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Archive for the ‘Akira Kurosawa’ Category

Semana de 14 a 20/12/2008

dezembro 19, 2008 Deixe um comentário

Sei que durante esta semana não publiquei tantos artigos aqui no Cine-Phylum quanto gostaria, mas nem por isso mantive inerte a minha vida de aficionado pela sétima Arte, muito pelo contrário. Durante estes últimos dias fiz questão de assistir a três filmes que não havia tido a oportunidade de assistir em outras ocasiões. São eles: “Rashomon” de Akira Kurosawa, “Cassino” de Martin Scorsese e “A Regra do Jogo” de Jean Renoir. Contudo, tive uma semana corrida (uma vez que, mesmo estando livre durante a noite inteira, precisei resolver alguns singelos problemas pessoais e aproveitei este período do dia para fazê-lo) e não me vi capaz de escrever os costumeiros textos de aproximadamente mil palavras que sempre publico por aqui. Sendo assim, não me resta outra alternativa senão escrever mini-críticas sobre as respectivas obras. Comecemos então:

Rashomon (Idem, 1.950, dirigido por Akira Kurosawa) – ***** de *****

Dentre os filmes de Kurosawa que já tive a oportunidade de assistir, este “Rashomon” talvez seja o que melhor comprova a genialidade deste como diretor (o que não quer, necessariamente, dizer que seja o seu melhor filme, uma vez que considero “Os Sete Samurais” um longa ligeiramente superior a este). Logo no início da obra de 1.950 somos brindados com movimentações de câmera para lá de fantásticas. Repare na cena em que um lenhador ruma até o bosque para recolher lenha e Kurosawa o acompanha com um horizontal travelling, fazendo, logo em seguida, o rápido e conveniente uso de um vertical travelling. Posteriormente o diretor posiciona a câmera de um modo que possamos acompanhar o personagem através de um ângulo lateral de 225 graus a sudoeste e, por fim, volta a realizar novamente um horizontal travelling, só que desta vez mais ágil e ousado (pela maneira como impetra o bosque) que o anterior.
Mas o grande trunfo do filme fica por conta da filosofia pessimista adotada por este a fim de abordar a maldade e o egoísmo inerentes à raça humana. Utilizando de pano de fundo para tal o assassinato de um nobre e o atentado violento ao pudor cometido contra a sua esposa, o longa conta com uma primorosa edição que, além de alternar entre passado e presente de maneira sensacional fazendo com que o mesmo ganhe muita dinamicidade e não se revele nem um pouco cansativo, apresenta quatro historietas que narram quatro pontos de vista diferentes em relação ao crime de um modo um tanto o quanto imparcial e detalhista, unindo-os ao final da trama de uma forma simples e nada confusa. Os diálogos são magistralmente fenomenais e, juntamente com o brilhante roteiro, nos faz refletir sobre o quão cruéis e egoístas podemos ser, voluntária ou involuntariamente falando. Por outro lado, em sua cena final, o filme também nos mostra que, apesar de toda a maldade presente em nossa raça, há também gestos benevolentes capazes de tirar parcialmente a humanidade do estado de putrefação que esta sempre se encontrou.

Avaliação Final: 10,0 na escala de 10,0.

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Cassino (Casino, 1.995, dirigido por Martin Scorsese) – ***** de *****

Ao criticar um determinado filme detesto ter que compará-lo a uma outra obra qualquer do mesmo gênero, mas no caso de “Cassino” e “Os Bons Companheiros” não há como fazê-lo de modo diferente. Por que? Porque os mesmos foram produzidos nos mesmíssimos anos 1.990, roteirizados pelos mesmíssimos roteiristas, dirigidos pelo mesmíssimo diretor, editados pela mesmíssima editora, estrelados pela mesmíssima dupla de atores (apesar de que este longa conta apenas com a dupla De Niro e Pesci. Ray Liotta, infelizmente, ficou de fora do elenco, quebrando o magnífico trio de “Os Bons Companheiros”), narrados pela mesmíssima estrutura narrativa e focados no mesmíssimo tema: a máfia. Contudo, há uma diferença básica entre este longa e o dirigido por Scorsese em 1.990: a escalada social de seus protagonistas. Se em “Os Bons Companheiros” Henry Hill se torna um hábil narcotraficante e, ainda assim, não consegue atingir os mais altos patamares da máfia (uma vez que ele não possui ascendência italiana), em “Cassino” Sam “Ace” Rothstein (apesar de judeu) se torna um poderoso diretor de uma das propriedades mais lucrativas de sua organização. O resultado da obra? Se por um lado o longa protagonizado por Robert De Niro não se revela tão eficiente, cativante e dinâmico quanto o longa protagonizado por Ray Liotta, por outro lado ele nos realiza uma abordagem mais complexa sobre o apogeu e a queda de seu protagonista (e se você acha que o personagem de Liotta era regado de vantagens, espere só até ver o personagem de De Niro).
A direção de Scorsese é, como de praxe, perfeita e repleta de ângulos e movimentações sensacionais realizados por sua câmera. Note a presteza adotada pelo diretor enquanto este filma a seqüência que ilustra o processo desenvolvido pelos funcionários do cassino dentro da sala de contagem, fazendo uso de todas as espécies de travellings existentes. E o que dizer então da breve cena onde temos a impressão de ter uma câmera dentro de um canudo utilizado para cheirar cocaína? As atuações também estão todas fantásticas e o trio de atores principais conta com uma química simplesmente fenomenal (apesar de estar longe de ser tão boa quanto a dinâmica desenvolvida pelo trio Liotta, De Niro e Pesci em “Os Bons Companheiros”). O roteiro se revela bastante competente não só ao abordar o apogeu e a queda de seu protagonista, conforme já fora previamente mencionado, como também ao retratar toda a corrupção e a imundice ética e moral presente nos cassinos de Las Vegas. Infelizmente a edição de Thelma Schoonmaker não se encontra no mesmo nível dos demais aspectos do filme. Longe de realizar um trabalho tão eficaz quanto o que fora realizado em “Os Bons Companheiros”, Schoonmaker deixa de “cortar algumas gordurinhas” que certamente confeririam ao filme um tom mais ágil e vivo, algo mister a uma obra desta espécie.

Avaliação Final: 9,0 na escala de 10,0.

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A Regra do Jogo (La Règle du Jeu, 1.939, dirigido por Jean Renoir) – ***** de *****

Jean Renoir foi, inquestionavelmente, um dos nomes que mais serviu de inspiração aos Cinemas moderno e contemporâneo. Antes mesmo de Federico Fellini estabelecer um complexo e contundente panorama sobre as nugacidades adotadas e cultivadas pela alta sociedade a fim de preencher o seu vazio existencial, Jean Renoir já havia o feito em 1.939 em “A Regra do Jogo”. Antes mesmo de Woody Allen traçar as fragilidades de relacionamentos amorosos alicerçados em um pseudo sentimento de amor, Jean Renoir já havia o feito em 1.939 em “A Regra do Jogo”. Introduzindo o espectador em sua obra-prima máxima com uma majestosa sinfonia composta por Wolfgang Amadeus Mozart, o filho de Auguste Renoir (um dos pintores impressionistas de maior renome na história da Arte) nos apresenta à filosofia adotada por ele quando o assunto em pauta é o amor: tal sentimento é rotativo e por este motivo é cada vez mais comum nos depararmos com indivíduos de todas as castas sociais que cometam adultérios.
Considerado um dos filmes cults de Arte mais importantes de todos os tempos, “A Regra do Jogo” utiliza de pano de fundo para retratar a filosofia adotada por Renoir uma suntuosa casa de campo no interior da França onde alguns aristocratas e seus respectivos empregados se unem durante um final de semana para caçar coelhos e faisões. A partir de então somos convidados a conhecer e a conviver, durante dois ou três dias, com um grupo de pessoas fúteis e materialistas. Todos os personagens do longa têm fortes desvios de caráter, porém, se vêem obrigados a maquiar isto perante à sociedade hipócrita e falsa onde vivemos. Homens traem suas esposas, mulheres traem seus maridos, todos alegam que a mentira é uma característica inerente ao ser humano, pessoas se apegam a medidas frívolas e nulas a fim de preencher o vazio existencial presente em seus insossos cotidianos e, no final… bem, no final (um dos desfechos mais imprevisíveis e surpreendentes da história do Cinema) ocorre uma tragédia, tragédia esta que nos faz lucubrar sobre até quando falsos moralismos cristãos irão imperar em nossas vidas (conforme diz um personagem do filme: “___ Corretos estão os mulçumanos que têm um harém ao seu dispor e podem dedicar o verdadeiro amor à mulher que mais ama, sem precisar desprezar as demais).

Avaliação Final: 10,0 na escala de 10,0.

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Apenas para avisar ao leitor, esta noite (19/12/2008), possivelmente, estarei assistindo ao polêmico “Gomorra”, filme italiano de Matteo Garrone que, segundo muitos críticos, é a melhor obra cinematográfica sobre a máfia produzida desde 1.974, ano em que foi lançado nos cinemas do mundo todo um tal de “O Poderoso Chefão – Parte II”, já ouviram falar? Pois é, contudo, não confio nem um pouco em comentários do tipo: “Este é o melhor filme de um determinado gênero produzido desde tal ano”. Prefiro, como sempre, dirigir-me ao cinema mais próximo sem criar prévias expectativas positivas ou negativas antes do término da sessão. A crítica? Provavelmente saia amanhã (20/12/2008).

Até lá,

um forte abraço a todos!

Daniel Esteves de Barros – Editor do blog Cine-Phylum e co-editor do site Papo Cinema

Os Sete Samurais – ***** de *****

dezembro 2, 2008 Deixe um comentário
Admito vergonhosamente que os meus conhecimentos sobre o Cinema asiático, sobretudo o japonês, são bem limitados. O estranho é que admiro muito a cultura deste continente e, acima de tudo, do Japão. Sempre nutri um fortíssimo interesse sobre a história japonesa, principalmente no que diz respeito ao período Yamato, mas, curiosamente, nunca me preocupei em conhecer de maneira mais branda a sétima Arte importada da segunda maior potência econômica mundial. Reparando este erro apenas agora (antes tarde do que nunca), optei por locar alguns filmes do maior gênio do cinema japonês e analisar os mesmos. O primeiro fora “Yojimbo”, filme cuja crítica já fora postada aqui mesmo, nesta sessão do site, agora, optei por “Os Sete Samurais” que, não só é considerado como o mais importante filme oriental de todos os tempos, como também uma das quinze melhores obras da história do Cinema e uma experiência obrigatória no currículo de qualquer um que se julgue cinéfilo.

Ficha Técnica:
Título Original: Shicinin No Samurai.
Gênero: Drama.Ano de Lançamento: 1954.
Nacionalidade: Japão.
Tempo de Duração: 208 minutos.
Diretor: Akira Kurosawa.
Roteirista: Shinobu Hashimoto, Akira Kurosawa e Hideo Oguni.
Elenco: Takashi Shimura (Kambei Shimada), Toshirô Mifune (Kikuchiyo), Yoshio Inaba (Gorobei Katayama), Seiji Miyaguchi (Kyuzo), Minoru Chiaki (Heihachi Hayashida), Daisuke Katô (Shichiroji), Isao Kimura (Katsushiro), Kamatari Fujiwara (Manzo), Kokuten Kodo (Gisaku), Bokuzen Hidari (Yohei), Yoshio Kosugi (Mosuke), Yoshio Tsuchiya (Rikichi), Keiji Sakakida (Gasaku) e muitos outros.
Sinopse: Após ser saqueada freqüentemente por um grupo de saqueadores, uma aldeia situada no interior do Japão entra em colapso total, uma vez que passa a não possuir mais alimentos o bastante a fim de garantir a sua subsistência. Para evitar que tal crise se prolongue ainda mais, os aldeões decidem contratar um grupo de samurais para garantir a paz no local e garantir que a prosperidade reine no vilarejo. A dificuldade em contratar os serviços de tais mercenários, no entanto, aumenta consideravelmente quando os lavradores percebem que, a única forma de compensar os trabalhos desenvolvidos pelos guerreiros, é alimentando os mesmos, uma vez que eles não possuem quaisquer bens materiais que seja.

Shicinin No Samurai – Trailer:

Crítica:

Mediante a sensibilidade das câmeras do gênio mor do Cinema asiático, Akira Kurosawa, quando “Os Sete Samurais” tem o seu início, passamos por uma desconfortável sensação de miséria. É justamente esta a sensação que este fabuloso épico almeja nos transmitir a princípio: a tão dolorosa realidade dos paupérrimos habitantes de um indigente vilarejo no interior do Japão que é pilhado freqüentemente por uma quadrilha de saqueadores.

O clima inserido no intróito da película é desesperador, aflito, lúgubre e urgente. É como se uma atitude drástica carecesse ser tomada o quanto antes, a fim de evitar a morte dos camponeses locais. Tais sensações transmitidas pela direção de Kurosawa, aliadas à trilha-sonora sombria e fúnebre de Fumio Hayasaka, conferem ao espectador uma inevitável impressão de que o filme está, na realidade, realizando uma ode ao Apocalipse. E é justamente este o sentimento presente nas mentes de cada um dos pobres camponeses indefesos: o de que o fim de tudo aquilo que eles têm por mundo, está verdadeiramente próximo.

Contudo, um sábio local sugere contratar um grupo de samurais que se sensibilizem com a causa deles e aceitem prestar serviços em troca de apenas três refeições diárias. É na cena em questão que Akira Kurosawa mostra, novamente, toda a sua genialidade, explorando a mentalidade de cada habitante do humilde vilarejo, retratando os diálogos de cada um destes, que variam desde os mais conformistas, que acreditam que lavradores nasceram para sofrer e, desta forma, devem aceitar o seu cruel destino, até os mais revolucionários que preferem pegar em armas e lutar contra os saqueadores arriscando a própria vida, passando pelos negativistas que crêem que a melhor solução é o suicídio e, por fim, encerrando o debate focando-se nos aldeões mais racionais, que aceitam a solução do sábio ancião e decidem tentar a impossível missão de contratar um grupo de samurais que protejam a aldeia, nem que para isso necessitem dispor de seus melhores alimentos.

A partir de então o filme assume uma outra postura filosófica. Se antes nos chocávamos com tamanha miséria e desespero, agora nos chocamos ainda mais ao sentirmos presentes o egoísmo e a ambição humana sendo abordadas em cena. De ode ao Apocalipse, o filme passa a realizar uma ode ao egoísmo humano e, acreditem, a sensação de angústia, estranhamente, não diminui nem um pouco, muito pelo contrário, aumenta. Não há como não nos comovermos, apenas para citar um exemplo, com a cena em que um aldeão, em pleno desespero, quase é espancado por um samurai após implorar que este proteja o seu vilarejo em troca de alimentos. Contudo, após passarem por humilhações de todos os tipos, os lavradores finalmente encontram um grupo com sete mercenários que, sem muitas perspectivas na vida, aceitam a missão.

Neste instante, o filme consegue nos cativar ainda mais do que já estava cativando outrora. O roteiro passa a confeccionar diálogos sensacionais sobre altruísmo, honra, amizade e egoísmo (desta vez, abordado de maneira um pouco menos ampla que anteriormente), e os protagonistas ganham uma abordagem extremamente ampla sobre o caráter de cada um deles. A química entre os samurais vai tornando-se cada vez mais visível e não há como não nos relacionarmos com os mesmos. É como se cada um deles fizesse parte de nós, tanto que, quando sentimos que estes correm sério risco de vida, tememos que algum membro de nossos corpos sejam decapitados, tamanha a relação que o roteiro estabelece entre o público e seus respectivos protagonistas.

A relação entre os mercenários e os plebeus também é muito bem abordada pelo roteiro. A princípio, temos a sensação de que está havendo ali um verdadeiro choque entre duas culturas amplamente diferentes, mas que, com o passar do tempo, não só o roteiro, como a sutil direção de Kurosawa e as engajadas atuações por parte de todo o elenco, fazem com que o público, assim como os guerreiros e os camponeses, se acostume com a confraternização que passa a se estabelecer entre ambos os lados.

E já que a palavra “sutileza” fora mencionada no parágrafo acima, não há como assistir ao longa em questão e não notar tal característica presente em quase todas as suas cenas. Kurosawa prova que é realmente um gênio e une diversos aspectos do longa tornando-o completamente sutil e agradável de ser assistido. Como resistir, por exemplo, ao cuidado com que a direção de Arte nos transporta ao Japão Feudal? Ou ao modo como os figurinos incrementam ainda mais as características daquela época ao espectador? E, principalmente, ao trabalho cuidadoso que a edição sonora do filme realiza aqui, quando, sempre que conveniente, emite sons de água em movimento a fim de nos passar a tranqüilidade característica do vilarejo em períodos amistosos.

Mencionando novamente a direção de Kurosawa, só que, desta vez, destinando este parágrafo inteiro a fim de melhor descrevê-la, é dele o maior mérito deste grande épico do Cinema oriental ter tido toda a repercussão que teve mundo afora. O cineasta realiza aqui um trabalho irretocável e revolucionário. Além de utilizar freqüentemente os seus característicos verticals travellings com o intento de conferir maior visibilidade aos espectadores, Kurosawa mostra saber usar uma determinada imagem perfeitamente bem a fim de ilustrar um problema que os personagens do filme estão enfrentando. Vide a cena onde um camponês entra em desespero logo após ser saqueado e, para ilustrar o sentimento do aldeão de um modo realmente satisfatório, o diretor realiza um enquadramento onde exibe apenas a mão direita do lavrador coletando os pouquíssimos grãos de arroz que lhe restaram, esparramados pelo local. As batalhas que, por si só, já entrariam na história do Cinema, ganham ainda mais força e realismo sob a batuta do gênio japonês que cria ângulos fantásticos para poder acompanhá-las de modo dinâmico e convincente.

Considerado pela grande maioria dos cinéfilos e dos profissionais da área o mais completo filme oriental de todos os tempos, “Os Sete Samurais” vai, na realidade, muito além disso. O longa magistralmente dirigido por Kurosawa se revela uma experiência inigualável e única na vida de quem o assiste (e por mais que o seu remake estadunidense “Sete Homens e Um Destino” seja ótimo, ele jamais se equipara a este longa em questão), além de ser uma sessão inquestionavelmente obrigatória a todo o indivíduo que almeja ter um conhecimento, no mínimo, aceitável sobre o Cinema asiático e, por que não dizer, mundial.

Avaliação Final: 10,0 na escala de 10,0.

Crítica – Yojimbo, o Guarda-Costas

Detesto passar pela sensação a qual estou passando agora, após terminar de assistir a este “Yojimbo”. Não, nada pessoal contra o filme, que por sinal é excelente, mas sim quanto ao fato de ter de avaliá-lo do ponto de vista artístico. Só para citar um exemplo, quando escrevi uma crítica sobre “Platoon” (nunca cheguei a publicar tal crítica) mencionei na mesma que achava o filme fabuloso, perfeito, mas artisticamente falando o mesmo possuía algumas falhas e estas não poderiam passar batidas. O mesmo ocorre com este “Yojimbo”, com a diferença de que, desta vez, darei ao mesmo uma nota mais alta do que eu acredito que ele mereça. O pior de tudo é que estou fazendo isto me espelhando no remake que Sergio Leone lançou em cima do filme de Kurosawa, o clássico de westernPor um Punhado de Dólares”. Reconheço que este “Yojimbo”, artisticamente falando, é superior ao longa protagonizado por Clint Eastwood, mas do ponto de vista pessoal, considero o filme italiano bem mais cativante (mesmo atribuindo nota 8,5 para este e nota 9,0 para a produção japonês). Enfim, estes são os ossos do ofício, não é sempre que se pode ser extremamente subjetivo, não é mesmo?

Sinopse: Ao chegar em um vilarejo no Japão tomado por duas facções criminosas, um destemido Samurai vê ali a oportunidade de ganhar muito dinheiro, trabalhando secretamente para as duas organizações. A partir daí, a rivalidade entre as duas gangues aumenta cada vez mais, mudando o destino dos habitantes do vilarejo de forma irreversível.

Yojimbo – Trailer

Crítica:

Após chegar a um vilarejo tomado por duas organizações criminosas, um mercenário vê ali a oportunidade de ganhar muito dinheiro realizando trabalhos sujos às duas facções e colocando uma contra a outra. A estória soa familiar? Pois é, ela já fôra utilizada inúmeras vezes pelo Cinema, inclusive em filmes como o westernPor um Punhado de Dólares” (de Sergio Leone e com Clint Eastwood no elenco) e o gangster O Último Matador” (protagonizado por Bruce Willis). Contudo, este “Yojimbo” conta com uma característica que o coloca a frente dos demais filmes com a mesma sinopse, foi ele o primeiro filme a utilizá-la.

Fazendo uso de uma direção de arte fantástica, a obra (não necessariamente “prima”) de Kurosawa nos transporta ao Japão do início do Século XIX, em uma vila paupérrima, onde duas grandes famílias criminosas controlam o local. Contudo, a pequena vila sofre uma série de mudanças com a chegada de um samurai forte e destemido. A partir daí, o roteiro nos presenteia com uma seqüência de reviravoltas bastante convenientes e uma estória interessante o bastante para nos manter entretidos até o desfecho da mesma.

Além da estória atraente e das reviravoltas que a mesma possui, o roteiro deste “Yojimbo” ainda conta com um desenvolvimento bastante interessante de seus personagens, tanto os primários quanto os secundários. Tomemos por exemplo o protagonista da estória, Sanjuro Kuwabatake (encarnado por Toshirô Mifune). Apesar de o mesmo conter vários dos clichês do gênero, tais como: a face inexpressiva, o jeitão de durão e a frieza adotada para tomar suas atitudes (isso sem contar que ele sozinho se mostra capaz de matar oito homens de uma única vez), o personagem, vez ou outra, demonstra uma ponta de humanismo em seu gélido coração ou então realiza uma piada satirizando a situação pela qual está passando, fato que torna o personagem mais, digamos, humano.

O desenvolvimento da rivalidade entre as famílias de Seibei (interpretado por Seizaburô Kawazu) e Ushitora (Kyu Sazanka) também é outro ponto extremamente salientado pelo roteiro, que parece fazer a máxima questão de manter o espectador informado sobre tudo o que está acontecendo entre ambas as facções, sem dar prioridade a uma ou a outra (diferentemente de “Por um Punhado de Dólares” que dá muito mais crédito à família dos Rojos do que à família dos Baxters).

A direção de Akira Kurosawa, como sempre, está perfeita. É incrível vermos como o diretor é capaz de criar ângulos excepcionais com a sua câmera e mais impressionante ainda é podermos notar a maneira eficiente com que ele “casa” diversos aspectos do longa, fazendo com que todos andem em perfeita harmonia. Ou melhor, todos não, quase todos.

Disse “quase todos” pois a trilha-sonora infelizmente é falha, além de repetitiva e cansativa. Para um filme desta categoria, Kurosawa deveria ao menos ter sido mais cuidadoso na escolha da trilha, esta que vem a ser uma das características que, indubitavelmente, mais colaboram com a relação público-película, e ter selecionado algo mais cativante e empolgante.

Os demais aspectos que não comentei neste texto são todos perfeitos, realçando a fotografia que dá ainda mais charme ao filme que, apesar de não ser perfeito, é um marco na história da Sétima Arte, tanto que ganhou vários remakes que, artisticamente falando, não superam o mesmo.

Avaliação Final: 9,0 na escala de 10,0.

Crítica – Os Sete Samurais

fevereiro 24, 2008 Deixe um comentário

Como a cultura oriental é interessante…Não concordam que nós,aqui no ocidente deveriamos ter mais contato com o cinema que vem do outro lado do mundo?Figurinos e danças exóticas aos nossos olhos,o oriente sempre me encantou,em 1954 um homem chamado Akira Kurasawa fez o cinema se encantar com ele,um diretor que influenciou lendas como Steven Spielberg,George Lucas,Francis Ford Coppola ou Martin Scorsese,mostrou o brilho do oriente e fez o seu cinema se chocar com o cinema ocidental.Resultado?”Os Sete Samurais”.Um filme que permance em sua cabeça por anos a fio,enche seus olhos e não vão estranhar se também arrebatar seu coração

Crítica:

Durante o Japão no período feudal,uma vila indefesa é constantemente atacada por bandidos,que roubam toda a sua comida e acabam com todas as plantações que os pobres moradores passaram tempos plantando.A decisão era clara:aquilo não poderia continuar e em reuniões acharam a solução:contratar um excepcional samurai para defendê-los de outros ataques,o pagamento era só estadia e comida,mas o trabalho veio de bom agrado.Com um argumento desse a obra prima de Akira Kurosawa se inicia em uma majestosa estória que vai encantar qualquer pessoa pelos próximos 206 minutos de duração.A estória principal vai sendo desenvolvida de forma brilhante,e muitas cenas vão sendo marcadas em nossa cabeça,como a seleção dos outros seis samurais que vão ajudar o grande samurai Kambei(assim como uma espécie de ovelha desgarrada entre eles,que constantemente rouba a cena),a dificuldade que eles têm de preparar uma vila inteira para lutar conta os bandidos e tentam transformar a vila em uma só.Era preciso união antes de tudo,como a vila toda tenta esconder suas mulheres com medo de uma possível sedução por parte dos samurais(e como eles as encontram),os constantes ataques fracassdos dos bandidos e vamos acompanhando isso até chegar ao grande clímax na fatídica seqüência na chuva.
O épico criado é dos melhores.A estória é intensa,criando várias discussões filosoficas e imagens brilhantes,Kurosawa faz cenas incríveis,filma bem as paisagens naturais e mostra a grande beleza daquele seu país,o mais interessantes são sua revoluções para o cinema:cenas de paisagens rurais entram em contrastes com cenas violentas,os figurinos exóticos dão um toque charmoso,fazendo de tal filme um espetáculo aos olhos humanos
E espetáculo maior vem para nossa mente,o que levaria sete samurais a aceitar um trabalho com um pagamento tão baixo?Necessidade ou questões filosoficas?Haveriam ainda justiceiros no mundo disposto a ajudar?E o mais interessante vem em seguida.40 grandes ladrões com arma das mais modernas,tentam em várias investidas atacar a vila,mas bastam apenas sete samurais para vencê-los.O que está em questão ali é muito mais do que força e quantidade.São estratégias e acima de tudo a união que os guerreiros devem ter.E união vem refleitda em quando Kambei chinga um de seus samurais por ser vangloriar após ter matado vários ladrões depois de um ataque:aquilo não era uma vitória,eles não deveriam achar que eram imbatíveis após ter vencido uma batalha (e esse é o principal contraste que diferencia a obra de Kurosawa com os wastern americanos)
Engana-se quem ache que “Os Sete Samurais”,apesar de todos os debates filosóficos abordados de forma sutil, se trata de um filme complexo,assisti-lo é como uma conversa informal com um amigo,a segurança que os protagonistas passam e o clima de amizade entre eles refletem em uma sensação agradável,chegamos a sofrer quando algum deles corre o risco de morrer.
“Os Sete Samurais” é uma obra que deve ser vista de novo e de novo,em 1960 criou-se o western “Sete Homens e um Destino”, uma versão americana de “Os Sete Samurais”. Não vale a pena. A obra de Kurosawa é única e deve ser vista como tal.

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