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Archive for the ‘Horror’ Category

[ • REC ] – **** de *****

dezembro 16, 2008 Deixe um comentário
Ao comentar sobre “Superbad – É Hoje!” lembro-me de ter citado que o gênero cinematográfico que mais considero difícil de ser analisado é a comédia, uma vez que cada pessoa possui um senso de humor diferente das demais. O gênero horror, no entanto, não fica muito atrás e julgo-o como sendo tão difícil de se comentar quanto a comédia. Os motivos? Não, não são os mesmos. Acontece que, particularmente, detesto os filmes de horror. Não sigo o perfil do cinéfilo que se satisfaz apenas em ver litros de sangue serem derramados, pessoas gritando o tempo todo, ou passar cerca de uma a duas horas dentro de uma sala de cinema tomando sustos de todas as naturezas. Desta forma, é óbvio que este “[ • REC ]”, assim como os demais filmes do gênero, não me agradou muito, mas tive que ser extremamente imparcial ao escrever sobre o mesmo. Portanto, digo que “[ • REC ]”, apesar de não ter me agradado em virtude de sua proposta principal, é um filme que consegue cumprir tal proposta de maneira magistral.

Ficha Técnica:
Título Original: [ • REC ].
Gênero: Horror.
Ano de Lançamento: 2007.
Nacionalidade: Espanha.
Tempo de Duração: 85 minutos.
Diretores: Paco Plaza e Jaume Balagueró.
Roteiristas: Luis Berdejo, Paco Plaza e Jaume Balagueró.
Elenco: Manuela Velasco (Ángela Vidal), Pablo Rosso (Pablo), Ferran Terraza (Manu), David Vert (Álex), Martha Carbonell (Sra. Izquierdo), Carlos Vicente (Guillem Marimon), Claudia Font (Jennifer), Carlos Lasarte (César), Maria Teresa Ortega (Avó), Akemi Goto (Japonesa), Chen Min Kao (Japonês), Vicente Gil (Policial) e Jorge Serrano (Policial).

Sinopse: Uma repórter decide gravar e acompanhar o cotidiano de um corpo de bombeiros. Tudo caminhava tranqüilamente bem até que os moradores de um edifício ouvem os gritos desesperados de uma mulher e ligam para os bombeiros pedindo auxílio. Ao chegarem no local, descobrem que há algo extremamente macabro por trás desse simples chamado de socorro.

[ • REC ] – Trailer:

Crítica:

A principal intenção de “[ • REC ]” está subentendida no contexto do título do filme, ou seja, transmitir uma estória terrivelmente assustadora de modo que a mesma aparente estar sendo gravada em tempo real e (por quê não dizer?) por nós mesmos. Exatamente, a primorosa direção de Paco Plaza e Jaume Balagueró cumpre magistralmente o seu principal objetivo: o de colocar o espectador cara a cara com a trama, assumindo assim, de uma maneira quase que direta, o papel do cameraman Pablo (interpretado por Pablo Rosso). Durante o filme inteiro sentimos como se estivéssemos inseridos na película, como se fossemos parte inerente da mesma, como se assumíssemos a direção desta, e é justamente esta característica amplamente interativa que se revela o maior trunfo deste “[ • REC ]” (caso queira entender melhor o que estou almejando dizer, basta lembrar-se do estilo de direção adotado por Daniel Myrick e Eduardo Sánchez ao filmar “A Bruxa de Blair”).

Realizando movimentos rápidos e desesperados, Plaza e Balagueró conseguem nos transportar ao outro lado da tela de uma maneira fantástica, fazendo com que sintamos como se estivéssemos juntos de todos os personagens, presenciando tudo o que está ocorrendo e passando pelos mesmos apuros que eles, proporcionando-nos uma tensão raramente vista na maioria dos filmes do gênero (que conforme mencionei na pré-crítica, é o meu gênero de filme mais odiado). “___ E isso faz a direção do longa ser revolucionária?”, pergunta-me o leitor. Não, não faz. Tanto a direção, quanto a estrutura narrativa de “[ • REC ]” são idênticas às de “A Bruxa de Blair”, ou seja, o filme não inovou em nada. Contudo, o “não inovar” pode ser encarado como um problema? Claro que não, quem foi que disse que um filme precisa ser original para ser bom? Para que uma obra “não inovadora” possa ser encarada como boa, basta a mesma não utilizar clichês fortemente convencionais ou saber utilizá-los de um modo que não caia na mesmice.

“___ E “[ • REC ]” consegue triunfar no que diz respeito a essa fuga de clichês fortemente convencionais?”. Infelizmente não, o filme de Plaza e Balagueró utiliza metade dos clichês do gênero “horror” (ou “terror” caso o leitor prefira). “___ Mas ao menos se mostra capaz de utilizá-los de modo que não caia na mesmice?”. Também não, tanto que, embasando-se em uma determinada atitude do cameraman Pablo, sabemos exatamente o momento em que iremos levar um susto, como é o caso da cena em que o mesmo decide se aproximar demais de uma certa personagem que fora contaminada ou na seqüência em que um alçapão se abre. “___ Então por que cargas d´água este desmiolado está defendendo tanto o filme?” ___ pergunta o leitor a si mesmo. Porque apesar dos clichês e dos tradicionalismos adotados pelo roteiro, não há como negar que o longa consegue cumprir com maestria aquilo que se compromete a fazer: assustar o espectador.

Contando com uma estória absurda (que se revela ainda mais absurda quando ficamos sabendo a origem dos fatos através de uma cena clichê que utiliza um antigo gravador (que, pasmem, devido a um imperdoável furo de roteiro, funciona até mesmo quando acaba a energia do prédio inteiro) e um mural montado com inúmeros recortes de jornal) e com um roteiro que faz uso descarado de coincidências que extrapolam os limites da artificialidade (não é muita coincidência a repórter ter decidido trabalhar ao lado dos bombeiros no exato dia em que tais fatos bizarros aconteceram?), a trama de “[ • REC ]” não se mostra capaz, em momento algum, de ser tão realista quanto a direção do mesmo, mas ao menos se revela bastante eficiente ao tentar conferir um clima fortemente tenso e urgente ao espectador. E sejamos francos, o que você, caro leitor, espera ao assistir um filme de horror assumidamente mainstream e comercial? Uma obra revolucionária? Uma estória bastante complexa? Um filme tenso e assustador? Os três? Sim, claro, normalmente esperamos as três coisas, mas você daria prioridade a qual destas características? Creio que à terceira (“um filme tenso e assustador”), não? Pois analisando por este prisma, não há como negar que “[ • REC ]” é um ótimo filme e realmente se mostra capaz de, não apenas assustar, como também deixar o espectador completamente apavorado diante da tela.

Mesmo sabendo o exato momento em que seremos assustados, não há como não ficarmos surpresos com a proeza do filme, que consegue nos deixar de cabelo em pé durante 80% de sua projeção. Conforme o longa vai se desenrolando, ele vai se tornando cada vez mais previsível e, ironicamente, cada vez mais tenso e desesperador. Parte desta tensão se deve às excelentes atuações vindas por parte do elenco inteiro. O trabalho dos atores, principalmente o de Manuela Velasco, é simplesmente fenomenal e, depois da direção desesperadamente movimentada de Plaza e Balagueró, é a característica que confere maior tensão no espectador.

A edição de David Gallart também merece ser destacada neste texto. Presenteando o espectador com um trabalho dinâmico, Gallart realiza cortes para lá de convenientes ao filme e coopera tremendamente com a ordem seqüencial deste, conferindo uma agilidade incrível à trama. Outros aspectos inerentes ao sucesso da mesma é o som e a edição de som desta. A fim de conferir um forte realismo à obra (soa até paradoxal alcunhar de realista uma obra absurda desta, mas enfim…), os responsáveis pelo som do filme posicionaram estrategicamente cada microfone no cenário, captando assim todo o ruído que os diretores julguem ser necessários para proporcionar um clima de desespero cada vez mais forte em seus espectadores. A edição de som, por sua vez, se mostra bastante completa e cuidadosa e, em associação ao trabalho de sonoplastia, consegue transmitir-nos toda a tensão embutida na trama.

“[ • REC ]” certamente não é um primor no que diz respeito à inovação e originalidade e a trama do mesmo se mostra bastante absurda, além de apelar para uma série de coincidências gritantemente artificiais, mas ainda assim o longa conta com uma direção fantástica, uma edição dinâmica, atuações sob medida, edição de som e som que acrescentam muito ao resultado final da obra e, principalmente, uma invejável capacidade de criar tensão nos espectadores a ponto de nos deixar com os olhos “grudados” na tela do intróito ao cabo.

Avaliação Final: 8,0 na escala de 10,0.

O Nevoeiro – **** de *****

dezembro 3, 2008 Deixe um comentário

Fugindo um pouco do convencional, pretendo fazer desta pré-crítica uma espécie de justificativa para várias das mudanças que passarei a adotar em meus textos a partir de agora. Comecemos pelo tamanho dos mesmos. As últimas críticas que postei neste site possuíam, aproximadamente, cerca de 2.000 palavras, tendo como resultado críticas muito extensas e que, além de tomarem um tempo enorme em meu cotidiano (já que minha vida está mais atribulada do que nunca, impossibilitando com que eu possa dedicar-me muito tempo ao Papo Cinema, que é o que eu mais gosto de fazer), tomam muito tempo também do leitor que, geralmente, não possui disponibilidade o bastante a fim de ler um texto com mais de 2.000 palavras falando sobre um determinado filme. Outra mudança que adotarei a partir de agora diz respeito nas fichas técnicas dos filmes, uma vez que não tenho encontrado mais tempo para pesquisar o responsável por cada aspecto do longa (direção, roteiro, elenco, direção de arte, fotografia e etc…), irei identificar agora apenas os responsáveis pelas principais características de uma obra cinematográfica, ou seja, diretor, roteirista e elenco. Outra mudança diz respeito ao parágrafo final da crítica, que não mais será um resumo da mesma. Concluí que, uma vez que meus textos passarão a ter, no máximo, 1.000 palavras, a partir de agora, o leitor não terá necessidade de ler apenas um resumo da análise, caso não tenha tempo de ler a mesma inteira, uma vez que 1.000 palavras podem, facilmente, ser lidas em cerca de dois minutos e, convenhamos, 120 segundos de leitura não fazem mal a ninguém. Justificadas às mudanças, vamos agora à análise deste ótimo, embora falho em alguns aspectos, filme de horror.

Ficha Técnica:
Título Original:
The Mist.
Gênero: Horror.
Ano de Lançamento: 2007.
Nacionalidade: EUA.
Tempo de Duração: 126 minutos.
Diretor: Frank Darabont.
Roteirista: Frank Darabont, baseado em obra-literária de Stephen King.
Elenco: Thomas Jane (David Drayton), Marcia Gay Harden (Mrs. Carmody), Laurie Holden (Amanda Dumfries), Andre Braugher (Brent Norton), Toby Jones (Ollie Weeks), William Sadler (Jim), Jeffrey DeMunn (Dan Miller), Frances Sternhagen (Irene Reppler), Nathan Gamble (Billy Drayton), Alexa Davalos (Sally), Chris Owen (Norm), Sam Witwer (Private Jessup), Robert C. Treveiler (Bud Brown (como Robert Treveiler) e David Jensen (Myron).

Sinopse: Após um forte nevoeiro cobrir uma minúscula cidade interiorana, estranhos acontecimentos passam a aterrorizar os habitantes da mesma. A fim de se proteger dos ocorridos, um grupo de pessoas entram em um supermercado, porém, conforme o tempo vai passando, o forte nevoeiro vai se revelando cada vez mais perigoso e o estabelecimento comercial vai se revelando um abrigo bastante vulnerável.

The Mist – Trailer:

Crítica:

Uma coisa não se pode negar: Frank Darabont, definitivamente, sabe como criar um clima irretocável de suspense. Durante uma seqüência deste “O Nevoeiro”, vemos os protagonistas da estória irem ao supermercado durante o dia, enquanto uma atípica névoa cobre uma pequena cidade interiorana. Até então, tudo é absolutamente natural, eis que a neblina aumenta cada vez mais e, repentinamente, surge um homem com o nariz escorrendo sangue e grita que uma determinada pessoa morreu, logo após adentrar a neblina. Um outro indivíduo, a fim de averiguar o que está acontecendo, decide adentrar o mesmo nevoeiro e então escutamos um forte grito do mesmo. Tementes de que a névoa seja uma nuvem de resíduos químicos provenientes de uma indústria local, as pessoas, completamente assustadas, se trancam dentro do supermercado. Todos se acalmam, até que um forte barulho é ouvido na porta dos fundos do estabelecimento comercial e, com o intento de checar o que está acontecendo, um jovem rapaz é assassinado por uma criatura que possui enormes tentáculos.

Que a cena supracitada conta com uma infinidade de clichês característicos do gênero “horror”, isso não há como negar (temos a mesma cidadezinha interiorana de sempre, a mesma neblina de sempre (com a diferença de que esta é muito mais intensa que as dos demais filmes), os mesmos gritos desesperados de horror de sempre, entre muitas (e ponha muitas nisso) outras coisas), mas também não há como negar que Darabont conduz a seqüência inteira de maneira genial e, apesar de estar a anos luz de realizar um trabalho tão excepcional quanto realizou nos excelentes “Um Sonho de Liberdade” e “A Espera de Um Milagre”, o diretor consegue criar um clima de suspense e urgência soberbamente, uma vez que o roteiro falha visivelmente neste quesito, principalmente no intróito da trama.

Darabont acerta também quando tenta inserir o espectador na estória. Conduzindo a câmera de uma maneira propositadamente tremida e desgovernada, o diretor faz com que nós, que nos encontramos do outro lado das telonas, tenhamos a sensação de estarmos assumindo os olhos de um terceiro, de um personagem que não participa ativamente da trama, mas encontra-se no interior do estabelecimento e se mostra capaz de testemunhar de perto, tudo o que se passa.

Mas as qualidades deste longa jamais se resumem ao ótimo trabalho do cineasta francês responsável por “Um Sonho de Liberdade”. Ao passo em que a trama se desenrola, o mesmo roteiro, que no início parecia não criar o clima tenso necessário com o propósito de cativar o espectador, nos insere em situações cada vez mais inquietantes. Outro acerto grandessíssimo de Darabont (e agora, refiro-me ao mesmo como roteirista, e não diretor) é a maneira como este decidiu abordar cada personagem. Se a estória por si só, já não é das melhores, ao menos os personagens que a compõem se mostram interessantes o bastante.

E é justamente destes personagens que o longa consegue exportar ao espectador aquilo que ele tem de mais interessante: os debates moldados nas discussões atuais que envolvem diversas questões convividas pela sociedade estadunidense atual, dentre os quais cito: experiências científicas de alto risco, conspirações políticas e debates religiosos. A propósito, é incrível vermos o modo como o filme mostra que a ciência e a religião, quando elevadas à máxima potência, se mostram requisitos inerentes a uma sociedade decadente e em pânico.

Antes de encerrar, gostaria de comentar o final do longa, este que vem sendo muito criticado negativamente. Particularmente, creio que Darabont realizou aqui um desfecho formidável, justamente por ser perturbador e nos provar o quão decisões tomadas de maneira precipitada e por medidas drásticas podem provocar danos irreversíveis em nossas vidas.

Ah, e é claro, não há como negar que, com um final destes, Darabont anulou, com total sapiência, vários clichês que seriam capazes de transformar este “O Nevoeiro” em um filme de horror apenas convencional.

É como diria o mestre Alfred Hitchcock: “___ Antes iniciar em um clichê, do que terminar neste!”. E é justamente isso o que presenciamos aqui.

Avaliação Final: 8,0 na escala de 10,0.