Tempo de Duração: 144 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2002
Estúdio: Lucasfilm Ltd. / JAK Productions Ltd.
Distribuição: 20th Century Fox Film Corporation
Direção: George Lucas
Roteiro: Jonathan Hales e George Lucas
Produção: Rick McCallum
Música: John Williams
Fotografia: David Tattersall
Desenho de Produção: Gavin Bocquet
Direção de Arte: Phil Harvey e Jonathan Lee
Figurino: Trisha Biggar
Edição: Ben Burtt
Efeitos Especiais: Industrial Light & Magic

Elenco: Ewan McGregor (Obi-Wan Kenobi), Hayden Christensen (Anakin Skywalker), Natalie Portman (Senadora Padmé Amidala), Ian McDiarmid (Chanceler Palpatine), Pernilla August (Shmi Skywalker), Jack Thompson (Cliegg Lars), Anthony Daniels (C-3PO / Tenente Faytonni), Christopher Lee (Conde Dooku), Samuel L. Jackson (Mace Windu), Frank Oz (Yoda – voz), Andrew Secombe (Watto – voz), Oliver Ford Davies (Sio Bibble), Silas Carson (Viceroy Nute Gunray / Ki-Adi-Mundi), Kenny Baker (R2-D2), Ahmed Best (Jar Jar Binks / Achk Med-Beq – vozes), Jimmy Smits (Senador Bail Organa), Ayesha Dharker (Rainha Jamillia), Joel Edgerton (Owen Lars), Bonnie Piesse (Beru Whitesun), Temuera Morrison (Jango Fett) e Daniel Logan (Boba Fett).

Sinopse: Com uma crise assolada por toda a República, rebeldes separatistas ameaçam iniciar uma guerra civil intergaláctica. Para evitar que tal tragédia ocorra, a, agora, Senadora do planeta Naboo, Padmé Amidala (Natalie Portman), desembarca em Coruscant, a fim de votar a favor da criação de um exército para ajudar os valentes cavaleiros Jedi a manter a paz por toda a Federação. Entretanto, um inesperado atentado contra a Senadora ocorre na plataforma de desembarque e, após escapar ilesa, a mesma é posta aos cuidados do Jedi Obi-Wan Kenobi (Ewan McGergor) e de seu Padawan Anakin Skywalker (Hayden Christensen). O primeiro deverá investigar quem está por trás de tal atentado, ao passo que o segundo deverá escoltar a política até o seu planeta natal e protegê-la a todo custo. Contudo, um perigoso romance passa a acontecer entre Anakin e Padmé.

Star Wars – Episode II – Attack of the Clones – Trailer:

Crítica:

Não sei ao certo se foi George Lucas quem decidiu dar ouvido às críticas negativas direcionadas ao episódio anterior a este “Ataque dos Clones” ou se foi ele mesmo quem decidiu repensar por si próprio nos diversos erros que havia cometido em “A Ameaça Fantasma”. A única coisa que sei é que o consagrado diretor parece ter aprendido com os erros cometidos no primeiro episódio e os corrigido durante a produção deste segundo (entre tais erros corrigidos, cito ligeiramente a feliz decisão de conferir bem menos importância à irritante criatura Jar Jar Binks). O problema é que, ainda assim, Lucas não foi capaz de evitar certos erros que nem ao menos existiam no episódio antecessor e surgiram pela primeira vez aqui.

Ao contrário de “A Ameaça Fantasma”, este “Ataque dos Clones” conta com atuações ótimas e carismáticas, fazendo com que nos cativemos com a grande maioria de seus personagens, diferentemente do que acontecia no longa anterior. Ewan McGregor e Natalie Portman tiveram uma, mais do que visível, evolução em suas respectivas atuações e o estreante Hayden Christensen também não faz feio ao assumir o personagem de Anakin Skywalker. A química e o entrosamento entre as peças do elenco também tiveram uma relevante evolução, e isso acabou colaborando, e muito, para o resultado final do filme.

Mas não apenas as atuações de todo o elenco, como também o próprio roteiro, teve uma contribuição indispensável para que a relação público-personagens se saísse da melhor maneira o possível. Conseguindo criar subtramas que acabam desenvolvendo seus protagonistas de maneira bastante convincente, Lucas traça o perfil dos três personagens principais tomando por base as atitudes que estes adotam de acordo com uma determinada situação vivenciada por cada um.

Anakin Skywalker é, indubitavelmente, o personagem mais bem explorado pelo roteiro. Precipitado, arrogante (infelizmente o roteiro erra um pouco na dose de tal arrogância, tornando o personagem artificial demais durante alguns pouquíssimos minutos de projeção), irracional e de temperamento explosivo e imprevisível, o jovem aprendiz de Jedi nem de longe lembra o garoto estoicista e altruísta do longa anterior. Por outro lado, o roteiro também prima por distanciar o Anakin deste “Ataque dos Clones” do personagem que ele virá a se transformar no terceiro episódio. O Anakin Skywalker deste segundo episódio é o perfeito intermédio entre o garoto de índole inquestionável de “A Ameaça Fantasma” e o adulto frustrado com os seus sonhos que será abordado no episódio sucessor a este. Skywalker é a prova definitiva de que o ser humano, por melhor que seja, pode ser convertido e influenciado pelo meio e pelas circunstâncias que o cercam.

Obi-Wan Kenobi, que havia passado meio batido no longa anterior, também é muito bem aproveitado pelo roteiro deste longa e a atuação consistente e carismática de McGregor colabora muito para isso. Revelando-se um homem racional, sério, comprometido com o serviço, mas extremamente precipitado e involuntariamente autoritário e possessivo, o caráter do mestre Jedi é amplamente exposto neste filme e colabora muito para que percebamos o quão este personagem influencia, tanto negativamente quanto positivamente, Anakin Skywalker, colaborando imensamente para o destino cruel e sombrio reservado a este.

Padmé Amidala, muito provavelmente, é a protagonista que menos foi aproveitada pelo roteiro, apesar de ter sido muitíssimo bem empregada pelo mesmo. Antes, rainha de Naboo, agora, senadora deste mesmo planeta, a garota se mostra amável, honesta, empenhada, determinada, mas é sempre extremamente racional e faz o possível para evitar um previsível romance com Anakin Skywalker imaginando que isto causaria danos irreversíveis a ambos.

E aproveitando a menção que fiz ao romance entre Anakin e Padmé, devo dizer que o mesmo alterna entre altos e baixos constantemente. O casal não possui muita química, diga-se a verdade, mas ainda assim acaba, estranhamente, nos cativando (talvez seja pelo simples fato de sabermos a importância fundamental que tal envolvimento terá nos episódios posteriores). O relacionamento entre ambos, infelizmente, se apóia em alguns planos clichês imperdoáveis, com direito a cenas em que ambos rolam na grama de um local altamente paradisíaco e, é claro, ao primeiro beijo trocado entre ambos (também em um local de vista paradisíaca) com direito a um artificial pós-arrependimento por parte da jovem senadora que diz: “___ Não, não está certo fazermos isso!”. Ainda assim, tal envolvimento amoroso é de suma importância para a hexalogia inteira (e, provavelmente, é um dos pontos mais importantes que foram abordados por esta nova trilogia).

Outro fato importantíssimo ocorrido neste “Ataque dos Clones” e que, posteriormente, irá colaborar, e muito, para a transformação de Anakin Skywalker no temível personagem que o destina, é o falecimento de uma determinada pessoa muito querida por ele (cujo nome, obviamente, não irei revelar). Contudo, da mesma forma que o romance entre Anakin e Padmé alterna entre altos e baixos, a seqüência da morte de tal pessoa segue o mesmo caminho. Abusando de um clássico clichê hollywoodiano, Lucas dirige a cena com uma dose de pieguice, com direito a presenciarmos a pessoa morrendo nos braços de Anakin, dizendo: “Eu te amo!”. Por outro lado, o modo como o roteiro trabalha a influência que tal baque causa ao personagem é sensacional e sentimos na pele todo o ódio despertado dentro deste. Infelizmente tal seqüência se encerra com uma falha que poderia, e deveria, ter sido facilmente evitada por Lucas: o excesso na atuação de Christensen. A fim de demonstrar toda a sua ira, o jovem ator exagerou nas expressões de cólera e na tentativa de se revelar um bad ass, tornando a seqüência toda um tanto o quanto exagerada. O roteiro também não colabora muito com o desfecho da cena e cria diálogos patéticos do tipo: “___ Matei a todos eles. Não só aos homens, como também mulheres e crianças!”.

A estória, por sua vez, é ótima e é justamente ela que se revela o grande diferencial desta obra. Ao contrário do primeiro longa que não se preocupou em criar uma estória complexa e profunda (já que nem precisava disto, uma vez que a intenção do filme, conforme citei em minha crítica, era introduzir o espectador no universo “Star Wars” e isto ele se revelou capaz de fazer), este “Ataque dos Clones” conta com uma trama bem complexa e, por que não dizer, misteriosa. Logo no intróito da película somos lançados em um atentado completamente inesperado à Senadora Amidala, a fim de impedir com que esta vote na formação de um exército que irá impedir com que grupos rebeldes separatistas iniciem uma guerra civil intergaláctica. A partir daí, Obi-Wan Kenobi é designado para descobrir quem está por trás de tal tentativa de assassinato e Anakin Skywalker recebe a missão de proteger Padmé Amidala.

A sorte do roteiro, no entanto, é que a sua estória se revela suficientemente interessante para prender o público alvo e ele a desenvolve muito bem, pois se fossemos depender das cenas de ação para tal (conforme ocorreu no episódio anterior), o filme certamente teria encontrado sérios problemas em cativar o espectador. Não que as seqüências de aventura não sejam boas, muito pelo contrário, são ótimas e diria que superam facilmente todas as cenas de ação do longa anterior, mas o problema é que neste segundo episódio elas são muito más distribuídas, diferentemente de “A Ameaça Fantasma”.

Certamente cenas como a perseguição de carros ocorrida logo no início do longa, a perseguição espacial ocorrida entre Jango Fett e Obi-Wan Kenobi, as lutas na arena, o ataque que o exército de clones (cena esta que intitula o filme) realiza contra os rebeldes separatistas e, é claro, as lutas com sabres de luz (estas, inclusive, contam com uma sensacional, embora curta e, até mesmo, decepcionante, participação inesperada e inusitada de um personagem altamente surpreendente que manterei no anonimato por razões óbvias) empolgam, e muito, o espectador.

O grande problema, no entanto, é o fato de elas estarem concentradas mais no primeiro e terceiro atos do filme, tornando o segundo ato um tanto o quanto cansativo durante alguns minutos de projeção. A trama, conforme já havia mencionado, é interessante o bastante para prender o espectador, mas até mesmo ela acaba não evoluindo o bastante sem as seqüências de ação que deveriam conter no segundo ato.

Uma vez comentadas as seqüências de ação do longa, vale ressaltar também a direção de George Lucas durante estas. Não apenas o modo como o diretor conduz o seu elenco, como também a maneira que ele conduz as cenas de aventura, tiveram uma visível e agradável melhora. Se antes Lucas havia se revelado um patético diretor, aqui ele se mostrou muito mais competente ao conduzir o filme e, apesar de não realizar movimentações com a câmera acima da média, se revelou capaz de criar ângulos muito interessantes, principalmente durante o ataque dos clones, onde ele cria fantásticas tomadas aéreas, posicionando as câmeras dentro das espaçonaves, colaborando assim para um considerável aumento no clima de tensão de tais seqüências.

A parte técnica do longa também conta muitos pontos para a sua avaliação final. Os efeitos visuais, desta vez, se mostram ainda mais superiores que os do longa anterior e tornam todas as seqüências de ação ainda mais eletrizantes do que elas já seriam por si só. A direção de arte, no entanto, não se mostra capaz de criar cenários tão magníficos quanto os do longa anterior e não conta com a mesma criatividade demonstrada anteriormente, mas ainda assim nos apresenta a lugares fantásticos como o chuvoso Planeta Kamino (em especial o interior dos palacetes deste. Note como é impossível não se encher os olhos face ao excelente emprego do branco futurista como decoração interna), a arena e a fábrica de robôs do planeta Geonosis, além, é claro, de Coruscant e Naboo, que aqui contam com alguns lugares fantásticos que ainda não haviam sido explorados pelo longa anterior.

Outra agradável surpresa inserida neste filme é a fantástica atuação de Christopher Lee. Empregando um tom de voz simplesmente fabuloso, o ator faz de seu Conde Dookan um dos personagens mais marcantes desta nova trilogia. Sua atuação, como sempre, é consistente e convincente e a cada momento em que o ator aparece em cena o filme evolui consideravelmente.

Por fim, gostaria de comentar uma cena em especial do filme que foi capaz de me arrepiar inteiro, e provavelmente arrepiou, ou irá arrepiar (caso a pessoa ainda não tenha assistido ao longa) a todos os starwarsmaníacos. Refiro-me à cena onde vemos todos os principais membros do lado escuro da Força reunidos em um camarote, avistando de cima, a marcha de um gigantesco grupo de clones. O grande marco desta cena, certamente, reside nos primeiros acordes tocados da fantástica Marcha Imperial, tema composto pelo genial John Willians (que não bastasse ter composto a fantástica trilha-sonora da hexalogia “Star Wars”, compôs também a inesquecível trilha-sonora da ótima trilogia “Indiana Jones”). Cronologicamente falando, é a primeira vez que escutamos a música sendo tocada e, só isso, já basta para encher os olhos de qualquer fanzóide da série (isto inclui este que vos escreve) de lágrimas.

Optando sabiamente por corrigir os erros que havia cometido em “A Ameaça Fantasma”, George Lucas se redime aqui e extrai de seu elenco ótimas atuações (salvo Hayden Christensen que falha algumas vezes, mas nada que comprometa o seu ótimo desempenho geral), além de conduzir muito bem as seqüências de ação do longa, criando ângulos muito bons para isso. A estória é bastante interessante e o roteiro a desenvolve muito bem, tal como os seus respectivos protagonistas, mas, infelizmente, o longa inicia o romance entre Anakin Skywalker e Padmé Amidala de maneira deveras artificial, fazendo com que aja pouca química entre ambos e o relacionamento destes só nos cative por levarmos em conta a importância que o mesmo terá à hexalogia inteira. As seqüências de ação são todas excelentes, mas acabam sendo má distribuídas durante o filme, que só não deixa o espectador entediado em virtude à maneira inteligente como o roteiro trabalha a sua estória principal.

Avaliação Final: 8,3 na escala de 10,0.