Amarcord – ***** de *****
Há muito tempo não assistia a Fellini e concluí: devo fazê-lo o quanto antes. Oras, o italiano é, talvez, o meu terceiro cineasta predileto (perdendo apenas para Kubrick, Godard e empatando, talvez, com Bergman), por que então não assisti-lo? Fiquei praticamente um ano e meio sem conferir o trabalho de um dos maiores mestre do Cinema italiano e a situação estava soando insustentável. Não poderia ficar sequer mais um único dia de minha vida tão afastado do lirismo “felliniano”. Não resisti, fui à locadora, encontrei o DVD na prateleira dos filmes de Arte, peguei-o com as duas mãos (mesmo sabendo que ninguém mais iria passar na minha frente para levar o filme para casa, afinal de contas, quem vai a uma locadora com o intento de assistir a Fellini?) e trouxe-o para casa. O resultado desta experiência? Leiam à crítica abaixo e comprovem por si mesmos.
Ficha Técnica:
Título Original: Amarcord.
Gênero: Comédia.
Tempo de Duração: 127 minutos.
Ano de Lançamento (Itália / França): 1973.
Países de Origem: Itália e França.
Direção: Federico Fellini.
Roteiro: Federico Fellini e Tonino Guerra.
Elenco: Armando Brancia (Aurelio Biondi), Pupella Maggio (Miranda Biondi), Bruno Zanin (Titta Biondi), Magali Noël (Gradisca), Ciccio Ingrassia (Teo), Nando Orfei (Pataca), Luigi Rossi (Advogado), Gianfilippo Carcano (Don Baravelli) e Josiane Tanzilli (Volpina).
Sinopse: Através dos olhos de Titta (Bruno Zanin), um garoto impressionável, o diretor dá uma olhada na vida familiar, religião, educação e política dos anos 30, quando o fascismo era a ordem dominante. Entre os personagens estão o pai e a mãe de Titta, que estão constantemente batalhando para viver, além de um padre que escuta confissões só para dar asas à sua imaginação anti-convencional.
Fonte Sinopse: Adoro Cinema
Amarcord – Trailer:
Crítica:
Como fã incondicional de Fellini e Bergman, não consigo me decidir entre um dos dois. Quem é melhor, o italiano ou o sueco? O bem humorado ou o depressivo? Cada qual tem o seu estilo próprio de abordar as questões existenciais vivenciadas por nós, meros mortais, mas quem realiza melhor o seu trabalho? Difícil dizer. Ambos convencem, e muito, em suas respectivas intenções.
Se Bergman nos faz refletir sobre as nossas existências em “Gritos e Sussurros”, Fellini o faz tão magistralmente quanto (ou talvez, de maneira até melhor) em “8 e ½”. Se Bergman critica a hipocrisia social em “Persona – Quando Duas Mulheres Pecam”, Fellini o faz tão magistralmente quanto (ou talvez, com um pouco menos de intensidade) em “A Doce Vida”.
Mas enfim, por que estou batendo tanto em cima de ambos os diretores? Simples, porque ambos nos remetem aos mesmos questionamentos, só que os dois encontram-se em polaridades estupidamente diferentes.
Se Bergman se mostra em crise existencial constante e nunca/raramente oferece solução/soluções para tal, Fellini já tem um pensamento mais positivo, e boa parte de suas obras são depreendidas com um final feliz (e em momento algum isso pode ser encarado negativamente, já que Fellini sabia, como poucos, criar finais felizes pouco/nada artificiais). Quiçá “Amarcord” seja o filme que melhor diferencie um dos maiores gênios (senão o maior) do Cinema italiano do maior gênio do Cinema sueco, e prove, de fato, que ambos realmente abordam assuntos muito parecidos, mas em polaridades amplamente diferentes.
Revelando-se, talvez, como o trabalho mais positivista dentre os demais exemplares “fellinianos”, ouso mencionar que “Amarcord” muito provavelmente seja uma ode que o cineasta almejou realizar sobre a concreta possibilidade de se encontrar a felicidade plena e absoluta nas coisas mais simples da vida. Não seria inverossímil de minha parte, portanto, mencionar também que, possivelmente, este seja o motivo pelo qual o filme não tenha uma grande trama por trás de si. Afinal de contas, o roteiro trata de pessoas simples, com cotidianos ainda mais simples. Veja o nosso próprio caso. Somos, na grande maioria das vezes, indivíduos que apenas passamos pela vida, sem vivenciar momentos excepcionais e marcantes a ponto de tornaram-se um filme. E isto é necessariamente ruim? Depende, tudo varia de acordo com a forma com a qual encaramos nossas vidas. Para quem sabe admirar a beleza na simplicidade, o cotidiano de uma reles cidadezinha no litoral da Itália pode ser um paraíso.
Mas “Amarcord” é também uma crítica à completa alienação. Uma condenação à hipocrisia social, tomando como base para tal um grupo de pessoas que viviam em meio a um sistema fascista e totalitarista, e que parecia aceitar o mesmo sem problemas. Ao mesmo tempo em que presenciamos um povo simples, humilde e satisfeito com a própria vida, tomamos ciência também de que estamos diante de um aglomerado de seres humanos alienados, conformistas e (por que não dizer?) ufanistas, que sentem orgulho de fazer parte de um sistema econômico e de um regime militar que os usa como meras ferramentas para o triunfo de uma pequena, mas dominante, minoria.
“Amarcord” nos propõe então o debate acerca de uma polêmica questão: o que é melhor? Viver humildemente e levar uma vida feliz, mesmo sendo gritantemente manipulado por uma minoria, ou abandonar todos os ideais conformistas que podemos ter e corrermos o risco de sermos repreendidos por esta mesma minoria (assim como um personagem que é torturado pelos fascistas logo após ser tachado de comunista)?
A produção, no entanto, não é somente um debate político-social-existencial. Fellini, por mais que negue com veemência, parece ter utilizado a sua câmera aqui com o intuito de realizar uma espécie de autobiografia (assim como o fez, e assumiu que o fez, em “8 e ½” – o meu ‘Fellini’ predileto e um de meus dez filmes preferidos) e o próprio título desta magnífica obra do Cinema italiano revela-se o grande alcaguete do cineasta, uma vez que “Amarcord” trata-se de uma gíria deveras utilizada na região onde Federico nasceu e significa justamente: “Me recordo”.
E é justamente quando emprega em sua narrativa um fantástico clima de recordação que o longa opta, com sapiência, por focar-se em uma cidadezinha no litoral da Itália, onde podemos nos deparar com os personagens mais peculiares e extravagantes o possível. Começamos com uma ninfomaníaca e vamos até uma mulher absurdamente voluptuosa cujo maior sonho é casar-se com um militar fascista, passando por uma enfermeira anã, um ambulante exageradamente excêntrico, um grupo de pessoas que trabalham durante a vida toda simplesmente para tentar sobreviver, e uma pequena confraria de jovens altamente frívolos que não pensam em outra coisa, se não sexo.
Falando nos jovens, talvez seja neles que Fellini tenha depositado a maior parte da carga autobiográfica do filme, espelhando-se em Titta para nos relatar as suas experiências com a família, a religião, a amizade, a política, o regime militar fascista, e, é claro, o sexo, bem como a aflição pela qual passamos antes, durante e depois da realização do mesmo. Afinal de contas, por mais fútil que possa ser, como podemos negar que o sexo marca, de fato, as nossas vidas?
Mas e quanto ao diretor Fellini? O gênio Fellini? Como ele se sai? Por trás das câmeras, o italiano dá o tom minuciosamente correto à obra. Ele a orquestra como se fosse, de fato, um maestro. Sabe-se-lá como o cineasta consegue tornar possivelmente real um filme com um número considerável de figuras excêntricas. Tanto que, mesmo em meio à excessiva carga fantasiosa da trama (afinal de contas, trata-se de um filme de lembranças, e quem não conta com uma carga fortemente fantásticata com uma carga fortemente fanttaa (afinal de contas, trata-se de um filme de lembranças, e quem nm que is conformistas o embutida em suas recordações?), nos sentimos inexplicavelmente familiarizados com a mesma, tornando-se impossível não nos identificarmos com a maior parte do filme.
O cineasta destaca-se também no que se refere à concepção de cenas clássicas. E digo clássicas, pois são atemporais, sendo que poderiam adquirir tal rótulo a partir do momento em que foram exibidas nos cinemas do mundo todo. Como não reconhecer de imediato que sequências como a dos jovens se masturbando no carro, a dos adolescentes dançando em meio a uma neblina, a da nevasca cobrindo a cidade no final do filme transformando-a em uma das mais belas paisagens já vistas na história do Cinema, o casamento que conclui a obra e, principalmente, o passeio de barcos tradicional que se encerra com a passagem do Transatlântico Rex, entre muitas outras, irão marcar o Cinema durante muitos e muito anos?
Realizando uma autobiografia não assumida de sua infância, Fellini faz de “Amarcord” um estupendo debate existencial explicitando dois pontos exacerbadamente diferentes: a possibilidade de se encontrar a felicidade nas coisas mais simples da vida e, ao mesmo tempo, a impossibilidade de se viver tranquilamente perante a um ideal extremamente conformista, que acaba permitindo com que sistemas totalitários, bem como o fascismo, se apoderem de nós, sem nem ao menos nos importarmos com isso. O clima de recordação embutido no roteiro nos soa extremamente familiar e nos cativamos imensamente com os jovens pervertidos sexuais que, deixando a hipocrisia de lado, podem ser espelhados em qualquer um de nós.
O longa talvez falhe apenas no senso de humor excessiva e desnecessariamente pastelão inserido em seu início (e juro que pensei estar assistindo a um “Porky’s” politizado durante alguns momentos), mas nada que comprometa este longa que, assim como “O Poderoso Chefão” (alguma vez já disse que este é meu filme predileto?), revela-se muito mais do que um excelente filme; “Amarcord” mostra-se, na verdade, uma junção de várias cenas clássicas que são projetadas na tela ao longo de, aproximadamente, 120 minutos, e o que é melhor, sob a magistral trilha-sonora composta por Nino Rota (assim como acontecera também em “O Poderoso Chefão”), que parece ter vida própria (e não se surpreenda caso você passe um mês inteiro assoviando-a incansavelmente) e casa-se magistralmente com as maravilhosas imagens que perambulam pela tela.
Avaliação Final: 9,0 na escala de 10,0.
Um Louco Apaixonado – ** de *****
Título Original: How to Lose Friends & Alienate People.
Gênero: Comédia.
Tempo de Duração: 110 minutos.
Ano de Lançamento: 2008.
Site Oficial: http://how2losefriends.com/
Nacionalidade: Inglaterra.
Direção: Robert B. Weide.
Roteiro: Peter Straughan, baseado em livro de Toby Young.
Elenco: Simon Pegg (Sidney Young), Kirsten Dunst (Alison Olsen), Danny Huston (Lawrence Maddox), Megan Fox (Sophie Maes), Jeff Bridges (Clayton Harding), Gillian Anderson (Eleanor Johnson), Max Minghella (Vincent Lepak), Miriam Margolyes (Sra. Kowalski), Diana Kent (Rachel Petkoff), Charlotte Devaney (Bobbie), Margo Stilley (Ingrid), Isabella Callthorpe (Anna), Hannah Waddingham (Elizabeth Maddox), Kelan Pannell (Sidney Young – jovem), Janette Scott (Sra. Young), Miquel Brown (Assistente de Clayton), Thandie Newton (Thandie Newton), Daniel Craig (Daniel Craig) e Kate Winslet (Kate Winslet).
Sinopse: Sidney Young (Simon Pegg) é um jovem editor de uma insignificante revista inglesa chamada Post Modern Reviews. O rapaz vive inconformado com o rumo o qual tem tomado o jornalismo cinematográfico ultimamente. Para ele, a profissão deveria ser mais ousada, mais descarada e, acima de tudo, mais sincera. Clayton Harding (Jeff Bridges), editor chefe da Sharps Magazine, uma das maiores revistas do mundo, se impressiona com o trabalho audacioso e polêmico que Young realizou na pequena empresa em que trabalha e decide o contratar como funcionário. Young se mostra extremamente fora dos padrões estipulados para ser um jornalista de sucesso, mas aos poucos vai conquistando fama e dinheiro. Young conquista também Sophie Maes (Megan Fox), a atriz “do momento”, mas o seu verdadeiro amor é Alison Olsen (Kristen Dunst) e decide investir pesado para conquistá-la.
How to Lose Friends & Alienate People – Trailer:
Ah, o Cinema! Como o Cinema é fascinante! Uma verdadeira indústria, isso sim! Uma indústria de sonhos, uma indústria de fantasia, enfim, uma indústria “do bem”, não? De fato, é. E não bastasse a magia por trás do Cinema, temos também várias pessoas empregadas graças a esse. Sabe o que é mais curioso ainda? Que o Cinema emprega pessoas direta e indiretamente falando. Além de roteiristas, diretores, atores, editores, diretores de fotografia e muitas outras profissões, o Cinema emprega também profissionais adjacentes a ele. Dentre os “empregados” indiretos da indústria cinematográfica encontramos, é claro, os jornalistas cinematográficos. Nesta área o leque é muito grande e pode variar desde os famosos “paparazzi” (aliás, é curioso que o longa em questão cite tanto “A Doce Vida”, já que o termo “paparazzi” teve origem no filme de Fellini) até os editores de grandes revistas, passando até mesmo pelos críticos de Cinema.
Lendo o parágrafo supra, de cabo a rabo, não há como deixarmos de notar o quanto o Cinema mexe com a vida e, principalmente, com o bolso de muita gente, não é? De fato, mas todos nós sabemos que, onde tem dinheiro tem sujeira, não é mesmo? Pois é, e nos bastidores do Cinema, caros leitores, é assim que a coisa funciona, através de muita hipocrisia. Já vimos isso perfeitamente no perfeito (a redundância, aqui, é proposital) “Crepúsculo dos Deuses” e podemos vê-lo novamente, de modo infinitamente menos eficiente e pretensioso, no recente “Um Louco Apaixonado”. Entretanto, se o filme de Billy Wilder mostrava a banda podre de Hollywood focando-se no modo como a indústria despreza os grandes atores que já não tem mais o grande “brilho” que tiveram outrora, o longa dirigido por Robert B. Weide critica a maneira como os empresários da sétima Arte colocam no topo um desconhecido qualquer e manipula meio mundo para mantê-lo ali, enquanto lhes for conveniente.
“Um Louco Apaixonado” mostra então o modo como a fama é “comprada”. A primo, um empresário seleciona um ator (no caso do filme, uma atriz) de boa aparência física e um diretor tentando ser moderninho (Hum! Lembrei-me de Gus Van Sant agora) e faz de tudo para chamar a atenção da imprensa especializada. Feito isso, “compram” matérias positivando o talento de seus “clientes” e, por fim, “compram” críticas de Cinema que os enalteçam ainda mais, a ponto de serem indicados a um importante prêmio. Por fim, após lucrarem muito com os profissionais, os colocam na geladeira. Estes perdem todo o glamour e a badalação comandada, principalmente, pelos jornalistas, que os deixam de escanteio e correm atrás de novas estrelas.
Uau! Quem poderia imaginar que uma produção com um título nacional tão tosco quanto “Um Louco Apaixonado” teria a capacidade de nos levar a uma reflexão tão profunda, hein? De fato, a produção nos remete a altas reflexões acerca dos imundos bastidores da sétima Arte. Mas esperem aí, antes de qualquer coisa, a obra protagonizada por Simon Pegg é uma comédia, não? Sendo assim, antes de nos fazer refletir sobre o que quer que seja, ela deve nos fazer rir. E será ela consegue realizar tal feito? Aí é que está, não consegue.
No mais, a comédia tenta nos divertir com cenas fraquíssimas e extremamente artificiais. Tão artificiais quanto os seus personagens que resumem-se ao cara babaca que não faz nada certo mas que, repentinamente, se revela um gênio do jornalismo cinematográfico; à moça que trabalha com ele e, a princípio, o odeia, mas com o passar do tempo passa a amá-lo; ao chefe hipócrita, oportunista e falso; ao patrão carrancudo e mal humorado; ao cineasta “blasé” que é superestimado pela crítica, dentre vários outros personagens que nem vale a pena ficar citando neste texto.
É extremamente estranho, porém, que uma comédia tão visivelmente insossa quanto “Um Louco Apaixonado” conte com uma direção ligeiramente aceitável e atuações competentes. Logo no início do filme Robert B. Weide emprega aspectos técnicos bastante satisfatórios, fazendo o uso de técnicas como “close outs”, “travilings”, “handcam”, ou jsutapondo uma cena sobre a outra verticalmente e horizontalmente (um recurso muito empregado no seriado “Everybody Hates Chris”, ou, como é chamado aqui no Brasil, “Todo Mundo Odeia o Chris”).
Os atores também fazem o que podem com os seus papéis, e não é culpa deles que o roteiro os desenvolva de forma tão burlesca. Veja o personagem de Simon Pegg, por exemplo, não passa do típico fracassado das comédias deste naipe que, próximo ao final do filme, dará uma guinada em seu destino. No entanto, Pegg atua muito bem, sente-se natural com o papel e conta com bastante carisma. O mesmo ocorre com Kristen Dunst. A “Spidergirl” encarna o papel mais simplório e menos criativo que se possa imaginar, mas, como sempre, o faz de um modo natural, conferindo muito charme à sem-graça Alison Olsen (e podem me xingar à vontade, mas gosto muito do trabalho de Dunst, mesmo quando ela assume o caricato papel de Mary Jane Watson). Os demais atores também estão muitíssimo bem (salvo Megan Fox, Gillian Anderson (que já era canastra desde os tempos do superestimado seriado “Arquivo X”) e Max Minghella), em especial Jeff Bridges que, mesmo sendo caricato, esbanja carisma e charme, como de praxe.
É lamentável, no entanto, vermos que uma comédia que conta com uma direção interessante, um elenco ligeiramente afiado e, de quebra, aborda a podridão contida nos bastidores da sétima Arte, escorregue em um roteiro tão imaturo e que se mostra visivelmente falho na tentativa de construir “gags” forçadas e artificiais a todo o instante, transformando “Um Louco Apaixonado” em um filme nada mais do que meramente esquecível.
Avaliação Final: 4,0 na escala de 10,0.
Pagando Bem, Que Mal Tem? – * de *****
Estive pensando um pouco e juro que gostei bastante do título nacional conferido a este lixo da comédia estadunidense. O título original, ao pé da letra, é bastante previsível e ridículo (bem como o filme em questão). Oras, “Zack e Miri Fazem um Pornô”? E eu com isso? Por outro lado, “Pagando Bem, Que Mal Tem?”, mesmo sendo oportunista e se aproveitando de um clássico jargão, se mostra extremamente sarcástico. Pena que o filme não está à altura de seu título brasileiro, conforme veremos mais abaixo.
Ficha Técnica:
Título Original: Zack and Miri Make a Porno.
Gênero: Comédia.
Tempo de Duração: 102 minutos.
Ano de Lançamento: 2008.
Site Oficial: http://zackandmiri.com/
Nacionalidade: EUA.
Direção: Kevin Smith.
Roteiro: Kevin Smith.
Elenco: Seth Rogen (Zack Brown), Elizabeth Banks (Miriam “Miri” Linky), Jason Mewes (Lester), Gerry Bednob (Sr. Surya), Jennifer Schwalbach Smith (Betsy), Kenny Hotz (Zack II), Brandon Routh (Bobby Long), Anne Wade (Roxanne), Justin Long (Brandon), Tom Savini (Jenkins), Jeff Anderson (Deacon), Ricky Mabe (Barry), Katie Morgan (Stacey), Craig Robinson (Delaney), Traci Lords (Bubbles) e Edward Janda.
Sinopse: Zack (Seth Rogen) e Miri (Elisabeth Banks) são amigos desde o primário e ambos moram juntos. O casal parece se entender bem ao seu modo, mas as coisas começam a complicar quando ambos se veem endividados. Para saírem desta incômoda situação, eles decidem fazer um filme pornô para arrecadar dinheiro. Há um problema, no entanto, será que depois que ambos tiverem a primeira relação sexual, continuarão mantendo a mesma amizade que veem mantendo há anos?
Zack and Miri Make a Porno – Trailer:
Crítica:
Um casal de amigos, que se conhecem desde o ginásio, moram juntos há algum tempo e encontram-se endividados até o pescoço. Um deles tem uma solução para quitar as contas: fazer um filme pornô e lucrar com o mesmo. A princípio, a “produção” seria um remake de “Star Wars”, mas com cenas de sexo explícito. Soma-se essa estranha idéia à presença do sempre ótimo Seth Rogen e o que temos? Um filme bizarramente divertido, tal como “Superbad – É Hoje!”, correto? Errado, demasiado errado.
Pois é, a premissa tinha tudo para gerar mais um besteirol estadunidense de qualidade, assim como foi o já citado “Superbad…”, mas o filme erra na mão, e erra feio. Mas onde ele falha? Sinceramente? Em tudo, tudo mesmo, principalmente no humor excessivamente artificial. Logo no início percebemos isso. Bem na cena que abre o filme, vemos um entregador de jornal arremessar um tablóide na casa de um assinante, o garoto, no entanto, perde o equilíbrio, entra na contra mão com a bicicleta e faz com que um carro, que vinha de encontro com ele, se jogue contra um poste para não atropela-lo. Além da cena não ter a mínima graça e soar exageradamente desconexa com o restante do que viria pela frente (já que não é esse tipo de humor o alvo principal da produção), é artificial demais.
Aliás, o filme todo é artificial demais. A todo o momento o roteiro investe em situações absurdas para arrancar risos dos espectadores, mas falha terrivelmente. Vemos então tentativas frustradas de nos divertir com cenas patéticas como a que uma “animadora” de despedidas de solteiro faz uma bolha de sabão flatuleando em um brinquedo infantil (sim, é isso mesmo que você leu), ou uma outra cena onde o cameraman se aproxima demais de um casal fazendo sexo anal e quando, inesperadamente, o rapaz retira o pênis do anus da moça, um jato de fezes o atinge no rosto. Pois é, ambas são cenas desagradáveis não? Mas isso é tudo o que se pode esperar de “Pagando Bem, Que Mal Tem?”. E não bastasse o fato de o filme ser gritantemente artificial, vulgar e asqueroso, ele também é completamente sem graça.
A falta de conexão dramática entre os dois primeiros atos e o desfecho da trama, então, é algo fora do comum. À primo, temos um filme assumidamente prosaico e repugnante, que parece fazer questão absoluta de mandar os bons costumes para o quinto dos infernos. Concluímos que o filme se esforça, mas não consegue ter a mínima graça. Rumamos ao final da trama e, repentinamente, nos vemos diante de uma frustrante tentativa de conferir ao filme um desfecho com uma lição de moral das mais patéticas o possível. Oras, que espécie de comédia seria essa, então? Uma comédia com crise de identidade? Ora ela é exageradamente amoral, ora ela é extremamente conservadora? Estaríamos diante de uma nova versão de “Show de Vizinha”? Não, acredite, esta bomba aqui é bem pior do que o lixo protagonizado pela gostosona da Elisha Cuthbert.
Mesmo com tantas falhas “Pagando Bem, Que Mal Tem?” conta com alguns poucos acertos. Diálogos como: “___ Se fazer filme pornô é tão fácil e dá tanto dinheiro, por que todas as pessoas não passam a fazer isso?”, “___ Ora, porque elas tem dignidade, e nós não.”, ou, “___ As pessoas ganham muito dinheiro com isso, veja a Paris Hilton, está vendendo perfumes para a garotada e ela é uma perfeita imbecil!” tiram um pouco o longa do óbvio status de ridículo e sem graça o qual realmente merece ser rotulado.
Vale citar também o carisma de Seth Rogen. A propósito, Rogen, como sempre, esbanja carisma, talento e, o mais importante de tudo (já que estamos tratando de uma comédia), “timming” cômico. E o restante do elenco? Não. Além de todos os personagens (salvo o protagonista, encarnado por Rogen) serem amplamente sem graça e mal explorados pelo roteiro, são ridicularizados ainda mais pelas fracas atuações daqueles que os compõem, sobretudo Elizabeth Banks que passa o filme todo fazendo a mesma expressão (e note o quão patética e canastra é a expressão dela enquanto discute com Zack no terceiro ato da trama).
Em suma, “Pagando Bem, Que Mal Tem?” pára na ótima atuação de Seth Rogen e na intenção de se fazer um filme de comédia escatologicamente divertido, pois de resto, nos deparamos com uma trama previsível e com um humor repugnante, artificial e, o que é pior, sem a mínima graça.
Avaliação Final: 3,5 na escala de 10,0.
Trovão Tropical – **** de *****
Simplesmente Feliz – ** de *****
“Simplesmente Feliz” pode ser dividido em duas partes: na primeira ele se revela apenas um filme idiota, na segunda ele se revela um filme idiota querendo se redimir da vergonha a qual submeteu os seus espectadores. A personagem em si é uma das coisas mais estúpidas que pude testemunhar no Cinema nos últimos anos, e o que mais me irrita é que o roteiro (indicado ao Oscar de melhor do ano sabe-se lá o porquê) o faz propositadamente, com a inteção de passar uma lição de moral estapafúrdia ao espectador. Poppy é transformada em uma mistura de Pee Wee feminino com… deixe me ver… ah, sei lá… com Punky – A Levada da Breca. Sim, ria a vontade, mas a verdade é que é justamente isso o que se pode ver em cena.
Abordando Poppy como uma personagem praticamente retardada (nada contra os deficientes mentais, diga-se), o roteiro já nos faz sentir um ódio mortal por ela logo no início. Quando a mesma entra em uma livraria e vê o título de um livro, “A Rua Para a Realidade”, em seguida responde: “___ Eu não quero ir para lá.”. Isso! Que maravilha hein?! Ela pretende então ser uma tapada, uma burra, uma alienada pelo resto da vida? Que bom seria se todas as pessoas pensassem assim, não? O quê? Ah, claro, o filme vai se desenrolando e Poppy vai percebendo que ser irresponsável nem sempre é algo bom. Oh, que grande ‘sacada’ a do roteiro, não? Não se pode fazer qualquer coisa sem o mínimo de responsabilidade! Ótimo! Grande filosofia de vida! Se um dia você abrir um boteco pode até colocar algo do tipo na porta do banheiro!
E se o filme não funciona como um estudo sobre a irresponsabilidade (a propósito, tem certeza de que era mesmo necessário fazer um estudo sobre isso? Algo tão óbvio?), nem ao menos como comédia consegue decolar. Poppy é uma garota bobinha, ri de tudo. Se alguém chega para ela e comenta: “___ Poppy, seu pai foi encontrado morto enquanto preparava um omelete para o jantar!”, ela dá suas risadinhas irritantes com um ar de: “tudo bem, o que importa é ser feliz!” (e é obvio que a situação que coloquei acima não acontece no filme, mas se acontecesse, não esperaria outra reação da moça). Agora, imagine que mundo ótimo seria se todas as pessoas fossem iguais à protagonista? Não teríamos Revolução Francesa, nem Abolição da Escravatura, nem nada que pudesse submeter o mundo a inerentes revoluções, teríamos apenas pessoas querendo fazer piadinhas fúteis de tudo e de todos.
Aliás, falando em fútil, o que dizer da cena em que a personagem, junta de algumas amigas, fuma maconha? Francamente, “Simplesmente Feliz” poderia, pelo menos, se revelar um lixo digno de “Sessão da Tarde”, não fosse esse tipo de coisa. Agora, o filme de Mike Leigh (e é uma pena ver um cineasta tão competente envolvido em uma baboseira tão grande) infelizmente investe em cenas pesadas como a citada e em outras similares a essa, tornando o filme algo muito pesado para ser encarado como uma simples comédia bobinha, mas levinha. O longa então se revela muito babaca para os adultos e muito pesado para as crianças, ou seja, não presta para ninguém, exceto para uma porrada de críticos de Cinema com problemas mentais que o superestimaram.
Agora, falando em cenas de peso, juro que adoraria entrar nos sets de filmagem com um extintor de incêndio na mão e esmiuçar o crânio da protagonista. Ah, como isso me passou pela cabeça durante a sessão! Seguindo o exemplo do músico Zeo Britto na música “Soraya Queimada”, eu juro que queria ter um lança-chamas, uma vela, um palito de fósforo, uma nano faísca que seja, para poder queimar Soraya… aliás… queimar Poppy. Que garota chata! Insuportável! Confesso que, mesmo sendo assexuado, adoro garotas meiguinhas, que parecem criança falando. Juro que tenho uma tara incontrolável por elas. O problema com a protagonista, no entanto, é que ela exagera na dose, a ponto de me deixar desesperado para persegui-la, tortura-la e mata-la. E lembrando outro músico psicótico, Rogério Skylab, juro que queria ter uma moto serra e cortar os braços e as pernas de Poppy, para fazer a mesma ocupar a postura de Vênus de Milo em meu jardim. Contudo, é óbvio que eu cortaria a língua da garota, assim não a ouviria falar tanta asneira.
Mas o filme estranhamente ganha muito ritmo em seu final. Além de explorar o instrutor de auto escola Scott de um modo mais cativante (e confesso que ri bastante quanto à teoria dele acerca de ocultismo envolvendo um monumento em Washington e o modo como utiliza Lúcifer e os outros dois anjos caídos, Enharah e Raziel, para atribuir uma alcunha aos três espelhos retrovisores de um veículo) o roteiro ainda consegue se mostrar bastante interessante. A comédia ridícula dá ar a um pequeno drama bastante satisfatório. As atuações de Sally Hawkins e Eddie Marsan se revelam monstruosas (e não é culpa deles se os seus personagens são extremamente caricatos) e dignas de uma indicação ao Oscar (ao contrário do roteiro que, nem nos meus sonhos mais bizarros, teria tal honra concedida). Mas é justamente quando o filme se torna interessantíssimo que ele, infelizmente, se encerra abruptamente.
Na Mira do Chefe – *** de *****
Título Original: In Bruges
Gênero: Comédia.
Ano de Lançamento: 2008.
Site Oficial: http://www.inbruges.co.uk/
Nacionalidade: Inglaterra e Bélgica.
Tempo de Duração: 107 minutos.
Direção: Martin McDonagh.
Roteiro: Martin McDonagh.
Elenco: Colin Farrell (Ray), Brendan Gleeson (Ken), Ralph Fiennes (Harry Waters), Clémense Poésy (Chloë), Jérémie Renier (Eirik), Thekla Reuten (Marie), Jordan Prentice (Jimmy), Elizabeth Berrington (Natalie), Eric Godon (Yuri), Sachi Kimura (Imamoto), Anna Madeley (Denise) e Ciarán Hinds (Padre).
Superbad – É Hoje! – **** de *****
Ficha Técnica:
Título Original: Superbad.
Gênero: Comédia.
Tempo de Duração: 114 minutos.
Ano de Lançamento (EUA): 2007.
Site Oficial: http://www.areyousuperbad.com/
Estúdio: Columbia Pictures / Apatow Productions.
Distribuição: Sony Pictures Entertainment / Columbia Pictures.
Direção: Greg Mottola.
Roteiro: Seth Rogen e Evan Goldberg.
Produção: Judd Apatow e Shauna Robertson.
Música: Lyle Workman.
Fotografia: Russ T. Alsobrook.
Desenho de Produção: Chris L. Spellman.
Direção de Arte: Gerald Sullivan.
Figurino: Debra McGuire.
Edição: William Kerr.
Efeitos Especiais: International Special Effects.Elenco: Jonah Hill (Seth), Michael Cera (Evan), Christopher Mintz-Plasse (Fogell), Bill Hader (Oficial Slater), Seth Rogen (Oficial Michaels), Martha MacIsaac (Becca), Emma Stone (Jules), Aviva (Nicola), Joe Lo Truglio (Francis) e Kevin Corrigan (Mark).
Sinopse: Seth (Jonah Hill) e Evan (Michael Cera) são dois típicos adolescentes estadunidenses inseguros e extremamente preocupados com a sua vida sexual. Quando ambos são convidados a uma festa de formatura com a condição de que comprem bebida alcoólica para a mesma, situações inusitadas começam a ocorrer, tais como: um envolvimento com uma quadrilha de narcotraficantes e, principalmente, uma confusão armada entre eles e uma dupla de policiais irresponsáveis e imaturos.
Superbad – Trailer:
Crítica:
“Superbad – É Hoje!” é mais uma comédia teen onde o assunto em foco é as atitudes imbecis que muitos adolescentes realizam a fim de conseguirem fazer sexo pela primeira vez na vida. Em outras palavras, o filme em questão é uma espécie de “Porky’s” contemporâneo. Não, em momento algum disse isso pejorativamente, muito pelo contrário. Conforme mencionei na pré-crítica deste filme, é extremamente difícil criticarmos uma obra de comédia, pois cada ser humano tem um senso de humor bem diferente dos demais, e talvez seja justamente por este motivo que o longa de Greg Mottola teve opiniões bem divididas no que diz respeito a público (sim, pois a crítica mundial é extremamente favorável ao filme em questão), portanto, é bem provável que muitas pessoas não partilhem da mesma opinião que a minha com relação a este longa.
Da mesma forma que adorei “Porky’s” (ao contrário da maior parte da crítica que o detesta), adorei este “Superbad – É Hoje!” que, além de reviver todo o senso de humor da trilogia da década de 80, acrescenta muito mais ao gênero “comédia besteirol americano” contendo um senso de humor bastante inteligente, além de política e moralmente incorreto, apesar de deveras absurdo e irregular durante alguns de seus momentos, fato que o torna um filme imperfeito, embora ótimo.
O longa começa a todo vapor, logo no início somos apresentados aos dois protagonistas da estória: Seth (Johan Hill) e Evan (Michael Cera) (ambos os nomes foram dados em homenagem aos roteiristas do filme) através de uma ligação telefônica feita do primeiro para o segundo. Seth, logo de cara, se revela uma pessoa fútil, pervertida, desbocada e idiota (enfim, ele é uma versão Yankee, juvenil e masculina de Dercy Gonçalves), assim como a grande maioria dos adolescentes o são. Evan já é um rapaz um pouco menos fútil, mas é extremamente tímido, introvertido e contido. Contudo, a característica que mais atrai em ambos é a incerteza com que eles lidam com os problemas comuns durante esta fase da vida, sobretudo em relação à insegurança na perda da virgindade.
Confesso que tive uma sensação nostálgica enquanto assistia ao longa em questão: a minha insegurança durante o período de “pré perda de virgindade” (abençoado período, diga-se, parece que depois que você a perde tudo se torna pior e mais complicado na vida) e sinceramente, creio ser impossível qualquer pessoa que seja não se identificar com ambos os garotos. Afinal de contas, quem de nós nunca se sentiu intimidado perto da pessoa que gosta e acabou dizendo, ou fazendo, algo vexatório para a mesma? Situações como estas são debatidas a todo o momento em “Superbad – É Hoje!” e, apesar de nem sempre soarem de maneira natural, se mostram originais e divertidas.
Fazendo o uso de um humor para lá de escatológico, o longa nos apresenta à cenas hilárias logo em seu intróito, como a seqüência em que Seth, da maneira mais natural do mundo, diz ao seu melhor amigo Evan: “___ Cara, tenho inveja de você, pois mamou nos lindos peitos de sua mãe!”, este não fica quieto e responde: “___ E também não tive de mamar no pênis de meu pai, como foi o seu caso!”. Como pode-se notar, o longa apresenta um irreverente senso de humor política e moralmente incorreto, e não pára por aí. Durante o seu desenrolar podemos nos deparar com algumas cenas salpicadas de um humor nonsense à lá Monty Python (com uma dose extra e exagerada de pornografia, diga-se), como a passagem em que Seth revela ao amigo um estranho desequilíbrio psicológico que possuía durante a infância e que lhe colocou em situações para lá de embaraçosas: a mania compulsiva que tinha em desenhar pênis de todos os tipos no caderno (e note o quão hilário é a cena em que vemos Seth desenhando um pênis montado em uma bomba atômica, fazendo uma clara sátira ao excelente “Dr. Fantástico: ou Como Aprendia a Parar de Me Preocupar e Amar a Bomba” do gênio mor do Cinema, Stanley Kubrick), ou ainda a seqüência em que o terceiro personagem principal do filme, o nerd Fogell (Christopher Mintz-Plasse) se delicia observando o perfeito traseiro de uma colega de classe sua, enquanto esta caminha sensualmente pelos corredores da escola, contudo, quando a garota percebe que está sendo seguida pelo rapaz, vira para trás e passa a o encarar, e este, devido à sua timidez e insegurança, simplesmente olha no relógio, informa as horas à moça, e sai correndo. O mais engraçado ocorre a seguir, quando Fogell conta a estória para os amigos Evan e Seth: “___ Eu até disse a hora para ela!”, como se houvesse dado um passo muito importante para uma possível futura conquista (esta cena, aliás, muito me lembrou uma passagem do excelente “Debi & Lóide – Dois Idiotas em Apuros”, quando o personagem de Jim Carrey comenta extremamente entusiasmado com o personagem de Jeff Daniels que conseguiu a façanha de conversar com uma mulher, fato que provavelmente lhe ocasionará um futuro encontro).
A estória se desenvolve bem, assim como os seus personagens e as situações que estes passam a vivenciar. Seth, pela primeira vez em sua vida, se vê convidado a ir a uma festa na casa de uma garota muito popular no colégio onde estuda, mas para isso terá de comprar bebida alcoólica para a mesma (detalhe, nos EUA, as bebidas alcoólicas não são vendidas à pessoas com menos de 21 anos de idade, e Seth possui apenas 18 anos, fato que torna a tarefa ainda mais complexa). É neste momento que a trama atinge o seu âmago e os garotos se envolvem nas situações mais absurdas e vexatórias a fim de conseguirem cumprir o pedido das garotas tendo que burlar a lei para tal. Personagens interessantes passam a compor a estória, tais como um viciado em drogas foragido da polícia, uma gangue de narcotraficantes, um velho alcoólatra e, principalmente, uma dupla excêntrica de policiais.
E é justamente a entrada desta dupla de policiais que, ironicamente, contribui, e muito, para o desenvolvimento humorístico da trama, tanto positivamente quanto negativamente. Se por um lado os melhores diálogos do filme são justamente os proferidos pelos policiais, tais como: “___ Minha primeira mulher era uma verdadeira vagabunda. Durante a nossa noite de núpcias ela fez sexo grupal com um pessoal, mas não deixou que eu fizesse parte da brincadeira!”, por outro lado a caracterização da dupla soa um tanto o quanto artificial. Ambos são imaturos (repare no fanatismo de ambos pela série “Star Wars”, algo que diz respeito também a este que vos escreve), irresponsáveis (perceba a maneira como eles encaram as tarefas que lhes são atribuídas) e inconseqüentes (preste atenção no uso indevido de arma de fogo que eles empregam em determinados momentos do filme, pelos motivos mais pífios que se possa imaginar). É claro que tal caracterização soaria muito bem caso o filme medisse os limites do absurdo e do besteirol, mas infelizmente ele não o faz, fato que o torna excessivamente artificial durante muitos de seus minutos.
O maior defeito da película, contudo, não se resume apenas à artificialidade da caracterização de tais policiais. Além de artificial em muitos momentos, o longa conta com um humor bastante previsível em algumas das situações apresentadas e depende de muitas coincidências para que várias de suas cenas funcionem (vide as seqüências em que Seth e Evan, involuntariamente, se separam de Fogell e, no desfecho do segundo ato do filme, voltam a se encontrar, apenas para citar dois exemplos).
No saldo final, “Superbad – É Hoje!”, apesar de artificial e absurdo em muitos de seus minutos, se mostra uma ótima opção para os amantes de uma comédia divertida, escatológica e descompromissada. As atuações de todo o elenco convencem, a química formada entre Johan Hill e Michael Cera é fenomenal e ganha ainda mais crédito quando Christopher Mintz-Plasse entra em cena.
Avaliação Final: 8,0 na escala de 10,0.
Super-Heróis: A Liga da Injustiça – º de *****
Crítica:
Antes de mais nada, tentemos entender o que vem a ser humor non sense. Seria um humor ilógico, desconexo, baseado em situações surreais e propositadamente artificiais e absurdas. E um filme que siga esta linha de humor é, necessariamente, um filme ruim? Claro que não, muito pelo contrário. Uma produção cinematográfica que adota este estilo de humor geralmente é deveras criativa e, justamente pelo fato de ser desconexa e absurda, consegue ser hilária em virtude de sua falta de nexo. Este é o caso de filmes como “Top Gang”, “Corra Que a Polícia Vem Aí” e a trilogia “Monty Python”, sobretudo “A Vida de Brian” que é o meu filme de comédia favorito.
Mas o que acontece então quando uma obra de comédia almeja seguir a linha de humor dos filmes supracitados, mas não demonstra uma única gota de originalidade durante a sua execução? Acontece que temos uma enxurrada de lixos cinematográficos estadunidenses despejados sobre nós, pobres mortais, que nada temos a ver com a incompetência de profissionais (profissionais?!) da Sétima Arte que se responsabilizam por asneiras dispensáveis e deploráveis, como é o caso de “Todo Mundo em Pânico”, “Uma Comédia Nada Romântica”, “Deu a Louca em Hollywood”, “Os Espartalhões” e, mais recentemente, este “Super-Heróis – A Liga da Injustiça” (que sem dúvida alguma possui a pior tradução de título da história de nossa nação, conforme já fora mencionado na pré-crítica desta produção) que conseguiu a façanha de ser pior que os demais filmes citados.
Ops, esperem um segundo, há uma forte ligação entre as obras (obras?! Gargalhadas) mencionadas, não há? Pois é, os repugnantes nomes dos ainda mais repugnantes Jason Friedberg e Aaron Seltzer estão ligados, de uma forma ou de outra, a todas elas. O problema é que, desta vez, eles conseguiram extrapolar as margens da mediocridade (e desta vez falo no sentido mais pejorativo o possível da palavra, e não referindo-me à qualidade de “mediano”, como sempre faço) e roteirizaram e dirigiram não só o pior filme do ano até então, como também o pior filme deste início de século e um dos piores filmes de todos os tempos (nossa, quanta redundância de minha parte! Creio que ainda estou afetado com a burrice do filme que acabei de assistir a pouco).
Uma coisa é uma produção seguir uma linha de humor demasiadamente absurda e desconexa fazendo-o com originalidade (como é o caso de “Monty Python – Em Busca do Cálice Sagrado”), ou, ao menos, eficiência (como é o caso de “Corra Que a Polícia Vem Aí” ou “Top Secret”), outra coisa é uma produção seguir a mesma linha de humor apelando a todas as “piadas-prontas” que se possa imaginar. Neste “Super-Heróis – A Liga da Injustiça” temos todos os clichês do gênero que se possa imaginar: incluindo cenas com fezes de animais, arrotos, pancadas na bolsa escrotal, entre muitos outros recursos sem a menor graça, mas que, aqui, são utilizados à exaustão.
É claro que tais clichês não implicariam necessariamente em um grave defeito do filme caso os mesmos funcionassem, mas o problema é que, definitivamente, não funcionam. Falhas também são todas as tentativas que o longa emprega a fim de satirizar diversas produções atuais. Repare na patética tentativa que o longa realiza ao zombar a, já clássica, seqüência de “Onde os Fracos Não Têm Vez” em que o psicótico Anton Chigurh joga uma moeda para cima a fim de decidir o destino de sua vitima. A seqüência é descaradamente copiada por este “Super-Heróis – A Liga da Injustiça” com a única diferença do resultado final, que acaba sendo outro, ou seja, eles imitam o filme, mas nem se preocupam em tentar satirizá-lo de forma decente.
Pior então é o que eles fazem com a ótima comédia “Juno”. O telefone em formato de hambúrguer utilizado pela adolescente protagonista da comédia roteirizada por Diablo Cody é substituído aqui por um hambúrguer de verdade. “Engraçado”, não? Pois é, “engraçado” e “criativo” (modo sarcástico desativado a partir de agora). Aliás, graça e criatividade são dois adjetivos que, em momento algum, parecem ter sido empregados durante os aproximadamente 90 minutos de projeção.
E já que a personagem Juno fora mencionada no parágrafo acima, é, no mínimo, ridícula e frustrante a atuação de Crista Flanagan, que satiriza, durante boa parte do filme, a personagem brilhantemente interpretada por Ellen Page. Além da garota protagonizar boa parte das piores piadas inseridas no roteiro, ela conta com maneirismos que não soam nem um pouco característicos se comparados aos que eram adotados pela personagem original. Quanto às demais atuações, nem perderei o meu tempo comentando-as, pois nem vale a pena.
A propósito, perda de tempo (e dinheiro, diga-se) é tudo o que você, caro leitor, conseguirá assistindo a esta bomba em larga proporção. Contando com um roteiro que consegue a façanha de despejar em seus espectadores uma piada sem graça a cada três segundos, “Super-Heróis – A Liga da Injustiça” (por um acaso já comentei que este é o pior título que os tradutores nacionais já adotaram a uma obra cinematográfica estrangeira?) se revela um forte candidato a faturar os principais prêmios da próxima edição do Framboesa de Ouro, especialmente no que diz respeito a pior roteiro.
Ah, e antes que me esqueça, se pudesse aconselhar os produtores deste lixo da Sétima Arte (fica até estranho chamar isso de Arte), diria a eles que seria muito mais conveniente mudarem o título original do longa de “Disaster Movie” (“Filme Desastre”) para “Disaster of Movie” (“Desastre de Filme”). O quê? Meu trocadilho foi infame e sem graça? Pois é, admito que sim, mas de qualquer maneira foi mais eficiente que 90% das piadas inseridas nesta bomba cinematográfica, para se der uma idéia mais clara da mediocridade (e mais uma vez falo no sentido pejorativo da palavra) da mesma.
Avaliação Final: 0,0 na escala de 10,0.
Crítica – Hancock
Will Smith é o exemplo do indivíduo talentoso que perde o seu tempo com produções imbecis e descartáveis, daquelas que, com o passar dos anos (e por que não dizer: meses?) simplesmente será apagada das mentes dos espectadores, ou não. Pois é, para mim é inadmissível notar como o carisma exacerbado do ator/rapper (que não engrena em nada que preste, artisticamente falando, nem em uma profissão, menos ainda em outra) estadunidense transforma tudo o quanto é porcaria em que ele toca (pois tudo em que ele toca realmente é uma porcaria) em ouro. Vamos analisar o patético sitcom “The Fresh Prince of Bel-Air” (que julgo, ao lado de “That’s So Raven”, o pior sitcom de todos os tempos já produzido pela “Terra do Tio Sam”), só para se ter uma idéia. O programa é patético, não tem graça alguma, não funciona nem para crianças, nem para adultos, nem para garotos, nem para garotas, mas ainda assim é um sucesso no mundo todo e sabem por quê? Porque conta com um Will Smith carismático, onde tudo o que ele faz vira piada (menos para mim e mais 10% da população mundial). O mesmo ocorre com este enfadonho “Hancock”. O filme, por si só, não seria capaz de fazer ninguém rir (salvo em uma ou outra situação, conforme citarei abaixo), mas como é o tal do Will Smith quem está ali atuando, ah, aí todo mundo se esbalda em gargalhadas. Basta ele dizer um “___ holy shit!” para que todos dêem gargalhadas. Enfim, creio que eu tenha sido a única pessoa na sala de cinema que não fôra contaminado com o vírus da mongoloidísse alcunhado Will Smith, mas vamos à crítica que é o que interessa, ou não.
Ficha Técnica:
Título Original: Hancock
Gênero: Aventura
Tempo de Duração: 92 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2008
Site Oficial: www.hancock.com.br
Estúdio: Blue Light / Relativity Media / Weed Road Pictures / Forward Pass / Overbrook Entertainment
Distribuição: Columbia Pictures
Direção: Peter Berg
Roteiro: Vincent Ngo e Vince Gilligan
Produção: Akiva Goldsman, James Lassiter, Michael Mann e Will Smith
Música: John Powell
Fotografia: Tobias A. Schliessler
Desenho de Produção: Neil Spisak
Direção de Arte: William Hawkins e Dawn Swiderski
Figurino: Louise Mingenbach
Edição: Colby Parker Jr. e Paul Rubell
Efeitos Especiais: Furious FX / Lidar Services / Sony Pictures Imageworks
Elenco: Will Smith (John Hancock), Charlize Theron (Mary Embrey), Jason Bateman (Ray Embrey), Jae Head (Aaron Embrey), Eddie Marsan (Red), David Mattey (Homem da montanha), Maetrix Fiften (Matrix), Thomas Lennon (Mike), Johnny Galecki (Jeremy), Haylye Marie Norman (Hottie), Akiva Goldsman (Executivo) e Michael Mann (Executivo).
Sinopse: Hancock (Will Smith) é um herói diferente dos demais já vistos no Cinema. Ao contrário de um Homem-Aranha, de um Super-Homem, ou de um Batman, Hancock é um herói derrotado pela vida, cujas crises existenciais e consumo exacerbado de bebida alcoólica o transformam em um sujeito desajeitado e incapaz de realizar um único resgate sem nem ao menos causar prejuízos incalculáveis ao governo. Contudo, Hancock conhece Ray Embrey, um agente de relações-públicas que promete “limpar” a imagem de bad-ass do sujeito e fazer com que o mesmo possa combater o crime organizado com dignidade.
Crítica:
Durante boa parte dos, aproximadamente, 90 minutos de projeção deste “Hancock” somos obrigados a testemunhar as atitudes duvidosas de um super-herói mal-humorado, mal-educado, mal-amado, mal-encarado, malcriado, malquisto, mau caráter e cerca de 90% de todos os adjetivos simples ou compostos contidos em nosso vocabulário que possuam em seu contexto as palavras: “mal” ou “mau”, seja esta inserida como radical da palavra, ou não. “___ E isso é ruim?”___ me pergunta o estimado leitor. “___ Mas é claro que não! Muito pelo contrário, é sensacional!” ___ respondo eu.
Hancock é um super-herói bem diferente dos demais, no que diz respeito a seu caráter e a seus conceitos morais, fato que comprova que o protagonista é muito mais humano e sujeito a falhas do que a grande maioria das personalidades transportadas das HQs para as telonas é. Além disso, o longa conta com um Will Smith inspirado e algumas piadinhas que funcionam bem vez ou outra. “___ Ah, que ótimo, e as demais qualidades?” ___ me pergunta o leitor. Eu respondo: “___ Elas não existem, as qualidades se resumem apenas à tentativa de criar algo além do convencional, ao carisma de Will Smith e a algumas piadas e/ou gags que funcionam raramente.”.
Fora as poucas qualidades que esta bomba assinada por Peter Berg possui, temos a tentativa mal-sucedida de um diretor megalomaníaco que almeja, acima de tudo, criar uma obra pseudo-moderninha e falha terrivelmente em seu propósito, salvo, é claro, na composição inicial (e apenas inicial) de seu protagonista. No mais, somos obrigados a encarar outros maneirismos inconvenientes e contemporâneos do diretor como, por exemplo, a realização de closes com a sua câmera, sempre que possível (e muitas vezes até mesmo quando não é tão possível assim, diga-se).
Mas antes os defeitos do filme se resumissem às (desastrosas) tentativas de apresentar o “novo” (gargalhadas) ao espectador. Se fosse assim, a experiência seria, no máximo, decepcionante, mas infelizmente a mesma se torna insuportável durante o seu desenrolar. Vamos analisar o humor do longa, para se ter uma idéia. Durante o primeiro ato temos algumas piadas e/ou gags que funcionam de maneira conveniente, como a cena em que o protagonista prende uma vã lotada de marginais em um edifício pontiagudo ou ainda a seqüência onde, a fim de salvar uma baleia encalhada na praia, Hancock utiliza toda a sua força para arremessá-la de volta ao mar, mas, involuntariamente, acaba acertando uma embarcação e afundando a mesma.
As duas gags supracitadas parecem (mas só parecem) ter saído de uma mente inteligente e criativa, mas conforme o filme se desenrola esta mesma mente “inteligente e criativa” (agora com aspas) nos obriga a presenciar seqüências sofríveis, como a em que o protagonista “prende” a cabeça de um homem ao tra… (não vou revelar qual parte do corpo é, a fim de não estragar possíveis “surpresas” (gostaram de minha piadinha? Hã? Hã? Pois é, estou entrando no ritmo do filme!)) de um outro homem, criando uma situação forçada e constrangedora não só aos atores que a interpretam, como principalmente ao espectador que a assiste.
Entretanto, o maior problema deste “Hancock” reside, indubitavelmente, na incapacidade de seu roteiro em definir um gênero ao mesmo. Não entendi se os roteiristas almejaram fazer desta bomba um filme de comédia, ou um filme de drama. A única coisa que percebi é que o mesmo teria se revelado uma experiência bem menos sofrível caso se assumisse como uma reles aventura descerebrada e convencional (nunca imaginei que fosse dizer isso em toda a minha vida).
Em suma, em meio às crises existenciais do protagonista, às crises de fracasso do diretor (que não consegue cumprir com as suas ambições de criar algo novo sem cair no ridículo) e às crises de identidade dos roteiristas (que não conseguem definir um gênero à obra), quem mais sofre é o espectador, que se abarrota em crises existenciais se perguntando a todo o instante: “___ Qual é o meu propósito nesta sessão de cinema?”.
Avaliação Final: 3,0 na escala de 10,0.
Crítica – Wall-E
Eu não sei ao certo se sou eu quem sou conservador, ou melhor, retrógrado demais ou se foi a qualidade das animações que realmente caiu, e muito, de uns tempos para cá. Sinceramente, creio que a preocupação com a qualidade gráfica das produções atuais fez com que a criatividade do roteiro das mesmas fosse praticamente esquecida de uns tempos para cá, fazendo com que as obras perdessem bastante de sua qualidade artística. Não que eu não goste de animações como “Ratatouille”, “Wallace & Gromit – A Batalha dos Vegetais”, “Procurando Nemo“, “Shrek”, “Jimmy Neutron – O Menino Gênio” ou até mesmo “Os Incríveis”, muito pelo contrário, gosto muitíssimo das mesmas, mas ainda assim acredito que nenhuma destas chegue aos pés de um “O Rei Leão”, ou uma “Branca de Neve e os Sete Anões”, ou um “O Estranho Mundo de Jack”. Surpreendentemente, em 2008, os estúdios Disney-Pixar conseguiram, em apenas 5 minutos de projeção, criar uma animação mais criativa e divertida do que todas as outras animações feitas nestes últimos 14 anos. Me refiro ao curta “Presto”, cuja criatividade, simplicidade e sagacidade das piadinhas embutidas no roteiro, nos remete aos bons tempos de “Tom & Jerry”, “Pica-Pau” e é claro, “Mickey & Donald”. Mais surpreendente ainda é a animação que nos é apresentada logo em seguida que, além de ser extremamente criativa, divertida e emocionante (conseguiu arrancar lágrimas até mesmo deste que vos escreve, que, segundo algumas pessoas, é um niilista coração de pedra), une aspectos das animações antigas (criatividade e humor inteligente), com aspectos das animações recentes (parte gráfica perfeita) e debates existenciais. Estou falando de “Wall-E”, a melhor e mais bem feita (em todos os sentidos) animação que já tive a oportunidade de assistir nos últimos 14 anos, conforme o leitor poderá constatar a seguir.
Ficha Técnica:
Título Original: Wall-E
Gênero: Animação
Tempo de Duração: 97 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2008
Site Oficial: www.disney.com.br/cinema/walle
Estúdio: Walt Disney Pictures / Pixar Animation Studios
Distribuição: Walt Disney Studios Motion Pictures
Direção: Andrew Stanton
Roteiro: Andrew Stanton
Produção: Jim Morris
Música: Thomas Newman
Desenho de Produção: Ralph Eggleston
Edição: Stephen Schaffer
Elenco (vozes): Ben Burtt (Wall-E / M-O), Elissa Knight (Eva), Jeff Garlin (Capitão), Fred Willard (Shelby Forthright), John Ratzenberger (John), Kathy Najimy (Mary) e Sigourney Weaver (Auto).
Sinopse: No ano de 2.815 d.C. o planeta Terra, mediante o desleixo de seus habitantes, encontra-se em uma situação caótica, coberto de lixo, fazendo com que a vida em sua superfície torne-se impossível de se proliferar. A fim de reverter tal situação, os terráqueos abandonaram o planeta e designaram a missão de limpá-lo ao robô Wall-E. Completamente isolado no mundo, Wall-E tem uma vida enfadonha e sem propósito, até que conhece Eve, uma robô que mudará o curso de seu destino para sempre e irá ajudá-lo a provar que ainda existe a possibilidade de se viver na superfície terrestre.
Crítica:
“Wall-E” inicia-se com uma belíssima música e um fantástico close da Via Láctea. Logo as câmeras nos direcionam à Terra e temos uma visão aérea do corpo celeste. O ano é 2.815 d.C., o planeta encontra-se abandonado e coberto de lixo, seus únicos habitantes são os insetos e um pequeno e desengonçado robô que tem como incumbência a tarefa de limpar todo o lixo da Terra. É aí que tomamos ciência de que a belíssima música que abre o filme estava sendo reproduzida e ouvida pelo robô com o único intuito de conferir mais alegria à vida solitária da triste e pobre máquina.
A animação vai se desenrolando, Wall-E vai sendo cada vez mais bem desenvolvido e aproveitado pelo roteiro que foca, acima de tudo, na tristeza que o mesmo sente devido à sua vida solitária, rotineira e depressiva. O único ser com quem ele se relaciona é uma barata, que é vista por ele como um animal de estimação, um cão, ou um gato, ou qualquer outro animal capaz de lhe fazer companhia.
Como o leitor pôde perceber, em apenas dez minutos de projeção já se é capaz de notar toda a criatividade e perspicácia do roteiro que, além de criar pequenas peculiaridades que contribuem, e muito, para o desenvolvimento do protagonista (a barata de estimação é a maior prova disso), consegue mesclar com maestria características de Charles Chaplin e Woody Allen ao personagem-título.
É isso mesmo, para desenvolver Wall-E os roteiristas do filme utilizaram várias características destes dois gênios do Cinema. Repare, por exemplo, no jeito simplório e desajeitado com que o simpático robô manuseia uma raquete de tênis, nos remetendo à imediata lembrança do maior ícone da história do Cinema mudo. Repare também nas feições do protagonista, no olhar depressivo deste, idênticos ao do intelectual de ascendência judia.
“Wall-E” é um filme que já valeira cada centavo cobrado por seu ingresso apenas pelo protagonista que, além de tremendamente cativante e perfeitamente bem desenvolvido pelo roteiro, fôra desenhado com uma competência fora do comum. E os responsáveis pelos efeitos visuais merecem todos os elogios existentes em nosso (e em todos os outros, diga-se) vocabulário. É incrível a perfeição com que o robô (e os demais personagens) fôra desenhado, tanto que chegamos a acreditar que Wall-E não é um desenho, mas sim um personagem real.
Tão bem produzida e desenvolvida quanto é Eve, o par romântico de nosso robozinho melancólico. E falando em par romântico, é incrível ver a sutileza com que o mesmo é desenvolvido pelo roteiro. Francamente, creio ser impossível não nos cativarmos com o casal que, desde já digo, possui uma das melhores químicas entre personagens já vista no Cinema deste início de século.
Outro ponto fortíssimo da animação reside na análise que a mesma realiza sobre a dependência humana perante o conforto que a alta tecnologia nos proporciona, tornando-nos seres sedentários ao extremo, além, é claro, “escravos” das máquinas. Para demonstrar isso, o longa opta, brilhantemente, por fazer referências (e porque não dizer, homenagens) ao sensacional “2001 – Uma Odisséia no Espaço”.
Perdido (e fascinado, diga-se) com tanta perfeição, é até estranho que eu tenha conseguido encontrar um defeito no filme, mas a verdade é que o mesmo cai bastante no intróito de seu segundo ato quando dá a entender que se transformará em uma aventura descerebrada e opta, terrivelmente, por parar de desenvolver seus personagens de modo tão cativante como vinha fazendo até então. Felizmente o roteiro abandona tal idéia durante o desenrolar da película e decide abordar, durante o seu terceiro ato, o tema existencial entre homem-tecnologia, conforme fôra supracitado.
Um filme fabuloso e, com o prévio perdão pela utilização da palavra meiga e piegas ao extremo, fofíssimo.
Avaliação Final: 9,0 na escala de 10,0.
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