Appaloosa – A Cidade Sem Lei – ** de *****
Título Original: Appaloosa.
Site Oficial: http://welcometoappaloosa.warnerbros.com/
Nacionalidade: Estados Unidos.
Tempo de Duração: 114 minutos.
Elenco: Ed Harris (Virgil Cole), Viggo Mortensen (Everett Hitch), Jeremy Irons (Randall Bragg), Renée Zellweger (Allison French), Robert Jauregui (Xerife Jack Bell), Timothy V. Murphy (Vince), Luce Rains (Dean), James Tarwater (Chalk), Boyd Kestner (Bronc), Gabriel Marantz (Je Whittfield), Cerris Morgan-Moyer (Tilda), James Gammon (Earl May), Timothy Spall (Phil Olson), Tom Bower (Abner Raines), Erik J. Bockemeier (Fat Wallis), Ariadna Gil (Katie), Lance Henriksen (Ring Shelton), Adam Nelson (Mackie Shelton), Bob L. Harris (Juiz Elias Callison) e Daniel Parker (Mueller).
Ao contrário do que muitos pensam, o gênero western é extremamente antigo (e ponha antigo nisso) e foi um dos primeiros espécimes a dar as caras no Cinema. Só para se ter uma idéia, um dos primeiros filmes roteirizados criados pela sétima Arte foi o perfeito “O Grande Roubo do Trem” de Edwin S. Potter, lançado em 1903. Ou seja, os populares “bang-bangs” tiveram a sua origem a cento e seis anos atrás (quando nossos avôs nem ao menos pensavam em dar início à sua existência) e não na década de 1930, com John Wayne atuando e John Ford dirigindo, conforme muitas pessoas pensam.
Tendo em vista isso, era de se esperar que, com o passar dos anos, as obras deste gênero cinematográfico fossem se desgastando cada vez mais, a ponto de não conseguirem mais contar com um pingo de originalidade sequer. Isto pode ser comprovado no próprio “Os Indomáveis” onde, ao analisá-lo, lembro-me de ter mencionado que alguns filmes já contam com certos defeitos antes mesmo de seu “nascimento”. No caso da obra estrelada por Russel Crowe e Christian Bale, o defeito estava no fato deste ser a adaptação de um outro filme (“Galantes e Sanguinários”, no caso) cuja sinopse tornou-se altamente batida com o passar dos anos. Ou seja, a mera intenção de se adaptar um filme clichê já se revela automaticamente um erro, e “Appaloosa – A Cidade Sem Lei”, infelizmente, acabou cometendo este deslize.
Se o leitor tiver a bondade de ler a sinopse que escrevi acima, irá notar que o argumento de “Appaloosa” possui como ingrediente principal um dos maiores chavões da história do Cinema: a dupla de amigos durões que, sozinhos, planejam derrotar uma quadrilha inteira de marginais. Não bastasse isso, o filme ainda tem a audácia (ou seria a falta de?) de incluir no roteiro a mocinha aparentemente meiga que rouba o coração do mocinho insensível e, pasmem, criar um ligeiro triângulo amoroso entre mocinho, mocinha e escudeiro do mocinho (já ouviram falar da lenda de Arthur, Guinevere e Lancelot? É mais ou menos igual, só que bem menos intenso e cativante).
Mas o problema mor não está necessariamente nos protagonistas da estória, pois conforme já fora mencionado, os mesmos, além de conseguirem nos despertar um certo interesse devido aos seus estilos de vida, são constituídos pelas interessantes atuações de seus respectivos atores. Todavia, a grande falha do filme, no que diz respeito ao quesito personagens, reside na composição de Allison French. Não bastasse o fato de ser o estereótipo da mocinha que se faz de santa quando, na realidade, trata-se de uma vadia em larga escala, French é incorporada por uma pavorosa atuação de Renée Zellweger. Além da atriz empregar o uso de um tom de voz ridículo e irritante, a mesma passa o filme todo com a mesmíssima expressão: um maçante, e nada convincente, sorrisinho sem dentes que falha gritantemente na tentativa de fazer com que a mesma aparente ser uma moça meiga. Aliás, se fosse possível, juro que atravessaria a tela do cinema e extrairia todos os dentes que Zellweger escondeu por trás daquele sorriso fajuto com uma sequência de socos deferidos da maneira mais forte o possível (é, eu sei, ando bastante estressado e mal-humorado ultimamente, mas juro que logo passa).
O antagonista da trama, no entanto, revela-se minimamente interessante (o que já é uma grande coisa, tendo em vista a mediocridade do filme de um modo geral). Randall Bragg pode até não contar com quaisquer resquícios de originalidade, mas ao menos não descamba para o estereotipado vilão dos demais filmes do gênero. O personagem, encarnado através de uma cativante atuação do sempre ótimo Jeremy Irons, se revela um típico vilão de western (o que não quer dizer que seja necessariamente um clichê, muito pelo contrário). Ao invés de apresentar um semblante carrancudo ou um gênio cruel o bastante a ponto de matar uma pessoa apenas pelo prazer de matar, Bragg se revela um homem elegante (bem mais elegante que os próprios “heróis” do filme, diga-se) e dotado de certa cultura e charme. O vilão não é do tipo desequilibrado que chega atirando antes mesmo de falar. A primo, ele conversa, negocia, tenta persuadir pacificamente. Caso o diálogo não funcione da maneira esperada, o mesmo toma medidas mais extremadas. Um dos maiores acertos do filme, sem duvida.
Mas se o longa acerta na caracterização de Bragg, falha terrivelmente ao incluir, não apenas ele como os demais personagens também, em tiroteios tolos sem propósito algum. Aquela que era para ser a cena de ação mais poderosa do filme se revela decepcionante e falha, principalmente no que diz respeito ao motivo de sua existência. A mesma se mostra mais uma despropositada disputa pela recuperação da honra (afinal de contas, levar um “par de galho” na testa não deve ser muito honroso, não é mesmo?) do que uma querela pelo cumprimento da lei. O duelo final então nem se comenta, altamente ridículo e artificial.
O grande defeito da obra que marca a estréia de Ed Harris na direção consiste, no entanto, na dificuldade que o roteiro encontra para encaixar cenas de ação que preencham as suas lacunas vazias. Pois é, se o filme não consegue criar um drama tão eficiente quanto “Dança Com Lobos”, ou uma ação tão tensa quanto “Matar ou Morrer”, ou personagens tão bem desenvolvidos quanto os de “Três Homens em Conflito”, ou ainda uma química tão cativante quanto a dos protagonistas de “Os Indomáveis” (só para citar um filme bastante recente e não ser tachado de saudosista e/ou tradicionalista), o mínimo que se pode esperar é que ele funcione no que diz respeito à diversão. Pois nem como mero filme pipoca “Appaloosa – A Cidade Sem Lei” funciona. Contando com pouquíssimas sequências de ação, o western é maçante e os seus cento e quatorze minutos (um tempo relativamente curto comparado ao dos filmes atuais) de projeção custam a passar.
Avaliação Final: 4,0 na escala de 10,0.