Ele Não Está Tão a Fim de Você – **** de *****
Gênero: Comédia Romântica.
Tempo de Duração: 129 minutos.
Ano de Lançamento: 2009
Site Oficial: http://www.hesjustnotthatintoyoumovie.com/
País de Origem: Estados Unidos da América.
Direção: Ken Kwapis.
Roteiro: Abby Kohn e Marc Silverstein, baseado em livro de Greg Behrendt e Liz Tuccillo.
Elenco: Ginnifer Goodwin (Gigi), Justin Long (Alex), Bradley Cooper (Ben), Scarlett Johansson (Anna), Jennifer Connelly (Janine), Jennifer Aniston (Beth), Ben Affleck (Neil), Drew Barrymore (Mary), Natasha Leggero (Amber), Busy Phillips (Kelli Ann), Angela Shelton (Angela), Frances Callier (Frances), Brandon Keener (Jarrad), Rod Keller (Bruce), Leonardo Nam (Joshua), Wilson Cruz (Nathan), Brooke Bloom (Paige), Hedy Burress (Laura), Sasha Alexander (Catherine), Kris Kristofferson (Ken Murphy), Kevin Connolly (Conor) e Michelle Carmichael (Mãe).
Sinopse: Gigi (Ginnifer Goodwin) é uma romântica incurável, que um dia resolve sair com Conor (Kevin Connolly). Ela espera que ele ligue no dia seguinte, o que não acontece. Gigi resolve ir até o bar onde se conheceram, na esperança de reencontrá-lo. Lá ela conhece Alex (Justin Long), amigo de Conor. Ele tem uma visão bastante realista sobre os relacionamentos amorosos e tenta apresentá-la a Gigi, através de seu ponto de vista masculino. Por sua vez Conor é apaixonado por Anna (Scalett Johansson), uma cantora que o trata apenas como amigo e que se interessa por Ben (Bradley Cooper), casado com Janine (Jennifer Connelly). O casamento deles está em crise, o que não impede que Janine dê conselhos amorosos a Gigi, com quem trabalha. Outra colega de serviço é Beth (Jennifer Aniston), que namora Neil (Ben Affleck) há 7 anos e sonha em um dia se casar, apesar dele ser contrário à idéia.
He’s Just Not That Into You – Trailer:
Tenho uma pergunta a ser feita ao leitor. Você passa em frente ao cinema e vê o cartaz de um filme cujo título é “Ele Não Está Tão a Fim de Você”, se aproxima do poster e logo vê inúmeras caras e bocas, todas sorridentes. Lembra-se de ter lido na internet que o roteiro de tal obra cinematográfica foi inspirado em um livro de auto-ajuda. O que se pode concluir a partir daí? Que o filme em questão trata-se de uma comédia romântica descartável, com uma liçãozinha de moral ainda mais descartável, direcionado a casais amorosos ainda mais descartáveis e sem personalidade alguma, não? Pois esta foi a mesmíssima conclusão a que cheguei antes de assistir a “Ele Não Está Tão a Fim de Você” e, pela segunda vez no dia (a primeira foi ao assistir a “Presságio”), equivoquei-me exacerbadamente, tendo uma bela de uma surpresa, dessas que só a sétima Arte pode nos fazer conferir.
Adentrei a sala de cinema, acomodei-me na poltrona (pela segunda vez do dia tive a sorte de pegar a poltrona central da fileira central) e o filme então começou. Já de cara se mostrou uma obra minimamente interessante. Somos apresentados a Gigi, a mais cativante personagem do filme. Trata-se de uma romântica crônica. A garota é bela e meiga o bastante para despertar interesse em qualquer homem que seja, mas não se vê capaz de atrair a pessoa ideal para manter um relacionamento sério consigo. O motivo? Sua insegurança, sua ansiedade e suas manias neuróticas. E não apenas o gênio da moça a atrapalha em tal “missão”, como também os caminhos pelos quais os relacionamentos amorosos atuais estão rumando, ou seja, aquele amor que dura apenas uma noite e nada mais.
E não apenas a doce Gigi compõe o rol de personagens interessantes deste “Ele Não Está Tão a Fim de Você”. Há também Anna, a mulher sensual que emplaca em um relacionamento amoroso extremamente descompromissado com Connor, um vendedor de imóveis pelo qual Gigi tem uma forte queda, mas que ama incondicionalmente a sua parceira amorosa semi-oficial. Anna, entretanto, nutre uma forte paixão por Ben, um sujeito de boa aparência que ela conheceu ao acaso. No entanto, o rapaz casou-se com Janine anos atrás, mesmo sem nutrir uma forte paixão pela mesma e sem saber ao certo se era isso o que queria pelo resto de sua vida. Por este motivo, o matrimônio de ambos passa por uma crise que nem mesmo eles dois parecem estar certos da existência de tal colapso. Mesmo com este problema amoroso relativamente invisível, Janine não deixa de dar conselhos amorosos à colega de trabalho Gigi.
Mas espere aí! Quer dizer então que a trama envolve os mais diversos personagens e encontra uma forma de fazer com que todos eles tenham a vida entrelaçada entre si, sendo que Gigi é o centro desta divertida, embora confusa, amalgama amorosa? Pois é, e é justamente isso que “Ele Não Está Tão a Fim de Você” faz, desenvolver uma trama deliciosamente embaraçosa, com personagens que encaram o amor das mais diferentes formas, desde o mais conservador ao mais liberal.
E é claro que há muitos outros filmes do gênero que optam por realizar uma abordagem bastante parecida com a acima mencionada, mas o bem da verdade é que o filme, muitíssimo bem dirigido por Ken Kwapis (que adota uma movimentação de câmera extremamente satisfatória aqui), conta com um roteiro inteligente que, na grande maioria dos casos, desenvolve suas estórias através de situações extremamente naturais, sem apelar às baboseiras artificiais que são utilizadas com excessiva frequência pela maioria das comédias românticas atuais. Aqui quase tudo soa natural, e a aproximação que sentimos para com os personagens faz com que o filme raramente se mostre enfadonho, cansativo ou desnecessário.
Raramente? Pois é, a comédia romântica em questão infelizmente não se mostra um perfeito exemplar do gênero, e apesar de estar infinitamente acima da média em que os filmes atuais se encontram, revela-se enfadonha, cansativa e desnecessária em alguns poucos momentos, sobretudo quando cai no erro de desenvolver personagens demais ao mesmo tempo. Se a trama batesse em cima apenas de Gigi, Alex, Anna, Ben, Janine, e, até mesmo, Connor, que, dentre os demais citados, revela-se o menos interessante, o resultado teria sido muito mais satisfatório e já se revelaria um instigante estudo de personagens, mas infelizmente o roteiro conta com uma certa megalomania por parte de seus escritores, que optam por inserir algumas figuras que nada acrescentam à trama. Refiro-me a Beth, Neil e Mary (que conta com a gag mais engraçada de todo o filme (quando ouve duas mensagens em sua secretária eletrônica que a fazem mudar de humor terrivelmente, de uma hora para outra), mas ainda assim não diz ao certo a que veio), que, além de pouco interessantes, protagonizam estórias que não acrescentam uma carga dramática realmente necessária à obra, e o que é pior, atrapalham no desenvolvimento das outras tramas que, de fato, tornam este filme um atraente exemplar de um dos gêneros mais decadentes da sétima Arte, a comédia-romântica.
Em suma, “Ele Não Está Tão a Fim de Você” não é, definitivamente, um perfeito exemplar do gênero cinematográfico que optou seguir. Seu excesso de personagens atrapalha, e muito, o desenvolvimento daqueles que realmente são dignos de uma abordagem mais ampla. O filme, porém, conta com uma trama deveras cativante, uma direção eficiente, uma edição bastante dinâmica que, na maior parte dos casos, alterna muito bem entre uma estória e outra, e, acima de tudo, revela-se um instigante estudo sobre os relacionamentos amorosos modernos, repletos de seus vai-e-vem e de suas crises neuróticas. As estórias aqui são, em sua maioria, protagonizadas por figuras dramáticas excessivamente atraentes e jamais aderem ao melodrama barato e piegas a fim de atrair a atenção do espectador. E é claro que é muito importante sabermos também que, todas estas qualidades, tornam-se ainda mais amplas quando o elenco mostra-se bastante concatenado entre si (exceto Ben Affleck que, como sempre, está péssimo), fazendo com que todos os atores sintam-se muito a vontade com os seus respectivos papéis, proporcionando uma sensibilidade ainda maior aos seus personagens.
Enfim, uma comédia romântica não Alleniana que conseguiu se destacar com mérito diante das demais.
Obs.: Antes que alguém questione sobre o final feliz que citei na crítica objetiva deste filme e não citei aqui neste texto, devo mencionar que, se não o fiz, foi a fim de evitar o uso dos desagradáveis spoilers que tornariam-se indispensáveis nesta situação.
Avaliação Final: 8,0 na escala de 10,0.
Ele Não Está Tão a Fim de Você – **** de *****
Gênero: Comédia Romântica.
Tempo de Duração: 129 minutos.
Ano de Lançamento: 2009
Site Oficial: http://www.hesjustnotthatintoyoumovie.com/
País de Origem: Estados Unidos da América.
Direção: Ken Kwapis.
Roteiro: Abby Kohn e Marc Silverstein, baseado em livro de Greg Behrendt e Liz Tuccillo.
Elenco: Ginnifer Goodwin (Gigi), Justin Long (Alex), Bradley Cooper (Ben), Scarlett Johansson (Anna), Jennifer Connelly (Janine), Jennifer Aniston (Beth), Ben Affleck (Neil), Drew Barrymore (Mary), Natasha Leggero (Amber), Busy Phillips (Kelli Ann), Angela Shelton (Angela), Frances Callier (Frances), Brandon Keener (Jarrad), Rod Keller (Bruce), Leonardo Nam (Joshua), Wilson Cruz (Nathan), Brooke Bloom (Paige), Hedy Burress (Laura), Sasha Alexander (Catherine), Kris Kristofferson (Ken Murphy), Kevin Connolly (Conor) e Michelle Carmichael (Mãe).
Sinopse: Gigi (Ginnifer Goodwin) é uma romântica incurável, que um dia resolve sair com Conor (Kevin Connolly). Ela espera que ele ligue no dia seguinte, o que não acontece. Gigi resolve ir até o bar onde se conheceram, na esperança de reencontrá-lo. Lá ela conhece Alex (Justin Long), amigo de Conor. Ele tem uma visão bastante realista sobre os relacionamentos amorosos e tenta apresentá-la a Gigi, através de seu ponto de vista masculino. Por sua vez Conor é apaixonado por Anna (Scalett Johansson), uma cantora que o trata apenas como amigo e que se interessa por Ben (Bradley Cooper), casado com Janine (Jennifer Connelly). O casamento deles está em crise, o que não impede que Janine dê conselhos amorosos a Gigi, com quem trabalha. Outra colega de serviço é Beth (Jennifer Aniston), que namora Neil (Ben Affleck) há 7 anos e sonha em um dia se casar, apesar dele ser contrário à idéia.
He’s Just Not That Into You – Trailer:
Tenho uma pergunta a ser feita ao leitor. Você passa em frente ao cinema e vê o cartaz de um filme cujo título é “Ele Não Está Tão a Fim de Você”, se aproxima do poster e logo vê inúmeras caras e bocas, todas sorridentes. Lembra-se de ter lido na internet que o roteiro de tal obra cinematográfica foi inspirado em um livro de auto-ajuda. O que se pode concluir a partir daí? Que o filme em questão trata-se de uma comédia romântica descartável, com uma liçãozinha de moral ainda mais descartável, direcionado a casais amorosos ainda mais descartáveis e sem personalidade alguma, não? Pois esta foi a mesmíssima conclusão a que cheguei antes de assistir a “Ele Não Está Tão a Fim de Você” e, pela segunda vez no dia (a primeira foi ao assistir a “Presságio”), equivoquei-me exacerbadamente, tendo uma bela de uma surpresa, dessas que só a sétima Arte pode nos fazer conferir.
Adentrei a sala de cinema, acomodei-me na poltrona (pela segunda vez do dia tive a sorte de pegar a poltrona central da fileira central) e o filme então começou. Já de cara se mostrou uma obra minimamente interessante. Somos apresentados a Gigi, a mais cativante personagem do filme. Trata-se de uma romântica crônica. A garota é bela e meiga o bastante para despertar interesse em qualquer homem que seja, mas não se vê capaz de atrair a pessoa ideal para manter um relacionamento sério consigo. O motivo? Sua insegurança, sua ansiedade e suas manias neuróticas. E não apenas o gênio da moça a atrapalha em tal “missão”, como também os caminhos pelos quais os relacionamentos amorosos atuais estão rumando, ou seja, aquele amor que dura apenas uma noite e nada mais.
E não apenas a doce Gigi compõe o rol de personagens interessantes deste “Ele Não Está Tão a Fim de Você”. Há também Anna, a mulher sensual que emplaca em um relacionamento amoroso extremamente descompromissado com Connor, um vendedor de imóveis pelo qual Gigi tem uma forte queda, mas que ama incondicionalmente a sua parceira amorosa semi-oficial. Anna, entretanto, nutre uma forte paixão por Ben, um sujeito de boa aparência que ela conheceu ao acaso. No entanto, o rapaz casou-se com Janine anos atrás, mesmo sem nutrir uma forte paixão pela mesma e sem saber ao certo se era isso o que queria pelo resto de sua vida. Por este motivo, o matrimônio de ambos passa por uma crise que nem mesmo eles dois parecem estar certos da existência de tal colapso. Mesmo com este problema amoroso relativamente invisível, Janine não deixa de dar conselhos amorosos à colega de trabalho Gigi.
Mas espere aí! Quer dizer então que a trama envolve os mais diversos personagens e encontra uma forma de fazer com que todos eles tenham a vida entrelaçada entre si, sendo que Gigi é o centro desta divertida, embora confusa, amalgama amorosa? Pois é, e é justamente isso que “Ele Não Está Tão a Fim de Você” faz, desenvolver uma trama deliciosamente embaraçosa, com personagens que encaram o amor das mais diferentes formas, desde o mais conservador ao mais liberal.
E é claro que há muitos outros filmes do gênero que optam por realizar uma abordagem bastante parecida com a acima mencionada, mas o bem da verdade é que o filme, muitíssimo bem dirigido por Ken Kwapis (que adota uma movimentação de câmera extremamente satisfatória aqui), conta com um roteiro inteligente que, na grande maioria dos casos, desenvolve suas estórias através de situações extremamente naturais, sem apelar às baboseiras artificiais que são utilizadas com excessiva frequência pela maioria das comédias românticas atuais. Aqui quase tudo soa natural, e a aproximação que sentimos para com os personagens faz com que o filme raramente se mostre enfadonho, cansativo ou desnecessário.
Raramente? Pois é, a comédia romântica em questão infelizmente não se mostra um perfeito exemplar do gênero, e apesar de estar infinitamente acima da média em que os filmes atuais se encontram, revela-se enfadonha, cansativa e desnecessária em alguns poucos momentos, sobretudo quando cai no erro de desenvolver personagens demais ao mesmo tempo. Se a trama batesse em cima apenas de Gigi, Alex, Anna, Ben, Janine, e, até mesmo, Connor, que, dentre os demais citados, revela-se o menos interessante, o resultado teria sido muito mais satisfatório e já se revelaria um instigante estudo de personagens, mas infelizmente o roteiro conta com uma certa megalomania por parte de seus escritores, que optam por inserir algumas figuras que nada acrescentam à trama. Refiro-me a Beth, Neil e Mary (que conta com a gag mais engraçada de todo o filme (quando ouve duas mensagens em sua secretária eletrônica que a fazem mudar de humor terrivelmente, de uma hora para outra), mas ainda assim não diz ao certo a que veio), que, além de pouco interessantes, protagonizam estórias que não acrescentam uma carga dramática realmente necessária à obra, e o que é pior, atrapalham no desenvolvimento das outras tramas que, de fato, tornam este filme um atraente exemplar de um dos gêneros mais decadentes da sétima Arte, a comédia-romântica.
Em suma, “Ele Não Está Tão a Fim de Você” não é, definitivamente, um perfeito exemplar do gênero cinematográfico que optou seguir. Seu excesso de personagens atrapalha, e muito, o desenvolvimento daqueles que realmente são dignos de uma abordagem mais ampla. O filme, porém, conta com uma trama deveras cativante, uma direção eficiente, uma edição bastante dinâmica que, na maior parte dos casos, alterna muito bem entre uma estória e outra, e, acima de tudo, revela-se um instigante estudo sobre os relacionamentos amorosos modernos, repletos de seus vai-e-vem e de suas crises neuróticas. As estórias aqui são, em sua maioria, protagonizadas por figuras dramáticas excessivamente atraentes e jamais aderem ao melodrama barato e piegas a fim de atrair a atenção do espectador. E é claro que é muito importante sabermos também que, todas estas qualidades, tornam-se ainda mais amplas quando o elenco mostra-se bastante concatenado entre si (exceto Ben Affleck que, como sempre, está péssimo), fazendo com que todos os atores sintam-se muito a vontade com os seus respectivos papéis, proporcionando uma sensibilidade ainda maior aos seus personagens.
Enfim, uma comédia romântica não Alleniana que conseguiu se destacar com mérito diante das demais.
Obs.: Antes que alguém questione sobre o final feliz que citei na crítica objetiva deste filme e não citei aqui neste texto, devo mencionar que, se não o fiz, foi a fim de evitar o uso dos desagradáveis spoilers que tornariam-se indispensáveis nesta situação.
Avaliação Final: 8,0 na escala de 10,0.
Presságio – **** de *****
Título Original: Knowing
Gênero: Suspense.
Tempo de Duração: 122 minutos.
Ano de Lançamento: 2009.
Site Oficial: http://www.knowing-themovie.com/
País(es) de Origem: Estados Unidos da América e Austrália.
Roteiro: Stuart Hazeldine, Ryne Douglas Pearson, Stiles White e Juliet Snowden, baseado em adaptação de Alex Proyas e em estória de Ryne Douglas Pearson.
Elenco: Nicolas Cage (John Koestler), Chandler Canterbury (Caleb Koestler), Rose Byrne (Diana Wayland), Lara Robinson (Lucinda Embry / Abby Wayland), Nadia Townsend (Grace Koestler), Alan Hopgood (Reverendo Koestler), Adrienne Pickering (Allison), Ben Mendelsohn (Phil Beckman), Joshua Long (Caleb Koestler – jovem), Danielle Carter (Srta. Taylor – 1959), Alethea McGrath (Srta. Taylor – 2009), David Lennie (Diretor Clark), Taara Donnellan (Mãe de Lucinda), Travis Waite (Pai de Lucinda) e D.G. Maloney (Estranho).
Sinopse: Em 1959, no interior dos Estados Unidos, um grupo de estudantes de uma escola primária realiza um desafio proposto pela professora local e desenham a concepção deles de como seria o mundo daqui a cinquenta anos. A introvertida aluna Lucinda Embry (Lara Robinson), no entanto, faz uma ilustração bem diferente das demais, sendo que, ao invés de figuras, a garota rabisca um monte de números que, aparentemente, soam desconexos. Passam-se cinquenta anos e o documento de autoria de Lucinda acaba indo parar nas mãos de Caleb Koestler (Chandler Canterbury). O pai do garoto, John Koestler (Nicolas Cage), um astrofísico extremamente dedicado à profissão, vê o desenho que agora pertence ao filho e decide estudá-lo. John infere que aquele pedaço de papel rabiscado é, na realidade, um presságio de todos os grandes acidentes pelos quais a humanidade irá passar, sendo que um deles em especial, prevê a destruição de toda a raça humana.
Em 2001, pouco após aos atentados terroristas do histórico 11 de setembro, vários críticos de Cinema do mundo inteiro, incluindo o nosso Rubens Ewald Filho, passaram a ser questionados sobre o rumo que a sétima Arte tomaria a partir de então, uma vez que os Estados Unidos, nação esta que muitos julgavam ser altamente invulnerável a ataques de tal natureza, haviam demonstrado total incapacidade ao lidar com aquela situação. O que aconteceria então com os personagens que protagonizavam os filmes-catástrofes e, sozinhos, ou com pouquíssimo auxílio, acabavam salvando a humanidade inteira? Concluiu-se que o Cinema iria sair daqueles eixos fantasiosos e passar a encarar a Arte de um modo bem mais realista e verossímil, admitindo que a Terra do Tio Sam é tão vulnerável quanto qualquer outro país do mundo. “Presságio” é uma obra cinematográfica que serve de exemplo para tal e vem ratificar esta conclusão.
Antes de me estender à questão abordada no parágrafo supra, comentemos sobre o longa em si. Juro que quando este teve o seu início, imaginei estar assistindo ao filme errado. Deduzi que estava diante de uma inesperada continuação da pavorosa série cinematográfica de horror alcunhada de “O Chamado”. O motivo? Logo na primeira tomada do filme de Proyas somos apresentados a uma garota sinistra e sombria que passa todos os seus momentos em cena com os olhos arregalados e aparenta estar assustada a todo o instante. Lembrou-se da Samara, do ridículo filme de terror produzido no ano de 2002 e estrelado por Naomi Watts? Pois é, e tal recordação não é concretizada sem grandes embasamentos.
O filme se desenvolve um pouco mais, tanto do ponto de vista diegético quanto do ponto de vista temporal. Passam-se cinquenta anos e somos apresentados ao astrofísico John Koestler. Sabem quem é que o interpreta aqui? Um doce para quem acertar. Pois é, Nicolas Cage. Mais uma vez Cage encarna um nerd sabichão que mais parece uma enciclopédia astrofísica do que uma pessoa comum. Aí o leitor me pergunta: “___ Ah, mas o roteiro cria situações que o desenvolvam de uma forma mais humana, não?”. Sim, o roteiro, de fato, tenta humaniza-lo, mas sabe como o faz? Apelando aos dramas familiares mais clichês o possível para tal.
John era casado, perdeu a esposa, seu relacionamento com o único filho (que é um jovem semi-nerd que, durante alguns momentos, parece mais uma cópia xerografada do próprio pai do que qualquer outra coisa) é muito afetado porque, em virtude de sua incansável dedicação ao trabalho, não consegue dar a devida atenção ao garoto, suprindo assim a falta que a sua progenitora lhe faz. A partir daí, tudo o que vemos então é um Nicolas Cage que adota medidas clichês para representar o seu personagem, tais como: suspirar a todo o instante com a finalidade de ilustrar a melancolia pela qual passa ao notar o afastamento emocional (e, de certa forma, físico) existente entre ele e o seu sucessor.
Durante mais de quarenta e cinco minutos o filme se estende desnecessariamente nos delineando este drama familiar mais do que batido pelas produções deste gênero e juro que, enquanto estava sentado na poltrona do cinema, escrevendo em meu bloco de anotações, cheguei a rabiscar: “P*** filme chato da p****! Por que essa m**** dessa sessão não acaba logo?”. E, ironicamente, foi só terminar de grafar tais palavras que, inesperadamente, me vejo dentro de um desastre aéreo que mata oitenta e uma pessoas. Além do espetáculo conferido pelos excelentes efeitos visuais e sonoros, o plano sequência nos choca e nos assusta em face de sua verossimilhança, sendo que passamos a nos sentir praticamente dentro desta cena.
A partir de então arregalei os olhos, a trama revelou-se assustadora e curiosa. O protagonista tem um pedaço de papel na mão repleto de números que passam a lhe indicar quando e onde ocorrerá o próximo acidente de tal proporção. Ele começa então a investigar o caso laboriosamente. Seres estranhos, trajados de terno preto (outro grave estereotipo do filme), entram em cena e nos fazem formular diversas questões. Não sabemos ao certo o que eles querem com o filho de John, Caleb Koestler (Chandler Canterbury). Será que eles almejam matar o garoto? Será que almejam utiliza-lo em alguma conspiração contra a humanidade? Será que almejam protege-lo de algum mal que está por vir? Enfim, nada ficamos sabendo até o final da trama e tais questionamentos passam a nos perturbar a ponto de nos fazer roer as unhas de tensão.
Como acabará esta estória? Será que haverá um desastre causado por alienígenas que destruirá a humanidade? Será que estamos diante de um desastre ambiental que destruirá o planeta inteiro? Ou quem sabe estamos diante de uma batalha espiritual entre o Céu e o Inferno? Seria Caleb um personagem chave desta batalha (algo parecido com o ótimo “Constantine” e os fracos “Stigmata” e “Filha da Luz”)? Enfim, não sabemos ao certo com o que iremos nos deparar, e isso faz com que a tensão que os personagens passam a sentir, seja transportada diretamente até nós.
Aliás, tensão e suspense é o que não falta neste “Presságio”, principalmente graças à eficiente direção de Alex Proyas. Se por um lado o cineasta não realiza nenhum movimento com a câmera realmente satisfatório, ou nem ao menos se importa em posicioná-la de modo a criar ângulos verdadeiramente excepcionais, por outro lado o diretor se mostra um mestre em conferir terror aos seus espectadores. Repare no modo tenso como ele filma o supracitado plano-sequência do acidente aéreo, ou o cuidado que tem ao mostrar, da janela do quarto de Caleb, uma floresta em chamas, dando amostras do que poderá vir pela frente.
Estranho, no entanto, é constatarmos que, mesmo com tantas qualidades visíveis, o grande trunfo de “Presságio” resida, de fato, em uma única frase. Pois é, em uma única frase, o filme consegue obter o seu atestado de qualidade. Trata-se da singela cena em que o protagonista pranteia: “___ O Mundo está para acabar e eu nada posso fazer para evitar isso!”. Com estas reles palavras, o personagem de Nicolas Cage ilustra todo o pessimismo e o temor estadunidense ao se ver incapaz de lidar com uma catástrofe ainda maior do que o próprio 11 de Setembro. Presenciamos aqui então a velação definitiva dos grandes heróis cinematográficos que salvam o mundo sozinhos. É a concretização de uma nova era que se assume cada vez mais vulnerável aos possíveis desastres que venham a ocorrer. É a desmistificação de porcarias comerciais à lá “Independency Day”, “Armagedon”, “Godzilla”, entre outras produções fajutas.
Apesar do excessivo número de clichês e personagens caricatos empregados durante o seu primeiro ato, “Presságio” revela-se, ironicamente, um instigante sopro de originalidade que parece remover cada vez mais a cortina de hipocrisia existente em Hollywood, destruindo de uma vez por todas a máscara vestida pelos pseudo-grandes heróis dos filmes-catástrofes, relegando-os a uma incapacidade de ação perturbadora.
Obs.: Genial a idéia dos coelhos, já que, simbologicamente, eles representam a reprodução na natureza.
Obs. 2: Quem assistir a “Presságio” saberá o que estou desejando dizer na observação supra.
Avaliação Final: 8,0 na escala de 10,0.
Presságio – **** de *****
Título Original: Knowing
Gênero: Suspense.
Tempo de Duração: 122 minutos.
Ano de Lançamento: 2009.
Site Oficial: http://www.knowing-themovie.com/
País(es) de Origem: Estados Unidos da América e Austrália.
Roteiro: Stuart Hazeldine, Ryne Douglas Pearson, Stiles White e Juliet Snowden, baseado em adaptação de Alex Proyas e em estória de Ryne Douglas Pearson.
Elenco: Nicolas Cage (John Koestler), Chandler Canterbury (Caleb Koestler), Rose Byrne (Diana Wayland), Lara Robinson (Lucinda Embry / Abby Wayland), Nadia Townsend (Grace Koestler), Alan Hopgood (Reverendo Koestler), Adrienne Pickering (Allison), Ben Mendelsohn (Phil Beckman), Joshua Long (Caleb Koestler – jovem), Danielle Carter (Srta. Taylor – 1959), Alethea McGrath (Srta. Taylor – 2009), David Lennie (Diretor Clark), Taara Donnellan (Mãe de Lucinda), Travis Waite (Pai de Lucinda) e D.G. Maloney (Estranho).
Sinopse: Em 1959, no interior dos Estados Unidos, um grupo de estudantes de uma escola primária realiza um desafio proposto pela professora local e desenham a concepção deles de como seria o mundo daqui a cinquenta anos. A introvertida aluna Lucinda Embry (Lara Robinson), no entanto, faz uma ilustração bem diferente das demais, sendo que, ao invés de figuras, a garota rabisca um monte de números que, aparentemente, soam desconexos. Passam-se cinquenta anos e o documento de autoria de Lucinda acaba indo parar nas mãos de Caleb Koestler (Chandler Canterbury). O pai do garoto, John Koestler (Nicolas Cage), um astrofísico extremamente dedicado à profissão, vê o desenho que agora pertence ao filho e decide estudá-lo. John infere que aquele pedaço de papel rabiscado é, na realidade, um presságio de todos os grandes acidentes pelos quais a humanidade irá passar, sendo que um deles em especial, prevê a destruição de toda a raça humana.
Em 2001, pouco após aos atentados terroristas do histórico 11 de setembro, vários críticos de Cinema do mundo inteiro, incluindo o nosso Rubens Ewald Filho, passaram a ser questionados sobre o rumo que a sétima Arte tomaria a partir de então, uma vez que os Estados Unidos, nação esta que muitos julgavam ser altamente invulnerável a ataques de tal natureza, haviam demonstrado total incapacidade ao lidar com aquela situação. O que aconteceria então com os personagens que protagonizavam os filmes-catástrofes e, sozinhos, ou com pouquíssimo auxílio, acabavam salvando a humanidade inteira? Concluiu-se que o Cinema iria sair daqueles eixos fantasiosos e passar a encarar a Arte de um modo bem mais realista e verossímil, admitindo que a Terra do Tio Sam é tão vulnerável quanto qualquer outro país do mundo. “Presságio” é uma obra cinematográfica que serve de exemplo para tal e vem ratificar esta conclusão.
Antes de me estender à questão abordada no parágrafo supra, comentemos sobre o longa em si. Juro que quando este teve o seu início, imaginei estar assistindo ao filme errado. Deduzi que estava diante de uma inesperada continuação da pavorosa série cinematográfica de horror alcunhada de “O Chamado”. O motivo? Logo na primeira tomada do filme de Proyas somos apresentados a uma garota sinistra e sombria que passa todos os seus momentos em cena com os olhos arregalados e aparenta estar assustada a todo o instante. Lembrou-se da Samara, do ridículo filme de terror produzido no ano de 2002 e estrelado por Naomi Watts? Pois é, e tal recordação não é concretizada sem grandes embasamentos.
O filme se desenvolve um pouco mais, tanto do ponto de vista diegético quanto do ponto de vista temporal. Passam-se cinquenta anos e somos apresentados ao astrofísico John Koestler. Sabem quem é que o interpreta aqui? Um doce para quem acertar. Pois é, Nicolas Cage. Mais uma vez Cage encarna um nerd sabichão que mais parece uma enciclopédia astrofísica do que uma pessoa comum. Aí o leitor me pergunta: “___ Ah, mas o roteiro cria situações que o desenvolvam de uma forma mais humana, não?”. Sim, o roteiro, de fato, tenta humaniza-lo, mas sabe como o faz? Apelando aos dramas familiares mais clichês o possível para tal.
John era casado, perdeu a esposa, seu relacionamento com o único filho (que é um jovem semi-nerd que, durante alguns momentos, parece mais uma cópia xerografada do próprio pai do que qualquer outra coisa) é muito afetado porque, em virtude de sua incansável dedicação ao trabalho, não consegue dar a devida atenção ao garoto, suprindo assim a falta que a sua progenitora lhe faz. A partir daí, tudo o que vemos então é um Nicolas Cage que adota medidas clichês para representar o seu personagem, tais como: suspirar a todo o instante com a finalidade de ilustrar a melancolia pela qual passa ao notar o afastamento emocional (e, de certa forma, físico) existente entre ele e o seu sucessor.
Durante mais de quarenta e cinco minutos o filme se estende desnecessariamente nos delineando este drama familiar mais do que batido pelas produções deste gênero e juro que, enquanto estava sentado na poltrona do cinema, escrevendo em meu bloco de anotações, cheguei a rabiscar: “P*** filme chato da p****! Por que essa m**** dessa sessão não acaba logo?”. E, ironicamente, foi só terminar de grafar tais palavras que, inesperadamente, me vejo dentro de um desastre aéreo que mata oitenta e uma pessoas. Além do espetáculo conferido pelos excelentes efeitos visuais e sonoros, o plano sequência nos choca e nos assusta em face de sua verossimilhança, sendo que passamos a nos sentir praticamente dentro desta cena.
A partir de então arregalei os olhos, a trama revelou-se assustadora e curiosa. O protagonista tem um pedaço de papel na mão repleto de números que passam a lhe indicar quando e onde ocorrerá o próximo acidente de tal proporção. Ele começa então a investigar o caso laboriosamente. Seres estranhos, trajados de terno preto (outro grave estereotipo do filme), entram em cena e nos fazem formular diversas questões. Não sabemos ao certo o que eles querem com o filho de John, Caleb Koestler (Chandler Canterbury). Será que eles almejam matar o garoto? Será que almejam utiliza-lo em alguma conspiração contra a humanidade? Será que almejam protege-lo de algum mal que está por vir? Enfim, nada ficamos sabendo até o final da trama e tais questionamentos passam a nos perturbar a ponto de nos fazer roer as unhas de tensão.
Como acabará esta estória? Será que haverá um desastre causado por alienígenas que destruirá a humanidade? Será que estamos diante de um desastre ambiental que destruirá o planeta inteiro? Ou quem sabe estamos diante de uma batalha espiritual entre o Céu e o Inferno? Seria Caleb um personagem chave desta batalha (algo parecido com o ótimo “Constantine” e os fracos “Stigmata” e “Filha da Luz”)? Enfim, não sabemos ao certo com o que iremos nos deparar, e isso faz com que a tensão que os personagens passam a sentir, seja transportada diretamente até nós.
Aliás, tensão e suspense é o que não falta neste “Presságio”, principalmente graças à eficiente direção de Alex Proyas. Se por um lado o cineasta não realiza nenhum movimento com a câmera realmente satisfatório, ou nem ao menos se importa em posicioná-la de modo a criar ângulos verdadeiramente excepcionais, por outro lado o diretor se mostra um mestre em conferir terror aos seus espectadores. Repare no modo tenso como ele filma o supracitado plano-sequência do acidente aéreo, ou o cuidado que tem ao mostrar, da janela do quarto de Caleb, uma floresta em chamas, dando amostras do que poderá vir pela frente.
Estranho, no entanto, é constatarmos que, mesmo com tantas qualidades visíveis, o grande trunfo de “Presságio” resida, de fato, em uma única frase. Pois é, em uma única frase, o filme consegue obter o seu atestado de qualidade. Trata-se da singela cena em que o protagonista pranteia: “___ O Mundo está para acabar e eu nada posso fazer para evitar isso!”. Com estas reles palavras, o personagem de Nicolas Cage ilustra todo o pessimismo e o temor estadunidense ao se ver incapaz de lidar com uma catástrofe ainda maior do que o próprio 11 de Setembro. Presenciamos aqui então a velação definitiva dos grandes heróis cinematográficos que salvam o mundo sozinhos. É a concretização de uma nova era que se assume cada vez mais vulnerável aos possíveis desastres que venham a ocorrer. É a desmistificação de porcarias comerciais à lá “Independency Day”, “Armagedon”, “Godzilla”, entre outras produções fajutas.
Apesar do excessivo número de clichês e personagens caricatos empregados durante o seu primeiro ato, “Presságio” revela-se, ironicamente, um instigante sopro de originalidade que parece remover cada vez mais a cortina de hipocrisia existente em Hollywood, destruindo de uma vez por todas a máscara vestida pelos pseudo-grandes heróis dos filmes-catástrofes, relegando-os a uma incapacidade de ação perturbadora.
Obs.: Genial a idéia dos coelhos, já que, simbologicamente, eles representam a reprodução na natureza.
Obs. 2: Quem assistir a “Presságio” saberá o que estou desejando dizer na observação supra.
Avaliação Final: 8,0 na escala de 10,0.
Presságio e Ele Não Está Tão Afim de Você – Prévias
* Scarlett Johansson é gostosa pra caral… ops, não posso utilizar isso como ponto positivo do filme, peço ao leitor que esqueça essa última indicação.
Operação Valquíria – *** de *****
De qualquer forma, gostaria de deixar registrada a minha opinião aqui:
A péssima atuação de Tom Cruise também se mostra um ponto fraquíssimo para o resultado final da obra.
Sinédoque, Nova York – **** de *****
Ficha Técnica:
Título Original: Synecdoche, New York.
Gênero: Drama.Tempo de Duração: 124 minutos.
Ano de Lançamento: 2008.
Site Oficial: www.sonyclassics.com/synecdocheny
País de Origem: Estados Unidos da América.
Direção: Charlie Kaufman.
Roteiro: Charlie Kaufman.
Elenco: Philip Seymour Hoffman (Caden Cotard), Catherine Keener (Adele Lack), Sadie Goldstein (Olive – 4 anos), Robin Weigert (Olive – adulta), Tom Noonan (Sammy Barnathan), Josh Pais (Dr. Eisenberg), Daniel London (Tom), Robert Seay (David), Michelle Williams (Claire Keen), Stephen Adly Guirgis (Davis), Samantha Morton (Hazel), Hope Davis (Madeleine Gravis), Frank Girardeau (Plumber), Jennifer Jason Leigh (Maria), Paul Sparks (Derek), Daisy Tahan (Ariel), Timothy Doyle (Michael), Rosemary Murphy (Frances), Emily Watson (Tammy), William Ryall (Jimmy), Dianne Wiest (Ellen Bascomb / Millicent Weems), Joe Lisi (Maurice), Jerry Adler (Pai de Caden), Lynn Cohen (Mãe de Caden), Kat Peters (Ellen – 10 anos), Deirdre O’Connell (Mãe de Ellen) e Peter Friedman (Médico do setor de emergência).
Sinopse: Após ser abandonado pela esposa Adele (Catherine Keener) e pela filha Olive (Sadie Goldstein), o diretor de peças teatrais Caden Cotard (Philip Seymour Hoffman) passa a enfrentar uma série de conflitos existenciais que parecem não ter fim. Eis que o diretor ganha um relevante prêmio em dinheiro e decide criar uma peça teatral embasada totalmente em sua vida. É aí que o mesmo passa a refletir sobre toda a sua existência.
Synedoche, New York – Trailer:
Crítica:
Não é fácil assistir a “Sinédoque, Nova York”, o mais novo filme do roteirista e, agora diretor, Charlie Kaufman. Contando com uma narrativa extremamente abstrata e que mescla constantemente realidade com fantasia (ou delírio, que seja), o longa revela-se um intrincado quebra-cabeças que exige do espectador um forte esforço intelectual, emocional e lógico (ou seria ilógico?), a começar pelo próprio título da obra.
É comum que algumas pessoas saiam dos cinemas se perguntando: “Mas afinal de contas, por que diabos este filme chama-se “Sinédoque, Nova York”?”. Confesso que eu mesmo já nem me lembrava mais dos mínimos detalhes das aulas ginasiais de português, inclusive no que se refere à figuras de linguagem. Logo, admito que procurei o significado de tal palavra antes de assistir ao filme. Descobri, ou melhor, redescobri que o termo ‘sinédoque’ trata-se na realidade de uma metonímia que substitui um conjunto de objetos, pessoas, animais e etc… Citemos um exemplo: “Assisti a todos os “Godards” que se possa imaginar.” (MENTIRA!!!). Neste caso, a palavra ‘Godards’ refere-se diretamente a toda a filmografia do cineasta francês. Logo, “Sinédoque, Nova York” trata-se de um magistral título (e confesso que desde “O Escafandro e a Borboleta” não via um título ser tão bem adequado a um filme quanto este o é) que ilustra um pequenino pedaço da cidade de Nova York que possui a função de representar uma cidade inteira, ou, quem sabe, a nação inteira, ou até mesmo o mundo inteiro.
E é nesta sinédoque nova-iorquina que o brilhante roteiro de Kaufman desenvolve o seu protagonista: o diretor de teatro Caden Cotart (encarnado com maestria por Philip Seymour Hoffman, em uma das melhores atuações de sua carreira, comprovando definitivamente que é um dos melhores atores estadunidenses em ação). Assumindo a função artística de alter-ego de Kaufman, Cotart é a personificação do pessimismo. Portador de uma doença que causa envelhecimento de pele precoce, o protagonista passa boa parte da vida esperando o pior, imaginando que a morte baterá em sua porta muito antes do conveniente. O diretor então se torna uma pessoa cada vez mais depressiva e desacreditada. As coisas só vem a piorar quando a esposa do personagem principal utiliza uma exposição (ela é uma artista que pinta micro (isso para não dizer “nano”) quadros) em Berlin como tergiversação para abandona-lo definitivamente, e levar a filha embora consigo.
Cotart se torna um sujeito ainda mais propenso a ataques de melancolia e crises existenciais, mas decide curar as mesmas investindo em dois mal-sucedidos romances com Hazel (a bilheteira de seu teatro) e Claire (uma de suas atrizes prediletas). Nada funciona corretamente na vida de Cotart, e talvez seja aí que resida uma das grandes falhas do filme, nesta artificialidade com a qual o roteiro cria algumas situações exageradas a fim de desenvolver o seu principal personagem. O protagonista, além de ser portador das patologias supracitadas, passa por uma maré de azar que torna-se difícil de crermos e levarmos a sério o seu sofrimento durante alguns poucos segundos. Tudo dá errado na vida do diretor teatral, tudo mesmo, e quando algo parece que vai tomar o rumo, acontece um incidente e o protagonista volta ao zero. Ou seja, Cotart é, na verdade, um Benjamin Button às avessas.
Mas, no geral, o filme conta com metáforas bastante satisfatórias e dá uma guinada incrível quando o protagonista recebe uma considerável quantia em dinheiro para que possa realizar uma peça teatral realmente pomposa. O diretor opta então por reproduzir a sua vida passo a passo, detalhe por detalhe, nos palcos de seu teatro. É construída uma magistral réplica de Nova York, vários atores são contratados para encenar os inúmeros incidentes ocorridos na vida de Cotart, e o modo como Kaufman (o diretor) conduz esse entrelaçamento entre realidade e fantasia é não menos do que maravilhoso, tanto que o cineasta consegue perfeitamente o que queria, deixar o espectador confuso.
Confuso, aliás, é uma palavra que descreve perfeitamente o rumo que a trama assume a partir daí. Já não conseguimos mais discernir realidade de fantasia e ficção de delírio. Tudo o que vemos é uma série de metáforas fantásticas (no sentido ambíguo) que realizam uma conveniente abordagem sobre o sofrimento, sobre o amor, sobre o modo como o tempo avassalador castiga os seus soberanos (nós, pobres mortais) e, mormente, sobre a tênue linha que liga a vida à morte. A odisséia de Cotart revela-se então uma espelhação artística de nossas existências, afinal de contas, o que seria a vida, aos olhos de um pessimista tal como Charlie Kaufman, senão um eterno ensaio que não nos leva a lugar algum, que não seja à morte?
E é claro que quando citei a hipótese supra, descrevi apenas a minha interpretação relacionada ao eterno ensaio de Cotart, sendo que há muitas outras análises cinematográficas redigidas sobre o filme em questão que apontam a peça teatral como sendo uma metáfora à forma que um projeto artístico consome o seu realizador de modo gradual, a ponto de sugar todas as forças deste.
Existe também a possibilidade de Kaufman ter feito deste “Sinédoque, Nova York” o que Stanley Kubrick fez com “2001 – Uma Odisséia no Espaço”, transformando-o em uma obra com o intento de formular apenas questões, e não respostas (apesar de eu defender a tese (e é óbvio que apenas a defendo e não a julgo como sendo a tese definitivamente verdadeira) de que a obra-prima de Kubrick (e meu segundo filme predileto) trata-se de uma alegoria espacial sobre a evolução humana do ponto de vista nieztschiano – pois é, eu tinha que citar Nieztsche neste texto, não é mesmo?).
Independentemente da mensagem que Kaufman almejou nos transmitir com “Sinédoque, Nova York”, o filme em questão trata-se de uma obra imperdível, recheada de características que nos remetem à lembrança de outras obras-primas, tais como “Um Cão Andaluz” (ainda que não seja tão dadaísta quanto o curta-metragem mais revolucionário da história do Cinema) de Luís Buñuel, e “Cidade dos Sonhos” de David Lynch.
Fica a recomendação para que o leitor, quando for assistir ao filme, ao invés de tentar amarrar todas as pontas do longa, apenas embarque na surreal viagem de Charlie Kaufman e lucubre, após o término da sessão, sobre um (ou mais) dos vários questionamentos que a produção em questão nos remete.
Avaliação Final: 8,7 na escala de 10,0.
Jules & Jim – Uma Mulher Para Dois – ***** de *****
Título Original: Jules et Jim.
Gênero: Drama.
Tempo de Duração: 104 minutos.
Ano de Lançamento: 1962.
País de Origem: França.
Direção: François Truffaut.
Roteiro: François Truffaut e Jean Gruault, baseado em livro de Henri-Pierre Roché.
Elenco: Jeanne Moreau (Catherine), Oskar Werner (Jules), Henri Serre (Jim), Vanna Urbino (Gilberte), Boris Bassiak (Albert), Anny Nelsen (Lucie), Sabine Haudepin(Sabine), Marie Dubois (Therese), Christiane Wagner (Helga) e Michel Subor (Narrador).
Sinopse: Jules (Oskar Werner) e Jim (Henri Serre) são dois jovens boêmios e intelectuais que vivem em Paris durante a Belle Époque. A vida de ambos ganha uma injeção de ânimo ainda maior quando Catherine (Jeanne Moreau), uma jovem libertária, revolucionária, contestadora, inconsequente e impetuosa os conhece. Os três formam um grupo inseparável que passa boa parte do tempo indo ao teatro, realizando passeios ciclísticos e frequentando a praia local. Dá-se início à Primeira Guerra Mundial, Jules se vê obrigado a sair da França e defender a sua terra natal, mas casa-se com Catherine antes. Terminada a guerra, Jim vai visitar os dois amigos e vê que ambos formaram uma família bem sucedida. Mas o tempo passa e o francês se dá conta de que os dois não são tão felizes quanto pensava, uma vez que Catherine é uma jovem feminista ferrenha e acredita que o amor é curto. Logo, a garota passa a trair Jules constantemente, achando que trata-se de uma atitude normal. Jules não se importa com isso, contenta-se apenas com a presença da esposa, sem se preocupar com a fidelidade por parte da mesma. As coisas mudam completamente de figura quando Catherine passa a amar Jim, e o sentimento torna-se recíproco, nascendo aí um triângulo amoroso altamente explosivo.
Jules et Jim – Trailer:
É interessante que, antes de assistir a este “Jules & Jim – Uma Mulher Para Dois”, o último filme por mim conferido tenha sido “Acossado” de Jean-Luc Godard (e aconselho que o(a) leitor(a) o faça da mesma forma, assista à obra-prima de Godard e, logo me seguida, assista a obra-prima de Truffaut, e quando tiver acabado, entenderá o porquê de meu conselho), pois ambos tem muito em comum.
Além de serem dois dos maiores representantes da Nouvelle Vague, também contam com o “amor” como grande protagonista da trama. Entretanto, ambas as obras abordam tal sentimento de formas extremamente diferentes, sendo que o longa de Godard estabelecia um panorama sobre o amor entre duas pessoas completamente diferentes, ao contrário do longa de Truffaut, que o faz em cima de vários indivíduos com muitas características em comum.
O filme começa com uma citação que o resume muito bem. Catherine, a protagonista, diz: “Você disse: “eu te amo”, eu disse: “espere”, eu disse: “sou sua” e você disse: vá embora”. Neste curto diálogo podemos prever que o longa trata de pessoas que amam, mas não suportam vivenciarem tal amor de forma completa. É como se o mesmo as enjoasse, as entediasse, e perdesse toda a magia e o charme inicial com o decorrer de um curto período de tempo. X ama Y, Y pede a X um tempo para pensar, Y decide então aceitar o amor de X, e quando X passa a se relacionar afetivamente com Y, ele já não sabe mais se ama o parceiro. Complexo? E como.
É nesta amálgama amorosa que o roteiro assinado por François Truffaut e Jean Gruault, baseados no romance autobiográfico de Henri-Pierre Roché, tece o seu trio de personagens principais. Adotando inicialmente uma narrativa abrupta e efêmera, assim como muitos exemplares da Nouvelle Vague o fizeram, “Jules & Jim – Uma Mulher Para Dois” nos introduz logo de cara, e sem quaisquer delongas, à amizade entre os personagens título. Passamos a saber, logo no início da projeção, que ambos tornaram-se amigos fantasiando-se para um baile, e pronto, isso já basta. Não é necessária uma abordagem mais ampla de como ambos se conheceram, isso seria perda de tempo.
Jules é um austríaco que, ao lado do francês Jim, nutre uma paixão incondicional pela Arte. Ambos passam os seus vinte e poucos anos de idade aproveitando a vida ao máximo, fazendo tudo o que os demais jovens aristocratas poderiam fazer na Paris dos últimos anos da Belle Époque. O desenvolvimento diegético de ambos passa a fazer mais sentido e descobrimos então a verdadeira razão da existência da amizade entre os protagonistas. Os dois estão fortemente ligados aos prazeres da boemia e ao estudo da Arte, e isso já basta para que o apego entre ambos nos cative definitivamente, justificando o início súbito do filme.
A amizade entre eles ganha força máxima com a inclusão de Catherine na trama. Assim como Jules tornou-se amigo de Jim ao acaso, o mesmo ocorre com a personagem magistralmente encarnada pela excelente Jeanne Moreau. A primo, Catherine surge como um amálgama entre os dois amigos. A garota, até então depressiva, completa e, ao mesmo tempo, é completada pela alegria dos personagens-título. Os jovens, que já seguiam um estilo de vida hedonista, e com ligeiras pinceladas epicuristas, ganham características ainda mais joviais quando se encontram ao lado da moça.
Mas tudo o que é belo tem o seu fim. Chega a Primeira Grande Guerra e, com ela, surge uma vírgula que interrompe a amizade de ambos. Jules é desterrado da França para lutar pelo seu país. Notamos então que os sentimentos de ambos são realmente verdadeiros, pois um prefere mil vezes a própria morte a ter de aniquilar o outro em campo de batalha.
A guerra acaba. Jim visita Jules, que encontra-se casado com Catherine e, em uma primeira vista, julga que ambos formaram um casal feliz, construíram uma excelente cabana em uma bela fazenda e tiveram uma filha encantadora. Eles tem tudo para ser uma família afortunada, mas não são. Por quê? Em face do gênio impetuoso e libertário de Catherine.
Jules ama a imagem que criou em cima da moça, mas não nutre por ela um sentimento tão intenso quando esta se encontra a sua frente. Catherine já é uma jovem demasiada feminista e libertária. Ela é a personificação da década de 1.920, uma feminista insanável. É extremamente ‘saidinha’, como diriam os mais velhos. A personagem de Jeanne Moreau é adepta ferrenha do amor livre, do amor anárquico, do amor rotativo. Para ela, o verdadeiro amor existe, de fato, mas tem uma chama muito curta e pode ser facilmente apagado.
Eis que Jim volta à sua vida. O francês passa a amá-la, mas respeita o amigo. Jules, no entanto, desconfia, e pede ao amigo que case-se com a sua esposa, pois apenas desta forma ele poderá vê-la todos os dias, já que o austríaco não consegue disponibilizar a esta todo o amor necessário (se é que realmente existe algum), ele confessa que contenta-se apenas com a presença diária de Catherine. Jules permite então que o amigo francês e a ex-esposa mantenham conjunção carnal em sua própria morada, debaixo de seu próprio nariz.
Seria ele um (com o prévio perdão pela expressão vulgar) “corno manso”? Ou quem sabe um voyeur. Não, nem um, nem outro. Jules, como já fora dito, ama apenas a imagem que criou sobre Catherine, e talvez nem ame a pessoa Catherine, apesar de não conseguir viver afastado da mesma. Para ele não consiste uma traição ver as duas pessoas a que mais ama manterem um relacionamento afetivo dentro de sua própria casa, e com o seu próprio aval. Mas aos poucos Jim também passa a sentir que já não ama Catherine com a mesma magnitude que amava outrora e tal sentimento é recíproco.
E é aí que o vai-e-vem amoroso começa tudo de novo. Os desconexos sentimentos afetivos tomam conta da película mais uma vez (se é que deixaram de tomar conta da mesma durante algum instante) e nos vemos novamente diante de um relacionamento que mais parece ter ocorrido em meio a uma comunidade hippie. E falando em comunidades hippies, não é de se estranhar a coincidência de “Jules & Jim – Uma Mulher Para Dois” ter sido lançado justamente nos anos 1.960, juntamente com o surgimento destes movimentos da contracultura, já que eles também pregavam a mesma forma alternativa de amor.
É através da utilização de uma direção bastante autoral, repleta de travelings curtos e rápidos, cortes dinâmicos, e de enquadramentos que exploram ao máximo a beleza natural de suas locações, bem como de sua fotografia, que Truffaut filma “Jules & Jim – Uma Mulher Para Dois” realizando um complexo estudo de personagens que amam de forma doentia, e deixam de amar de forma ainda mais doentia.
Não é o melhor exemplar que a Nouvelle Vague pode nos oferecer, pois perde de longe para “Acossado”, mas é uma obra-prima incontestável. Um marco na sétima Arte.
Avaliação Final: 10,0 na escala de 10,0.
Acossado – ***** de *****
Havia prometido adotar recentemente uma escrita bem mais resumida, não? Sim, e sejamos francos, estava cumprindo tal promessa, não estava? Mas e quando o objeto da análise tratar-se de um de meus três filmes prediletos? Como continuar cumprindo tal promessa e utilizar um texto curtíssimo para resumir um filme que tem tanta coisa a dizer, como é o caso de “Acossado”? Como resumir em poucas palavras toda a idolatria que nutro pela obra-prima de Jean-Luc Godard? Impossível. Ou melhor, impossível não é, já que resenhei o meu filme predileto em apenas minúsculas 25 linhas de texto, mas confesso que senti-me extremamente mal por resumir toda a obra-prima de Francis Ford Coppola em tão poucas palavras. Não farei o mesmo com “Acossado” e, portanto, preparem-se (caso se interessem pela leitura do artigo infra) para uma redação bem longa, recheada de fanatismo, mas bastante detalhada e feita com muita paixão.
Ficha Técnica:
Título Original: À Bout de Souffle.
Gênero: Romance / Policial.
Tempo de Duração: 87 minutos.
Ano de Lançamento: 1960.
País de Origem: França.
Direção: Jean-Luc Godard.
Roteiro: Jean-Luc Godard, baseado em estória de François Truffaut.
Elenco: Jean-Paul Belmondo, (Michael Poiccard), Jean Seberg (Patricia Franchisi), Daniel Boulanger (Inspetor de polícia), Jean-Pierre Melville (Parvulesco), Henri-Jacques Huet (Antonio Berrutti), Van Doude (Jornalista), Claude Mansard (Claudius Mansard), Jean-Luc Godard (Informante), Richard Balducci (Tolmatchoff) e Roger Hanin (Cal Zombach).
Sinopse: Após furtar um carro e, na fuga, matar um policial, Michel (Jean-Paul Belmondo) parte para Paris a fim de recuperar o dinheiro que um indivíduo está lhe devendo e propor à sua amante Patricia (Jean Seberg), uma jovem estadunidense aspirante a jornalista, que viaje com ele para a Itália. Enquanto tenta persuadir a garota e encontrar o homem que lhe deve o dinheiro, Michel perde o senso da realidade e comete alguns delitos pela cidade, mesmo sendo procurado incansavelmente pela polícia, em razão do assassinato que cometera há pouco.
À Bout de Souffle – Trailer:
Crítica:
Não tem jeito, começarei com o clichê: o Cinema pode (e deve) ser dividido da seguinte forma: antes e depois de “Acossado”. E falo sério mesmo, não estou me fazendo de fã incondicional e/ou irracional do filme, não. Deseja que eu fundamente o meu argumento? Pois bem, então vamos lá.
Antes de “Acossado” o Cinema contava com obras noir como os excelentes: “O Falcão Maltês” (ou “Relíquia Macabra”, caso o leitor prefira), “Pacto de Sangue” (um de meus ‘Wilder’ favoritos) e “O Terceiro Homem” (meu segundo ‘Welles’ predileto, perdendo apenas para “Cidadão Kane”, é claro). Jean-Luc Godard (que até então era apenas um crítico da Sétima Arte que detestava amplamente o jeito de se fazer Cinema adotado por Christian-Jacque, Jean Delannoy e Gilles Grangier) buscou inspiração nos filmes supra e lançou este fabuloso “Acossado” que, dotado de muita filosofia e estética cinematográfica, viria a influenciar visivelmente verdadeiros clássicos do Cinema estadunidense, principalmente produções magistrais realizadas na década de 70, tais como: “Taxi Driver”, “Uma Rajada de Balas” (sim, eu sei, o policial dirigido por Arthur Penn é da década de 60, mas está tão próximo dos anos 70 que achei plausível citá-lo aqui) e “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” (não se assustem, mais abaixo explico a citação do mais famoso filme de Woody Allen). Meus argumentos o satisfizeram agora? Não! Pois continuemos a fundamentar então.
A fim de provar definitivamente que “Acossado” é o divisor de águas entre o Cinema Clássico e o Cinema Moderno, direciono as seguintes perguntas ao leitor: o que seria do Cinema atual sem a década de 70? O que seria da década de 70 sem Francis Ford Coppola e Martin Scorsese? O que seria do Cinema da década de 80 sem Brian de Palma? O que seria do Cinema da década de 90 sem Quentin Tarantino? E o que seria da década de 70, de Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, Brian de Palma e Quentin Tarantino sem a Nouvelle Vague? Por fim, o que seria da Nouvelle Vague sem Jean-Luc Godard e este seu “Acossado”? Impossível de se imaginar, não? Pois é, e tendo tudo isso em vista, pode-se findar que o Cinema realmente é dividido em: antes e depois de “Acossado”, não? Certamente que sim.
Mas, e individualmente falando? O que podemos esperar de “Acossado” analisando-o como um filme qualquer? É realmente uma obra cinematográfica de qualidade? Ou trata-se apenas de um exercício de estilo vazio que, involuntariamente, acabou inspirando muitas outras obras-primas e, apenas por este motivo, é elogiado com tanto fervor por críticos de Cinema do mundo inteiro?
Bem, juro que enquanto assistia à obra em questão procurei esquecer-me de toda a badalação que o filme carregava consigo. Esqueci-me de que era a mais famosa obra do mais famoso cineasta francês de todos os tempos; esqueci-me de que era um dos grandes responsáveis pelo surgimento do importantíssimo movimento alcunhado de Nouvelle Vague (o grande responsável foi “Nas Garras do Vício” de Claude Chabrol); esqueci-me de que fora um filme demasiadamente improvisado, feito sem quaisquer planejamentos, onde o diretor e roteirista Jean-Luc Godard escrevia o roteiro (baseado em argumento de François Truffaut que, mais tarde, viria a se tornar seu arqui-rival) durante a manhã e, à tarde, dirigia o filme (ou seja, a produção começou a ser filmada com um roteiro totalmente incompleto). Enfim, fiz um esforço e esqueci-me de tudo isso, optando por avaliar esta produção como uma outra qualquer. Mesmo assim, analisando-a da maneira mais individualista possível, considerei-a fenomenal.
A sensação que tive enquanto assistia a “Acossado” acabou sendo a mesmíssima sensação que tive enquanto assistia a “8 ½” de Federico Fellini: a de estar diante de um dos dez melhores filmes que já havia tido a oportunidade de assistir em toda a minha vida. E, para falar a verdade, “Acossado” é mais do que isso, é um de meus três filmes prediletos, perdendo apenas para “2001 – Uma Odisséia no Espaço” e “O Poderoso Chefão”, que ficam, respectivamente, em segundo e primeiro lugar em minha lista de filmes prediletos.
Mas deixando de lado esse meu fanatismo entranhado e analisando o filme frigidamente, não há como deixarmos de depreender que “Acossado” atinge a perfeição em todos os aspectos possíveis, a começar pela direção de Godard que revela-se, nesta obra, a primeira a utilizar a técnica que viria a ser alcunhada de handcam, rompendo de vez um paradigma adotado pelo Cinema.
Com a câmera literalmente na mão, o genial cineasta francês confere um realismo fora do comum à trama. E não apenas o doce e suave balanço horizontal de sua máquina nos proporciona tal sensação. O modo como o diretor realiza vários enquadramentos, a forma enérgica que utiliza para movimentar a câmera durante as cenas mais tensas e a sapiência (e olha que este fora o seu primeiro longa metragem) adotada com o intento de criar cenas clássicas (sobretudo durante o desfecho do filme, quando o diretor segue Michel, que corre desesperadamente por uma rua de Paris) também conferem ao filme um toque realista excepcional, além de fazer com que nos cativemos definitivamente com o mesmo.
A edição empregada em “Acossado” também eleva a obra-prima de Godard a um patamar que o Cinema mundial raramente conseguiu alcançar, principalmente pelo modo como a mesma “brinca” a todo o instante com a passagem de tempo no filme. Ora ela dá saltos consideráveis no tempo, ora ela ameaça avançar gradativamente, mas volta ao mesmíssimo lugar em que parou. Tal técnica confere uma dinâmica excepcional à obra, que jamais perde o seu ritmo.
A trilha-sonora, então, é empregada de um modo mais do que conveniente. Além de nos remeter a uma instigante aura de Film Noir, acrescenta à produção os tons de suspense, humor e romance que revelam-se imprescindíveis para o sucesso completo da mesma. Sabe aquela trilha-sonora que você ouve e passa longos dias relembrando-a? Pois é, a trilha de “Acossado” é uma destas, bem como as de “O Poderoso Chefão”, “Dr. Jivago”, “A Primeira Noite de um Homem”, “Três Homens em Conflito”, “Os Sete Samurais”, “Lawrence da Arábia”, “2001 – Uma Odisséia no Espaço”, “Barry Lyndon”, “Os Bons Companheiros”, “Pulp Fiction – Tempos de Violência”, “Casablanca”, “…E o Vento Levou”, “Ben-Hur”, “Laranja Mecânica”, “Taxi Driver” (a propósito, a trilha do filme em questão é muitíssimo parecida com a deste filme de Scorsese) e de muitos outros filmes inesquecíveis.
Mas o trunfo de “Acossado” reside mesmo em seu roteiro. Godard já acerta logo de cara ao nos introduzir, do modo menos sutil o possível (e isso, acreditem, trata-se de um grande elogio), à conturbada vida do fora-da-lei Michel Poiccard. É como se o diretor nos fizesse um convite com os seguintes dizeres: “Está afim de acompanhar de perto a vida de um perigoso criminoso durante alguns dias?”, e, sem nem ao menos esperar a nossa aquiescência no que se concerne a tal solicitação, Godard simplesmente segura-nos a mão e nos puxa para dentro da estória e da vida de Michel, sem quaisquer pedidos de licença, sem quaisquer cerimônias e sem quaisquer delongas. Ele simplesmente o faz do modo mais brusco e inesperado o possível, o quê, certamente, é sensacional.
Sabe-se lá como, Godard acaba conseguindo a façanha de fazer com que nos cativemos com o filme logo em seu primeiro segundo. Sentimos como se já conhecêssemos Michel há algum tempo, como se já fossemos íntimos do mesmo, tamanha a familiaridade que o gênio francês nos transmite logo no início da trama, quando a mesma se abre com a seguinte frase: “No fundo, sou burro!”. Exatamente, em menos de dois segundos de projeção, o protagonista nos faz logo de cara uma espécie de confissão. E aí eu pergunto: “Como podemos não nos cativar com um sujeito destes?”.
Tudo em Michel chama a atenção, tudo mesmo. A começar pelo fato deste ser uma releitura de vários personagens encarnados por Humphrey Bogart nos anos 1.940 (reparem na clara homenagem que o filme realiza ao astro de “O Tesouro de Sierra Madre”, quando a imagem de Michel é refletida em um vidro que protege a imagem de Bogard, ou seja, a imagem deste atrás, e a imagem daquele à frente, mostrando que um é o sucessor do outro), passando pelos trejeitos parecidos com os de um bonachão italiano mesclados ao charme de um galanteador francês, o terno que traja durante boa parte da trama, o chapéu que lhe cobre os olhos, o cigarro no canto direito da boca soltando fumaça durante a projeção inteira, a ignorância dele e, é claro, os diálogos completamente desconexos que solta durante o filme todo. Repare, por exemplo, quando ele comenta, olhando diretamente para a câmera, ou seja, para nós, espectadores: “___ Amo a França. Se não gosta do mar, se não gosta da montanha, e se não gosta da cidade…”… enfim, é melhor nem concluir os dizeres do protagonista, sob pena de retirar o timming cômico embutido na cena. Tudo o que posso dizer é que, justamente quando esperávamos que Michel fosse nos dar uma outra alternativa para amarmos a sua terra natal, ele simplesmente conclui o que havia começado a dizer de uma forma extremamente brutal e desconexa, o que nos faz instantaneamente soltar uma gostosa gargalhada.
Aliás, o filme todo é desconexo (daí o motivo da edição constantemente dar saltos para frente e para o nada) e bem-humorado, sobretudo o par romântico formado por Michel e Patricia. E é justamente no affair de ambos que o filme atinge o seu clímax. A melhor cena de “Acossado” não reside em uma perseguição, nem em um tiroteio, nem em um momento essencialmente dramático, mas sim em uma simples conversa na qual o casal tem em uma simples cama de hotel. Isso mesmo, uma singela conversa na cama, sem nenhuma cena picante ou coisa do tipo.
Muitos poderão achar os diálogos de ambos completamente sem pé, nem cabeça, mas a verdade é que toda a carga dramática do filme está ali. Ambos falam sobre tudo e, ao mesmo tempo, sobre nada, sobre absolutamente nada. Patricia pede ao parceiro que diga algo simpático, este não sabe o que dizer, a garota então contorna a situação embaraçosa comentando o quão bonito é o cinzeiro dele, ele diz que era de um avô seu que morou uns tempos na suíça e, sem mais nem menos, emenda com uma conversa onde relata que este seu mesmo antepassado adquiriu um Rolls-Royce uma vez e o carro suportou quinze anos sem ter uma única falha mecânica.
E é justamente neste romance desconexo e sem razão de ser, que o filme aposta todas as suas fichas. E aposta certo. O caso de amor entre Michel e Patricia nada mais é do que um epítome da grande maioria dos casos amorosos existentes naquela época, e por que não dizer, em nossa época? É por isso que não há como negar que Godard fez uma obra muito a frente de seu tempo, uma obra que relataria o acaso, o preenchimento existencial embasado no sexo e em uma reles aventura, sem qualquer conteúdo. Em um determinado momento Patricia, imatura, sonhadora e infantil comenta que gostaria que eles fossem como Romeu e Julieta, mas como isso seria possível? Há algo que possa unir um casal tão desconexo?
Ele é um inculto, ela, uma aspirante a intelectual; ele é rude, ela, um doce de pessoa; ele é audacioso, ela, excessivamente cautelosa; ele é objetivo, ela, um poço de subjetividade; ele é resoluto, ela, um baú de perplexidade; ele não tem quaisquer perspectivas fora do submundo do crime, ela, uma aspirante a jornalista com uma próspera carreira pela frente. E aí perguntamos: “Por quê?! Por que uma moça destas se interessa por um tipinho destes?!”. Oras, pelos mesmos motivos que as garotas mais perfeitamente lapidadas se interessam pelos tipos mais asquerosos: pelo sexo (está aí o motivo da analogia deste filme com “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” conforme citado no primeiro parágrafo) e pela aventura.
Nossas existências se repetem cada dia mais. Vivemos sempre o mesmo, passamos sempre pelas mesmas situações. Imagine uma garota como Patricia. Ela tem futuro? E como. Tem todas as ferramentas necessárias para prosperar na vida? E como. Mas o que é que ela não tem? Emoção. Fazer sexo com um marginal é algo que, ao mesmo tempo em que a assusta e a carrega de incertezas (uma vez que a garota, aparentemente, nasceu com o rei na barriga e o romance com Michel foge bastante do estilo de vida que preparou-se, durante toda a adolescência, para levar quando adulta), confere uma experiência instigantemente diferente na vida da moça. É como se ela estivesse flertando com o perigo, com uma vida instável, mesmo morrendo de medo de seguir com isso adiante.
E é desta forma ingênua, através de uma estória objetivamente simples (mas muito complexa se prestarmos atenção nas entrelinhas), que Godard realiza o seu amplo panorama artístico sobre nossas existências carregadas do mais insuportável tédio. A fim de fugir das rotinas das grandes cidades, as garotas, cheias de ponto de interrogação em suas mentes, não estão mais interessadas nos rapazes maduros e prontos para o compromisso sério, mas sim nas aventuras, nas possíveis emoções que um affair possa lhes proporcionar. E mesmo que o amor não seja verdadeiro, mesmo que não contenha um pingo de química sequer, isso parece não importar mais, o que importa realmente é a possibilidade de risco, que mesmo não ocorrendo tão frequentemente (como é o caso do filme em questão), já é, no mínimo, uma possibilidade, uma chance de levar uma vida mais, digamos, cool.
A fim de produzir a sua obra-prima definitiva, Jean-Luc Godard utilizou-se de uma simples fórmula: somou tudo o que o Cinema havia produzido de melhor até então, multiplicou a soma por inúmeros elementos peculiares e, como resultado, obteve o dígito mais extenso e incontável que se possa imaginar, o que reflete também no extenso e incontável número de qualidades que esta pintura em forma de película possui. Em suma, e sem cálculos matemáticos, “Acossado” tomou emprestadas características valiosíssimas do Cinema ianque para que as mesmas pudessem ser lapidadas e devolvidas à Terra do Tio Sam com um valor ainda mais alto do que quando cruzaram o Oceano Atlântico no final dos anos 1.950 e início dos anos 1.960. Por fim, encerro esta crítica (enorme, diga-se) da mesma forma que a iniciei: o Cinema, definitivamente, se divide em: antes e depois de “Acossado”.
Avaliação Final: 10,0 na escala de 10,0.
Rocco e Seus Irmãos – ***** de *****
Um pequeno texto que havia escrito em maio/2008,quando vi o filme:
Rocco e Seus Irmãos (1960,de Luchino Visconti)
Visconti agora foi elevado ao nível gênio,terceira obra dele que vejo e uma sempre melhor que as outras, esqueça ‘O Leopardo’ a obra-prima dele é esta:
A jornada de uma família que era feliz e não sabia e ficou infeliz sabendo disso.Visconti crítica a hipócrisia em família,que tenta colocar belos porta-retratos paea tamparem as rachaduras de sua parede,e as rachaduras desse filme aparecem de forma claraOs cinco irmãos que vão aos poucos tomando destinos diferentes,mas a ação de cada um ainda influência na reação do outro e é claro da figura materna que eles tentam proteger.Inveja,saudades,amor…todos os sentimentos que os envolve,eles se amam ou tentam se amar,junto a isso,Visconti ainda traça o perfil indivudaul de cada um e coloca caracteristicas bem particulares para eles.As coisas só se agrava quando Rocco se apaixona por Nádia,a ex-ficante de seu irmão mais velho Simone,era o que precisava para a família se abalar de vezCenas marcantes estão presentes nessa obra-prima,alguymas mostrando a verdadeira felicidade escondida por trás de uma fantasia infeliz,que é logo no início na seqüência que neva e eles proucuram emprego,cenas fortes como o estupro de Nádia,a briga de rua entre Rocco e Simone e o assassinato.
Milão é fria,assim como as relções em família pouco-a-pouco se transformam.
Simone entra para a lista dos personagens mais desprezíveis que o cinema já pôde fazer,e fica lá,bem ao lado de figuras como Johnny Friendy,Charle Foster Kane,Fred C. Dobbs,enfermeira Ratched ou Mr. Potter.
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