Sessão Nostalgia – parte 4: Janela Indiscreta (1954)
A Paramount acordava assustada ao ver um quase cortiço montado em seus estudios para filmar a mais nova obra do diretor mais popular da década de 50.A adapatação de um conto policial ganharia vida nas mãos de Hitchcock,ele não desperdiçou nos detalhes,a direção de arte tem uma riqueza incomparável no cinema,as janelas mostram casas,as casas mostram vidas e as vidas não tem importanica alguma,são bonequinhos de cera brincando em um cenário bem construido e servindo de diversão e passatempo para o fotografo Jeff,que com a perna quebrada não vê modo melhor de se divertir…ou de virar uma obsessão
Alternando a visita da enfermeira pela manhã e da namorada pela noite,Jeff leva sua vidinha particular tornando pública a mediocridade dos vizinhos,quão interessante as pessoas podem ir em sua privacidade… dançam,fazem musicas,choram,sonham,fazem sexo,matam,dorme…para: matam? Sim ou não? Nesse mistério “Janela Indiscreta” se agarra como estória principal e tira o seu melhor
Hitchcock,acostumado a inovar a cada direção de filme,faz de sua obra prima uma verdadeira aula de cinema,ele dizia que com o cinema falado,muitos diretores esquecem das imagens e as fazem virar diálogos.Ele não esquece.Filme tudo com uma riqueza e detalhes e respeita a limitação de seu protagonista,o que causa imenso desconforto ao público,pois nesse grande modo de fazer suspense,não somos onipresentes,sabemos e descobrimos tudo o que Jeff descobre e esse jeito de primeira pessoa que o cineasta filma se torna essenciala toda a trama,e em especial ao marcante desfecho…somos Jeff!
E quão fantástica pode ser a vida dos vizinhos,assassinato é o ponto alto do roteiro,mas não é apenas ali que ele se apoia,estórias paralelas umas as outras são desenvolvidas brilhantemente (sempre em primeira pessoa é claro) e até dentro do apartemento a câmera da um jeito de se movimentar com lentidão,passando o tédio do protagonista. O roteiro e a direção se respeitam em seu ritimo lento,um sem atropelar o outro com uma edição digna que nos coloca em xeque a cada momento,inclusive a reviravoltas durante toda a trama
Construindo uma das parcerias mais ricas do cinema,’Janela Indiscreta’ é o segundo de quatro filmes de Hitch-Stewart (e se Hitchcock subiu a deus nesse filme,também virei fã de Stewart,ainda mais que Janela e “A Felicidae não se Compra” foram alugados juntos),seria injusto desmerecer James Stewart e só dar meritos a Alfred nesse filme,a cara de entediado a de surpresa são obras do ator que fez do antipatico Jeff um personagem com humor tolerável de passar duas horas.Junto a ele a grande paixão de 10 em 10 cinéfilos,ela,a linda e talentosa Grace Kelly,no conto a personagem dela não existe,no filme ela é muito mais que uma ilustração,é peronagem essencial aos acontecimentos e que revela e desenvolve traços peculiares do protagonista.Grace é linda e no filme Hitchcock explora ao máximo sua beleza,ela é doce e esperta,e a responsável pela segunda maior cena do filme,onde de vez ela se infiltra no apartamento vizinho e pasa a virar um dos bonequinhos espionados,também é de Grace a melhor frase de “Janela Indiscreta”,quando a mesma diz que não acredita que estão chateados porque um assassinato não foi cometido,e a bela atriz só não é dona da melhor cena do filme,pois essa pertence exclusivamente ao diretor.
Fala marcante a da Grace…diálogos marcantes,afiados e cheios de humor não faltam nesse maravilhoso filme de 1954.Stewart-Kelly e uma terceira personagem interpretada por Thelma Ritter (deA Malvada) embalam o filme,fazendo do que seria um simples suspense,uma das mais complexas obras cinematográficas.
Com um legado incrível com dezenas de filmes,”Janela Indiscreta” permance vivo como trabalho influente do diretor,e não apenas isso,sobreviveu e se colocou como gigante em um ano que oferecia também “Sindicato de Ladrões” e “Os Sete Samurais”.Um filme que deve ser guardado em um baú de ouro,uma jóia não só na sétima arte,mas também nas artes em geral.
Sessão Nostalgia – parte 3: Lawrence da Arábia (1962)
É estranho como certas coisas insistem em pendurar na nossa cabeça por anos e outras desaparecem em apenas dias. Me lembro bem dessa conversa por telefone,dela toda e não só do trecho postado aqui,porém me lembrava pouco da estória (ou história) desse grande clássico. Sabia apenas que ele era um dos meus favoritos,como sabia?Ora,sentindo. Hoje,tendo passado dois anos vejo de novamente com olhar mais atento e afirmo que não acho “Lawrence da Arábia’ uma obra tão genial quanto achava outrora. Acho melhor!
David Lean se ratifica como gênio,anteriormente lançando dois clássicos “Oliver Twist” e “A Ponte do Rio Kwai”,”Lawrence da Arábia” se mostra o melhor filme dele,o filme que arrebatou todos os prêmios que concorreu e hoje a obra-prima do diretor,e não para pouca coisa. Lean constroi um retrato detalhado da vida do enigmático T.E. Lawrence e coloca em uma riqueza incrível como ele uniu tribos arabes afim de combater os turcos,e não esquecendo do cenário político e militar da época. Lean filma como ninguém,explora os recursos visuais que tinha. Lendas dizem que eles acordavam de de madrugada apenas para pegar o nascer do Sol no deserto,ele explora tudo que tem tão a fundo,que encerrados as pouco mais de três horas e meia de filme,o pensamento que temos é único: Nada mais poderia ser encaixado ali dentro
O Sol nascendo e as viagens pelo deserto,assim como as explosões do trem,Lawrence sendo açoitado ou o fabuloso desfecho no carro cria um leque de cenas que marcam o filme por completo,lá não existe A CENA marcante,e sim uma continuidade onde a próxima cena é melhor que a anterior e assim vai,deixando o filme fixado na memório por completo,e então vai naquela: ou você lembra de tudo ou deleta o filme todo da cabeça.Engana-se quem pensa que apenas de cenas é feito “Lawrence da Arábia”,o filme conta com diálogos magnifícos,frases marcantes de um homem culto que constantemente entra em conflitos com pessoas de culturas diferentes, diálogos e respostas que vão além de coisas simples e que não estão ali apenas para dar um que notório ao filme,estão ali pois precisam esta,e elas revelam muito da situação ou do carater de cada personagem,e entre elas a mais magnífica “Um Homem pode ser o que quiser”. Será mesmo?Sim ou não,Lawrence consegue viver assim
Poucos atores são tão injustiçados pelo Oscar quanto Peter O´Toole,ele aplica um tom inglês fantástico em seu personagem,cara séria e sem emoção,frieza ao se expressar,voz nunca sai do tom normal,cria Lawrence como um heróis as avessas (dizem que um dos maiores erros da carreira de Marlon Brando foi ter recusado esse papel) aquele herói de idéias e atitudes,mas que não demonstra heroismo,e se por um lado é herói,pelo outro o protagonista mostra-se arrogante,pretencioso,ora se comparando a personagens biblicos,ora se intulando como milagreiro de um povo,pelo menos em se tratando do protagonista o filme conseguiu equilibrar em uma imparcialidade rara no cinema.Alec Guinness e Anthony Quinn se destacam entre os coadjuvantes
Com uma fotografia absurdamente boa,talvez a melhor que o cinema já viu,acompanhando as viagens pelo deserto com uma das trilhas sonoras mais inesquecíveis, “Lawrence da Arábia” se firma como obra-prima intocada pelo tempo,um filme que mostra o prazer em fazer o impossível virar o possível,um relato histórico em proporções extraordinárias,um conto de um homem que nem Homero escreveria melhor,referência estética e técnica,figurinos nunca vistos antes e especialmente a ousadia de um cineasta que fez de seu filme um dos mais complexos e influentes que o cinema já viu.
Ah,quanto o trabalho do Alvares,apresentamo bons cartazes,eu fiz um resumo detalhado de Noite na Taverna para a turma e a garota fez analises ótimas de A Lira dos Vinte Anos,fechamos o trabalho,porém o vídeo não chegou a serconcluido,na verdade gravamos 10-15 minutos de imagens,foi ótimo.Hoje Alvares de Azevedo é um dos meus poetas favoritos!
Sessão Nostalgia – parte 2 : "A Primeira Noite de um Homem" (1967)
Dizem que filmes bons em TV aberta passa apenas de madrugada,e em dezembro de 2006 passava na Globo,eu preferi virar para o canto e dormir,mesmo estando e férias.Em janeiro de 2007 acabei alugando o filme,apenas para quase completar de ver o TOP 10 da AFI (ainda faltava Lawrence da Arábia).Bem,digo aqui que nunca em minha vida eu estive tão enganado a respeito de um filme como estive em “A Primeira Noite de um Homem”
Em 1967 o filme de Nichols provava de uma vez por todas que comédia romântica não é sinônimo de filmes banais e que assusntos como adultério,envolvimento com pessoas mais jovens e busca pela liberdade poderia ser colocado com um humor afiado e não crítico,e ainda fazendo rir…bem antes de Meg Ryan banalizar as comédias românticas com suas porcarias,Nichols faz um oposto de seu filme anterior “Quem tem Medo de Virginia Woolf?” e cria um ambiente leve,porém Nichols também faz igual ao seu filme anterior e arranca ótimas atuações do elencoBenjamin é um persongame singular,talvez o mérito não tenha sido de Dustin Hoffman,em inicio de carreira,que se saira mal nos testes,mas mesmo assim fez o filme,ou talvez tenha sido…mas o persongem tem uma tragetória magnífica durante todo o filme.Indo do garoto sufucado pelos pais e a sociedade,proucupado e ansioso por um futuro incerto,passando pelo jovem que aprendeu a viver de verdade,com a ajuda da inesquecível Senhora Robinson (e suas maravilhosas pernas),ele muda o penteado de cabelo,aprende a fumar,começa uma vida só a diversão,confronta os pais e muda sua rotina e chegando ao louco apaixonado que finalmente acha um objetivo na vida…objetivo com nome e sobrenome: Elaine Robinson.Ao contrário do que se pensaria,Ben é sim um personagem complexo,o desenvolvimento dele acontece de maneira tão sutil que aos menos atento passaria despercebido
“A Primeira Noite de um Homem” conta com algo impressionante,diria uma das 20 melhores direções que o cinema já viu em sua história. Mike Nichols se apresenta como gênio em criar sua estória,ele aplica sua experiência com o teatro adquirida pelos anos de carreira e sua experiência com o cinema adquirida em seu primeiro filme,”Quem tem Medo de Virginia Woolf?” e cria algo original,revolucionário e novo. Os movimentos de câmera são fantásticos,Nichols a posiciona nos lugares mais inusitados e diferentes,pega os ângulos mais inacreditáveis de seus personagens e faz movimentos muito interessantes,e o melhor,nenhum posicionamento de câmera está lá apenas por estar,todos tem sua finalidade diferente,a exemplo de quando Ben vê Senhora Robinson nua no quarto,ele vira a cara,o rosto dela não é mostrado,então em rápidos movimentos mostra partes do corpo dela,como se Ben olhasse se rapidamente se lembrasse do proibido,outra posição é quando Ben está na roupa de mergulho e se percebe ali toda a limitação do persongem,ele não houve e não vi muito mais do que aquilo,apenas obdece (e depois dessa cena ele decide proucurar Senhora Robinson),cena fantástico se da quando Ben vê que perdeu Elaine e a câmera começa a se afastar da Senhora Robinson.Nichols foi magnífico,e engana-se quem acha que ele foi apenas um diretor técnico,o principal responsável por impedir que os personagens caiam em caricaturas foi ele,e quando o roteiro,mesmo com todos os diálogos afiados,ameaça desandar e a personagem mais incrível do filme é esquecida,é Nichols quem segura toda a sua obra prima
Chegamos a personagem mais incrível do filme,seria clichê começar a resenha falando dela,o ícone máximo e uma das melhores coisas que “A Primeira Noite de um Homem” deixou para o cinema,me refiro a uma das maiores personagens,a inesquecível Senhora Robinson.Anne Bancroft e Mike Nichols junto construiram uma das melhores vilãs que o cinema já viu,e diria sem exagero que os pontos mais altos do filme é quando a sensual mulher está presente.É Senhora Robinson sim,ela não tem um primeiro nome e nem faz questão de revelar,a mulher casada que seduz Ben de maneiras incríveis
“Senhora Robinson,está tentando me seduzir?”
“Não tinha pensado nisso”
Os melhores diálogos estão com ela e ela responsável pelas duas mudanças que acontece na vida do nosso protagonista,é ela que mostra um mundo mais sexo e drogas,ela o seduz em cenas hilárias e diálogos inesqueciveis,como na primeira vez de Ben
“- Você não está esquecendo de nada?”
“-Eu queria falar que estou gostando de tudo isso e…”
“-Ben,eu me referia ao número do quarto”
Ben entra no quarto e o arruma de maneira discreta.Ela entra e acende a luz,e quando ele a beija,ela solta uma baforada de fumaça…cenas assim constroem o humor de “A Primeira Noite de um Homem” e fazem da Senhora Robinson um ícone do cinema.A mulher que fuma um cigarro atras do outro: liberdade!!!E se Benjamim tem a segunda mudança em sua vida,onde decide levar a sério o relacionamento com a filha da Senhora Robinson,ela se mostra “bem desagradável” e é muda novamente a vida dele. Ela é na verdade a estrela do filme
Tão protagonista quanto a Senhora Robinson são as músicas cativantes que tocam ao longo do filme,dando um toque especial para o mesmo.”A Primeira Noite de um Homem” não marcou apenas o cinema,mas como também minha vida,é fabuloso,engraçado,foge do simplório e criou verdadeiros ícones e referências,um filme obrigatório
Sessão Nostalgia parte 1 – Diários de Motocicleta (2004)
– A Primeira Noite de um Homem
– Diários de Motocicleta
– Lawrence da Arábia
– Janela Indiscreta
Sessão Nostalgia parte 1 – Diários de Motocicleta (2004)
Falar que lá em 2005,Ricardo querendo iniciar uma vida cinéfila,grande admirador de Che Guevara (da pessoa Che Guevara e não do mito ou dos ideais Che Guevara),um filme como esse não seria um grande desafio de assistir.Esperava muito.Ganhei mais,ganhei um dos filmes que mais me marcou como pessoa,e ganhei dois idolos a mais: Walter Salles e Gael Garcia Bernal
O primeiro prova porque é melhor no que faz,faz do filme uma mistura de denúncia com biografia,aventura e comédia,balança a câmera,chama a atenção: PORRA,VOCÊ FAZ PARTE DISSO. Mostra pouco a pouco a viagem de dois amigos rumo ao desconhecido,a imaturidade e como aos poucos vão vendo e sentindo a verdadeira América Latina subdesenvolvida.”… talvez…Mudou em mim”,a evolução dos personagens são claras ao passar do filme,os dólares que os fizeram não comer foram doados a um casal comunista,os agricultores sem terras foram parados e ouvidos,o ápice é na bela cena onde Ernesto Guevara atravessa o rio.Aquilo é fazer cinema
O sengundo mostra porque é o melhor em sua geração,Gael foi um dos poucos que cresceu e se tornou um gigante sem pedir ajuda à Hollywood,em “Diários de Motocicleta” tem atuação bem feita,traços do jovem Ernesto que viria a se tornar um dos maires mitos do século XX estão presente,o jeito de falar “che’,a idealização de apenas uma américa,o desprezo por hierarquias impostas,mas ao mesmo tempo Gael não perde a mão ao mostrar um homem jovem de 23 anos que não deixa de ser um homem jovem de 23 anos
A Parte Física da América Latina é mostrada lindamente,rios,flotestas o nosso continente abençoado pela mãe natureza.Monumentos históricos ganham proporções gigantes…junto dessa beleza natural,mas ao mesmo tempo quase fazendo um paralelo com ela vem a parte humana,os ricos são pobres,os pobres mais pobres ainda e os doentes apenas miseráveis.Nesse quadro deprimente vem algo que nos coloca em xeque: Alguma coisa mudou?Em 2005 minha professore de Geografia insistia em dizer que sim,muita coisa mudou para melhor,porém eu insisto em dizer que os problemas apenas modernizaram e qualquer um que resolvesse fazer a mesma viagem veria o mesmo que os olhos de Ernesto viram.Em meio a tudo surgi um coadjuvante que se destaca em toda a história,e não falo de Granado,amigo de 30 anos e mentalidade de 15 do jovem che,falo de La Poderosa,a motocicleta que da título ao filme e que se destaca,colocando aspecto de aventura em um gigante so século XX
“Diários de Motocicleta’ foi justamente premiado com o Oscar de Canção Original,”El Otro Lado del Rio” encanta de forma pura nosos ouvidos e emociona,como todo o filme emociona.Walter Salles criou uma obra prima,um filme que enche nossos olhos e toca fundo em nosso coração,não se espante se ele também permanecer em sua cabeça por anos e anos.